Londres, como sempre, estava com o céu nublado e uma fraca chuva caía sobre a cidade, as ruas movimentadas de trabalhadores e operários, carruagens e cabriolés, a fumaça das fábricas a poluir a atmosfera as quais movimentam o mercado financeiro do país.

Colin e Hyacinth encontravam se a caminho do detetive que, na esperança de ambos, solucionaria o mistério do colar. Porém, a mulher não sente-se confortável de dividir tal segredo com alguém além da família, com exceção da polícia.

―Colin, tem certeza de que ele é bom? ― perguntou Hyacinth.

―Já é a terceira vez que pergunta isso e responderei pela terceira vez que sim. ― disse Colin impaciente.

―Nunca ouvi falar dele. ― alegou ela.

―Você só conhece a alta sociedade, Hyacinth.

―Mas se ele é famoso, eu deveria conhecê-lo.

―Você não lê a coluna policial dos jornais.

Ela mordeu o lábio, um argumento incontestável.

―Devíamos comunicar a polícia primeiro, houve um roubo.

―O detetive faz consultas para a própria polícia, então ele é realmente adequado.

―Como assim a polícia o consulta? É a polícia Colin, eles resolvem os piores casos, é o papel deles.

―Você saberá quando encontrá-lo.

―Já o conhece, então?

―Não. Mas acompanho seus casos pelos folhetins nos jornais, além disso o visconde Fletcher, meu amigo, contratou os serviços dele e não o decepcionou, pelo contrário, ficou encantado.

Hyacinth tinha suas dúvidas perante aquele detetive, achava cômico que um detetive particular prestasse serviços a polícia londrina, estava cética quanto a boa impressão do visconde Fletcher, afinal, aquele homem sem noção se impressiona com tudo, gabasse como visionário, mas não passa de um teórico de ideias absurdas. Porém, mesmo com um pé atrás com esse detetive, ela confia no irmão e foi convencida, agora está a caminho de descobrir o quão bom é este homem.

A carruagem parou, Colin desceu e depois estendeu a mão para que sua irmã descesse.

―Baker Street. ― comenta Hyacinth reconhecendo a rua. ― Há uma ótima loja de vestidos no final dessa rua.

―Vamos, deixe os vestidos para depois. ― disse Colin.

―Iremos comprar vestidos depois? Para Penélope? ― perguntou confusa.

―Não, para mim. Estava pensando de um azul roial. ― brinca Colin.

A irmã revira os olhos e segue o homem o qual bate na porta do 221.

Hyacinth observou a casa. Era elegante e modesta, com pintura branca e porta de madeira de cor verde-musgo. O térreo continha uma cafeteria com uma grande janela e um pequeno canteiro de flores, ao lado há uma porta que leva aos apartamentos acima. Uma senhora idosa, magra, de olhos grandes e gentis atendeu-nos.

―Bom dia, milady, gostaríamos de falar com o sr. Holmes. ― disse Colin.

―Bom dia, cavalheiro e milady. Entre. Sr. Holmes está lá em cima. ― disse a senhora.

Hyacinth observou os apartamentos no andar superior, observou a parede expondo os tijolos, janelas grandes e retangulares. Depois de observar, adentrou na casa juntamente com seu irmão, subiu as escadas de madeira.

A senhora bateu na porta, escutou uma voz masculina dando permissão e adentro no recinto.

―Sr. Holmes, clientes. ― anunciou ela.

―Obrigado, sra. Hudson. ― agradeceu. ― Gostariam de tomar chá?

―Não precisa se incomodar, obrigada. ― disse a baronesa.

A senhora afastou-se da porta, Colin e Hyacinth adentraram naquele pequeno apartamento. Havia um homem sentado na poltrona, magro, pálido e alto, com nariz fino, olhos claros, na mão um cachimbo e com uma expressão de tédio no rosto. Havia outro homem, um pouco mais baixo, com bigode, cabelo com corte militar e corpo mais robusto, este estava debruçado sobre papeis, escrevendo.

―Sr. Holmes, um prazer finalmente conhecê-lo. ― cumprimentou Colin apertando a mão do homem magro que havia levantado da poltrona.

―Prazer todo meu senhor. Milady. ― cumprimentou ele dando um beijo na mão de Hyacinth. ― Este é meu amigo, Dr. Watson.

Mais cumprimentos foram feitos, até que os Bridgerton sentaram-se num dos sofás.

―Qual é o caso? ― perguntou Sr. Holmes.

―Um colar. Nossa mãe falecera há alguns dias, o testamento foi lido e nele consta que suas filhas e noras herdariam suas joias, porém há um colar que não foi posto no testamento, não se encontra nem no banco e nem na casa, tal fato um tanto curioso. ― relatou Colin. ― Mais curioso ainda, é que ninguém sabia da existência desse colar, mamãe fez questão de esconder isso de todos e agora não sabemos onde se encontra.

―Mas se ninguém sabia sobre esse colar, como sabe que existe? ― perguntou John.

―Hyacinth é a única a ter visto tal colar. ― respondeu Colin.

Então olhou para Hyacinth e indicou que era sua vez de falar. Porém a mulher ainda desconfiava dos homens ali presente, sentia-se desconfortável entregando na mão de desconhecidos algo tão sigiloso e pessoal. Além disso, observando o apartamento, notou um crânio em cima da lareira e tal objeto decorativo causava-lhe arrepios.

―Senhora, pelo seu olhar analítico e a expressão fechada, percebo que está desconfiada. Hesitou ao entrar no apartamento e na hora de sentar, indicando que reluta em dividir tal fato com desconhecidos. Mas garanto que em momento algum este fato será compartilhado com outros, afinal, há um colar de pérolas de valor sentimental em jogo. ― disse Sr. Holmes, fazendo Hyacinth arregalar os olhos, pois aquele homem leu as dúvidas que estava em sua cabeça.

―Está bem, contarei. ― disse ela. ― Vi o colar apenas duas vezes. A primeira foi há anos, vi tal colar nas mãos de mamãe e depois o guardando um fundo falso do armário. Esperei ela sair e fui verificar. É um colar de pérolas pequenas, duas fileiras.

―Uma peça elegante e cara, imagino. ― comentou o detetive.

―Sim. Na caixa, havia um cartão escrito “Violet Whinslet”.

―Nome de solteira de nossa mãe. ― explicou Colin.

Hyacinth viu o detetive sorrir e depois acender novamente o cachimbo em suas mãos, expirou profundamente e depois soltou fumaça.

―Quando a questionei, ela desconversou e o colar desapareceu de seu esconderijo. Imaginei que ela havia dado o presente.

―Mas? ―incentivou Holmes.

―A segunda vez, ocorreu há meses, quando ainda não estava doente. Lembrei-me do ocorrido com o colar, minha memória nunca falha...

―Nunca. ― reafirmou Colin, interrompendo-a.

―Quando me lembrei, decidi verificar por apenas curiosidade e fiquei surpresa por encontrar o colar de pérolas no mesmo esconderijo de antes, o armário. Ou seja, ela não deu o presente, o escondeu até hoje. Então, achamos que o presente foi de alguém para ela, de seu tempo de solteira.

―Mas agora, depois da leitura do testamento e vasculhando a mansão, vocês não encontraram o tal colar? ― perguntou Holmes.

―Sim. Precisamos encontrar este colar. ― afirmou Hyacinth, finalizando o relato.

O detetive ficou em silêncio por alguns segundos, deixando a espera os dois irmãos e seu companheiro de apartamento. Por fim, levantou-se e com um sorriso no rosto anuncia:

―Sr. Bridgerton, é um caso simples, mas aceito. Quanto aos fatos, não resta dúvidas. Só terei que descobrir com quem está o colar. Tenho cinco teorias, mas irei a casa amanhã verificar tudo.

―Como sabe que ele é um Bridgerton? ― pergunta Hyacinth curiosa.

―Na sola do sapato de vocês há terra escura e fértil, denunciando terrenos floridos e arborizados, grandes jardins no caso, o sapato também denuncia que pegaram uma carruagem, pois só há esse tipo de terra, então não estava transitando por Londres e vieram direto de lá. Além do fato de serem da nobreza, graças as roupas caras, última moda suponho, e boas maneiras. Tal tipo de terra, as roupas e uma carruagem, no caso, particular já que são ricos, revela que estão vindo de Mayfair, um dos bairros da nobreza londrina.

“Sabendo que são nobres, busquei em meus arquivos mentais os nobres moradores do bairro. Vocês relataram que a falecida deixou joias para filhas e noras, denunciando o fato de várias filhas e vários filhos casados. Além disso, vocês possuem traços muito parecidos.

“Foi apenas juntar Mayfair, família grande e o fenótipo característico que supus que eram os Bridgerton”.

Assim que Holmes acabou de relatar suas análises, os dois irmãos ficaram espasmados com tal velocidade de pensamento e olhar analítico.

―Impressionante. ― elogiou Hyacinth.

―Eu disse que ele era muito bom. ― disse Colin, sorrindo para a irmã caçula.

―Amanhã estarei na casa da falecida Lady Bridgerton. ― anunciou Holmes.

―Muito obrigado, Sr. Holmes. Dr. Watson, seus folhetins são incríveis, meu preferido é o primeiro caso, o Estudo em Vermelho. ― elogia Colin.

―Obrigado, Sr. Bridgerton.

Os dois irmãos saíram convencidos de que o mistério do colar logo chegaria ao fim.