O Misterioso Diário de Emily

Capítulo 1 - Uma nova cidade, uma nova vida


"O porto é o lugar mais seguro para um barco, mas ele não foi feito pra ficar lá; seu destino é navegar" - O livro da bruxa

Aquele era meu aniversário de 14 anos, mas eu não estava me divertindo como nos anteriores, na verdade, eu estava detestando aquele aniversário. Eu tinha acabado de mudar para Fortaleza, mas estava odiando aquele lugar, não se parecia nada com Recife, minha antiga cidade.

Eu estava usando um vestido longo, de alças, rosa claro com detalhes brancos na parte de baixo. Em cima, tinham pequenas pérolas brancas. Eu estava com meu longo cabelo castanho preso à uma fita rosa, da mesma cor do vestido e estava com sapatilhas de saltinho azuis claro.

Quando deu a hora de apagar as velas todos foram para a mesa onde estava o bolo. A mesa estava cheia de docinhos, bombons e diversos tipos de chocolates. O bolo era com uma camada de chocolate na parte de baixo e uma camada branca na parte de cima, separadas por glacê de chocolate. Em cima tinha uma camada de chocolate com disquetes em cima, escrevendo o nome “Bia”.

Vi o imenso bolo de duas camadas que minha mãe tinha feito na minha frente e todos começaram a cantar parabéns, fiquei meio sem graça, mas continuei séria, de braços cruzados, como eu havia estado no aniversário todo. Quando pararam de cantar parabéns, fui apagar as velas, mas minha mãe falou.

–Não se esqueça de fazer um pedido Beatriz.

Pensei um pouco antes de falar qualquer coisa, eu sempre soube que aquela historinha de pedido nunca dava certo, era só uma história que os adultos inventavam para animar as crianças na hora dos parabéns, para elas acharem que seu pedido se realizaria algum dia. Mesmo sabendo disso, em todos os meus aniversários eu fazia um pedido. Naquele ano não seria diferente e eu só tinha uma coisa a pedir.

–Eu desejo voltar pra Recife! – Falei enchendo os pulmões de ar e apagando as velas.

–Filha, você sabe que não pode voltar pra lá, você veio pra cá pra ficar comigo.

–Eu sei! Mas não quero ficar morando para sempre nessa cidade chata! – Falei irritada

–Filha, se comporte! Você vai ficar morando aqui, querendo ou não!

Antes que eu começasse a gritar na frente de todo mundo minha prima, Rebeca apareceu e puxou-me para o meu quarto, para que pudéssemos conversar direito.

Rebeca era da minha altura, talvez apenas 1 ou 2 centímetros mais alta e magra. Seu cabelo era cacheado, com cachinhos perfeitos, e castanho. Ela tinha olhos castanhos, como os meus, e brilhantes. Mas, bem lá no fundo, dava-se para perceber que ela estava incompleta, por algum motivo, que eu ainda iria descobrir.

Meu quarto era bem grande. Ele era verde claro, perto da porta ficava minha escrivaninha branca. Em cima dela ficava meu notebook e fotos. Na parede, em cima da escrivaninha ficava minhas prateleiras com muitos livros. Ao lado, presa na parede, ficava minha TV plana de 21 polegadas. Ao lado, ficava uma cômoda com porta-retratos de fotos minhas. Perto da cômoda, tinha minha cama de casal, que estava com uma colcha florida e ao lado, o guarda-roupa branco.

–O que você quer, Rebeca?! - Falei ainda com raiva quando entramos no quarto.

–Calma, Bia, te trazer pra cá foi a melhor coisa que fiz, você ia assustar todo mundo se continuasse gritando daquele jeito lá.

–É que ela me irrita! Ela sabe que eu não gostei nenhum pouco de vim pra cá e me obriga a ficar aqui!

–Fortaleza não é como Recife, mas você se acostuma com o tempo.

–Tempo?! Que tempo? Eu nunca vou me acostumar a morar nessa cidade! - Falei gritando ainda mais alto

–Pare de pensar só em você, Bia! Não é fácil pra sua mãe também não! Mas pelo menos ela tenta, e você? Você fica só gritando por ai!

Percebi que Rebeca estava começando a ficar com raiva, então resolvi sentar na minha cama e ficar calada até a raiva, minha e dela, passar. Fiquei mexendo nos meus cabelos. Quando a raiva dela passou, ela se levantou.

–Eu trouxe um presente que acho que você vai gostar.

–Você já me deu seu presente, não lembra? – Falei séria

–Claro que lembro, mas esse é um presente de boas-vindas.

Rebeca foi até minha escrivaninha e pegou uma sacola que estava em cima, depois sentou ao meu lado entregando-me o presente.

–O que é isso? - Perguntei curiosa

–Você só vai saber se abrir

Eu abri o pacote e lá estava um livro que eu estava procurando há muito tempo e não achava, ele era A Maldição do Tigre.

–Obrigada Rebeca - Falei ficando séria novamente

Ela deve ter percebido que eu tinha mudado de expressão, pois logo falou.

–Parece que você não gostou...

–Não é isso, eu adorei, mas receber livros assim me lembra meu irmão... Ele comprava e me dava um livro novo todo mês... – Falei desanimada ao lembrar dele.

–Priminha, vá se acostumando porque agora sou eu que vai te dar livros!

–Obrigada, mas não quero, vou passar o resto da minha vida trancada aqui! Não quero sair nunca mais.

–Pare de pensar assim, amanhã eu e minhas amigas vamos ao shopping, se quiser você pode vim junto.

–Não quero, prefiro passar o dia todo aqui.

–Eu vou vim te pegar aqui amanhã, não adianta dizer que não vai, amanhã 8:00 eu venho aqui te pegar. Você precisa sair de casa, conhecer a cidade, ficar aqui o dia todo não vai te fazer bem.

–Eu já disse que não vou.

–Como sua prima mais velha eu mando em você, então você vai sim!

Eu comecei a rir pelo jeito que a Rebeca falou, depois peguei meu livro novo e fiquei olhando para ele, comecei a notar que eu estava ficando muito mimada e egoísta, só fazendo o que eu queria na hora que eu queria, sem pensar nos outros, mas na verdade, a vida não era assim.

Rebeca estava certa, eu precisava sair um pouco de casa. Aquela agora era minha nova vida, eu precisava me acostumar com aquilo, querendo ou não.

–Ok! Eu vou com você amanhã para o shopping - Falei um pouco animada

–Sério? - Rebeca perguntou animada

–Sim, venha me pegar 8:00, nem um minuto a mais, nem a menos!

Rebeca começou a rir e falou que não ia falar nem um minuto a mais e nem a menos e começamos a rir.

Conversamos um pouco e voltamos para a festa, que acabou quase 23:00. Quando a festa acabou eu fui para o meu quarto, tomei banho, vesti meu pijama branco e azul, peguei um caderno e comecei a escrever um texto.

Sabe quando nos sentimos sozinhos, sem ninguém? Quando parece que o mundo todo está girando contra você?
Quando mudamos de cidade ou de estado, é assim que nos sentimos, sozinhos... Como entrar em alguma panelinha quando todos os grupos já estão formados?

Se mudar de uma cidade para a outra não é fácil, principalmente se somos adolescentes de 13 ou 14 anos, pois todos os grupos escolares já estão formados. Agora, eu estou na minha casa, mas não sinto-me em casa. Tudo é tão diferente... Como vou acostumar-me com tudo isso?

Estou com saudades de tudo e de todos, das minhas amigas, do meu pai, do meu irmão...

Eu já estava pensando em acabar o texto ai, mas pensei melhor e decidi escrever um pouco mais

Hoje estou aqui, não sei como serão os próximos capítulos a partir de agora, mas estarei pronta para tudo que vier daqui para frente!

Bia

Escrever aquele texto fez-me sentir-me mais perto de casa... Da minha casa de Recife, quando olhei a hora percebi que já era bem tarde e resolvi ir logo dormir, coloquei o caderno na escrivaninha, apaguei a luz e adormeci.