Mark era um garoto um tanto quanto diferente da maioria. Estava de férias do colégio e mesmo assim preferia ler um livro do que sair e ir em festas como seus amigos faziam nas noites iluminadas e movimentadas de Busan. E era exatamente isso que ele fazia naquela noite. Estava sentado em sua cama que era colada com a janela do segundo andar da sua casa, distraia-se com mais um dos livros de sua variada coleção enquanto tomava uma xícara de chá gelado com dois cubos de gelo, que dançavam conforme o loiro bebia. Ele adorava o cheiro doce misturado com o cítrico do limão que ia impregnando no seu quarto e se espalhando pelo ambiente. De repente, pelo canto do olho, ele percebe um movimento diferente vindo da rua, e abre um pequeno feixe de sua cortina para que pudesse bisbilhotar o que acontecia do lado de fora.

Um enorme caminhão estava estacionado na casa a frente da sua, um casal sorria olhando para os móveis que estavam sendo carregados pelos funcionários da empresa de mudanças para dentro de sua nova residência. O garoto acha diferente o fato de tudo aquilo estar acontecendo durante a noite, mas provavelmente aquela família — que agora acabara de se tornar seus vizinhos — tinham acabado de chegar. A mulher era bem jovem — aparentava não passar dos quarenta anos de idade — não era muito alta, e tinha longos cabelos castanhos, enquanto o homem era um tanto mais velho e seus cabelos grisalhos comprovavam isso. Mas toda a atenção do loiro foi dirigida a um garoto de cabelos escuros que estava deitado no banco de madeira todo desenhado a mão do jardim da casa, com um fone de ouvido branco tampando as orelhas, e mantinha seus olhos fechados — provavelmente se concentrava na sua música que saia de um pequeno aparelho celular — sua jaqueta de couro preta realçava o fone de tom claro. Ele fazia pequenos movimentos com a cabeça acompanhando a música, e pelo ritmo acelerado, Mark julgou ser algo mais voltado a músicas americanas, talvez um rock.

O loiro fica assim por bons minutos — observando aquele garoto de jaqueta escura da janela do seu quarto já levemente manchada por causa do tempo — e deixa até mesmo seu livro de lado, o que era raro acontecer. Até que aquele rapaz se levanta subitamente e abre seus olhos, mirando-os diretamente para Mark que ainda o bisbilhotava do outro lado da rua. Ele fecha rapidamente a pequena abertura que havia feito com sua cortina, e engole um seco que desce raspando pela sua garganta, o coração do louro dispara tão misteriosamente com aquela simples encarada dos dois, e ele não sabia o verdadeiro motivo disso, só torcia para que ele não tivesse o visto.

Seu sono era completamente interrompido pelos seus pensamentos sobre aquilo que havia acontecido, o louro — já deitado em sua cama de solteiro — fica olhando para o teto cercado por enfeites de galáxia que brilhavam quando a luz era apagada, desenhando mentalmente a imagem daquele garoto que por algum motivo não o deixava em paz na sua cabeça. Mark lembrava até mesmo dos movimentos que os cabelos dele faziam conforme a brisa ia batendo em seu rosto e jogando-os de um lado para o outro. Depois de muito pensar naquele seu novo vizinho, finalmente consegue pegar no sono, em meio a tantas dúvidas do porquê não o tirava da cabeça.

— X —

Um feixe de luz emitido por um rasgo na velha cortina de Mark o acorda, mas seus olhos se relutavam em abrir. O garoto levanta depois de alguns minutos enrolando na cama e faz o que sempre era acostumado, sua higiene diária e rabiscar algumas contas de física — ele achava que assim não perderia o ritmo do colégio e poderia ingressar na faculdade dos seus sonhos, que era engenharia — algumas pessoas até achavam estranho fazer essas coisas logo pela manhã, mas ele insistia em dizer que sua cabeça funcionava melhor antes do meio dia.

Algumas batinas na porta de madeira do seu quarto o interrompem de repente, o garoto achava que sua mãe ainda não havia acordado — afinal era bem cedo — mas pelo visto estava deveras enganado.

— Pode entrar, mamãe. — diz em tom alto para que escutasse.

— Com licença querido. — ela sempre o chamava assim. — Temos novos vizinhos, sabia?

— Sim, eu vi ontem a noite enquanto lia meu livro.

— Seria bom se fossemos dar as boas vindas a eles, não acha? — o loiro arrepia todos os fios de seu cabelo com a ideia da mãe.

— Não sei se seria uma boa ideia. Isso é coisa dos filmes americanos, não acha? — tenta disfarçar.

— Besteira! Vou preparar algo para dar a eles, assim teremos uma desculpa para conhecê-los, o que acha? Talvez um bolo? — pergunta.

— Como se a senhora soubesse fazer um bolo. — os dois riem pois sabiam que era verdade. Desde que o pai de Mark morreu, era sua mãe que fazia os dois papeis, mas ela não era boa em tudo e cozinhar fazia parte disso.

— Então vamos só até para cumprimentá-los, como bons vizinhos fariam. — diz por fim.

— Tem alguma coisa que eu possa fazer para mudar a sua ideia?

— Não, eu já me decidi. — murmura curto e grossa. — Pra que tanto drama, eles não vão te morder!

— Depois daquele olhar, eu não duvido de nada... — diz baixinho.

— O que?

— Nada mãe! Tudo bem, mais tarde nós iremos até lá, se é o que você quer. — o loiro concorda depois de ver que não tinha como escapar.

— Perfeito, querido. — ela sai do quarto do garoto depois que ele aceita.

O sol se põe rápido aquele dia — para a infelicidade de Mark — e logo sua mãe avisa que iriam até os novos vizinhos para os conhecer, estavam esperando bastante tempo para que assim eles pudessem arrumar a nova casa, afinal o loiro e sua mãe não queriam atrapalhar a mudança. A senhora compra um bolo na padaria que havia ido mais cedo, estava com vergonha de ir de mãos vazias, já que ela não era boa de cozinha. Mark demorava a se arrumar e era cada vez mais pressionado.

— Vamos logo meu filho, daqui a pouco termina de escurecer. — grita sua mãe que esperava impaciente sentada no sofá de veludo vermelho da sala de estar, no andar de baixo.

— Só um minuto, mamãe. — ele queria poder adiar aquele momento o máximo possível.

O garoto começa a se vestir depois do banho — apesar de tudo ele queria causar uma boa primeira impressão aos vizinhos — tira de seu guarda-roupa envelhecido e veste uma camiseta branca com uma estampa escura no peito e coloca uma blusa azulada por cima, e na parte de baixo sua calça jeans perfeitamente passada e sem nenhuma dobra. Mark era perfeccionista em todas as coisas que fazia, principalmente com o cuidado de suas roupas e os livros de sua coleção. Depois de praticamente vinte minutos tentando enrolar sua mãe, o loiro desde as escadas e ela fica impressionada com o filho e o quando ele havia se produzido apenas para dar as boas-vindas a aquelas novas pessoas do bairro.

— Meu deus, que galã! — exclama. — Meu filho é um lindão, tenho certeza que as novinhas piram.

— Mãe? — ele cora as sobrancelhas de vergonha do comentário alheio.

— Mas por que se arrumar tanto para ir pro outro lado da rua? Tá parecendo mais é que você vai aproveitar a noitada.

— Chega mamãe, apenas vamos. — ele sabia que sua mãe não ia parar de te zombar, ela era esse tipo de pessoa que nunca perdia o bom humor, mesmo com o envelhecer.

Mark pega a chave de sua casa que estava pendurada em um enfeite de parede em formato de árvore de cerejeira pregado no azulejo, ela possuía um chaveiro de passarinho na cor ver, o qual era muito importante para o loiro, fora um presente de seu falecido pai. Desde então aquele chuveiro permanece intacto pendurado com as chaves. O garoto tranca a porta e finalmente os dois vão até a casa dos vizinhos — ele ainda completamente envergonhado, enquanto ela já ia toda sorridente.

— Que casão! — ela exclama.

— Sempre esteve na nossa frente, mãe. — rebate o jovem.

— Mas estava vazia, então mal reparava nela. Vamos, toque a campainha.

— Por que eu? — enche as bochechas como se estivesse chateado, mas era pirraça.

— Porque sua querida mamãe está pedindo. — ele apenas obedece, sabia que ficaria sem seus livros caso não tocasse aquela maldita campainha.

Mesmo receoso, o garoto o faz, e suas pernas — por algum motivo desconhecido — estavam bambas e engole um seco depois que o barulho ecoa por dentro daquela casa moderna de dois andares, com esse segundo parecendo flutuar no ar, sustentado por poucos pilares revestidos de pedregulhos. Ela não era muito alta apesar de tudo, mas seus vidros enormes com certeza chamavam a atenção de qualquer um. O jardim possuía uma grama bem verde e estava perfeitamente aparado — o perfeccionismo de Mark agradecia por isso — sem contas o banco de madeira onde aquele garoto de cabelos castanhos estava escutando sua música, e uma fonte mediana — um pouco desgastada — do lado oposto, com uma estátua antiga de uma figura parecendo um anjo no topo — de onde saia a água. Algumas barras de ferro enferrujadas cercavam toda a construção.

Ding dong... A campainha continuava a soar do lado de dentro.

— Vamos embora mãe, eles devem ter saído. — diz o loiro já contente de ninguém ter atendido até então.

— Poxa, mas que triste! Queria dar as boas-vindas. — ela murmura. — Isso é tudo sua culpa, se não ficasse parecendo uma noiva para trocar de roupa, tenho certeza que eles não teriam saído.

— Com licença? — diz uma voz masculina vindo de trás dos dois. — Posso ajudar?

O corpo de Mark gela por completo quando ele se vira e vê de quem era a voz. Vinha do garoto que ele espionava na noite anterior, usava uma roupa esportiva sem mangas e seu corpo estava completamente molhado de suor, e ao seu lado estava uma bola de pelos bem brancos e pequenina, que já pulava no colo do loiro o cheirando com seu focinho.

— Você deve ser o filho do casal que mudou para esta casa, estou certa? — pergunta a mãe de Mark. — Bonitão, minha nossa! Olha esses músculos. — exclama enquanto pegava no bíceps do jovem.

— Mãe? — abstém o loiro.

— Sim, isso mesmo. Desculpe não ter ninguém para atendê-los. Meus pais foram ao supermercado e eu aproveitei pra dar uma corrida e levar o Chimmy para passear. — ele aponta para seu cachorrinho.

— Ele é uma belezinha! — exclama o loiro, já se agachando para acariciá-lo, e o mesmo o retribui botando a linguinha para fora.

— Não tanto quanto um certo loirinho que fica espionando os outros pela janela. — o moreno ri alto, enquanto Mark engole um seco e dilata suas pupilas com aquele comentário, então ele realmente havia visto, agora o outro tinha certeza.

— E quem disse que eu te espionei? Estava apenas lendo meu livro e abri um pouco a janela para tomar um ar. — franzi as sobrancelhas para tentar parecer o mais convincente possível.

— Espera aí você estava lendo um livro? É período de férias sabia? — o garoto continua rindo.

— Nossa você nem imagina. Se deixar esse aí passa o dia inteiro com a cara nas letras miúdas das páginas amareladas da sua coleção. — diz a mãe.

— Gostei de você garoto, é bem diferente. — o outro sorri, deixando Mark envergonhado e com as bochechas coradas.

— A propósito, meu nome é Jackson. Jackson Wang. Desculpe minha falta de educação e prazer em conhecê-los. — diz se inclinando para cumprimentar os dois.

— Prazer. — murmura o loiro.

— Ei! Se apresente direito, essa não foi a educação que eu te dei. — sua mãe interrompe.

— Sou Mark. Mark Tuan. E o prazer é todo meu. — respira fundo antes de falar.

Nesse mesmo instante um carro branco se aproxima da casa e os portões eletrônicos se abrem, fazendo as barras de ferro irem todas para a esquerda. Eram o pai e a mãe de Jackson, que haviam acabado de chegar.

— Olha só, temos visitas. — exclama a morena.

— São nossos vizinhos mamãe, moram naquela casa bem ali na frente. — explica seu filho.

— Ora, mas que gentileza a de vocês virem até aqui! — diz o pai do garoto enquanto desprendia o cinto de segurança e descia do carro com três sacolas nas mãos, cheia de temperos e alguns vegetais.

— Esperamos que gostem desse bairro, e viemos aqui apenas para desejar as boas-vindas. Me chamo Kang Haerin, e esse é meu filho Mark.

— Muito obrigada! É bom saber que temos bons vizinhos por aqui. — a mãe de Jackson sorri agradecendo por tudo.

— Trouxemos esse bolo, mas é só uma lembrancinha, não é filho? — continua a senhora.

— É. — apenas concorda.

— Meu filho não é muito de falar mesmo, apenas ignorem. Ainda mais com pessoas novas. — ela ri para disfarçar.

— Foi uma enorme gentileza a de vocês, muito obrigado mesmo por isso. Querem entrar um pouco? Sinta-se em casa! — diz o senhor de cabelos grisalhos.

— Ah, se não for muito incômodo, eu gostaria si...

— Muito obrigado pelo convite senhor, mas realmente temos que ir. — interrompe o loiro. — As aulas vão voltar em breve e eu preciso estudar. — diz para disfarçar, caso contrário sua mãe iria o fazer passar vergonha reparando em cada objeto contido naquela casa, não fazia por mal, apenas era seu jeito de ser.

— Está vendo Jackson? Deveria ser igual esse jovem e estudar mais. Olhe o exemplo, estudando até estando de férias! — diz seu pai.

— Ele é doido isso sim! Quem com cérebro funcionando estuda se não tem aula? — pergunta para si mesmo.

O loiro somente olha emburrado para o moreno que continua rindo baixinho da situação. Mal sabiam os dois que a partir dali as suas vidas não seriam mais as mesmas.

— Você é um filho muito malvado! Estávamos quase entrando naquela casa. — diz sua mãe com a cara emburrada enquanto atravessam a rua para voltarem a sua residência.

Mark pega as chaves do seu bolso da calça e destranca a porta, tudo que ele mais queria era se trancar logo em seu quarto e pegar um de seus livros para ler enquanto refletia sobre tudo aquilo que havia acabado de acontecer. Ele sobe as escadas e é exatamente isso que faz, faltavam apenas algumas páginas para ele terminar de ler “Relatos de um gato viajante” de Hiro Arikawa, assim ele aproveitava e treinava seu japonês, uma vez que o garoto adorava aprender novos idiomas. Contudo ele não conseguia se concentrar na leitura, graças a imagem do moreno que continuava a aparecer em sua mente, e o modo divertido como ele sorria ao saber que Mark estudava mesmo estando de férias. Aquilo martelava na cabeça do loiro e parecia não querer sair. Ele olhava novamente para os enfeites brilhantes em seu teto e quando percebe, coloca um sorriso bobo no seu rosto.

E foi assim durante todos aqueles dias. As férias de Mark se resumiram em observar seu novo vizinho pela janela e as vezes cumprimentá-lo quando passava pela rua, e mesmo que se sentisse incomodado com alguma coisa que nem mesmo ele sabia o que era, o loiro gostava de olhá-lo sem pensar em mais nada além disso, por incrível que pareça ele deixou até seus preciosos livros de lado.

— X —

Ele acordou com o pé direito naquele dia e com um sorriso no rosto. As férias haviam acabado e finalmente ele voltaria a ocupar sua cabeça com as matérias do colégio que tanto amava. O loiro toma seu café da manhã o mais rápido o possível para que não se atrasasse — ele não suportaria que uma tragédia dessas acontecesse — e logo se despede de sua mãe que lavava a louça da janta da noite anterior.

— Até logo mãe, estou indo agora! — diz empolgado. — Finalmente o grande dia chegou, vou estudar novamente.

— Se cuide querido, não volte tarde para casa ok? — o garoto apenas responde balançando a cabeça.

Mark corre até o ponto de ônibus mais próximo do seu bairro, que era a duas quadras da sua casa, conforme ia andando o vento daquele dia gelado ia batendo no rosto e o seu respirar fazia com que saísse fumaça da sua boca. Chegando lá, ele se acomoda no banco de espera ao lado de mais estudantes e alguns adultos que provavelmente se preparavam para ir ao trabalho. O garoto segura em uma das barras de ferro com a mão direita enquanto leva a sua esquerda até o bolso da blusa de frio azul, dois números maiores que o seu, que estava usando.

Finalmente aquele ônibus azulado — com uma espécie de slogan de uma marca de calçados estampada nas laterais — chega, e todas aquelas pessoas ali se acomodam nos bancos dentro dele. O loiro odiava os acentos do fundo, era lá que os alunos mais relaxados e que não se importavam com os estudos se sentavam, por isso se acomodava nos da frente, se possível no primeiro de todos.

Durante o percurso, o jovem fica apreciando a vista da cidade de Busan pela janela, e o quanto ela era movimentada logo pela manhã, ele estava sentindo falta de fazer essa sua rotina até o colégio, as férias para o garoto se resumia em puro tédio. Mas de uma coisa ele estava sentindo falta, não poderia olhar Jackson pela janela logo pela manhã, que era o horário que geralmente o moreno saia para correr e voltava depois de exatos cinquenta minutos. O louro sonhava tão alto que mal percebe que havia chegado ao seu destino. Ele desce ainda meio perdido em pensamentos e respira profundamente ao ver aquela enorme construção de cor parda e com várias janelas cercando os três andares, e as enormes letras de metal colocadas uma em baixo da outra em um dos pilares que sustentavam tudo aquilo, escrevendo assim o nome do colégio. Ele abre um sorriso de ponta a ponta enquanto seus olhos brilhavam, finalmente estava de volta.

Aquele momento de felicidade e nostalgia é totalmente cortado quando seus três melhores amigos o interrompem, chegando para assustá-lo por trás.

— Migoooo, que saudade que eu tava de você! — exclama um deles.

— Pelo visto continua barulhento como sempre, não é Bambam? — anima-se ao ver seu colega.

— Só alguém como o Mark mesmo! Enquanto eu queria estar dormindo ou jogando vídeo game, você fica paquerando o colégio com os olhos. — exclama Jaebum, o amigo de infância do loiro que sempre estudou junto a ele. — Se fosse uma pessoa tenho certeza que estaria feito uma uva passa de tanto que você fica aí secando esse prédio.

— Esse é o meu momento JB, não vem cortando minha felicidade não. — rebate.

— Deixa eu ver... Eu chuto que o Mark leu sete livros nessas férias, e vocês galera? — diz Choi Youngjae, outro amigo do garoto que havia entrado para o colégio no ano passado, e em pouco tempo acabou se enturmando com os garotos.

— Sete? Deve ter sido uns uns nove, no mínimo. — diz Bambam.

— Conhecendo ele desde sempre eu acho que foram uns quinze. — murmura o amigo mais antigo.

— Escuta aqui faz muito tempo que a gente não se vê e é assim que vocês tratam seu amigo? Eu sou muito injustiçado, minha nossa! — brinca.

— Na verdade isso é culpa sua! — exclama Youngjae. — Nós três saímos todos os finais de semana nessas férias.

— Isso mesmo, a gente bebia, jogava vídeo games, assistíamos filmes, íamos no puteiro...

— Só corta a última parte que o Bambam estava sonhando. — opõe JB.

— Na verdade, eu só li um... — responde o jovem meio inquieto.

— Um? — todos perguntam juntos e se assustam com a resposta.

— Eu meio que me mantive ocupado fazendo outra coisa... — murmura e suas bochechas coram no mesmo instante.

— Safadinho... Tava dando um trato especial no Mark jr, não é? — brinca Bambam.

— Fica quieto cara, olha a cara de ingênuo dele! Você acha mesmo que nosso amigo faria uma coisa dessas? — interrompe Youngjae.

— Quer saber, vamos entrar logo. Cansei de ouvir você fazendo bullying comigo. — franzi o cenho e enche as bochechas entrando na brincadeira dos amigos.

Assim os quatro finalmente passam pela enorme porta de vidro de entrada do colégio, e logo se dirigem até a sala de aula número quatorze, no segundo andar, onde teriam a primeira matéria, que era inglês.

Os alunos vão chegando aos poucos e aquele ambiente vazio vai ficando cheio com os mais variados tipos de pessoas e suas personalidades. A maioria estavam ali por obrigação, a não ser Mark — e outras poucas exceções — que não via a hora de voltar. Ele e seus amigos se acomodam nas duas fileiras centrais da sala, dois do lado esquerdo e os outro do direito, e por causa do loiro, seus colegas também tinham que ficar na frente, mesmo que não gostassem muito da ideia, afinal geralmente esses lugares eram reservados para os mais estudiosos, e seus amigos não eram bem assim, digamos que trocariam um dia de estudo por uma tarde jogando basquete ou assistindo series.

O professor Kim Yugyeom chega com alguns minutos de atraso, o que para os alunos não era problema, eles gostavam de conversar entre si antes das aulas e o volume daquela sala onde Mark estava era de se ouvir por todo o corredor — principalmente as vozes das meninas que cercavam seu amigo Jaebum, que era bem popular entre elas, todas disputavam entre si para ganhar seu coração, mas parecia que nenhuma era boa o suficiente para ele. Apesar de tudo, o garoto gostava de ser o centro das atenções e sempre estar cercado por elas, por isso nunca reclamava e se sentia superior. O loiro estranha quando o professor de inglês coloca sua maleta em cima da mesa e começa a raspar a garganta para chamar a atenção de todos, em vez de apenas pegar o seu material e começar normalmente com a aula.

— Atenção alunos, queria dar as boas vindas por voltarem, mas antes disso devo-lhes apresentar um novo colega. — Mark estranha tudo aquilo, afinal já estavam na metade do ano e não conseguia entender o motivo de alguém querer entrar numa época como aquela. — Pode entrar senhor Wang.

Wang? O loiro tinha quase certeza que aquele sobrenome não era estranho, mas ele não conseguia se lembrar de quem se tratava.

Isso claro até o momento em que ele pisa naquela sala de aula...

O coração de Mark começa a esmurrar sua caixa torácica, tinha quase certeza de que poderia sair de seu peito a qualquer instante. Uma pequena gota de suor frio escorre pelo seu rosto e pinga em seu caderno que já se encontrava aberto em cima da sua mesa. Aquele garoto era Jackson, seu vizinho, o qual o loiro havia espiado durante praticamente todos os dias das suas férias. O moreno entra com a cara confiante e todos param para observá-lo, estava chamando a atenção de todos da sala. O jovem usava aquela mesma jaqueta preta com um estilo bad boy de quando Mark o viu pela primeira vez naquele dia que ele e sua família se mudavam para o bairro.

— Meu deus! É Jaebum, acho que você perdeu sua fama com as novinhas... O cara é um verdadeiro deus da beleza. A deusa Afrodite encarnada. A última bolacha do pacote. O diamante que ofusca nossos olhos. Um... — Bambam dispara nos elogios e não consegue mais parar.

— Chega cara! Já deu né? E ele nem é tudo isso não... — o garoto franzi o cenho e fica encarando o novo aluno que se mantinha de pé na frente de todos e com um sorriso no rosto.

Jackson apesar de parecer um cara quieto e daquele tipo de pessoa que não gosta de companhia, sua personalidade era exatamente o contrário disso, e Mark sabia muito bem disso, mesmo com poucas palavras que trocaram naquele dia. O jovem era engraçado e não perdia uma boa piada, mas acima de tudo era atencioso e tinha um sorriso cativante.

Os olhos do moreno de repente miram nos do loiro, que o encarava ainda assustado e confuso com tudo aquilo. Ele não entendia o motivo, mas suas pernas tremiam enquanto eles trocavam olhares. Mark sabia que que ele só traria problema para seus estudos, porque quando Jackson estava por perto, era apenas nele que o louro conseguia pensar. Então finalmente ele solta um suspiro profundo...

— Isso era só o que me faltava. — exclama alto.