Henry Lotkins finalmente se livrara de seu apelido que tanto o irritava. “O Mercador da Morte”, seus superiores nas Forças Especiais Britânicas costumavam chamá-lo, devido à sua dedicação em conseguir os melhores contratos e as melhores armas possíveis para seus soldados, mantendo a Inglaterra bem protegida em um mundo que a qualquer momento poderia estourar em uma guerra lutada contra armas biológicas herdadas da Corporação Umbrella.

Antes de ser comprador militar ele se formou em bioquímica em Cambridge, e sua tese de doutorado foi baseada em químicos que alteravam a estrutura das células em mamíferos, com o objetivo de fortalecer o gado contra doenças e chegou a ser procurado por Oswell Spencer e Alexander Ashford, que lhe ofereceram uma vaga em sua equipe de pesquisa da Umbrella, anos antes da empresa causar tanta destruição.

Ele poderia ter aceito se não tivesse conhecido Janet Connington em uma festa de comemoração da sua formatura. Ela era irmã de um aluno da sua turma, e eles conversaram por horas, trocaram telefones e descobriram ao final da noite que estavam apaixonados. Janet era tenente das SAS, e muito empolgada por servir seu país, ao ponto que incentivou Henry a se candidatar a uma vaga burocrática na área de compras, uma glorificada posição de estagiário, mas que demonstrou sua malícia de negociador e o fez crescer até se tornar o tal “Mercador da Morte”.

No entanto, após Janet anunciar que estava grávida, eles decidiram que já haviam servido a Rainha por tempo o bastante e era hora de servir o pequeno James ou a pequena Alexia que viria a nascer em breve e ambos pediram exoneração de seus cargos.

Decidindo por uma paisagem mais tranquila e sem tentações de voltar a trabalhar para a SAS, eles decidiram ir morar próximos ao tio de Janet, Logan, que casara com uma espanhola e morava no interior do país. O tio ficou exultante em recebê-los e fez questão de que morassem na casa ao lado da deles, no pequeno vilarejo de Pueblo, um lugar pacato que parecia intocado pelo século XX, com mulheres simples e homens fortes que trabalhavam duro sua terra e pecuária e eram dados a sorrisos fáceis e piadas.

Entretanto, dois anos após o nascimento de seu filho, as coisas começariam a dar errado e Henry não perceberia até ser tarde demais.

Surgiram rumores de que a velha igreja de San Cristóvan seria restaurada por um benfeitor misterioso que viera da Inglaterra para auxiliar Pueblo a se tornar uma cidade de verdade. Ele ofereceu emprego aos moradores da vila que quisessem uma renda extra para ajudar tanto nas obras da igreja quanto do antigo castelo dos Salazar, que ficava há cerca de um dia da vila.

Quando ele veio visitar a vila, Henry estava apreensivo vendo a figura alta vestida com um manto roxo que parecia uma roupa de feiticeiro das lendas arturianas, carregando um grande bastão para apoio, mas ao conhecer Osmund Saddler, percebeu que o homem era bastante afável e dado a conversas longas. Conversando sobre a vida na Inglaterra e como as coisas eram diferentes nesse país e local, acabou sendo revelado o campo de estudo de Henry, o que interessou Saddler imensamente, que decidiu fazer uma proposta de emprego ali mesmo. Um ótimo salário, a possibilidade de estudar microorganismos que se pensavam estar extintos há séculos, a aura magnética de Saddler, essas eram as razões que Lotkins usava quando sua mulher perguntava seu motivo para ir trabalhar em um projeto tão estranho. Mas a verdade era menos glamourosa que qualquer uma dessas. A vida de cortar e empilhar feno estava o deixando entediado, e essa era uma chance de mudança.

Durante a pesquisa, ele conheceu Luís Sera, outro pesquisador que trabalhava avaliando possíveis reações do microorganismo em seres humanos, para que caso fossem descobertos perigos desconhecidos a operação toda fosse cancelada e as catacumbas sob o castelo Salazar fechadas.

Durante esse período de pesquisa, as pessoas de Pueblo e alguna vilarejos vizinhos que mal poderiam ser chamados assim se interessaram pela antiga religião pregada por Saddler, que se dizia estudioso e amante da história espanhola. A religião se chamava Los Illuminados e falava sobre o direito de nascença de seus eleitos em controlar o destino do mundo, sobre estarem em perpétua comunhão com seu sumo sacerdote na Terra e lhe dever obediência total. A igreja de San Cristóvan foi convertida em um templo de Los Illuminados de forma incrivelmente rápida, removendo os vitrais e quaisquer símbolos cristãos que houvessem, sendo substituídos pelos escolhidos por Saddler.

A princípio isso era algo positivo, as pessoas haviam perdido a fé em qualquer poder maior durante a Guerra Civil Espanhola, que levara tantos de seus jovens para a morte e os fizeram esconder seus pequenos tesouros do melhor jeito possível.

Mas aos poucos as pessoas foram ficando mais e mais fanáticas, alguns acólitos raspavam a cabeça e usavam versões negras e vermelhas do traje de Osmund Saddler, de acordo com seu nível hierárquico na religião.

O pico do fanatismo coincidiu com o caso de Luís Sera, que descobriu toda a verdade sobre o que Saddler realmente pretendia fazer com Las Plagas, o nome dado ao microorganismo que pesquisavam. Por acidente Henry pegou Luís escrevendo um e-mail para um colega seu de Madri e ao comentar com Saddler a respeito, viu os olhos do amigo brilharem com uma fúria gélida, mas a voz não traía qualquer emoção ao pedir que Henry vigiasse os passos seguintes de seu colega, mas primeiro, ele deveria receber a injeção imunizante contra os efeitos colaterais das Plagas, e tal foi a insistência que ele aceitou.

O próprio chefe aplicou a agulha hipodérmica em sua nuca, e ele sentiu uma espécie de pelota entrando junto com o líquido, e ao ver o sorriso satisfeito de Saddler percebeu que era tarde demais e o erro havia sido cometido. Durante os dois dias seguintes sentiu dores no peito e viu sua esposa e filho sentirem o mesmo, e pensou em fugir dali, mas sempre que pensava nisso sentia um zumbido em seu cérebro que o impelia a cumprir o que lhe fora pedido por seu mestre. Mestre? Sim, mestre, era assim que pensava em Saddler agora.

Encontrou Luís no final do segundo dia em sua sala, com uma pilha de papel rasgado no canto, uma imensa pasta com papéis e uma pistola de aparência antiga sobre a mesa. Red9, ele reconheceu, seu olho de mercador treinado reagindo instintivamente. Uma boa arma. Talvez tenha sido a visão da arma que o distraiu tempo o bastante para que Luís o nocauteasse com um golpe na nuca, e o imobilizasse no chão com um joelho sobre seu peito, uma coisa colorida na mão que cobria sua boca e um olhar determinado nos olhos.

Ao engolir o comprimido, ele espumou de raiva por alguns instantes, mas era possível sentir a fina membrana se dissolvendo já no esôfago, espalhando algo que queimava sua garganta, parecia um uísque escocês que tomava escondido da adega de seu pai.

Então sua mente começou a clarear e ele percebeu que estava deitado no chão e Luís olhava com ansiedade para ele e ao redor, como se esperasse que um exército entrando por aquela porta.

Luis lhe explicou que ele havia sido injetado com um ovo de Plaga controlável pela utilizada no corpo de Saddler e de alguns outros que gozavam de sua total confiança. Luis, vendo qual rumo sua pesquisa tomava, decidiu que lutaria contra isso e desenvolveu uma pílula que suprimia totalmente a vontade do parasita no corpo do hospedeiro, então ele tinha a força e resiliência das Plagas sem o risco de ser transformado em uma marionete de Saddler.

Entretanto, os materiais necessários para a pílula de supressão total eram escassos e ele só conseguiu fazer duas, uma que usou em si mesmo e outra que deu a Henry, pedindo sua ajuda até que fosse possível remover permanentemente o parasita em seu corpo.

Apesar do desejo de colaborar com seu colega, Henry se preocupava com a segurança de sua família, então partiu para Pueblo, dessa vez notando detalhes que sua mente não percebera antes. Alguns moradores efetuavam suas tarefas normalmente, porém em um ritmo que parecia com os vídeos de zumbis que vira de Raccoon City, enquanto outros simplesmente ficavam parados no lugar com suas ferramentas rurais, machados, foices e ancinhos. Porém, impreterivelmente, conforme ele se aproximava eles o olhavam nos olhos por alguns segundos seus olhos de íris vermelhas que não possuíam antes, e pareciam decidir que estava tudo bem, e acenavam com a cabeça com alguns resquícios da antiga simpatia.

O seu coração parecia congelado no peito, temendo pelo pior, mas nada podia prepará-lo para o que viu no centro da vila. Um pequeno gazebo montado na praça central com uma cadeira de injeções, com um homem vestido de médico injetando ampolas que estavam apoiadas em uma fila pequena de pessoas do vilarejo, mas isso nem era o pior.

A porta de sua casa, sempre aberta para as crianças do vilarejo visitarem estava fechada e só agora ele percebia que não vira nenhum dos garotinhos que costumava ver pelo caminho.

Temendo pelo pior, abriu a porta e foi recebido por uma escuridão inquietante, e uma sombra perambulando pela casa. Ele instintivamente levou a mão para o peito, onde ficava no passado o coldre da arma que a esposa insistia que ele usasse no tempo de exército, mas agora a única ameaça eram os corvos que ficavam implorando por comida no trajeto para o laboratório, então ele não está armado.

Henry tateia então em busca do grande pedaço de madeira usado para travar a porta e já iria desferir um golpe, quando começa a reconhecer as formas de Janet que embalava Jack em seus braços.

Um suspiro de alívio se forma em seus lábios, até ver que a cabeça de Jack está em um ângulo estranho, e a música de ninar que julgara ouvir vindo dos lábios de sua esposa era um cântico como o dos fanáticos que iam à igreja sempre que o sino tocava.

Ele delicadamente tentou acordar a esposa, falar com ela, porém ela não faz nenhum som além perturbador “tudo bem, Jack. Morrer é viver…” infinito e nem ao menos nota sua presença.

Ao passar por ele em uma das voltas, ele agora vê que o rosto de sua esposa está marcado por três arranhões imensos e o um de seus olhos está pendurado pelo nervo óptico enquanto o outro com as pupilas vermelhas vai do que restou do corpo do filho para o teto, como se esperasse ouvir algo. Um sino, talvez.

O corpo de seu filho nos braços não estava muito melhor, agora dava para ver porque a cabeça estava em um ângulo estranho: na verdade a maior parte dela havia estourado como se houvesse uma granada dentro de seu cérebro, só que ao invés de estilhaços e sangue, o que se espalhava pelo chão eram cacos de crânio e esporos de Las Plagas.

Sabendo que não haveria muito o que fazer por sua esposa e filho, subiu até seu quarto, olhou para a espingarda pendurada na parede, um toque de saudosismo de Janet, e cogitou usar a arma para redecorar o quarto com mais amostras de esporos, chegou mesmo o cano na boca, porém lembrou de Luis e se sentiu fraco. Se deixar sua mulher vagando com o corpo de seu filho era tudo que ele podia fazer, ele era um péssimo marido e pai. Ele então recolocou a arma em seu suporte e deixou a caixa de munição com que ia carregá-la à beira da cama, trocou de roupa e foi dormir. Acordou horas depois deslizando a mão pela cama, esperando encontrar sua esposa ao seu lado, como se tudo fosse só um longo pesadelo, mas tudo que sentiu foi a borda da embalagem amarela de munição para espingarda.

Levantou e se trocou como se a cidade inteira não estivesse sendo transformada em uma placa de Petri gigante nas mãos do maníaco Saddler. Ao descer as escadas, viu com grande desprazer sua esposa ainda vagando com os restos do filho, e agora ele via que a mão direita de Jack não existia mais, tanto quanto a cabeça, eram três dedos imensos unidos como nadadeiras de patos, só que com unhas enormes e estavam cobertos de sangue.

Henry pensou consigo mesmo que iria tomar alguma providência quando retornasse, mas agora havia algo muito importante a fazer. Saiu de casa normalmente e deixou a porta ostensivamente aberta, um sutil mas poderoso sinal de liberdade. Andou pela vila do mesmo modo que no dia anterior, sendo avaliado e aprovado pelos vizinhos, mas sem satisfação, apenas indiferença.

Ao chegar ao laboratório, percebeu logo que Saddler não estava, pois sua sala de vidro no meio do complexo estava vazia. Isso não era surpresa, considerando que o assim chamado Lorde estava passando um bom tempo no castelo de Salazar e na igreja. Os rumores antes das pessoas serem transformadas em monstros era que uma garota estrangeira fora levada à igreja para ser “doutorada” (seja o que for isso), e a entrada nas áreas superiores era proibida até segunda ordem para qualquer pessoa da vila.

Sem Saddler no caminho, Henry pôde mexer nas coisas de Luis, que pelo visto não viria mais hoje. Encontrou algumas pastas explicando a origem das Plagas, a forma como agiam, e o mais importante, como removê-las. Apesar de haver algum tempo limite para a remoção ele se interessou por essa parte, pois mesmo não sendo capaz de salvar seu filho, talvez ainda pudesse salvar Janet. O arquivo dizia que a máquina ficava em uma ilha ao Sul, e ele já começava a pensar como chegar nela.

Trabalhou o resto do dia com a mente em Janet e como ela estaria, mas não ousava revelar que estava com um pensamento independente até poder agir. Na hora em que saiu do trabalho fez o que pôde para não correr para casa, mas tão logo chegou em Pueblo viu que a tenda de vacinação não estava mais lá, no seu lugar os moradores estavam construindo uma espécie de pelourinho, algo saído da época da Santa Inquisição para expor os corpos dos pecadores e bruxas. Ele não gostou nada do que via, mas preferiu ir para casa pegar Janet e tentar convencê-la de que Saddler iria querer que ela fosse para a ilha com ele.

A porta estava novamente fechada quando se aproximou, dando calafrios nele, mas dessa vez havia iluminação quando ele entrou, e nada poderia prepará-lo para o que viu. Sua esposa estava com a pele do rosto totalmente rachada, como se fosse um pedaço de cerâmica, uma escultura pós moderna que não deu certo, sua mão direita começando a se contorcer convulsivamente enquanto a esquerda enfiava e socava o que ele percebeu que eram os restos do menino (ele não ousava chamar aquilo de Jack) em uma das grandes panelas de cobre que usavam para cozinhar. Novamente ela não lhe deu atenção, nem para o vômito que ele foi obrigado a deixar no chão.

Fazer isso clareou sua cabeça e ele percebeu com crescente desânimo, que não tinha como salvar sua esposa, já era tarde demais. Tentou chorar, mas seus olhos deturpados não tinham umidade, então ele fez a única coisa que poderia fazer. Pegou uma faca e esfaqueou sua esposa até que ela não passava de uma massa irreconhecível.

Ele saiu da casa com a certeza de que não voltaria nem para pegar sua mala, e partiu para a cidade propriamente dita mais próxima, onde comprou um par de óculos escuros e um celular pré-pago em um posto de gasolina com um atendente sonolento. Então saiu de lá e ligou para o primeiro número que se lembrou dos seus tempos de Mercador da Morte, um dos contatos apenas marginalmente legal que seus superiores fingiam ignorar, pois ele era um dos melhores do ramo.

Ao ouvir sua voz Dmitri só faltou gargalhar de felicidade, dizia que não conseguia mais contratos com o governo e que seu substituto era um imbecil. Perguntou se ele estava de volta aos negócios, ao que ele teve que responder que sim, mas como um consultor de defesa independente, ao que Dmitri dessa vez sim gargalhou com prazer,sempre soube que um dia Henry iria virar um vendedor como ele, ele era muito bom para o exército.

Não querendo revelar seu objetivo, Henry deixou que ele dissesse o que queria, e então disse a parte mais perigosa daquela ligação, que seria uma venda por consignação, já que ele não dispunha de fundos imediatos. Dmitri agora derreteu qualquer gentileza e reminiscências do passado e disse o quanto aquilo era errado, irregular, quanto Henry pedia que ele arriscasse um carregamento, mas aquilo era uma espécie de piada mais sombria entre eles desde a época do exército. Dmitri sempre fazia questão de deixar claro que estava perdendo dinheiro, que os governos o deixariam pobre e mais um monte de dramalhão, apenas para dizer que “aceito esse negócio ingrato, e espero que esteja feliz em tirar comida da boca dos meus filhos!” e logo em seguida voltar ao seu animado jeito de ser, perguntando quais armas Henry queria e a quantidade. Ele fez uma estimativa avaliando a quantidade de munição que precisaria, as armas que geralmente encomendaria em caso de um pedido para equipes secretas e pediu uma bela quantidade de armas, inclusive algumas que não saberia usar.

Informou o destino em que estava e Dmitri fez questão de dizer que um camarada que morava e operava em Portugal teria prazer em fazer o favor de enviar um helicóptero em 12 horas com a mercadoria e desejou boa sorte a Henry.

Sabendo que não poderia simplesmente voltar à Pueblo enquanto as armas não tivessem chegado, ele já se preparava para comprar suprimentos e partir para o ponto de encontro, quando viu por sobre os ombros um homem claramente americano com roupas civis se aproximar da delegacia da cidade, um prédio modesto, porém funcional. O homem estava vestido com uma calça jeans, botas de caminhada e uma jaqueta de couro, fazendo o possível para passar por turista, mas a maneira com a qual agarrava a maleta que levava e o passo deliberado e firme mostravam a um olho treinado pelo exército como o de Henry que o homem era pelo menos policial. Somando os fatos que sabia, pôde supor que aquele homem viera atrás da tal garota que estava sendo doutrinada na igreja, já que não era ninguém que ele conhecia e não havia muitas pessoas que iam a Pueblo, ou sequer que conhecessem a vila. O homem passou cerca de meia hora ali e então saiu acompanhado de um policial de óculos que o levou para um hotel para passar a noite.

Agora sentindo que encontrara seu potencial cliente, Henry partiu para uma última checagem da região de Pueblo, a fim de garantir que poderia receber sua encomenda sem problemas.

Pela maior parte do caminho ainda parecia que estava tudo certo, e mesmo ao chegar ao lago, tudo parecia bem, inclusive a caverna que já havia mentalmente decidido que seria o local onde guardaria a maior parte do carregamento. Foi até lá com um barco a motor que era usado nas travessias, porém ao chegar, viu uma tocha acesa na cabana e ficou retesado com a tensão. Nenhum dos homens de Saddler sabia daquela caverna, ou pelo menos da cabana que ele estava construindo para surpreender sua esposa e filho no próximo verão. Mas lá estava um dos homens de manto, os grandes babacas. Ele começou a cantar baixinho aquele cântico que sua mulher também cantara, porém em espanhol, sendo essa a única diferença, mas o bastante para irritar Henry de verdade. Ele agarrou a tocha de seu suporte e começou a espancar o maldito com violência, a tocha se apagando no processo, mas seu calor sendo o bastante para queimar as mãos de Henry e o rosto do Ganado (era assim que Luis os chamava em seus arquivos), então ele pegou as luvas que usava para trabalhar na cabana e as colocou, cortando a ponta dos dedos para manusear as armas com mais precisão, e vendo a veste empoeirada do Ganado, uma revelação lhe ocorreu: aquela roupa serviria para se infiltrar em qualquer propriedade dos Illuminados que quisesse, e poderia ocultar sua identidade com um lenço no rosto. Não enganaria os mais astutos, os que possuíam as tais Plagas de controle, mas os peões com certeza não perceberiam nada. Despiu o homem a seus pés, colocou seu manto e empurrou seu corpo para o lago. Então avaliou o espaço que tinha e decidiu que ali seria mesmo o lugar ideal para guardar a mercadoria. Decidiu repousar por algumas horas até que fosse encontrar o tal português.

Acordou em algumas horas, inquieto com a espera, e decidiu partir ao local do encontro, ficando por lá até que enfim o helicóptero apontou no horizonte e ao descer pulou um homem com um generoso bigode que cobria uma boca que não sorria generosamente. O homem ordenou para que seus auxiliares descessem a pesada caixa, deu uma prancheta para que ele confirmasse o recebimento e partiu sem uma palavra. Henry pensou com ironia que não eram todos que podiam ser agradáveis como Dmitri.

Por não poder arriscar a operação de Dmitri ligando de um celular pré-pago novamente, ele decidiu deixar que o tal português cuidasse de avisar que tudo dera certo, e tratou de pensar em como iria mover aquela caixa até sua caverna, considerando que mesmo com rodas era muito pesada para o barco, então ele a abriu e viu que além das armas haviam coletes táticos, mochilas para operações especiais reforçadas e outras coisas que poderia usar. Decidiu transportar as armas em algumas viagens usando o barco, e assim o fez. Armou o que pareceria uma respeitável loja de contrabando em sua cabana e se armou até os dentes, era a hora de sua vingança. Mas ele não precisaria lutar essa batalha, ele tinha peões para lutá-la por ele. Ele voltou ao seu papel. Ele era de novo o Mercador da Morte.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.