Me despedir de Benjamin, foi a coisa mais dolorosa que já tinha feito na vida, pois não queria me separar dele nunca mais, mas sabia que ele tinha razão em me afastar de La Push.

Em uma guerra, quando o nosso inimigo não tem honra, ele recorre a inúmeros artifícios desleais para ganhar e odiava admitir, mas Edward tinha razão quando disse que eu era o ponto fraco do meu marido. Sabia que Benjamin seria capaz de qualquer coisa por mim e Leticia também sabia disso, por isso concordei com a ideia dele me mandar de volta para casa.

Casa...Como essa pequena palavra de quatro letras, poderia mudar de significado rapidamente?!

Minha avó sempre dizia, casa era onde seu coração estava.

E o meu não estava mais em Londres.

Simplesmente não conseguia mais, me ver morando em Londres como antes, era como se tudo que passei nesses poucos dias que fiquei em La Push, tivessem me modificado para sempre, me dando a certeza de que meu lugar era ao lado do homem que eu amava e não em outro continente.

Determinada peguei meu celular para ligar para Benjamin e lhe contar sobre a minha decisão de ficar definitivamente em La Push, mas assim que olhei pela janela notei que estávamos indo por um caminho diferente para o aeroporto, o que me deixou desconfiada.

—Onde estamos indo? Esse não é o caminho do aeroporto. - questionei desconfiada para o rapaz que estava ao volante e ele sorriu de forma conspiratória, para o homem que estava ao meu lado.

—Ela tem razão, para onde você está indo Jason? -o rapaz no banco do passageiro da frente questionou sério e os dois cumplices sorriram, antes dos dois homens da frente começarem a lutar pelo controle do volante do carro.

Começando a ziguezaguear pela contramão na pista em alta velocidade, enquanto os outros carros buzinavam tentando desviar de nós e dois homens sentados na frente, ainda lutavam para assumir o controle da direção.

Desesperada para escapar dali, comecei a apertar o botão que abria a porta traseira, mas nada acontecia e conclui que provavelmente as portas deviam estar travadas, mas não seria isso que me impediria de fugir daquele carro desgovernado.

—Onde você pensa que vai? Leticia está louca para conhecê-la pessoalmente. -o homem que estava sentado atrás de mim disse sério, enquanto me via lutar para abrir a porta.

—Fica longe de mim. - avisei com o coração acelerado enquanto olhava para ele que sorriu divertido com a minha ameaça.

—Como se você fosse capaz de fazer algo contra mim. - ele disse divertido e me encostei contra a porta tentando manter alguma distancia dele.

Antes que ele pudesse se aproximar de mim, o carro saiu da pista e entrou na floresta seguindo descontrolado, quebrando alguns galhos no caminho até bater em uma árvore, parando finalmente.

Atordoada por causa do acidente, olhei para os lados percebendo que só havia dois homens desacordados no carro, os mesmos que haviam se voltado contra meu marido, mas antes que pudesse supor onde o terceiro estava, a porta que tanto lutei para abrir foi praticamente arrancada, antes que alguém me puxasse de dentro do carro.

Automaticamente comecei a me debater nos braços do meu inimigo, tentando me soltar dele, mas ele era mais forte do que eu conseguindo me empurrar de encontro ao carro, antes de segurar minhas mãos e me olhar nos olhos.

—Você precisa se acalmar, Melissa. Está tudo bem, estou do lado do Benjamin. - o rapaz que lutou contra o motorista pelo controle do carro, disse olhando nos meus olhos.

—Eles também diziam estar...E do nada tentaram me matar. - disse assustada e entre lágrimas enquanto olhava em seus olhos. -Porque deveria confiar em você? Quem me garante que também não está tentando me enganar, para me matar depois?

—Você salvou a minha esposa grávida...Você, Melissa Clearwater, salvou o meu imprinting, quando resgatou as pessoas que estavam com Harry, e devo isso a você. - ele disse sincero enquanto me olhava nos olhos, tentando me convencer da verdade. -Você devolveu a minha vida, quando achei que a havia perdido, agora chegou a minha vez, de pagar a minha dívida com você e honrar meu juramento ao meu alfa, devolvendo a vida dele a ele, por isso precisamos sair daqui antes que eles acordem.

—Você jura que irá me devolver ao Ben? - questionei séria olhando em seus olhos, tentando descobrir se ele estava mentindo ou não.

—Juro pela vida do meu filhote prestes a nascer, que a devolverei em segurança ao Ben. - ele disse sério e senti que ele estava falando a verdade.

—Vou lhe dar um voto de confiança, afinal todos merecem uma chance. - disse suave antes de oferecer a minha mão a ele. -Como você já sabe, me chamo Melissa, mas pode me chamar de Mel. E você, é?

—Caleb Jones, mas pode me chamar de Caleb. - ele disse suave enquanto apertava a minha mão.

—É um prazer conhecê-lo Caleb e não se preocupe em horar qualquer dívida comigo, por ter salvado sua esposa. Ajudei todos sem esperar nada em troca, mas agradeceria muito se me ajudasse a voltar para o meu marido, que já deve está aflito sem notícias minhas. - pedi olhando em seus olhos e ele concordou antes de soltar a minha mão e indicar que devíamos seguir pela floresta.

—Não seria mais fácil irmos para a estrada e pedir uma carona? - questionei enquanto andava atrás dele, agradecendo mentalmente por ter escolhido uma roupa confortável e tênis, mesmo sem saber que faria uma trilha pela floresta.

—Não é uma boa ideia. Com certeza Leticia deve ter mandado mais lobos atrás de você, como eles não conhecem seu cheiro, é quase certo que devem estar rasteando-a através do cheiro do Benjamin, como fêmea dele você possui um pouco do seu cheiro. Por isso o lugar mais seguro para andarmos é pelo riacho que fica logo a frente, ele será capaz de anular o seu cheiro por um tempo. - Caleb explicou e concordei enquanto andávamos pela floresta atrás do tal riacho.

Caminhamos mais um pouco até finalmente chegarmos ao tão falado riacho, não era nada fácil caminhar dentro da água, porque depois de um tempo a calça Jeans que usava assim como o tênis, já estavam encargados dificultando a minha locomoção além de me fazer tremer de frio.

Em uma parte do riacho, Caleb fez sinal para que me abaixasse atrás de uma moita e fiz o que ele pediu, logo começamos a ouvir passos pesados batendo contra o solo, mas em determinado momento eles pararam e vieram em nossa direção, me deixando apavorada.

—Fique em silêncio e segure a respiração, enquanto os levo para longe. - Caleb sussurrou baixo perto do meu ouvido e concordei antes dele se afastar de mim.

Fiquei quieta segurando a respiração o máximo que pude enquanto segurava a medalhinha que pertencia ao meu marido, a qual ainda estava em meu pescoço, pedindo em pensamento que o santo protetor da sua família, me ajudasse a sair dessa viva e que pudesse estar em breve nos braços de Benjamin.

Logo ouvi um barulho de alguém se aproximando de mim, apavorada com a possibilidade de ser um dos homens de Leticia, olhei para os lados em busca de algo para me defender e peguei um galho de tamanho médio, para atacar quem estivesse se aproximando de mim. Assim que os passos ficaram próximos, contei até três antes de me levantar e parti para cima do meu inimigo com o pedaço de galho em mãos.

—Espera, Mel, sou eu. - Caleb disse alarmado segurando o galho que estava em minhas mãos, evitando que o acertasse com ele.

—Me desculpe, não queria ataca-lo só achei que fosse os homens de Leticia. - disse envergonhada por quase ter machucado meu aliado.

—Está tudo bem, se estivesse no seu lugar faria o mesmo. - ele disse sorrindo antes de tomar o galho da minha mão e jogá-lo fora. - Você pode ser baixinha, mas tem a coragem de uma leoa, Melissa.

—Hei, não sou baixinha, tenho um e sessenta e quatro, vocês é que são altos demais. -me defendi e ele sorriu antes de indicar que deveríamos seguir a diante. - Tem certeza que é seguro continuarmos caminhando? Os homens de Leticia podem estar a nossa espera.

—Tenho certeza que é seguro, disse a eles que já vasculhei essa área e que provavelmente você deve ter ido para o norte. - Caleb disse enquanto andava em minha frente.

Depois de um tempo andando pelo meio do riacho, vendo apenas água e vegetação comecei a escutar sons de civilização o que me deixou confusa, afinal Caleb havia me dito que não era seguro nos aproximarmos da estrada, lembrar desse fato me fez desconfiar novamente sobre a honestidade de Caleb.

—Para onde estamos indo, Caleb? - questionei séria parando de segui-lo e ele virou para me ver.

—Para um lugar seguro. - ele disse me olhando e estreitei meus olhos.

—Você disse que não devíamos nos aproximar da estrada, agora está me levando para uma?! Só irei continuar a andar se me disser para onde realemnte estamos indo, ou juro que começo a gritar atraindo a atenção de todos para nós e digo para quem se aproximar, que você me sequestrou, ai quero vê-lo se explicar para a polícia local. -disse séria olhando em seus olhos e ele suspirou resignado.

—Leah me disse que você era experta, só não sabia que era tanto. - ele disse e pisquei confusa, sem entender o que minha sogra tinha haver com a nossa conversa e Caleb pareceu entender o rumo dos meus pensamentos. -Leah veio falar comigo ontem a noite, confessar que desconfiava que poderia ter um traído entre os aliados do Ben e que provavelmente, eles iriam fazer questão de acompanhá-la ao aeroporto para mudarem de rota, entregando-a assim a Leticia.

—Espera, você está querendo me dizer que a minha sogra planejou tudo isso, baseada em um palpite? -questionei em dúvida e ele concordou com a cabeça.

—Sim, um palpite somado ao poder de ver o futuro da tia do Ben.

—E qual era o seu papel nessa história?

—Ficar alerta e protegê-la dos “lobos maus”, antes de leva-la em segurança, para o único lugar em que Leticia jamais a procuraria.

—Que seria?

—Veja por si mesma. - ele disse me incentivando a seguir em frente.

Desconfiada, caminhei com cuidado em direção aos sons de civilização que se tornavam cada vez mais altos a cada passo que dava, logo sai da floresta e percebi que estava em um estacionamento de uma cafeteria.

Confusa virei para olhar Caleb, que estava saindo da floresta e se aproximava de mim.

—O que estamos fazendo em uma cafeteria, Caleb? -questionei confusa, afinal ele havia dito que me levaria para um local seguro e com certeza uma cafeteria não era um local seguro, para quem estava sendo caçada pela prima louca, que se transformava em loba, do marido.

—Não é qualquer cafeteria, Mel. - ele disse indicando o letreiro do estabelecimento e voltei minha atenção para o local, quase chorando de emoção ao reconhecer o logo do Café Elba, minha cafeteria preferida em Londres, que só recentemente descobri pertencer a minha sogra.

Apesar da minha euforia em correr para o local, tive que me controlar quando Caleb sugeriu que devêssemos usar a vegetação para nos ocultar das pessoas, pois qualquer um poderia estar ajudando Leticia e concordei com a sua sugestão.

—Você tem certeza que estaremos seguros no Café Elba? - questionei insegura andando ao lado de Caleb, enquanto nos ocultávamos das pessoas com a ajuda das árvores.

—O Café Elba é o melhor lugar em Forks para nós nesse momento. A gerente do local é prima da sua sogra e por consequência, prima de segundo grau do Ben e esposa de um dos antigos alfas, antes da linhagem de Lyva assumir a liderança. Podemos confiar na Emily. - Caleb disse convicto e concordei antes de continuarmos a caminhar em direção ao café.

—Caleb, até que fim. - uma senhora por volta dos cinquenta anos, com o rosto possuindo algumas cicatrizes e os cabelos alternando entre fios brancos e pretos, disse aliviada assim que entramos pela porta que dava acesso a cozinha da cafeteria.

—Vocês demoraram demais, já estávamos achando que havia acontecido algo. - ela disse preocupada antes de nos indicar que a seguíssemos.

—Tivemos que vir pelo caminho mais longo, Emily, pois os homens de Leticia estavam vasculhando a floresta atrás da Mel. - Caleb explicou e Emily concordou antes de abrir uma porta e indicar que entrássemos.

Assim que entrei na sala, que parecia ser o local de descanso dos funcionários por ter alguns sofás ali, chorei de alivio ao ver meus sogros e corri para abraça-los.

—Graças a Deus, você está bem. Fiquei preocupada com a sua demora. - Leah disse aliviada assim que me separei de Elliot para abraça-la.

—Você está bem? Eles a machucaram? - Elliot questionou preocupado enquanto me olhava, em busca de qualquer sinal que indicasse que precisava dos seus conhecimentos médicos.

—Estou bem, apesar de todo susto. - disse me separando da minha sogra antes de olhar para eles. - Onde o Ben, está? Preciso falar com ele, assegurar que estou bem, porque tenho certeza que ele deve estar louco de preocupação com a minha falta de noticiais.

—O Ben não está aqui, Mel. Na verdade, não temos tempo para explicar os detalhes, tudo que precisa saber é que nosso filhote acha que você morreu e ele foi atrás da Leticia para se vingar. -Leah explicou e os olhei assustada.

—Mas eu estou viva...Se o Ben fizer algo contra a prima no calor da raiva, ele jamais irá se perdoar. - disse preocupada com essa possibilidade, pois conhecia o suficiente do meu marido para saber o quanto ele era generoso e justo, sendo incapaz de fazer algo que pudesse prejudicar outra pessoa.

Mas a raiva associada ao “doce temperamento explosivo”, que ele julgava ter, eram o combustível necessário para que Benjamin perdesse a cabeça, resultando em uma verdadeira tragédia familiar.

—Por isso precisamos sair daqui agora e impedir que uma tragédia aconteça. - Elliot disse e concordei antes de seguir meus sogros para fora do café.

Enquanto Elliot dirigia em alta velocidade, pedia a Deus que pudéssemos chegar a tempo de impedir que Benjamin fizesse algo sem pensar, pois sabia que se chegássemos tarde demais, a culpa de ter feito algo contra o seu próprio sangue iria consumi-lo, fazendo-o sofrer para sempre.

E não suportaria ver o homem que amava mergulhado em dor e culpa, por ter feito algo sem pensar, apenas porque acreditava que eu pudesse estar morta.