Escolhi levar Aurora para fazermos nosso piquenique no Hyde Park, um dos parques mais famosos e populares de Londres, que possuía uma ampla extensão e várias atividades ao ar livre. Sabia que nesse horário o parque estava calmo, pois sempre trazia meus sobrinhos para brincarem aqui aos domingos, principalmente agora que Benjamin estava morando longe e Charlie sentia muito falta do padrinho.

Decidimos ficar em baixo de uma árvore frondosa em frente ao lago, nos permitindo observar os patos que passeavam na água durante o verão londrino no qual o país havia acabado de entrar.

—Você realmente veio preparado. - Aurora comentou surpresa colocando a toalha xadrez em cima da grama, após ter me visto tirar algumas almofadas que havia trago em uma sacola.

—Gosto de conforto, querida, ainda mais se vamos passar o dia todo fora. - expliquei e ela ficou surpresa por meu comentário.

—Vamos passar o dia todo no parque?

—Sim, mas se tiver outros planos está tudo bem, podemos ficar apenas por algumas horas e depois a levo para casa. -ofereci triste, pois queria muito ficar o dia todo com Aurora, porque tínhamos ainda muito o que conversar e o nos conhecer.

—Está tudo bem, Ethan, não tenho nada programado para hoje. Posso ficar com você o dia todo. - ela disse sorrindo e respirei aliviado, antes de puxá-la para os meus braços.

—Saber que ficará comigo o dia todo, me agrada bastante. - segredei olhando em seus olhos e Aurora sorriu, antes de nos beijarmos com carinho.

Beijar Aurora era uma das melhores coisas, que já tive o prazer de fazer na vida.

A cada beijo ou caricia que trocávamos, me sentia muito mais forte e feliz do que um dia pensei que fui. Só agora entendia, o que era amar de verdade e a força que esse sentimento tinha em relação as pessoas, porque Aurora era o meu mundo, a minha razão para existir o meu ponto de equilíbrio no meio da tempestade e esperava que fosse o mesmo para ela.

—Porque estar com você é tão diferente? Como se finalmente, tivesse encontrado o meu lugar? - Aurora sussurrou para si mesma, assim que interrompemos o nosso beijo para respirarmos, enquanto permanecíamos com nossas testas unidas.

—Talvez, seja porque sou o homem da sua vida. - disse sincero e Aurora sorriu, enquanto acariciava meu cabelo de leve.

—Estou começando a acreditar nisso, mas e você? Acha que sou a mulher da sua vida?

—Eu não acho, Aurora. Eu tenho certeza. - segredei e ela sorriu para mim, em seguida acariciei o meu nariz com o seu.

—Excelente resposta, querido. - ela sussurrou brincando e sorrimos.

—Sabia que seria. - brinquei e sorrimos antes de nos separamos, nos sentando em seguida na toalha xadrez que Aurora havia arrumado.

Enquanto ela arrumava as almofadas perto do troco da árvore, tirava as iguarias que havia preparado hoje cedo para o nosso piquenique, pois queria agradar Aurora além de tornar esse momento especial, pensando e preparando cada detalhe dele.

—Dessa vez Stella se superou, tudo parece estar uma delícia. - ela disse sorrindo enquanto olhava para a variedade de doces e salgados que havia feito.

Não me surpreendi ao ouvi-la achar, que havia sido a governanta da minha família a preparar tudo, pois sabia que Aurora passava os domingos na minha casa, ajudando meus pais a organizarem suas bodas que ocorreria daqui a um mês.

—Apesar de parecer com as iguarias que a Stella prepara, não foi ela que fez nenhuma dessas delicias. - disse e ela me olhou confusa por alguns instantes, antes de me olhar surpresa.

—Espera, foi você que fez tudo isso, Ethan? - ela questionou indicando tudo e concordei fazendo-a sorrir. - Não acredito, que você sabe cozinhar.

—Sei, na minha família cozinhar é um hobby. Cresci vendo meus pais, cozinhando para nós nos finais de semana e nas férias, era a forma que os dois encontraram de ficarem mais perto dos filhos já que trabalhavam demais e acabei gostando desse momento familiar, aprendi a cozinhar com eles.

—Que bom, porque eu também gosto muito de cozinhar. Quem sabe um dia, não possamos cozinhar juntos? - ela sugeriu e sorri feliz por termos isso em comum.

-Eu iria adorar, amor. - disse sincero e ela sorriu concordando, antes que me questionar sobre o que havia feito para comermos durante o nosso piquenique.

Havia feito pratos simples, pois sabia que isso iria agradar minha namorada e a minha também. Decidimos comer alguns muffins de amora, que havia aprendido a fazer com a minha mãe quando era adolescente, ver Aurora gemendo satisfeita ao provar a comida que havia feito, especialmente para ela, não tinha preço.

—Isso está uma delícia, Ethan. - ela disse e sorri me aproximando dela, como se estivesse prestes a beijá-la mas ao em vez disso, limpei a ponta do seu nariz sujo de geleia de amora com o meu polegar e não pode deixar de notar a decepção nos olhos de Aurora, quando percebeu que não iria beijá-la.

—Fico feliz que tenha gostado da minha comida.- disse feliz por tê-la agradado e ela sorriu radiante.

—Gostar é pouco, eu adorei. Nunca comi algo tão bom quanto esse muffin...Por favor, não conte para a minha avó. - ela implorou a última parte a mim e concordei sorrindo.

—Seu segredo está seguro comigo, senhorita Lopes. - assegurei suave e ela respirou aliviada me fazendo rir.

—Então, porque decidiu ser médico, Ethan? - ela questionou curiosa, antes de comer mais um pedaço do seu muffin.

—Acho que não decidi ser médico, Aurora. Ser médico, foi algo natural pra mim como respirar. - disse sincero pegando dois copos e servido suco de laranja para nós, antes de continuar falando. -Sempre amei ajudar os outros desde pequeno. Me lembro que adorava pegar o estetoscópio do meus pais, para escutar o coração de todos os meus brinquedos principalmente do senhor urso, que sempre teve problemas cardíacos.

Sorri me lembrando do senhor urso, meu companheiro de dormir, que havia ganhado dos meus bisavôs assim que nasci e que ainda estava comigo, já que não deixei minha mãe doá-lo, pois era a única lembrança que tinha dos meus bisavôs.

—Quem é o senhor urso? - Aurora questionou curiosa e pisquei voltando ao presente, corando ao perceber que havia contado a minha namorada sobre meu urso de pelúcia, um fato que só a minha família sabia.

—Quando nasci, meus bisavôs me deram um urso de pelúcia de presente. Quando comecei a falar lhe dei o nome de senhor urso, éramos inseparáveis ainda mais após a morte dos meus bisavôs. Minha mãe queria doá-lo para o orfanato, junto com alguns brinquedos que havia arrecadado, mas não consegui me desfazer dele.

—Eu entendo. Quantos anos você tinha quando seus bisavôs morreram, Ethan?

—Dois anos...Lembro muito pouco dos deles. Se não fosse pelas fotos ou as histórias, que minha irmã e meus pais contam, jamais saberia como os dois eram. - disse perdido em lembranças, tentando buscar na memorias como meus bisavôs eram.

—Sinto muito, Ethan, sei como é perder alguém e não conseguir se lembrar. Tinha quatro anos, quando perdi minha mãe e meu irmão, se não fosse pelas fotos ou vídeos, não saberia como era a risada dela ou a forma como me olhava... - Aurora disse perdida em pensamentos, como se tentasse lembrar da mãe.

—Sinto muito, amor. - disse sincero acariciando seu cabelo com carinho, tentando reconfortá-la por sua perda. -Não sabia que você teve um irmão.

—Na verdade, nem cheguei a conhecê-lo, pois ele morreu. Pelo que meu pai me explicou, a gravidez da minha mãe foi delicada, ela teve várias complicações durante a gestação e o parto. Os médicos conseguiram fazer uma cesariana de emergência, mas nem meu irmão e a minha mãe resistiram e acabaram falecendo. - ela sussurrou frágil e a abracei com carinho, tentando afastar a sua dor, mas não pode deixar de ficar preocupado com o que Aurora havia acabado de me falar.

Pelo havia entendido, provavelmente sua mãe havia sofrido de eclampsia durante toda a gestação, não resistindo ao parto. Saber disso me deixando apavorado, com a possibilidade de Aurora sofrer o mesmo, afinal, essa doença poderia atingir várias mulheres da mesma família.

Mesmo nunca tendo desejado ter filhos, conhecer Aurora e ter o meu imprinting me fez mudar de ideia, principalmente depois do que tia Alice me contou sobre o meu futuro, saber disso só me fez desejar ainda mais ter uma família com a mulher que amava.

Só que depois de saber sobre o passado da mãe de Aurora, soube que meu sonho poderia não se realizar, pois jamais arriscaria a vida ou a saúde da mulher que amava apenas para realizar o meu desejo. Preferia esquecê-lo, se fosse para mantê-la segura e viva ao meu lado.

—Ethan, está tudo bem? Você ficou todo sério de repente. - Aurora disse preocupada, me trazendo de volta dos meus temores para vê-la em minha frente, linda e saudável, um estado que faria de tudo para manter, mesmo que não pudéssemos ter nossos filhotes.

—Não, está tudo bem. Só fiquei imaginando...Como seu pai conseguiu seguir em frente, depois de perder de uma só vez a mulher e o filho? Acho que não teria a força que ele teve, para suportar a dor e ainda cuidar de uma filha pequena.

—Nem eu sei como ele conseguiu. Apesar de toda dor, meu pai jamais me deixou de lado. Depois que minha mãe morreu, minha avó se mudou para a nossa casa antes de virmos para a Inglaterra. Meu pai ficou sozinho por anos até encontrar a Lauren, agora somos uma família grande e feliz. - Aurora disse sorrindo feliz ao lembrar da família que tinha agora.

—O que a Lauren fez, adotando você como a filha dela, foi um verdadeiro gesto de amor, Aurora. O mesmo gesto que minha mãe teve com a Ária.

—Achei que a Ária, fosse filha da Leah.

—Todo mundo acha, mas não. Ária é filha da primeira esposa do meu pai, consequentemente somos meio irmãos. Minha mãe adotou Ária como filha desde que as duas se conheceram, quando minha irmã tinha quinze anos e tem sido assim desde então.

—Acho que nós dois somos afortunados, por termos uma família extremamente generosa e com o coração maior que o mundo. - Aurora segredou e concordei sorrindo, antes de começarmos a comer.

Assim que terminamos, arrumei os travesseiros na frente do tronco da árvore na qual estávamos aproveitando a sombra me encostando nela, antes de Aurora deitar sua cabeça no meu peito me permitindo sentir seu cheiro de pitanga, enquanto acariciava seus cabelos loiros naturais, que pareciam raios de sol de tão dourados que eram.

—Música favorita? - questionei querendo conhecer mais sobre ela, mesmo que o imprinting tivesse me dando várias informações.

Só que uma coisa, era ter imagens de momentos aleatórios da vida de uma pessoa, passando rapidamente na sua cabeça, outra era ouvi-la contado tais fatos, pois assim poderia melhor entendê-los sob o seu ponto de vista.

—A que você me ofereceu ontem, antes de me pedir em namoro.

—É uma música muito linda, mesmo. - segredei suave parando de fazer carinho em seu cabelo para beijá-los.

—Comida preferida? -ela questionou e sorri.

—Qualquer uma. Adoro comer. - disse sincero e sorrimos.

—Eu percebi isso. Não sei como você consegui estar em forma e comer tanto. - Aurora segredou confusa e sorri malicioso por seu comentário.

— Sabia que aquela sua mão boba ontem, não era apenas carinho, você estava me avaliando, senhorita Lopes?! - questionei brincando e Aurora se afastou de mim, para que pudesse ver os meus olhos. - Então, acha que estou em forma?

—Você está aceitável e além do mais, acho que tenho o direito de saber, se você será um bom investimento. - ela brincou sorrindo e fiquei surpreso por suas palavras antes de rir, pois nenhuma mulher havia sido tão sincera comigo.

Na verdade, nunca sai duas vezes com a mesma mulher ao ponto de conhecê-la, porque não queria dar a entender que queria ter um relacionamento, mas com Aurora era diferente.

Não só porque ela era o meu imprinting, claro que isso também ajudava a me fazer querer ficar perto dela, mas porque a escolhi para ser a minha companheira assim como ela havia me escolhido, mesmo que não soubesse que a nossa relação iam além dos namoros normais dos quais ela já havia tido.

—E na sua opinião, sou um bom investimento, senhorita Lopes? - questionei sedutor sem desviar os olhos dos dela.

Devagar Aurora se aproximou de mim, como se quisesse me contar um segredo, o que me deixou mais ansioso para saber o que ela queria me falar.

—Sim. Estou pensando seriamente em fazer um investimento a longo prazo, só não espero me arrepender em algum momento.

—Prometo, que você jamais irá se arrepender. - jurei olhando em seus olhos, para que nenhuma sombra de dúvida restasse nela. -Confia em mim?

—Confio. - ela disse segura acariciando a ponta do seu nariz com o meu, fazendo meu coração acelerar de felicidade enquanto fechava meus olhos, aproveitando melhor a sensação de prazer oferecida por esse gesto tão especial pra mim, especialmente para o meu espirito de lobo.

—Isso é muito bom. - sussurrei de olhos fechados, aproveitando a sensação maravilhosa que era receber um carinho do meu imprinting.

—Melhor do que meu beijo? - Aurora sussurrou no meu ouvido beijando o meu pescoço com carinho, me fazendo estremecer de prazer por causa dos seus beijos.

—Acho que preciso...De um lembrete...Do seu beijo, amor. -disse tentando manter uma linha de raciocínio, o que estava sendo difícil tendo Aurora beijando meu pescoço daquela forma.

—Acho que posso realizar o seu pedido. - ela segredou maliciosa antes de me beijar apaixonadamente, só nos separamos quando o ar se fez necessário.

—E você, porque escolheu a contabilidade? - questionei curioso, assim que Aurora voltou a deitar a sua cabeça no meu peito.

—Sempre gostei de números e operações, desde pequena. Fazer contas me relaxa, me permiti pensar com mais clareza e modéstia à parte, sou muito boa nisso. - ela disse orgulhosa da sua profissão, enquanto entrelaçava a sua mão direita a minha, observando o encaixe perfeito que elas possuíam.

—Então, a minha namorada é uma garota dos números.

—Basicamente. E você, gosta de números?

—Não, sou péssimo nisso. Graças a Deus a minha família possui um contador, porque se não nem saberia como gerir minha vida financeira. Nesse departamento, meus irmãos são melhores que eu.

—Se precisar, posso lhe ajudar é só pedir. - Aurora se ofereceu e concordei beijando seus cabelos. -Local preferido?

—La Push. - disse seguro, pois a terra natal do meu povo sempre seria meu local preferido, porque lá poderia ser quem era de verdade, sem me importar se alguém iria ou não descobrir o segredo da minha família.

—Onde fica? Tenho a impressão de que já escutei esse nome, só não me lembro onde. - Aurora disse pensativa e sorri acariciando seus cabelos de leve.

—Você deve ter ouvido o Ben falar alguma vez, enquanto trabalhava para ele. La Push é a cidade natal da minha mãe, fica no estado de Washington, nos Estados Unidos.

—Sim, agora estou lembrada, ele viajava as vezes para lá. Lembro também, que você me disse que descendia por parte de mãe de uma tribo indígena da américa do norte.

—Sim, os Quileutes. Temos muitas lendas, entre elas a de que somos a única tribo que conseguia unir o seu espirito com o dos animais, permitindo que os seus guerreiros assumissem a forma animal para que pudessem proteger a tribo. Minha mãe é descendente direta da primeira líder da nossa tribo, cargo sempre ocupado pelo primogênito do líder anterior. Hoje esse lugar é exercido pelo Benjamin.

—Por isso ele e a Mel, tiveram que morar nos Estados Unidos?

—Sim, meu irmão percebeu que não estava conseguindo atender a necessidades do nosso povo daqui, por isso eles decidiram se mudar para lá.

—E como é La Push? - Aurora questionou curiosa e sorri feliz, por vê-la interessada nas minhas origens.

—É um lugar incrível, totalmente diferente da loucura e agitação que temos em Londres. Lá todos se conhecem e se cumprimentam, se preocupam com o vizinho e tentam ajudar uns aos outros sempre. Além de toda essa irmandade e tranquilidade, La Push é um lugar abençoado pela natureza... Possui praias e paredões de pedra de tirar o folego, florestas extremamente verdes e bem conservadas...Um verdadeiro paraíso na terra. - disse com saudades de lá e prometi para mim mesmo, que da próxima vez em que fosse para lá levaria Aurora comigo.

—Parece ser um lugar maravilhoso. Seus pais me falaram um pouco sobre lá, quando Elliot sugeriu que a renovação dos votos deles, deveriam ser no mesmo lugar onde se casaram pela primeira vez. -Aurora explicou e concordei, pois meus pais já haviam comentando sobre o desejo de fazerem suas bodas em La Push, já que quando fizeram vinte e cinco anos de casados eles renovaram seus votos na igreja de São Lucas, padroeiro da nossa família, onde meu irmão do meio se casou no mês passado.

—Espero que os dois decidam fazer a renovação lá, pois aproveitaria para lhe mostrar La Push. Isso se você quiser.

—Eu adoraria. - ela disse empolgada e sorri feliz por vê-la animada, em conhecer o lugar que tanto amava. - Que outras lendas, a sua tribo tem?

Sua pergunta me pegou de surpresa, pois achei que ela não tivesse prestado atenção no que havia falado, mas não, Aurora havia ouvido cada detalhe do que lhe contei.

Respirei fundo, tentando controlar a minha emoção por seu interesse na história da minha família e decidi lhe contar sobre a lenda do imprinting, preparando-a para a verdade quando chegasse a hora de contar.

—Conta a lenda que depois que conseguimos nos transformar em lobos, começamos a nos sentir solitários e incompletos, como se faltasse algo. Por isso estávamos sempre em busca de algo, para preencher esse vazio que nos consumia, alguns lobos acabaram perdendo a razão por causa disso, mas esse sentimento só terminou quando o primeiro lobo teve o seu imprinting.- expliquei e ela se afastou de mim para me ver.

—O que é um imprinting, Ethan? - Aurora questionou curiosa e segurei a respiração, decidindo se contava ou não toda a verdade a ela.