–Ele realmente te ama, Cíntia. Nem quis saber de negociar o preço do seu resgate. - Douglas disse sorrindo depois que desligou o telefone, após ter ligado para Ethan pedindo dois milhões de libras para me libertar, mesmo que tenha lhe dito que provavelmente ele não atenderia a sua exigência, afinal havíamos terminado.
Depois que me tirou do taxi a força, Douglas me levou para dentro do galpão abandonado e me amarrou em uma cadeira, para que não pudesse fugir dali, enquanto me mantinha na mira de uma arma o tempo todo. Era perceptível o quanto ele estava transtornado, falando sozinho além de atirar a esmo perto de mim, me deixando assustada com o meu destino, pois sabia que Douglas não estava em seu pleno juízo.
–Douglas, por favor, me deixa ir embora. Juro que se me deixar ir, não o denunciarei para a polícia e você poderá fugir tranquilo...Só, por favor, me deixe ir embora. - implorei entre lágrimas e ele sorriu negando.
–Não. Você e Ethan acabaram com a minha vida e farei o mesmo com vocês. Sabia que ele terminou com você porque o chantageei?! Porque disse que acabaria com você, se ele não a deixasse. -Douglas disse e pisquei confusa ao ouvir a sua confissão, entendendo o porquê de Ethan estar tão estranho.
–Você não tinha o direito de fazer isso...- gritei furiosa para ele enquanto tentava me soltar da cadeira, o que foi em vão e minha tentativa só o fez rir mais.
–Eu tenho, sim e sabe porquê? Não tenho nada a perder e vou levar os dois comigo. - Douglas disse sorrindo alucinado, caminhando em seguida até alguns galões que haviam ali. - Vou começar os preparativos, querida, mas o grande show só será quando seu doutorzinho estiver aqui.
Confusa, vi Douglas pegar um dos galões que haviam ali, abri-lo e começar a derramar seu liquido transparente por todo o local, logo o cheiro de gasolina invadiu o meu nariz me fazendo chorar desesperada, enquanto lutava para me soltar das cordas e ele apenas ria do meu desespero.
Depois que encharcou o galpão abandonado por todos os lados, usando todos os galões de gasolina no processo, Douglas pegou o celular e digitou algo antes de voltar a sua atenção para mim.
–Pronto, querida, seu doutorzinho já sabe onde estamos e deve estar vindo ao seu resgate com o meu dinheiro. Espero que ele goste de fogo...Porque vamos ter uma grande fogueira essa noite. - Douglas disse sorrindo alucinado e senti as lágrimas molharem minha face, enquanto pedia a Deus que Ethan não viesse, porque não suportaria saber que ele havia se machucado por minha causa.
–Douglas, por favor, pare com isso, ainda dá tempo de você voltar atrás e parar com toda essa loucura é só me soltar e ir embora. - disse entre lágrimas e ele sorriu negando.
–Para vocês viverem felizes juntos, enquanto fico me escondendo feito um fugitivo?! Não mesmo. Se não posso ser feliz, vocês também não serão. - ele gritou furioso apontando a arma para mim e ouvimos a porta do galpão ser aberta, atraindo a nossa atenção para o local.
–Estou aqui Douglas, vim sozinho como me pediu e trouxe o dinheiro...Agora solte a Cíntia. - ouvi Ethan dizer e o reconheci parado na porta do galpão, com uma sacola de viagem nas mãos.
–Gostei da sua pontualidade, doutorzinho. Se aproxime devagar e traga meu dinheiro. - ele pediu e Ethan concordou antes de caminhar com cuidado em direção a Douglas.
Assim que Ethan estava perto, Douglas pediu que ele parasse e jogasse a sacola com o dinheiro, sem dizer uma palavra ele fez o que Douglas pediu. Quando estava de posse do dinheiro, Douglas fez questão de abrir a sacola e sorriu feito um lunático, por ver o seu conteúdo.
–Agora que já tem o seu dinheiro, pode soltar a Cíntia. - Ethan pediu olhando sério para Douglas que riu balançando a cabeça em negativo.
–Não mesmo. Pensei melhor e acho que ninguém deve sair daqui...Espero sinceramente que goste de fogo, porque teremos uma grande fogueira aqui hoje. - Douglas disse sorrindo feito um lunático, antes de acender um isqueiro e jogar no chão incendiando imediatamente o lugar.
Rapidamente o fogo começou a se alastrar consumindo tudo ao seu redor, desesperada tentei me soltar de inúmeras formas da cadeira onde estava presa, mas nada surtia efeito.
Enquanto tentava me libertar olhei para onde Ethan e Douglas estavam, fiquei sem fala assim que vi meu ex-noivo se transformar em um lobo gigante, partindo para cima de Douglas. Presenciar isso me deixou sem saber o que pensar, enquanto o grande lobo arrastava um Douglas, que se debatia tentando se soltar de sua grande boca, para fora do galpão.
–Cíntia, você está bem? - ouvi uma voz conhecida dizer atrás de mim e virei para ver Benjamin, tentando desamarrar as cordas que me prendiam.
–Acho que sim...Você viu o Ethan...Ele se transformou em um lobo gigante?!- disse atordoada e ele suspirou depois que terminou de me desamarrar, me pegando no colo em seguida.
–Sim, mas acho que vocês dois podem ter essa conversa em outro lugar, agora vamos sair daqui. - ele disse e concordei antes dele me levar para fora do galpão em chamas, através de uma janela.
Assim que estávamos em segurança o local todo explodiu e estremeci, percebendo que por pouco não escapava daquele incêndio.
–Aurora. - ouvi a voz de Ethan me chamando e desviei os olhos do galpão em chamas para vê-lo correndo em minha direção, ajoelhando-se em seguida na minha frente e esticando seus dedos para tocar meu rosto, mas me afastei do seu toque deixando-o confuso.
–Por favor, não...Chegue perto de mim...-disse me afastando dele temerosa, sua imagem virando um lobo gigante ainda estava fresca na minha memória, me deixando assustada com o que poderia fazer comigo.
–Aurora...Meu amor, você está com medo de mim? - Ethan questionou com dor na voz e balancei a cabeça concordando entre lágrimas, sem coragem de dizer em voz alto o que estava sentindo, antes de me encolher para longe dele.
Minha reação fez o rosto de Ethan se contorcer em dor, como se a remota possibilidade de que estivesse com medo dele lhe causasse dor física, logo as lágrimas inundaram seus olhos escuros, provocando em meu peito uma sensação de aperto por vê-lo sofrendo, mas não podia me aproximar dele para consolá-lo agora, estava confusa demais em meus próprios sentimentos para lidar com os dele.
Sem dizer uma palavra ele se afastou de mim, respeitando o meu pedido mudo de que não se aproximasse, e fiquei grata por Ethan respeitar o meu desejo. Ele respirou fundo e enxugou as suas lágrimas, tentando se acalmar um pouco antes de voltar a sua atenção para mim.
–Entendo e respeito o seu temor, Cíntia, mas quero que saiba que jamais a machucaria...- Ethan disse com a voz embargada, provavelmente pelas lágrimas que ameaçavam cair novamente, mas ele respirou fundo antes de voltar a falar. - Sou capaz de dar a minha vida por você, sem pensar duas vezes, se não me quer por perto respeitarei o seu pedido, até que deseje saber toda a verdade sobre o que viu hoje. Eu sempre vou amá-la, Cíntia, você é o meu imprinting, nunca se esqueça disso.
Em seguida Ethan se levantou do chão e me olhou uma última vez, antes de voltar a sua atenção para o irmão mais velho.
–Prometi tomar conta dela, por mim, Benjamin. - Ethan pediu para o irmão que estava em pé atrás de mim.
–Prometo, irmão. Pode ir tranquilo, vou proteger a sua fêmea. - Benjamin jurou para Ethan que agradeceu, antes de me olhar uma última vez e caminhar para longe de nós.
Vê-lo se afastar de mim machucava meu coração, mas precisava de um tempo para entender tudo o que vi naquela noite. Afinal, nunca acreditei em contos de fadas e agora havia visto o meu ex se transformar em um lobo gigante diante dos meus próprios olhos, isso era demais para qualquer pessoa em sã consciência absorver e entender de uma só vez, disso tinha certeza.
Depois que Ethan foi embora Benjamin me levou para casa, um caminho que percorremos todo em silêncio até ele estacionar o carro em frente à pensão da minha avó, virando para me ver.
–Você está bem? - ele questionou me olhando nos olhos e suspirei.
–Sinceramente, não tenho ideia Benjamin...Estou tão confusa e assustada com tudo que vive e vi...- disse ainda nervosa com tudo que presenciei e ele balançou a cabeça concordando.
–É compreensivo, Cíntia. Sei que é pedir muito depois de tudo que presenciou hoje, mas suplico que não conte nada do que viu hoje para ninguém, seria perigoso demais para a nossa família se outras pessoas soubessem o que pudemos fazer. -Benjamin pediu e o olhei sem palavras, entendo o que as suas palavras queriam dizer.
–Você...Também...A Melissa sabe disso? - questionei sem acreditar no que ele havia acabado de me revelar.
–Sim, eu também...E sim, minha mulher sabe de tudo. - ele disse seguro e balancei a cabeça em choque, constatando que todos ao meu redor estavam mentindo para mim desde o início.
–Eu preciso respirar...- sussurrei atordoada saindo do carro de Benjamin, logo meu rosto foi atingido por uma leve brisa quente, anunciando que o verão londrino estava se aproximando, o que me fez respirar fundo enquanto minha mente agitada se acalmava um pouco.
–Sinto, muito que tenha descoberta a verdade dessa forma tão cruel. Vocês dois não mereciam passar por isso. - Benjamin disse gentil atrás de mim e virei para vê-lo, sem acreditar que durante todos esses anos no qual pensei que fossemos amigos, ele mentiu para mim e ainda permitiu que seu irmão caçula fizesse o mesmo comigo.
–Como pode mentir para mim? Achei que fossemos amigos? Não acredito que a Melissa sabia de tudo isso e não me contou?!- questionei severa olhando sem seus olhos castanhos e Benjamin me olhou culpado, o que pra mim já soava como uma confissão.
–Cíntia, nos perdoe, mas não era direito nosso lhe contar nada, isso cabia ao meu irmão. Apenas, tente...-ele começou a explicar e o interrompi, pois estava farta de todas aquelas mentiras.
–Chega, não quero mais saber das suas justificativas, na verdade não quero mais ver nenhum de vocês. Simplesmente esqueçam que existo. - disse séria olhando em seus olhos antes de caminhar apressada em direção a minha casa, desesperada para estar com as únicas pessoas que jamais mentiriam para mim.
Assim que entrei em casa e encontrei minha família aflita na sala, corri para abraçá-los tranquilizando-os de que estava tudo bem, enquanto tentava esquecer tudo que vivi essa noite.
Três dias depois do meu sequestro, recebi uma intimação para depor sobre o corrido e liguei para Theo, que para a minha surpresa já estava a espera da minha ligação, segundo ele Ethan havia lhe ligado no dia anterior e deixando-o a par de tudo que havia acontecido, pedindo ao mesmo que me acompanhasse até a delegacia e que se encarregasse de fazer com que Douglas passasse um bom tempo na cadeira respondendo por seus crimes.
Fiquei agradecida por Ethan ter se dado ao trabalho de cuidar disso para mim, mas nem mesmo esse gesto seria capaz de fazer a minha magoa passar.
Terminei de prestar o meu depoimento no horário do almoço e decidi almoçar por ali mesmo antes de voltar para o meu trabalho, mas assim que sai da delegacia acompanhada de Theo vi Melissa parada perto do carro do irmão, em seguida virei para vê-lo de forma questionadora.
Ele simplesmente levantou as mãos, como se estivesse se desculpando antes de falar.
–Não sei porque as duas estão sem se falar, mas não consigo negar nada para a minha irmã caçula, ainda mais ela estando grávida. - Theo se desculpou para mim e suspirei balançando a cabeça, pois não poderia culpa-lo por ajudar a sua irmã.
–Obrigada por me ajudar, Theo e não se preocupe, porque prometo que iremos conversar e nos acertar. - Mel jurou olhando para o irmão e a olhei descrente, afinal ela estava confiante demais para quem havia mentindo para a sua melhor amiga.
–Ok. Então, vou voltar para a empresa, pois ainda tenho que organizar alguns processos...Vocês têm certeza que ficaram bem juntas? - Theo nos olhos preocupado e Mel revirou os olhos para o irmão.
–Temos, Theo, pode ir tranquilo e não se preocupe conosco, vamos almoçar e conversar até nos entendermos. E não precisa vir nos buscar, César, o motorista da família Thompson, está a minha disposição hoje, porque Benjamin ficará até tarde na empresa resolvendo alguns problemas. -Mel explicou para o irmão que concordou lhe dando um beijo na bochecha e se despedindo de mim em seguida, antes de nos deixar.
–Sei que não queria me ver, mas sei também que deve estar precisando de uma amiga que saiba pelo que está passando para desabafar. Acredite, era tudo o que mais desejei quando estava no seu lugar...E olha que não tem ninguém querendo lhe matar, enquanto o homem que você ama fica a cada dia mais doente diante dos seus olhos, sem que possa fazer nada. - Mel disse perdida em pensamentos e me senti culpada, por não estar ao seu lado quando ele passou por esse momento, quando quer que ele tenha acontecido.
–Você está bem? - questionei preocupada e ela piscou parecendo voltar a realidade, antes de sorrir suave para mim.
–Estou sim, só preciso parar de pensar no passado. Afinal, o presente é muito melhor, do que alguns momentos de angustia que passei no passado. - ela disse suave acariciando sua barriga com carinho, antes de olhar para mim com um sorriso gentil nos lábios.
–E então, gostaria de almoçar comigo? Não se preocupe, porque o nosso almoço ficará por conta do cartão visa platinum do meu marido. Acredita que Benjamin me deu um cartão adicional, sem limite como presente de casamento? - ela questionou ainda sem acreditar e sorri aceitando o seu convite, enquanto começávamos a caminhar em busca de algum restaurante.
–Pode não parecer, amiga, mas você se casou com um milionário. - disse brincando e ela sorriu emocionada ao ouvi-la chamando-a de amiga novamente.
–Isso é verdade, às vezes me esqueço disso. - ela disse dando de ombros enquanto escolhíamos um restaurante e entravamos no mesmo.
Logo o maitre nos levou para a parte de trás do restaurante onde haviam mesas ao ar livro, o que era perfeito para o começo do verão que deixava tudo mais quente, dispensando o uso de casacos mais pesados e a necessidade de estarmos em um lugar quente.
Fizemos os nossos pedidos antes do garçom nos deixar a sós novamente e Mel tomar um gole do seu suco de laranja, antes de voltar a falar.
–Como se senti, depois que viu o Ethan se transformando em um lobo? - Mel questionou preocupada e suspirei resignada.
Não queria voltar a falar sobre o que havia visto naquela noite, mas precisava desesperadamente dividir isso com alguém, pois já estava achando que tudo o que vi havia sido fruto da minha imaginação.
–Assustada, Mel. Como não percebi isso antes? Deus, ele poderia ter me machucado ou pior, machucado a minha família...- comecei a dizer baixo, com medo de que alguém nos visse, mesmo que não houvesse ninguém do lado de fora além de nós.
–Sim, Ci, mas ele não o fez e sabe porquê? - ela questionou e balancei a cabeça em negativo.
–Porque você é o imprinting dele e ele jamais faria algo que a machucasse. - Mel disse e automaticamente reconheci a mesma palavra que Ethan havia me dito dias atrás.
Foi impossível não recordar do dia em que tivemos nosso primeiro encontro no parque, no qual Ethan me contou sobre algumas lendas da tribo da qual descendia por parte de mãe, e uma delas foi sobre o imprinting.
–Pelo jeito, você se lembrou de algo.
–Sim, lembrei do dia em que Ethan me contou algumas lendas do seu povo, principalmente sobre o imprinting.
–Ele estava tentando prepará-la para ouvir a verdade, Benjamin fez isso comigo antes de descobrir a verdade.
–Espera, ele não lhe contou que...- disse e olhei novamente para os lados fazendo-a rir antes de me inclinar sobre a mesa, continuando a falar. - Que virava um lobo gigante?
–Não. Descobri isso literalmente na prática, vendo-o se transformar. - ela disse e tive que interromper as minhas perguntas, pois o garçom havia chegado com os nossos pedidos, assim que o mesmo terminou de nos serviu nos deixou a sós e podemos voltar a nossa conversar.
–E você não ficou assustada? Com medo de que ele a machucasse? Porque foi o que senti na hora. - disse e estremeci ao me lembrar de Ethan se transformando no grande lobo de pelos dourados.
–Se dissesse que não, estaria mentindo, mas meu amor e o medo de perdê-lo foi muito mais forte que qualquer coisa, me fazendo querer ficar ao seu lado sem pensar. - Mel admitiu sincera e olhei nos seus olhos, que confirmavam a verdade por trás das suas palavras.
–Talvez, o que sinto ou sentia pelo Ethan, não seja tão forte capaz de superar o meu temor, como você fez. -admite sincera e minha amiga sorriu amorosa para mim, antes de colocar a sua mão em cima da minha.
–Nunca duvide do sentimento que uniu vocês dois. Ele é mais forte do que qualquer coisa, Cíntia, acredite sempre nisso. Você só precisa de um tempo, para entender tudo o que houve. - Mel disse e sorriu suave, como se tivesse descoberto algo que estava escondendo. - Afinal, se não quisesse mais nada com Ethan, não estaria usando o colar que ele lhe deu quando a pediu em namoro.
Por reflexo, soltei a mão da minha amiga e toquei o colar com pingente de pedra da lua, me lembrando da noite em que o havia ganhado e foi impossível não lembrar com saudade de todos os momentos que passamos juntos.
Deus, apesar de tudo ainda amava Ethan com todo meu coração, mas meu temor pelo que ele se transformava me paralisava, pois não queria colocar as pessoas que amava em risco e muito menos estar ao lado de alguém que mentiu para mim.
–Algo me diz, que ainda existe uma centelha de sentimentos seus pelo Ethan...Porque da parti dele, tenha certeza que nada mudou Cíntia. Meu cunhado te ama.- Mel admitiu sincera e começou a comer, me deixando em silencio com meus pensamentos e sentimentos.