[Elesis Narra]


Realmente não acreditava que era mesmo aquele moreno que eu sempre implicava na infância... Aquele que me prometeu que viria atrás de mim... Mas algo estava estranho nele. O brilho de seus olhos não estavam mais o mesmo. Era como se ele fosse "vazio" por dentro, e não houvesse algo para fazer desse brilho uma coisa especial... Observei que ele havia levantado, e ia caminhando até uma roseira branca.

– Você veio me buscar... Não é...?

– Ruivinha... Estou preso á uma vida de servidão. Chegará algum dia que as correntes de meu coração se afrouxarão, e eu serei uma marionete inútil. - O semblante dele entristeceu. - E eu serei lançado em alguma dimensão, como lixo...

– C-Como assim?! - O encarei confusa.

– O moreninho fez loucuras para encontrar a ruivinha. Dentre elas, está a opção de vender a própria alma para uma "bruxa", e em troca, ele pôde ter contato com a ruivinha.

Eu não estava entendendo... Se ele vendeu a própria alma, como estava aqui em minha frente? Como ainda estava vivo? E quem é essa "bruxa"?

– Essas correntes do selo em meu coração machucam. - Continuou ele. - Mas machuca mais ainda por saber que virei uma marionete, destruí esperanças e sonhos, uma vida... Mas sabe... Não me arrependo... Tudo está valendo á pena agora. Estou com a pessoa que mais amei em minha vida, a culpada das minhas loucuras, hehe. Você, certo?

– Então... A culpa é minha de você ter vedido sua alma? De você ter assassinado minha amiga loira?

Nada estava mais fazendo sentido agora... Tudo isso, foi por minha causa? O rebuliço todo no orfanato foi minha culpa? Meus olhos ardiam, começando a marejar.

– Não é culpa sua, ruivinha. Estou brincando. A vida é cheia de escolhas. Algumas são ruins e algumas boas. Cabe á nós escolher qual caminho vamos seguir. Eu, infelizmente, segui o caminho das escolhas ruins, e eu sei que minha vida não irá mais para frente. O resultado será o mesmo de todos... A morte.- Ele encarou uma das lindas rosas brancas, tocando em suas pétalas.

– Siegh... Você tem medo da morte? - Comecei a me aproximar dele, tímidamente.

– Antes eu não tinha medo dela, pois eu sabia que ela era inevitável. Além disso, ninguém gostaria de viver num corpo tão doente como este. Mas ultimamente tenho um pouco de medo... Quando você pensa que tudo irá acabar... Tudo o que você lutou para conquistar, um dia termina, certamente.

As palavras do moreno não faziam muito sentido para minha mente. Eu estava entendendo certo? Ele fez isso pois me amava? Não acho certo desperdiçar a vida por um amor... As páginas do livro de sua vida correm...

– Eu odeio o braco. É irritante ele ser tão puro... Vamos pintar essas rosas de outra cor. A cor que mais me seduz não precisa ser cultivada, certo? - Ele tirou uma rosa, segurando cuidadosamente em seu caule.

Encarei curiosa, e de repente aquela rosa totalmente branca e pura, foi tomando uma coloração azulada, até tomar aquela cor das rosas que ele depositava em nossos aposentos. Juntamente, escorria uma pequena quantidade de sangue por seu dedo.

– Está sangrando, deixe-me ver... - Aproximei-me dele, na tentativa de tentar dar uma olhada no ferimento, mas ele recuou.

– Não quero que você se envolva em meus muitos problemas. Não quero que a pessoa que mais amo adquira minha maldição.

– Não importa! Eu também te amo! Vamos fugir daqui, para sermos felizes em algum lugar á fora!

Essa cena lentamente me lembrou algo da infância...

– Quer terminar de soltar minhas correntes para sermos felizes? - Ele deu um sorriso de canto.

– Sim.

– Então beije-me.