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-Você deve a matar. - O delegado disse entregando uma pasta com a foto de uma bela mulher para mim.

-O que ela fez?- Perguntei folheando as páginas sem desviar meus pensamentos daqueles lindos olhos verdes claro.

-Ela sabe da minha ligação com vocês, quer dizer não literalmente, ela apenas sabe que eu ando omitindo assassinatos, e que ganho uma boa grana por isso. Por isso acho melhor a matar. Arme uma briga em alguma boate, eu a mandarei para lá, junto com um policial de minha confiança, aproveite a oportunidade e a mate. - O Delegado falou sério para mim.

-Certo, eu mesmo o farei. Apenas me dê uma semana. Preciso planejar tudo em mínimos detalhes. - Falei saindo pela janela de seu escritório.

Passei uma semana a estudando, a observando de longe, seguindo-a onde quer que fosse. Seu nome era Nyx, uma jovem policial, concentrada ao extremo em seu trabalho, e que mesmo sendo linda conseguia não chamar a atenção para si. Nesta única semana, minha admiração por ela cresceu de tal forma que no último dia do prazo, enquanto eu estava algemado e a olhava de perto, não consegui a matar, fiz algo pior e egoísta, menti para ela e a tornei um ser igual a mim. Destruí sua vida para sempre.

O prêmio por ter feito isso? Apaixonei-me louca e desesperadamente por ela, a ponto de que quando tive de deixá-la sair de perto de mim, quase não agüentei de dor em meu peito, mas eu soube respeitar seu tempo, soube a deixar livre.

Essas lembranças assim que eu bebi o primeiro gole de seu sangue, tudo o que Victor havia me feito esquecer eu lembrei, tudo o que eu sinto por ela, tudo o que eu acho e penso sobre a Nyx voltou.

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-Obrigado por lutar tanto. - Falei lambendo o fio de sangue que escorria de seu pescoço, para depois a abraçar forte.

-Vinicius o que você esta...?- Não a deixei perguntar nada, eu estava agradecido e com saudades daquela que eu amo tanto, que não suportei e roubei os lábios em um beijo.

-Estou recuperando o tempo perdido. - Falei a abraçando novamente.

-Mas... Você recuperou a sua memória?- Ela me perguntou vacilante.

-Não sei. Quem sou eu? Quem é essa linda dama que esta em minha frente? Porque ela me beijou? Porque sinto gosto de sangue em minha boca?- Falei sorrindo para ela, e a abraçando apertado para levantá-la um pouco do chão em seguida. - Eu lembro tudo, perfeitamente. Lembro de toda a minha memória e um pouco da sua também.

-Como assim da minha memória?- Nyx me perguntou um pouco na defensiva.

-De algumas coisas. Você quer um exemplo? A localização das Vamcorps subterrâneas, e o beijo que certo lobisomem te deu, um beijo que você não percebeu que receberia até que acontecesse.

-Ah, isso. Bem, então você sabe que o garoto gosta de mim, e que eu gosto dele, o tenho como um grande amigo. - Ela me disse desanimadamente.

-Eu sei apenas o que se passou em sua mente Nyx, não em seu coração, diga-me você me ama?

-Você não acha que essa pergunta eu que deveria ter feito? Eu me encontro em maior risco de fazer essa pergunta para você. A minha relação com o Dennis, ou com quem quer que seja sempre foi muito clara, jamais dei chances para o contrário, posso não ter comentado sobre você, mas isso foi para te proteger, e mesmo assim eu me dei o respeito que é exigido de alguém que mantém certo relacionamento com outra pessoa. Eu estou mais na defensiva com os seus sentimentos Vinicius. Não se foram nem duas horas que você me disse que amava a Anne, e eu estaria mentindo se eu lhe dissesse que não estou insegura quanto a isso... Você Vinicius, você me ama?- Ela me perguntou séria, encarando-me nos olhos.

-Eu a amo, lhe disse isso ainda sem recuperar a memória, e confirmo para você agora que eu a tenho novamente. - Falei sorrindo para ela.

-Não gosto de falar sobre os meus sentimentos, mas sim de demonstrá-los. - Ela disse me dando um leve beijo.

-Hm... isso responde muita coisa. Acho melhor irmos falar para aqueles dois que tudo voltou ao normal. - Disse eu segurando a sua mão.

***

- Como você esta Vinicius?- Dennis perguntou com uma expressão de preocupação.

-Muito melhor. Acredito que eu nunca havia dado tanta importância para as minhas lembranças do que agora que as tenho de volta.

Olhei para minha mão que ele segurava e sorri.

-Acredito que agora é melhor seguirmos os planos. – Falei séria.

-Que planos?- Vinicius perguntou sem entender.

-Você e o Diego irão atrás da Anne e eu e o Dennis atrás da Caçadora. Não sei se vocês perceberam, mas eu estou a cada dia pior. Antes ao menos eu sabia quando viria o desmaio, agora eu já não sei. Minha sede por sangue aumentou, isso não é normal para um vampiro, nem para o mais sangrento e faminto de nós. –Agora é a hora de expor os problemas, pelo menos enquanto tudo esta calmo.

-Mas você não acha que isso é por causa da sua nova condição de anciã?- Diego falou chamando a atenção para si.

-Não, a sede de um ancião pode ser controlada, mas essa que eu sinto é quase que involuntária. Quando estive próxima do Victor tive de me controlar para não o secar sem pensar duas vezes, eu tenho medo de não conseguir controlar este demônio que esta dentro de mim e acabar machucando vocês. –Pensei a ultima parte sem coragem de lhes dizer.

-Quando partimos?- Dennis me perguntou disfarçando otimamente a sua ansiedade, mas não para mim já que enxergo a sua alma.

-Nós dois, sairemos ao amanhecer. Acho melhor você arrumar suprimentos e ir descansar. - Falei esperando que ele fosse à cozinha e saísse com uma bolsa empanturrada de comida de lá.

-Não preciso de suprimentos, acho melhor caçar. Se eu levar bolsas, e outras coisas desnecessárias, isso ira nos retardar. E você não ira precisar de sangue?-Dennis me perguntou com um olhar incriminador.

-Como você disse: eu posso caçar, afinal ainda sou uma vampira. Mesmo que você não leve suprimentos, aconselho a descansar, viajaremos o dia todo. -Respondi me sentando confortavelmente no sofá.

-Você me trata como uma criança. –Dennis falou irônico.

-Pirralho se eu te tratasse como uma você não iria comigo nessa viagem maluca. E eu estou lhe dizendo isso porque sei que está cansado e que não dormiu um minuto desde que chegou. - Falei sorrindo amigavelmente para ele.

-Certo você venceu. – Dennis disse levantando as mãos em derrota e subindo as escadas rumo ao seu quarto.

Quando a porta de seu quarto bateu Vinicius me encarou longamente, e Diego fez o mesmo.

-O que foi?-Perguntei me fazendo de desentendida.

-Você o trata mais como um filho, ou melhor, você o trata como se fosse a Alexis versão masculina e que se transforma em lobisomem. –Vinicius falou com uma expressão que eu não soube definir, mas com uma irritação em sua alma.

-Ciúmes?-Perguntei o provocando.

-Não, isto se chama preocupação. Você está doente, e isso me preocupa ainda mais.

-Eu... Não estou doente, eu só estou com certo problema. Já estou indo atrás da Charlotte, então você não precisa se preocupar sei resolver meus problemas sozinha. Sua preocupação é desnecessária. -Falei levantando do sofá e indo em direção a porta.

-Porque da grosseria? Que houve? – Vinicius perguntou segurando o meu braço.

-Eu estou cansada, é horrível ver o que de verdade o que se passa pela cabeça de vocês. E quer saber? Vá logo procurar a Anne, eu encontro vocês em uma das Vamcorp subterrâneas, agora você sabe a localização delas. - Falei soltando as suas mãos do meu braço e subindo as escadas rumo ao quarto onde eu havia acordado no primeiro dia, onde eu havia visto minhas coisas.

Entrei no quarto rapidamente procurando entre as minhas coisas algo para me ajudar a barrar a visão de suas almas. Parei abruptamente me encarando no espelho com uma pergunta em mente:Afinal de contas... Porque eu não posso ver minha própria alma? Será que não tenho? Será que a mesma já foi sugada pelas trevas?