O Jogo do Desafio Duplo - Leoa e Tay

One da Leoa - Entre Fantasmas


Daniel entrou no bar de fantasmas e se encaminhou para a mesa mais discreta do local onde Demétrius o esperava com a mesma expressão fechada de sempre.

— O que você quer? — O guitarrista questionou em tom duro enquanto se sentava.

— As coisas estão tomando proporções grandes demais, Daniel. — O chefe da polícia espectral murmurou com a mandíbula tensa. — Essa sua bandinha tá começando a ficar falada e pode chamar atenção de peixe maior que eu, abre teu olho.

— E desde quando você se preocupa comigo?

— Com você? Não seja ridículo. — Demétrius rosnou irritado. — Me preocupo comigo mesmo, se você e a sua trupe de moleques insolentes cair, eu caio junto.

— Chega, né? Parou com o chilique. — Daniel desdenhou e se levantou para uma saída dramática. — Faz a tua parte, eu faço a minha e pode ficar tranquilo. Agora se me dá licença, o aniversário da minha vocalista é amanhã e ainda temos muita coisa pra resolver pra festa dela.

***

Julie acordou feliz porque, além de ser seu aniversário, era sábado e não precisaria fazer nada o dia inteiro. Levantou da cama em um salto e foi tomar um banho ao som de Essa Noite somos Um Só, depois de se vestir caminhou até a cozinha onde seu pai juntamente com Pedrinho esperavam para cantar parabéns ao redor da mesa onde uma pequeno bolo coberto de chocolate e enfeitado com cinco pequenas velas brancas repousava.

— Parabéns pra você nessa data querida, muitas felicidades muitos anos de vida. Julie! Julie! Julie!

— Obrigada, gente. — A garota sorriu grande e correu para abraçar forte os homens da casa antes de apagar as velinhas. — Amo vocês.

— A gente também te ama. — Seu Raul respondeu devolvendo o sorriso com a mesma proporção. — Já confirmou com seus amigos o jantarzinho de hoje à noite pro papai poder confirmar a encomenda no restaurante?

— Mandei mensagem pra todo mundo sim. Cinco já me garantiram, mas quem falta é a Bia, então é certeza que os seis vêm. — Julie piscou e olhou para o bolo. — Isso aqui tá com uma cara deliciosa. Posso cortar?

— Claro, filhota. Mas oh, o maior pedaço é meu.

— Sem chance. — Pedrinho se pronunciou pela primeira vez depois do parabéns. — Eu to em fase de crescimento, então o maior pedaço é meu.

Julie apenas riu e começou a tirar as velas para enfim cortar o bolo.

(...)

A aniversariante havia acabado de se sentar no sofá depois de se arrumar para o jantar de comemoração dali a pouco quando sentiu o celular vibrar no bolso do short jeans. Era uma ligação de sua melhor amiga.

“Porque não respondeu nenhuma das minhas mensagens hoje?” Já atendeu um tom bravo, mas sua irritação se esvaiu assim que ouviu o primeiro soluço.

“Ju-Julie. Eu to... Discutindo... Com o Val-Valtinho... De-desde as quatro da manhã. A-acho que agora aca-acabou de vez.” Bia parecia chorar descontroladamente. “Pre-preciso de você aqui.”

“Mas...”

“Por fa-fa-favor.” Os soluços aumentavam. “Você é mi-minha melhor a-a-amiga. Pre-pre-preciso de você.”

“Tá bom.”

“Valeu, mi-mi-miga. Quando che-chegar entra direto-to que to no-no banco azul do me-meu quintal.”

“Ok”.

— Pai, eu vou ter que sair. — Julie anunciou sem hesitar em levantar e correr para a porta. — Se alguém chegar antes que eu volte, dá uma enrolada. Vou tentar não demorar.

— Mas filha... — Foi tudo o que Seu Raul conseguiu dizer antes que a garota sumisse de vista em uma cena que deixaria uma nuvem de poeira se fosse um desenho animado.

Julie parou um instante em frente à casa da amiga para tomar fôlego e por fim entrou, passando direto para o quintal onde pelo menos quarenta pessoa gritaram “SURPRESAAAAA”. E Bia de mãos dadas com Valtinho surgiu do meio de todos com a maior cara de travessa.

— Filha da mãe! Você me enganou! — Julie exclamou, porém com um sorriso gigante no rosto. — O meu pai encomendou comida...

— Não, Julie. — A garota retribuiu o sorriso. — O Seu Raul foi nosso cúmplice, pra você não estranhar a gente esquecer. A Shizuko, o Nicolas, enfim, a galera tá aqui. E, na verdade, a ideia não foi só minha. — Revelou e apontou para uma espécie de palco improvisado onde Daniel, Felix e Martin, devidamente fantasiados, esperavam para tocar.

— Boa noite, galera. — O guitarrista começou a falar, Julie não podia ver por causa da máscara, mas sabia que ele sorria. — Nessa noite mais que especial, quero parabenizar nossa querida vocalista que tá completando 17 anos. — A galera começou a aplaudir e grita o nome da aniversariante, Daniel deixou rolar um pouquinho e retomou o discurso. — Calma, calma. Eu e a Bia fizemos uma música pra ela. Esperamos que goste. Sério, esperamos mesmo, por que é nosso presente, se não gostar, ferrou. — Todo mundo riu, então Felix fez a contagem com as baquetas para que pudessem começar.

Ela tem um riso tão maroto

Que dá vontade de acompanhar

Ela tem um abraço tão gostoso

Que não dá mais vontade de soltar

Ela tem um jeitinho só dela

Que é totalmente encantador

Duvido que exista alguém

Que já conheceu e não gostou

Ela tem o cabelo bonito

Quando ela passa não dá pra não reparar

E aquele corpo, que é isso meu Deus?

É o inferno e o paraíso no mesmo lugar

Essa beleza que ela tem é só dela

Por dentro e no exterior dela}2x

Duvido que exista alguém

Que já conheceu e não gostou

Ela é incrivelmente divertida

Triste perto dela não dá pra ficar

Posso tê-la para sempre em minha vida

Que com certeza eu não vou enjoar

Tenho certeza que quando fez ela

Papai do céu estava de bom humor

Duvido que exista alguém

Que já conheceu e não gostou.

Ao fim da música, Julie chorava completamente emocionada. Bom, ao menos ela achava que já estava, porém Bia provou que não quando subiu no palco e pegou o microfone do pedestal.

— Agora temos outra surpresinha pra você, amiga. — Disse pegando um controle e apertando um botão que fez uma tela branca descer atrás do “palco” e uma série de vídeos começaram a passar.

“Oi, filha” O primeiro era de Heloisa. “Eu sei que estamos há um tempinho longe uma da outra, mas só quero que você saiba que to sempre me lembrando de você e a cada vez que a gente se vê sinto mais orgulho da mulher linda e talentosa que é, e se torna cada dia mais e mais. Beijos da mãe, espero te encontrar logo.”

“E aí, Julie?” O segundo era de Pedrinho. “Acho que só mais alguns anos e as notícias vão começar na tv: ‘Julie, irmã de famoso cientista ganhador do Prêmio Nobel, leva Grammy para casa e fãs enlouquecem nas redes sociais’. Rs. Enquanto isso, parabéns e felicidades.”

Julie riu enquanto enxugava as bochechas inutilmente, pois as lágrimas não paravam.

“Oi, filhota.” O terceiro vídeo era do Seu Raul. “Não fica chateada com o papai pela mentirinha. Sei que você já tá grande pra uma festa com adulto a tira colo. É meio estranho falar isso, já que parece que foi ontem que eu tava te ensinando a andar e agora você é uma moça assim tão linda. O pai te ama muito, viu? Tenho orgulho de quem você se tornou e te desejo tudo de melhor da vida que você merece. Tchau, filhota.”

O quarto era o último, ainda bem ou Julie desidrataria de tanto chorar. Não tinha áudio nenhum, pois era dos fantasmas com a presença de Bia para não ficar estranho. Todos eles estavam de pé (fantasiados) parados no mesmo parque onde gravaram o clipe de Invisível com plaquinhas nas mãos enquanto a câmera passava respectivamente por Daniel, Martin, Bia e Felix, ao fim a frase formada era “Nós Te Amamos, Julie”.

— Acabou. — Bia disse no microfone e apertou o botão mais uma vez para a tela branca voltar ao lugar. — Agora tá na hora da aniversariante fazer um discurso.

Julie balançou a cabeça em negativo ainda chorando muito, mas como Daniel incitou a galera a gritar “discurso, discurso”, ela não teve alternativa a não ser subir no “palco” e falar. — Bom... Esse ano tem sido um dos melhores e mais especiais da minha vida e eu devo isso a minha banda, meus amigos, mas principalmente, a música. Eu nunca pensei que teria coragem pra expressar tanto quem eu sou quanto faço cantando e se hoje eu posso, é graças a cada de vocês. Obrigada por tudo, galera.

Todos aplaudiram e gritaram então Bia pegou o microfone mais uma vez e disse. — Ok, vamos a parte que eu sei que tava todo mundo esperando. Podem comer.

Os convidados foram se espalhando para pegar salgadinhos e refrigerantes nas mesas próximas às cercas da casa, Julie também foi e recebeu vários parabéns pelo caminho. Alguém ligou o som e melodias diferenciadas animaram a festa dali em diante.

— E aí, curtiu a surpresa? — Daniel se aproximou de máscara levantada.

— Tá louco? Alguém pode te ver. Quer dizer, não te ver e surtar. — Julie arregalou os olhos ao perceber esse detalhe.

— Relaxa, eu to visível. Ninguém conhece a minha cara e vão pensar que é maquiagem e faz parte do mistério da banda. — Murmurou com a despreocupação de sempre. — Mas responde: gostou?

— Cê quer saber se eu curti a música, né? Adorei.

— Obrigado. — Sorriu convencido. — Metade do crédito é da Bia. Bom, 30%. Afinal, eu fiz a melodia. Mas por falar em música, o que é isso que tá tocando?

— Melanie Martinez. Pity Party.

— Pensei que numa festa sua ia tocar uns rock, mas tá, né?

— Para de ser besta. — Julie riu e o empurrou pelo ombro da fantasia. — Festa é pra ter música de dançar mais do que de ouvir. Alias, quer dançar comigo?

— Ué. O seu namoradinho Nicolas não vai se importar?

— Você é meu amigo. Um namorado que tenta me separar dos amigos não é um bom namorado. Sempre pensei assim.

— Ok, então bora. — Dessa vez o sorriso era diferente, apenas feliz.

— Mas baixa a máscara, prefiro não arriscar.

— Tá bom.