O Jogo da Vida

Um Novo Parceiro


Cap. 11
Um Novo Parceiro

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Flora – Meu Deus! Você é algum tipo de monstro bizarro, Gabi?

Gabriele – Vai ver se eu tô lá na esquina! – cruzo os braços.

Camila – Mas é incrível Gabi! Você se recuperou em dois meses de uma contusão que uma pessoa normal levaria mais dois para se recuperar! – jogo o quadril para o lado, erguendo a sobrancelha diante das carinhas surpresas e contentes.

Gabriele – Tá me chamando de anormal? Eu pareço estranha?

Deise – Não queremos dizer isso... E você não ia gostar da resposta! – ela ri e as outras dão corda – Pelo menos nossa capitã pode nos treinar agora! – as outras riem e concordam, me abraçando. Nós estamos formando um lindo bolinho no meio do campo de futebol.

Willem – Ora, Gabriele, você já está de pé? – ah, é ELE!

Gabriele – Willem! – eu me solto do abraço das garotas e corro na direção dele – Oi!

Willem – Você parece ótima! Como se sente? – nós começamos a andar pelo campo.

Gabriele – Ansiosa. – rio – Quero logo começar a treinar!

Willem – Ouvi do treinador que vai fazer um treinamento especial com ele.

Gabriele – Ah, sim. Max é rigoroso, mas quando se conhece melhor, é gentil... – pauso – Ei Willem, eu soube pelo Roberto que o Max trabalhou por um tempo com o presidente Carlo, como treinador físico na universidade Burguese de Braja.

Willem – É verdade, mas ele desistiu depois de dois anos. Digamos que o comportamento agressivo e arruaceiro do presidente e dos jogadores foi demais pra suportar calado! – nós rimos – Ah, e olhe só quem vem lá! – eu viro para frente e dou de cara com Hyuga.

Hyuga – Vocês estavam falando de mim? – o humor dele já não tá dos melhores logo cedo.

Willem – Não, mas o assunto envolvia gente agressiva e arruaceira.

Hyuga – Fica na sua Willem! Eu não acordei de bom humor!

Willem – Oh, é sério? – sorri, chegando mais perto dele – Você anda muito nervosinho Hyuga. Qual é o problema? Por acaso é o fuso horário? Se for, devia ir descansar um pouco.

Hyuga – Eu já falei pra não me provocar! – ele eleva a voz.

O clima está piorando! Pelo menos o treinador Max acabou de chegar; com testemunhas, os assassinatos ficam menos prováveis! Que baque surdo foi esse? E por que Hyuga tá no chão?

Willem – Opa! – ele tropeçou no pé do Willem – Oh, essa não! Eu pisei no pé do bichano? – não... Willem fez de propósito!

Hyuga – Agora chega! – ele impulsiona o corpo e se levanta.

Ai não! Ele tá fazendo aquela cara. A atmosfera aqui vai ficar quente!

Hyuga – Você já era! – de repente, ele soca o rosto do Willem.

Ken – Hyuga! – antes que nós tenhamos tempo de pará-lo, os dois começam a se atracar – Espera um pouco cara! Fica calmo! – pelo visto eu não sou a única esquentadinha.

Ken e os outros tratam logo de segurar Willem e Hyuga. Max está vindo, com uma cara de poucos amigos, eu devo frisar! Mas qual será o problema com esses dois?

Karl – Hyuga, o que deu em você? – ele ajuda a segurar um dos seus braços.

Hyuga – Tá, tá, me deixa! – grita – Andem, me soltem!

Max – Mas o que está acontecendo? – o treinador segura os dois pelas golas das camisas – Vamos lá seus valentões! Querem lutar Box? Pois podem sair do meu estádio! Se não, melhor jogarem com raça! – ele os solta – E isso vale pra todos! Eu ainda estou no comando aqui! – pausa – Vamos lá, vocês dois, vão pra enfermaria e o restante para o treino!

Hyuga – Treinador, eu não preciso ir. – claro que não! Só faltam os ossos saírem pra fora!

Max – Então vá para o banco Hyuga! Nesta partida você não joga! – pausa dramática.

Gabriele – Então eu vou levar o Willem treinador!

Max – Tudo bem. Faça o que quiser! – assopra o apito – Andem, vamos treinar! – todos se afastam menos o Hyuga, que continua nos encarando.

Willem – Não Gabriele, sério, nem precisa! – eu seguro seu pulso.

Gabriele – Venha de uma vez! – o puxo sem nenhuma cerimônia.

Shingo – Não se atrase para o treino Gabi! – eu aceno de volta enquanto ele volta a olhar pra frente ao lado do Jun, concentrado como alguns no banco.

A carinha dessa criança concentrada dá vontade é de rir! E não é que as camisas de treino ficaram bem neles! Estão bonitos... Quando o Willem e eu chegamos à porta da enfermaria, ele segura meu pulso antes que desse os primeiros passos de volta para a quadra. Não sei qual é a deste sorriso misterioso, mas tá me causando alguns arrepios!...

Willem – Gabriele, você se lembra de quando veio visitar Jyrdan com os seus pais?

O QUÊ? Como ele sabe disso? Ninguém sabe quase nada sobre a minha família além do Hyuga, e não seria logo aquela criatura a contar! Mas... Willem... Onde eu já o vi?

Gabriele – Como sabe sobre... – engulo em seco – De que lugar a gente se conhece? – ele abre mais o sorriso e chega bem perto.

Willem – Você só tinha quatro anos quando veio à Jyrdan por causa de uma viagem de negócios dos seus pais. Eles iam ver o presidente Makoto para resolver alguns problemas da sua empresa de talentos, que na época era quem fornecia os modelos para a P.M.E., e aí eles te trouxeram junto. Lembra? – meu Deus! Agora eu lembrei!

Gabriele – Você era aquele garotinho do Filiam que quebrou a minha boneca de porcelana! – solto o meu pulso da mão dele e tapo a boca. Tô passada e ele rindo!

Willem – É, era eu! – controla o riso – Então você ainda lembra daquilo?

Gabriele – Como ia esquecer? – bato no braço dele, rindo feito uma doida – Por sua causa eu passei a detestar os homens! E eu gostava de você... – cruzo os braços.

Willem – Verdade? Ah, mas isso é uma coincidência! Eu também gostava.

Gabriele – Ju... Jura? – ele confirma com a cabeça. Nossa, que vergonha!

Willem – Mas a gente se conheceu primeiro quando você veio à Jyrdan.

Gabriele – É mesmo! Visitando a universidade Pritt... Quando a bola de futebol quase ia acertando a minha cabeça! – naquela hora não foi engraçado como agora – Tava brincando com os seus amigos lá no campo e erraram um gol.

Willem – Pois é. Depois daquilo os meus pais me mandaram para Braja pra estudar por dois anos e eu fiquei morando junto de um tio meu.

Gabriele – Aí nos vimos na universidade Burguese e você quebrou a "Gabriele".

Willem – Batizou aquela boneca com o seu nome? – ri.

Gabriele – Foi a minha mãe. – rio, logo me entristecendo – Na época já tinha sido adotada. – eu relembro o acidente, mas balanço a cabeça para afastar os pensamentos e volto a sorrir – Nossa, eu ainda nem acredito! Há quanto tempo... – pauso – Ah! Então é por isso que você sabe tanto sobre a insatisfação do treinador Max enquanto trabalhava para o Carlo! Seus pais ainda trabalham na P.M.E.? – aponto na direção dele, e nem sei por quê!

Willem – Sim. – ri, me fazendo rir junto – Gabriele... – segura a minha mão – Já que não somos mais crianças, você quer sair comigo?

Ai, Senhor, meu Deus, eu vou ter um ataque! Eu fui chamada para sair com um cara? É sério? Quer dizer... Este moreno talentoso...

Gabriele – Tá me convidando pra um encontro?

Willem – Estou! Mas se não quiser, tudo bem, afinal, eu te fiz odiar os homens, né? – eu odiar você? Nunca!

Gabriele – Eu odeio o Hyuga! – nós rimos – Os outros caras são suportáveis.

Willem – Isso me inclui? – lanço um olhar de mulher misteriosa com um sorrisinho de canto pra ele, que não passa despercebido.

Gabriele – Pode ser... Mas antes de dar uma resposta, me diz, por que quebrou "Gabriele"?

Willem – Ah, nem sei! – ele passa a mãos nos cabelos – Talvez por querer chamar a sua atenção. Você nem ligava pra mim!

Gabriele – Então é verdade a minha teoria...

Willem – Qual? – a de que todos os homens fazem estupidez quando querem atenção...

Gabriele – Nenhuma. – sorrio, jogando os braços para trás – Tá!

Willem – O que? – ergo uma sobrancelha. Ele parece ter captado – Aceita sair comigo?

Gabriele – Claro! – rio – Agora vai se tratar. Não gosto de homens sangrando nos meus encontros!... – dou outro riso e ele ri junto enquanto viro de costas – Eu vou para o treino. Bye!

Ele acena de volta. É... Um encontro depois de tanto tempo... Como eu pensei, era aquela minha personalidade explosiva de quando passei a ser parceira do Kojiro que estava acabando com meus relacionamentos com os caras. Agora eu me sinto mais livre, talvez um pouco feliz!...

Max – Gabriele, acorde! – o grito estridente deste homem se ouve do lado de fora desta universidade – Vamos, é a sua vez! Tente tirar a bola do Hyuga!

Só isso? Moleza! Os outros vão saindo da frente para que fiquemos nós dois no gramado. Assim que ouço o apito, vou pra cima dele. Ele corre de um jeito até mais engraçado comparado a mim, levando em consideração nossa falta de equilíbrio duplo! Também, o desequilíbrio dele é muito maior!... Dou a entender que vou dar uma rasteira nele, então o tigre pula, mas é quando apoio as mãos viradas para trás e levanto as duas pernas pra prensar a perna DIREITA dele.

Eu podia ir atrás da mais fraca, porém, sou muito orgulhosa! Agora que sei sobre a falta de equilíbrio do lado esquerdo de seu corpo, assim como eu tenho, posso tirar vantagem disso. A graça é que eu não gosto!... Após jogá-lo no chão, salto e pego a bola, caindo com estilo. O povo permanece pasmo. Talvez eu tenha exagerado... O Kojiro se levanta emburrado e limpando seu calção, sem me olhar nos olhos. Max anota qualquer coisa em uma prancheta e mal sorri.

Max – Muito bem Gabriele, venha comigo! – sem dizer mais nada, ele vira e sai andando.

Sem muita escolha, eu acabo o seguindo depois de acertar a bola na cabeça do Kojiro e sair acenando para os outros. O treinador me leva para a sua sala de treinamentos especiais. Já vi de relance uma vez: uma sala cheia de aparelhos programados para fornecer dados físicos de todos os jogadores e preparar treinamentos diferenciados, com alimentações diferentes. O computador principal pega os dados, analisa e armazena, e depois faz uma atualização.

É incrível a quantidade de informação que a Deise consegue arrancar quando se dedica a uma pesquisa!... Em pouco tempo, o treinador pára de andar e senta em uma mesa pouco longe da porta. Eu fico esperando pacientemente atrás dele, enquanto arruma uns papéis sobre a sua prancheta. Ele liga o computador e se vira para mim, muito sério.

Max – Gabriele, desde a primeira vez que fiz aquele exame rápido em você, durante o jogo, eu percebi que você não é como as jogadoras normais. Você tem talento, astúcia e dedicação até de sobra para ganhar quantos campeonatos quiser, mas não sei ainda se está pronta para entrar em campo. – o que ele quer dizer?

Gabriele – Se importa de traduzir isso? – ele volta a olhar para a tela do computador.

Max – Nessas últimas semanas eu andei analisando todos os membros de Fuji e Hotter. Nenhum deles parece ter tantos problemas com o seu desequilíbrio físico quanto você e Hyuga.

Gabriele – Mas eu pensei que o dele fosse mais problemático!

Max – Não é bem assim... – ele clica com o mouse algumas vezes e sai de frente da tela – Veja isto. – eu me aproximo e começo a encarar uns borrões coloridos – Observe uma coisa... O Kojiro Hyuga fez comigo um exame faz pouco tempo. Seu músculo do lado direito está com o desenvolvimento exagerado comparado com o seu lado esquerdo. E mais: estão muito fracos! – ele clica novamente com o mouse e a imagem muda para uma forma feminina – Agora, preste atenção ao seu exame, que você realizou comigo ontem. – os números começam a mexer até as luzes mais ofuscantes no monitor começarem a piscar – Você tem o pior equilíbrio que eu já vi! Nem sei como consegue jogar futebol desse jeito!

Gabriele – O que? – afasto o rosto do computador – Como pode...

Max – Está tudo errado com você. – ele levanta da cadeira – Você tem problemas sérios! – é como se tivessem me dado uma cacetada na cabeça – Gabriele Monterrey, seu corpo não é de atleta! – ele aponta para mim – Eu nunca vi nada igual!

Gabriele – Ei! Desculpe, mas o senhor não pode falar assim de mim!

Max – Eu não sei como era o seu treinamento, mas sei que Braja, em termos de avaliação física, está muito atrás dos outros países. Imagino como a Emília administra a carreira de suas jogadoras. E também me pergunto por que a senhora Matsumoto e o senhor Kitazume parecem apostar o futuro, respectivamente, de Silja e Jyrdan nas mãos de vocês nestas condições!

O que eu posso dizer? Braja é meu país de origem, muito embora eu não tenha vivido as melhores experiências do mundo lá. Eu sempre achei que fosse uma ótima jogadora, e a técnica me ensinou desde cedo todos os chutes que sabia! Para mim, o treinamento estava dando certo. É claro, não é de se estranhar ouvir um diagnóstico desses de alguém experiente, e eu até aceito por ele já ter trabalhado em Braja e ter anos de trabalho em Jyrdan como prova de capacidade...!

Gabriele – Eu não me importo em ser criticada, mas o que eu não aguento é que critiquem o futebol que a minha mãe me ensinou! O senhor tem que pedir desculpas!

Max – Seu temperamento também é como o dele... – ranjo os dentes e ele parece notar – Eu só vou falar uma vez Gabriele, então preste atenção... Carlo Monetti não está preocupado de forma alguma com o desequilíbrio físico de seus jogadores. O fato de Kira Kozo ter deixado Silja para se juntar ao time masculino de Braja, o Filiam, e Kelvin Petrovity ter assumido o time feminino, Fever, foi por causa de seus mesmos ideais. Eles acreditam num futebol onde todos os jogadores são verdadeiros matadores! É por isso que o Petrovity quer integrar Kojiro Hyuga ao seu time: ele foi ensinado desde muito cedo nas mãos do técnico Kozo, enquanto ainda pertencia ao Forni, a ser um matador! – por isso o Forni foi destruído e nasceu o Fuji com o Roberto – Se o presidente Kitazume e a presidenta Matsumoto hoje estão tentando uma interação entre seus países, Jyrdan e Silja, é porque eles sabem que não vale a pena continuar com tantas disputas se tem um inimigo em comum: Braja. Você e os outros membros de Hotter e Fuji são a esperança de unir Fórtica e ao trio de equipes capazes de derrotar Filiam e Fever em um jogo decente, mas será impossível com este rendimento físico! – faço um bico e cruzo os braços – Kojiro Hyuga é outro no mesmo patamar. Ele parece não entender a gravidade das coisas para continuar com a briga contra Willem Arminius! Então, a menos que prefiram ser derrotados, terão de agir logo!

Gabriele – Um... – suspiro, descruzando os braços – E o que eu devo fazer?

Continua...