O Jeito É Ir Embora - Yasahri

Único - Acontece que eu não me importo mais


Caro Yasuo,

É um tanto estranho escrever uma carta de despedida que não se pretende entregar, mas Karma me recomendou este tipo de terapia, e como acredito na sabedoria de minha amiga, aqui estou.


Na época em que estávamos juntos, todos os dias, eu acreditava que não existiria razões para que nosso amor viesse a falhar. Afinal, éramos perfeitos. Mesmo escondendo parte de suas emoções e me excluindo de assuntos privados da tua vida, eu tinha o privilégio de fazer parte dela – mesmo uma participação mínima. Eu respeitava sua privacidade, respeitava sua escolha de não expor suas cicatrizes e defeitos para mim, pois eu também o fazia.


E então eu me revelei a você. Destrinchei todo o meu passado, as coisas horríveis que já fiz, as minhas inseguranças, os meus maiores medos. E você, Yasuo, fez parte do processo para que eu pudesse me livrar destas amarras, e sou grata por isso.


Todo dia, com você, eu ficava mais leve.


E tudo isto acabou em poucos dias, quando eu mudei, mas você não. E a nossa relação passou a definhar pouco a pouco, mesmo que eu fingisse que não.


Todo dia, sentia um peso enorme nos meus ombros. Karma me perguntou certa vez o motivo de eu aparentar tanto cansaço. Eu dizia "Devo estar dormindo errado".


Todo dia, um peso enorme nas minhas costas. Akali percebeu meu estado e também questionou o que tinha de errado. Eu sorria e dizia "Talvez seja de tanto me sentar de lado".


Mas era você, Yasuo. Você me infernizando, usando o que eu contei a você como forma de mostrar aos outros como me conhecia melhor do que ninguém. Era como se eu fosse um troféu que você queria exibir pros seus amigos. "A Ahri é minha, eu sei como ela é, eu sou o único que entende ela".


E então, Yasuo, você começou a responder por mim, inventando coisas que eu nunca havia lhe dito, e isso foi motivo de brigas que nunca imaginei que teríamos. Mas eu relevei, porque pensei que meus alertas te fariam acordar e mudar de comportamento. Sim, eu fui paciente pra porra, porque imaginei que você poderia compreender meu lado um dia.


Reclamei um dia inteiro de uma dor nos ossos, achei que fosse algum lugar quebrado. Um dia, fiz compressa no pescoço pra ver se melhorava esse mal-estar, essa pressão no meu psicológico. Talvez as dores viessem de tanto eu jogar deitada no sofá, numa postura ruim. E adivinha, Yasuo? Quando consultei o Shen, o que ele me disse?


Que a causa era você.


Você estava sugando minhas energias, não respeitava mais minhas opiniões, eu estava sempre equivocada. Ou então eu tinha um gosto muito ruim por consumir alguma comida que você detesta, e claro que você tinha que apontar isso como se eu fosse uma palerma sem noção. Ou simplesmente quando eu demonstrava mais inteligência do que você, a sua resposta era dizer que não ligava para qualquer ensinamento que eu pudesse te oferecer, você não queria ser ensinado sobre nada. Tudo, você fazia parecer que tudo o que eu sou ou faço é um erro, e eu engoli essa mágoa sem perceber, tolerei suas mancadas por achá-las minúsculas, acreditando que o amor seria suficiente pra sustentar essa relação.


Mas afeto não pode ser o único pilar de um relacionamento. Mesmo eu sendo a compreensiva, a gentil, a adorável Ahri. Você conseguiu acabar com isso, sendo um babaca egoísta e mimado, Yasuo.


E, minha nossa, como caralhos demorou tantos meses pra eu finalmente ganhar consciência do mal que você me fazia? Karma, Akali, Shen, Irelia, até seu irmão mais velho veio me dizer que tinha algo estranho no modo como eu sempre passava a mão na sua cabeça quando errava pra cacete comigo, e o oposto ocorria quando quem estava supostamente errada era eu. A Ahri perfeita não podia cometer um deslize, eu não podia ser diferente da Ahri que você criou na sua cabeça – sério, você chegou a falar pros seus amigos que eu estava te sufocando, Yasuo! Eu, a criatura mais paciente e empática do mundo, te sufocando com o quê? Por cobrar que fosse menos idiota com as pessoas? Comigo, principalmente?


A conclusão foi simples, se você nunca iria amadurecer, se sempre seria esse leão orgulhoso que não ouve ninguém, só me restou olhar pro nosso apartamento e dizer pra mim mesma: "Então o jeito é ir embora!".


Pegar as coisas e ir embora. Me despedir e ir embora. Te abraçar e ir embora. Não importava como, eu precisava ir embora.


Não posso dizer que foi uma decisão fácil. Ainda é doloroso recordar, porque eu queria que tivesse durado mais – as partes boas, no caso. Porém, eu me sinto bem sem você, sem seu afeto, sem sua adoração exacerbada de antes de começarmos a namorar – era irritante e causava vergonha alheia, sinto muito. Agora que sei que não preciso de você, eu me sinto cada dia melhor, e apenas para me livrar de vez desse sentimento ruim, eu decidi escrever isso.

É chato quando nossos amigos em comum ficam perguntando se vamos reatar, justificando que nós éramos muito próximos pra acabar por culpa de uma briguinha aleatória. Só que eles não sabem – ou fingem que não – que não foi nossa primeira briga, e nem entendem o porquê de eu ter explodido de uma vez e despejado tudo o que estava entalado num único tiro. Eu estava cansada, Yasuo, e sinceramente, se você não tinha notado o quanto a situação era tensa e insuportável, eu não medi esforços em te provar o quanto me decepcionei contigo.


Nem fiquei chateada ao descobrir que disse a Irelia que eu era louca, que desfiz o nosso romance com uma desculpa qualquer. Ou quando você disse ao Yone que não ia ficar se lamentando por minha causa. Puta merda, Yasuo, como você foi idiota. Dizer essas coisas só provou meu ponto de como você é babaca pra caralho, até o Yone ficou do meu lado depois dessa.


E eu me pergunto, Yasuo, se existia mesmo alguma solução mágica pra essa situação. Se poderia ter sido diferente. Mas nós mentimos um pro outro. Menti pra você quando disse que ia entender tudo o que você tem pra dizer.


Acontece que eu não me importo mais.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.