A Reserva Ecológica Ekzisto era um dos maiores parques de proteção e conservação de vida vegetal e animal de toda a Federação. Ocupava 2.350 quilômetros quadrados, equivalente a quase um quarto da área total da imensa capital. Espécies raras, muitas extintas nos seus mundos de origem, estavam ali preservadas, vivendo em ambientes que simulavam com perfeição seus habitats naturais. Cientistas e voluntários de várias áreas de conhecimento trabalhavam ali, cuidando dos animais e plantas, visando seu estudo, reprodução e perpetuação. Apesar de estar sempre aberto à visitação, o acesso à reserva era controlado e os visitantes só podiam se deslocar a pé, sendo proibidos quaisquer veículos, terrestres ou aéreos, para que não perturbassem seus habitantes. O contato direto com os espécimes era proibido. Não era permitido o acesso ao parque por via aérea nem por teletranporte e toda a área era cercada por um campo de força.

Assim que o carro aéreo se aproximou da reserva, o computador de bordo emitiu avisos sonoros informando que as proibições e recomendando que o veículo se afastasse.

— Parece que nós não vamos conseguir pousar – disse Kirk.

— Não se preocupe – respondeu Aysha – eu tenho a chave.

Aysha digitou um comando em um mini-teclado que trazia preso ao pulso e o barulho do motor do carro se transformou em pouco mais que um sussurro. Em seguida uma grande janela surgiu no campo de força logo frente e eles puderam entrar no parque. Assim que passaram, o campo de força se fechou novamente.

— Vamos seguir o rio por cinco quilômetros – disse Aysha, apontando o curso de água que atravessava o parque – até chegar ao pátio atrás do prédio da administração.

Logo que pousaram, Aysha indicou uma porta lateral à direita do prédio, meio escondida. A órion digitou novos comandos no teclado de pulso e a porta se abriu, revelando o interior de um elevador.

— Entrem – ordenou Aysha.

Quando o elevador se moveu, o capitão sentiu que ele desceu vários metros silenciosamente e em seguida se deslocou para frente, na horizontal. Depois de alguns segundos as portas se abriram novamente e eles se viram em uma sala ampla, com vários computadores, mesas e armários. Uma grande tela cobria a parede em frente.

Aysha virou-se para o capitão e seus oficiais e indicou as cadeiras que estavam volta de uma mesa, quase no centro da sala.

A órion tirou sua arma das costas e a colocou sobre uma bancada próxima.

— Peço desculpas por toda esta confusão capitão. As coisas tem sido difíceis por estes dias e eu tenho encontrado algumas pessoas que não são quem aparentam ser, o que me deixou bastante desconfiada – disse Aysha – mas antes de qualquer coisa acho que uma bebida vai bem. O que vocês querem?

— Por enquanto, nada – respondeu Kirk secamente.

Sorrindo Aysha dirigiu-se a um pequeno sintetizador de alimentos (1) que estava em uma parede próxima e pediu:

— Um Whisky de Aldebaran dose dupla.

Quando a bebida se materializou na plataforma, ela pegou o copo e voltou para onde estavam os três oficiais da Frota e sentou-se perto deles, parecendo cansada.

— Certo capitão, vamos conversar. – disse ela - Mas antes de mais nada gostaria de esclarecer que estamos do mesmo lado.

— Isso nós ainda vamos ver – respondeu Kirk, parecendo irritado.

— Vocês se meteram em uma bela confusão lá no “Dagobah”— disse a órion sem rodeios, olhando Kirk nos olhos – E eu gostaria de saber por quê.

Depois de olhar a órion por alguns segundos, o capitão disse:

— Como eu disse, nós estamos procurando uma pessoa que talvez você conheça. Ele se chama Torias Dax e está desaparecido. Estava servindo na base da Frota em Delthara e citou seu nome em sua última comunicação conosco. E nós achamos isso no alojamento dele.

Kirk entregou a ela o cartão que eles haviam encontrado. Aysha o examinou e leu a mensagem escrita no verso, parecendo preocupada. Ela devolveu o cartão a Kirk.

— Ele nunca veio ao encontro – disse ela - no seu lugar apareceram aqueles brutamontes e antes que eles me identificassem, eu saí do “Dagobah”. Procurei por Torias na base e como não o achei, voltei para cá.

— E qual a sua relação com o tenente? – Perguntou Kirk.

Em vez de responder, Aysha se encostou na cadeira, cruzando os braços sobre o peito.

— O senhor já ouviu falar na Seção 31, capitão? – perguntou ela por sua vez.

James Kirk encarou sério a mulher e respondeu quase entre os dentes.

— Este é um nome que não ouço há muito tempo.

— O que é Seção 31, capitão? – perguntou Sulu.

Kirk olhou para seus oficiais por alguns segundos e encarou a órion novamente, respondendo:

- As poucas informações que temos indicam que Seção 31 é o nome código de uma divisão da Agência de Inteligência da Frota Estelar, não reconhecida oficialmente, que alega proteger os interesses de segurança da Federação Unida dos Planetas de ameaças que ninguém sequer percebe. O que se sabe é que suas ações são autônomas, não controladas pelo Comando da Frota Estelar ou reconhecidas pelo governo da Federação. Uma das poucas referências concretas sobre ela está em relatórios confidenciais do capitão Jonathan Archer e do tenente-comandante Malcolm Reed, oficiais da primeira nave Estelar a receber nome de Enterprise, a NX01 (2), há quase cem anos. Somente alguns oficiais da Frota Estelar tiveram acesso a estes relatórios.

Aysha tomou um gole da sua bebida e suspirou, antes de continuar:

— Nós sabemos qual é a missão do tenente Dax e temos monitorado suas atividades desde que chegou ao planeta. – disse Aysha – Estamos aqui para protegê-lo e garantir que ele tenha sucesso.

Kirk olhou para ela, mostrando-se preocupado.

— Porém tudo indica que alguém, fora da Frota Estelar... ou da seção 31, também tomou conhecimento sobre o trabalho de Dax e se interessou por ele. Aqueles nausicaanos estavam fazendo apenas o trabalho de força bruta, mas os quatro encapuzados são outra história. Você sabe quem eles são e de onde vem? – perguntou o capitão.

— Infelizmente sim. – respondeu a órion – E você não vai gostar de saber.

— Mas eu quero e preciso saber - disse Kirk.

— Então, antes de mais nada – disse Aysha séria – deixe-me contar do início como conheci o tenente Dax...

Referências do Capítulo

(1) O sintetizador de alimentos (ou processador de alimentos) é um equipamento comum usado a bordo das naves Estelares e bases da Federação a partir do século 23, para sintetizar alimentos e bebidas. Substituindo o resequenciador de proteínas usados nas primeiras espaçonaves, esses equipamentos usam uma tecnologia derivada dos transportes, armazenando os padrões dos alimentos em nível celular, que podem ser replicados segundo os pedidos dos usuários, em segundos.

(2) Série Star Trek Enterpise, 4ª Temporada, episódios 15 (“Affliction”), 16 ("Divergence"), 20 ("Demons") e 21 ("Terra Prime").