S'Tarlia

O romulano olhava para Spock sem disfarçar o desprezo que sentia, enquanto o vulcano o encarava de modo frio, com as mãos cruzadas às costas, de atrás do campo de força da cela onde estava.

— Você tem alguma coisa a dizer? – perguntou calmamente Spock.

— Nada que você mereça ouvir, – respondeu o romulano – apenas custo a crer que alguma vez nossos povos já tiveram alguma coisa em comum. Os vulcanos, apesar de todas as suas capacidades superiores, se contentaram em ser servos da Federação. E isso me enoja.

O vulcano levantou uma das sobrancelhas de modo significativo.

— Pois eu também acho que os romulanos desperdiçam seu imenso potencial. Porém isso apenas me parece... ilógico – respondeu Spock sem alterar-se.

Esta resposta enfureceu o romulano, que caminhou alguns passos em direção à cela.

— Você está zombando de mim, vulcano? – disse o romulano, levantando a voz – posso fazer você se arrepender de muitas formas!

Antes que Spock pudesse responder, a porta da sala se abriu e uma romulana entrou na ala de detenção da nave. Era uma veterana imponente, provavelmente vinda de uma das classes patriarcais de Romulus. Tinha um olhar feroz e seus cabelos curtos já mostravam alguns fios prateados. Trazia no uniforme as insígnias de comandante e disse secamente, assim que o guarda olhou para ela:

— Chega Tr’Khell! Eu quero conversar a sós com o nosso prisioneiro. Volte quando eu chamar.

O soldado bateu com seu punho direito fechado no ombro esquerdo, numa típica saudação romulana.

— Sim, minha comandante. – disse ele solenemente, saindo em seguida.

A romulana olhou para Spock e esboçou um leve sorriso.

— Olá comandante – disse ela – acho que ainda não fomos apresentados. Eu sou S’Tarlia e estou liderando esta operação.

O vulcano apenas olhou para ela, sem dizer nada.

— Acho que você gostará de saber que entramos em contato com o seu capitão e creio que ele já está trabalhando para que em breve esta situação desagradável esteja superada – continuou ela, apontando a cela onde ele estava.

— Porém o fato de eu estar aqui levanta uma questão. – respondeu Spock – Vocês me atacaram dentro de uma instalação da Federação. E não teriam me capturado se não contassem com ajuda interna. Não foi nenhum dos seus homens que atirou em mim. Pergunto-me quem teria sido.

A romulana deu um sorriso largo e disse com ironia:

— Ora Sr. Spock, não acha mesmo que vou dar a você esta informação.

— Não será necessário. – disse o vulcano – Eu faço uma idéia de quem foi.

O sorriso da comandante sumiu imediatamente.

— Muito bem, vulcano – disse ela – nós acabamos de estipular a Kirk um prazo de setenta e duas horas para que ele nos entregue os projetos do núcleo de dobra que o trill estava construindo. Findo o prazo, nós estaremos deixando este planeta. Com os planos ou com você.

— Acho que em se tratando do capitão Kirk, - disse Spock – as coisas não serão tão fáceis assim.

— Eu penso que você superestima seu capitão – disse a comandante S’Tarlia.

— E eu, que você o subestima – respondeu o vulcano.

A romulana olhou para Spock com certa irritação.

— Vamos ver qual de nós está certo. – disse ela – Enquanto isso quero lhe mostrar algo para que você possa pensar. Tragam o outro prisioneiro.

Tr’Khell voltou, junto com outro agente romulano. Traziam um homem arrastado, muito ferido e inconsciente. Eles o jogaram aos pés da comandante.

— Este humano é da equipe de uma agente órion que estava em contato com o trill e nós tentávamos capturar. Ela, para nossa decepção, conseguiu escapar. Ele, porém, não teve tanta sorte e nós o capturamos junto com seu outro companheiro, um antosiano que não foi forte o suficiente para sobreviver ao nosso “interrogatório”. – disse a comandante com indiferença – Este aí surpreendentemente resistiu um pouco mais. Mas chegamos a um impasse. Parece que sua mente foi programada para se desligar em caso de tortura extrema e ele não responde mais a nenhum estímulo exterior. Portanto, ele deixou de ser útil para nós.

A comandante estendeu a mão sem tirar os olhos de Spock e Tr’Khell lhe entregou um disruptor. Ela mexeu nos ajustes da arma. Apontou friamente para as costas do homem e disparou. Ele foi totalmente desintegrado.

— Como pode ver vulcano, nós não estamos aqui para brincadeiras. – disse a romulana.

E virando as costas para Spock, saiu da sala a passos largos.