O Idealizador (the Gamemaker)

Capítulo 5 - A Conversa.


Durante os dias que se seguiram após os jogos, me mantive trancado em meu quarto. Sendo amparado nos braços da solidão, da tristeza e da escuridão. Como um bebê sendo levado ao colo pela mãe após cair e se machucar, mas no meu caso, eram três mães disputando quem preencheria o vazio que um dia fui eu, quem ocuparia o espaço que um dia fora inteiramente de Tyler. Já li muitos livros em que as pessoas relatam sentir um vazio em seu peito após serem abandonadas pela pessoa que amava. Agora percebo o quão egoísta essas pessoas eram e o mais importante, o quão egoísta estou sendo. Tyler não escolheu me amar, nem tampouco escolheu me deixar. Foi uma decisão tomara para ele e não por ele. Eu não sei se pelo destino ou pela Capital, mas sei que a única escolha de Tyler foi a de dar sua vida pela minha, enfrentar a crueldade da Capital por mim. E é assim que ele deve ser lembrado.

— Tyler, você tem uma visita. — Gritou minha irmã do corredor.

— Já disse que não quero falar com ninguém. — Respondi.

— É a Sra. Whoopid — Gritou de volta.

— Mande-a subir. — Respondi enquanto me levantava da cama. — Vou atendê-la.

Escovei os dentes, lavei o rosto e dei um jeito em meus cabelos. Meus olhos estavam inchados por chorar muito e dormir pouco. Quando voltei, ela já estava sentada na minha cama, segurando uma foto emoldurada de Tyler que ficava no meu criado-mudo.

— Nossa! Você está horrível. — Disse ela ao notar minha chegada.

— Obrigado — Respondi pegando a foto de suas mãos e me sentando na cama.

Ficamos sem falar nada por um longo tempo, observando a foto de Tyler em minhas mãos até que ela resolveu interromper o silêncio.

— Eu nunca gostei de você. Não é nada pessoal. — Completou. — Tive ciúmes por você compreender meu filho melhor que a mãe. Agora vejo que você realmente o amava e me sinto culpada.

— Ainda bem, já que você é culpada. — Disse enquanto tirava novamente a foto de Tyler de suas mãos. — Você admitiu a culpa no dia em que Tyler morreu. — Continuei. — Você fraudou meu exame na escola para que eu fosse para a arena. Ou já se esqueceu disso?

— Sabe, eu não me arrependo de ter fraudado sua nota. Além de nunca ter sido a mãe que Tyler merecia e nunca ter o apoiado, meu único arrependimento é o de ter dado continuidade a toda essa coisa.

— Como assim? — Perguntei.

— Os Jogos, querido. — Ela respondeu. — Alguém precisa pará-los. Precisamos parar a Capital.

— Eu sei, já pensei nisso. — Comentei.

— Então no que está pensando? — Ela olhava em meus olhos, como um aluno realmente interessado na explicação do professor no final do ano letivo.

— Andei pesquisando e pretendo me tornar um Idealizador dos Jogos. Terei aulas sobre a tecnologia usada nos jogos e na arena no distrito 3 e na Capital. — Respondi. — E pretendo destruir a Capital por dentro. Usando os jogos para atrair a atenção dos distritos e iniciar uma guerra.

— É um ótimo plano, mas você vai precisar de gente. — Sra. Whoopid respondeu com um sorriso no rosto. — Posso conseguir apoio, se você não falar sobre essa conversa com ninguém.

— Manterei em segredo. Mas como conseguirá apoio? — Perguntei.

— O Distrito 13, Plutarch. Alguns informantes disseram que ele está se reerguendo. Disseram que eles têm uma cidade subterrânea para onde parte de seus habitantes fugiu durante a guerra.

— Isso é maravilhoso! Como consigo contatos com o distrito 13?

— Deixe isso comigo. Se preocupe em iniciar seu plano e quando chegar a hora direi o que for preciso. — E mais uma coisa. — Ela jogou uma caixa para mim enquanto caminhava em direção a porta. — Tyler me deixou isso antes de ir para o trem. Feliz Aniversário.

— Obrigado. — Respondi enquanto abria a caixa. Ao abrir, notei logo uma carta e a abri rapidamente. Passei os dedos entre as escritas e podia sentir Tyler ao meu lado ditando as palavras:

"Querido Plutarch,

Pelo que conheço de você, e posso dizer que é muito, considerando que eu te amo desde que ainda estávamos aprendendo a amarrar os cadarços, sei que um dia irá me perdoar. Eu não poderia deixar você ir para a arena, e entenda isso da maneira mais egoísta possível: Eu não suportaria te perder.

Quem seria responsável por acabar com os jogos se você fosse para arena? É claro que acredito que você venceria os jogos. O que sinto é medo de você mudar seus ideais ao voltar da arena. Faça o que for preciso para detê-los.

Eu acredito em você.

Com amor,
Tyler."

Coloquei a carta em cima da cama e enfiei minha mão na caixa, para a minha surpresa, encontrei um relógio. Me levantei da cama enquanto a voz de Tyler ecoava a frase: "Faça o que for preciso".

— Você realmente me conhece, Tyler. Quem mais saberia da minha obsessão por relógios? — Disse enquanto prendia o relógio no pulso.