O Homem que Eu Amo
O HOMEM QUE EU AMO - PARTE XVI
E ao chegar ao escritório, encontramos Tsunade-sama sentada em sua mesa com as mãos cruzadas na altura do queixo. Assim que nos viu começou o seu sermão. Seu globo ocular saltava da órbita.
- Como pode ter ido para a missão sem a minha permissão?! Será que não pensa na sua saúde?! Se algo tivesse acontecido com você ou com...
- Tsunade-sama, por favor... – eu gritei a interrompendo antes que ela falasse coisas que eu não queria que Naruto soubesse.
Olhei para o lado e vi Naruto com um misto de tristeza e dúvida no olhar. Voltei a olhar para minha sensei que agora esboçava uma expressão mais tranqüila.
- Sakura. Você está proibida de realizar missões.
O veredicto de minha sensei me pegou de surpresa.
- O que?! – gritou Naruto.
Nem mesmo ele acreditou no meu castigo. Mas eu entendi o porquê dessa proibição.
- Isso mesmo – a voz de Tsunade-sama ficou mais severa – E você também Naruto está fora das missões até que eu pense em algo.
O queixo de Naruto quase caiu no chão tamanha a surpresa dele ao ouvir aquelas palavras.
- Agora Naruto. Leve a Sakura para o hospital e peça que Shizune a examine!
- Não é preciso... – eu tentei falar, mas o olhar severo que Tsunade me lançou falou por si.
Eu puxei Naruto pela jaqueta, pois depois que ele escutou que ele também estava fora das missões ficou estático.
Naruto e eu caminhamos em silêncio até o hospital de Konoha.Um pouco antes de chegarmos Naruto parou de andar e me olhou, eu também detive o meu caminhar.
- Sakura-chan, você está doente? – perguntou-me num tom de tristeza.
Eu fiquei sem jeito, não sabia o que diria para ele. Abri um falso e sorriso e fui falando a primeira desculpa que me veio a mente.
- Não. Acho que a Tsunade-sama se preocupou com esses pequenos arranhões... São apenas bobagens...
Bobagens do tipo uma gravidez de trigêmeos.
- Você estava com febre hoje de manhã.
Eu fechei a cara e cruzei os braços.
- Já disse que aquilo não era nada. Como você é insistente nesse assunto! Depois de voltarmos do hospital eu vou falar com a Tsunade-sama.
- Eu também vou falar com a Tsunade baa-chan.
- Não! – eu gritei balançando os braços a minha frente – Você está melhor fora das missões – Naruto olhou-me surpreso – Eu vi... – meu tom de voz diminuiu e eu desviei o olhar do rosto de Naruto – Eu vi quando aquele chakra vermelho envolveu seu corpo e o rasengan também estava vermelho... – voltei a olhar para ele - Aquele era o chakra da kyuubi?
Eu não sei por qual razão perguntamos coisas que nos são óbvias. Acho que o fazemos na esperança de alguém nos diga uma mentira piedosa.
- Não se preocupe com isso, Sakura-chan – disse Naruto sorrindo.
Naruto não soube me contar uma mentira piedosa, mas se ele tivesse me contado eu teria acreditado.
Eu estendi minha mão para tocá-lo, só que a recolhi antes de alcançasse seu braço. Eu queria abraçá-lo, porém não podia fazê-lo no meio da rua; o nosso namoro ainda era secreto para muitas pessoas, e preferíamos mantê-lo assim de forma discreta.
Entramos no hospital e eu fui procurar por Shizune, Naruto fez menção de me acompanhar.
- Naruto, poderia me esperar aqui na recepção.
Ele sorriu e assentiu com a cabeça. Girei os calcanhares e escutei Naruto me dizendo baixinho.
- Eu vou encontrar uma maneira de refazer o selo.
Com os olhos marejados, pus-me a caminhar em direção a salinha onde Shizune estava. Eu a encontrei num dos quartos que estava vazio, ela carregava um fardo com lençóis limpos.
- Sakura, o que faz aqui?
Eu contei a Shizune o que havia acontecido, desde a minha participação na missão até a minha proibição e a de Naruto de seguirmos participando de missões de Konoha.
Ela me fez sentar na cama e começou a me examinar.
- Finalmente Tsunade-sama decidiu tirar o Naruto das missões, apesar dela achar que ele não seria capaz de cumprir esse tipo de ordem vinda dela – Shizune começou a tagarelar sem parar – Pergunto-me se ela tomou essa decisão por causa do Jiraya-sama.
- O que o Jiraya-sama tem a ver com isso? - perguntei surpresa.
- Ontem a noite, Tsunade-sama chegou bêbada ao escritório e ficou falando que ela deveria ter proibido o Jiraya-sama de ter partido porque ela era a Hokage e ele teria que obedecê-la...E depois disse Naruto também tinha que obedecê-la. Acho que ela se arrepende por não tê-lo impedido de ir.
- Ela o amava tanto assim?
- Tsunade-sama deixou de amar depois que meu tio Dan morreu, mas acho que havia um sentimento muito forte entre ela e Jiraya-sama... – Shizune colocou a mão no queixo - Talvez fosse mesmo amor, porém ela jamais confessaria isso nem para ela mesma.
A dor dos amores perdidos de minha sensei sempre me causara grande comoção, e eu temia que um dia eu me tornasse como ela, ou como Kurenai. Eu não queria ter que chorar a morte da pessoa que eu amava, isso era triste demais.
Depois de me examinar Shizune deu o seu parecer.
- Parece que está tudo bem com seus filhos, mas a febre ainda não cedeu.
- Amanhã eu estarei melhor – eu disse me levantando da cama.
Eu saí do quarto e fui para a recepção me encontrar com Naruto. Não o encontrei lá.
Uma enfermeira se aproximou de mim e me entregou um papel branco dobrado duas vezes.
“Sakura-chan, eu vou voltar para a missão. Naruto”
Sem palavras de amor e nem de esperanças por sua volta, assim era o bilhete que Naruto havia me deixado. Apenas um aviso de que ele voltaria para a missão.
Eu fui para a minha casa.
Não dormi a noite toda e voltei a ter fortes contrações, a febre não cedeu, ao contrário, aumentou ainda mais. Pela manhã acordei banhada em sangue, e depois de me lavar e lavar minhas roupas de cama eu fui para o hospital.
Eu estava tão preocupada com a febre que não abaixava e com a minha nova hemorragia que tudo em que pensei foi em ficar no hospital.
- Bom dia, Sakura-chan – saudou-me Shizune – Veio cedo para o hospital hoje... – ela parou de falar quando olhou melhor para o meu rosto – Você está abatida, aconteceu alguma coisa?
- Naruto voltou para a missão junto com o Yamato-sensei e o Kakashi-sensei – eu me encostei na parede, eu estava começando a ter um pouco de vertigem – Eu...
Não consegui falar mais nada. Coloquei a mão na testa e vi que a febre estava bem alta.
- Ainda está com febre? – Shizune estava preocupada por meu estado.
- Sim.
- Tsunade-sama disse que a encontrou na chuva na outra noite. Sakura-chan será que não sabe que isso pode fazer mal para os bebês.
Uma mulher que estava ao nosso lado me olhou com espanto.
- Shizune, por favor, não diga alto que eu estou grávida – pedi num tom baixo de voz.
- Deveria se cuidar melhor! – Shizune ignorou meu pedido.
Shizune me pegou pelo pulso e começou a me arrastar pelos corredores do hospital.
- Onde está me levando?
- Vai ficar em observação!
- O que?! Eu já apliquei um jutsu...
Shizune me cortou.
- Que não fez efeito ainda, agora vai descansar.
Eu parei em frente a porta dos leitos.
- Eu não quero que as pessoas saibam que eu estou grávida.
- Nesse caso vou te por num quarto sozinha, mas não vai sair daqui até a noite. Imagina se alguma coisa acontece com esses bebês.
Shizune estava bem preocupada com a minha gestação, mais até do que eu. Enquanto eu levava a gravidez sem muitas preocupações, exceto pela hemorragia, Shizune tinha o cuidado nas mínimas coisas comigo, ela era como uma irmã mais velha que estava sempre olhando por mim.
Sem ter como contestar com a Shizune, eu aceitei ficar num quarto em observação pelo menos até a noite. Eu tinha que cuidar mais de minha saúde, eu não queria perder os meus bebês, eles eram uma parte importante minha e do Naruto.
Eu sentei-me na beirada da cama.
- Eu tive uma nova hemorragia – Shizune virou-se surpresa para mim – Uma hemorragia maior do que a da primeira vez.
- Sakura-chan, você não deveria ficar se esforçando desse jeito...
- Eu treinei muito para ficar mais forte, mas me sinto cada vez mais fraca. Eu não consigo deter o Naruto com as minhas mãos...
- Talvez esteja usando as armas erradas.
Eu olhei com espanto para Shizune ao ouvir aquelas palavras.
- Eu não posso usar outras armas. Não quero que o Naruto sofra ainda mais.
- E acha que você sofrendo em silêncio com essa gravidez o está ajudando? Já pensou que se essa gravidez se complicar você também pode acabar morrendo?
Eu me levantei, mas a dor em meu ventre me fez sentar novamente.
- Como você quer eu diga a ele que eu estou lutando para manter a mim e aos nossos filhos vivos? Não posso colocar mais esse peso nas costas dele.
- Apenas conte sobre sua gravidez. Acredite Sakura-chan, isso dará forças para o Naruto seguir lutando pela vida dele.
Eu comecei a chorar.
- Eu queria ser mais forte...
Sempre me haviam dito que as mulheres ficam mais fortes quando estão grávidas, no entanto, não era assim que eu me sentia.
Eu fiquei em observação e cheguei até mesmo a dormir.
No final da tarde Naruto apareceu no quarto com uma cara de preocupação sem tamanho.
- Naruto, o que faz aqui?
Eu fiz menção de me levantar, mas ele foi mais rápido e sentou-se na cama ao meu lado.
- Sakura-chan...
Naruto me abraçou e ao sentir os braços dele sobre meu corpo eu fiquei preocupada.
- Shizune me contou que você estava aqui.
- E ela te contou o motivo deu estar aqui? – perguntei preocupada.
Fiquei apreensiva com o fato de Naruto já saber sobre a minha gravidez.
- Ela disse que você estava com febre e que por isso a deixou aqui em observação. Acho que foi isso.
Depois desse “acho que foi isso” eu tive certeza que Naruto não sabia da gravidez.
- Eu estou bem.
Eu tentei tranqüilizá-lo, no entanto foram as palavras de Naruto que tranqüilizaram a mim.
Naruto abriu um largo sorriso e todo animado me contou.
- Tsunade-sama e Kakashi-sensei descobriram uma maneira de refazer o selo. Eles disseram que em dois dias irão tentar juntos selar o chackra da kyuubi novamente.
Senti um peso enorme sair de dentro de mim, uma sensação de plenitude e paz invadiram minha alma, e como uma luz iluminou as trevas que habitavam meu coração.
Agarrei a cabeça de Naruto e o puxei para junto de meu corpo.
- Naruto, que bom...
Naruto deitou-se em meu regaço, e eu fiquei acariciando seu cabelo.
- Eu não vou mais me afastar de você, Sakura-chan. Nunca mais.
Naruto ficou ali com a cabeça recostada em meu peito, por um bom tempo em silêncio como uma criança que busca proteção no regaço materno. Eu acariciava seus cabelos e sentia seu coração pulsar forte.
- Naruto, vai ficar tudo bem, eu sei...
Na verdade, eu não sabia, mas queria acreditar nessas minhas palavras, eu precisava acreditar que tudo ia ficar bem, era a essa frágil esperança que eu me agarrava a cada dia.
- É melhor eu buscar comida – disse Naruto levantando a cabeça e voltando a sentar-se.
- Já está com fome é, seu comilão! – eu disse rindo.
Na verdade... – Naruto parecia meu receoso em dizer, mas acabou falando – Acho que você quem está com fome, Sakura-chan. Seu estômago está fazendo um barulho engraçado.
Eu desatei a rir ao associar o que Naruto dissera com o real motivo de meu estômago estar fazendo um “barulho engraçado”.
- Seu bobo, não é meu estômago que está fazendo esse barulho – disse em meio a risos – É quem está aqui dentro que está fazendo esse barulho.
- Sakura-chan...
Naruto pareceu-me bem confuso e diante da situação decidi que aquele seria um bom momento para contar a Naruto a verdade, afinal esses seriam três motivos para ele seguir em frente.
- Naruto, eu estou grávida – eu contei com a voz terna.
- Gráááviiidaaa! – ele gritou.
Naruto caiu de costas para fora da cama ao escutar a noticia.
- Naruto, você está bem? – disse me inclinando para vê-lo.
Ele não me disse nada apenas abriu o maior sorriso que eu já havia visto.
Naruto de maneira um tanto quanto desajeitada começou a levantar-se do chão. Eu voltei a endireitar meu corpo, e ele sentou-se a meu lado
- Você tem mesmo um bebê aí dentro? – disse colocando temeroso a mão sobre minha barriga.
- Não... – respondi séria, Naruto me olhou intrigado – Na verdade, Naruto, são três. Eu tenho três bebês aqui dentro.
Eu não sei como, mas o fato é que o Naruto novamente caiu da cama e dessa vez demorou mais poder se mover. Eu comecei a rir do drama que ele estava fazendo pela situação, voltei a me inclinar em direção ao chão onde Naruto estava deitado com as pernas apoiadas na lateral da cama.
- Naruto, você consegue se levantar sozinho ou tenho que chamar a Shizune?
Naruto sentou-se no chão com as pernas e os braços cruzados e ficou um tempo em silêncio pensando; comecei a ficar preocupada que ele não tivesse gostado de saber que eu estava grávida, afinal não sabíamos como as coisas iam ficar no nosso futuro e muito menos se o selo poderia ser refeito novamente.
Eu me recostei sobre a travesseira e olhei para o teto, enquanto Naruto continuava no chão.
- Você não gostou de saber que eu estou grávida? – perguntei sem olhá-lo.
Naruto mais do que prontamente se pôs de pé e sentou-se a meu lado, vi que ele tinha os olhos marejados; foram poucas as vezes que eu vi lágrimas em seus olhos. Ele pegou minha mão e me olhou sério.
- Obrigada, Sakura-chan.
Naruto me agradeceu por dar-lhe uma família.
- Naruto, agora não sou somente eu que preciso de você, nossos filhos também precisam de você; por isso Naruto seja forte, não pode deixar que nada o afaste de nós.
Naruto colocou a mão sobre minha bochecha direita e pouco a pouco nossos rostos foram se aproximando, nossos lábios se encostaram rapidamente, e ele voltou a deitar-se em meu regaço.
- Eu não estou mais sozinho – disse num sussurro.
- Não está...
Lágrimas escorreram pelas bochechas de Naruto e caíram no lençol branco. Ele aproximou o ouvido de meu ventre e ficou atento para escutar as quase inaudíveis batidas dos corações de nossos filhos.
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