20º Ano De Llane Wrynn – 63º Dia da Primavera

–Acorda! – Disse uma voz rouca e grave. – Levante, já está na hora.

O jovem abriu os olhos e se deparou com enorme ser à beira de sua cama, com uma cara nem um pouco amistosa. Era seu pai. Levantou cambaleando enquanto o outro se retirava e vestiu-se com seus trapos velhos que usara para trabalhar. Será um longo dia, pensou. E estava certo.

Saiu de casa após tomar seu café, o sol ainda estava por nascer, saia bem cedo para o trabalho junto ao seu pai, senhor Dwein Kundun, um homem de cinquenta e poucos anos com a aparência mais desgastada que o normal para essa idade, cabelos curtos negros com mechas grisalhas, mãos grossas, olhar carrancudo e andar de general, era dono de uma pequena ferraria em Vila d’Ouro, vila criada à beira da estrada por viajantes. Dwein tinha apenas seu filho como assistente, e exigira o máximo dele para que se torne um bom ferreiro e não ter dificuldades financeiras quando tiver sua família, pretensões honráveis essas.

Era de manhã e a ferraria já tinha atendido um punhado de clientes, e isso era raro de se acontecer.

–Os viajantes logo chegarão, nos preparemos antes para não ter que enfrentar malditas filas para comprar uma única faca – Disse um dos homens a beira do balcão, explicando o porque da procura do ferreiro logo cedo.

–Desculpe não partilhar de sua tristeza, os viajantes estão vindo, e estão trazendo com eles o movimento da vila. Serão ótimos dias para o comercio – Disse Dwein.

–A única coisa que eles trazem que são do meu interesse, são as putas de estradas – Respondeu o homem, e Dwein deu uma gargalhada.

–Creio que sua felicidade não ira durar muito Kundun, o batalhão de recrutamento do exército da Aliança está presente na comitiva dos viajantes, logo que eles partirem só ficara metade da vila atual presente, e talvez o senhor perca mais do que clientes – Disse outro homem, na extremidade esquerda do balcão.

Dwein sabia do que o homem estava se referindo. Olhou para seu filho, Dovahkiin Kundun, um garoto de dezesseis anos, com cabelos curtos e loiros com olhos azuis, aparência que herdou de sua mãe, forte e habilidoso em ferraria, porem não gostava de onde trabalhava e nem do que fazia. Dwein gostaria muito se seu filho junta-se ao exército da Aliança.

–Essa será a primeira grande escolha de meu filho, deixarei que decida sozinho.

–Já está decidido meu pai – Disse Dovahkiin, sem ao menos levantar a cabeça, estava concentrado em seu trabalho. Todos o olharam – O senhor ira precisar de um novo assistente após o banquete da Última Noite. - O pai se encheu de alegria ao ouvir aquilo.

–Aposto que será um grande guerreiro, mais do que isso, irá forjar a arma que nosso rei Llane ira derrotas todos nossos inimigos. – Disse Dwein esperançoso e orgulhoso do que acabara de ouvir.

–Não crie expectativas meu pai. Já digo de antemão que irei decepcioná-lo.

–Tudo bem se não forjar a espada de nosso rei, confesso que me em empolguei um pouco – O pai caiu em gargalhada assim como todos ao balcão.

–Não estava me referindo à espada de nosso rei, e sim sobre ser um guerreiro – Disse Dovahkiin.

Todos ficaram sérios imediatamente, inclusive seu pai. Dwein sabia do que seu filho estava falando, o sonho dele era ser um grande mago, e isso era inadmissível para o pai, achara inclusive que já tinha colocado um ponto final nesse assunto. Os dois já avisam discutido muito sobre isso, era um dos motivos de eles não conversarem muito. Dwein já tinha alertado ao filho que caso ele se tornasse um mago, iria retirar seu sobrenome do filho, isso é a pior desonra que um filho pode receber do pai. Sua mãe apoiava a decisão do pai, e Dovahkiin sabia que caso tomasse essa decisão iria ficar sozinho, desonrado, sem nome e sem família.

–Se está é sua decisão, pode partir agora, não faço questão de sua despedida, muito menos sua mãe, e também não quero sua ajuda – Disse Dwein de forma dura, esmagando o pano que estava em sua mão e deixando o clima tenso na pequena ferraria.

–Não estou fazendo para ajuda-lo, estou fazendo porque prometi aos clientes que suas peças estarão prontas ao entardecer e honro minha palavra, tenha paciência meu pai, os viajantes chegarão em cinco dias, logo estará livre de seu fardo – Disse Dovahkiin com tom de provocação e insolente.

–Sua palavra não vale nada – Disse-lhe o pai, áspero e irritado.

Tem de valer, é a única coisa que eu tenho, a única coisa que ira me sobrar – Disse Dovahkiin, tentando se conformar com sua desonra prometida. Isso foi à última coisa dita entres os dois naquele dia.

Era noite, Dovahkiin olhava pela janela de seu quarto quando sentiu batidas na porta. – Entre – ele respondeu. Uma mulher adentrou o quarto, magra, com uns quarenta anos, tinha o cabelo longo e loiro, vestia roupas esfarrapadas, e usava um lenço no cabelo, Ayte era seu nome, Ayte Kundun.

–Seu pai disse que faltou com respeito à frente dos clientes hoje. – Disse a mãe.

–Não lhe faltei com repeito, fui franco, pelo que sei são coisas diferentes. – Disse o filho.

–Zombou de sua palavra, e o desapontou antes mesmo de por sua decisão em prática. Você ainda é novo, não mede as consequências de seus atos, caso escolha ser um Não-Guerreiro seu pai será motivo de brincadeiras e piadas, olhe a sua volta, nós somos miseráveis, temos apenas dinheiro para poucas comidas, não temos condições nem de dar roupas decentes a você, nosso próprio filho, aguentar gozação e humilhação só iria piorar a situação do comercio de seu pai. Sabe que não gostamos de se intrometer nas suas escolhas, mas isso é inadmissível, criei você para ser um grande guerreiro e não uma criatura frágil, ser mago não é para homens, e sim para mulheres delicadas e ingênuas.

–Desculpe por tudo mãe, não queria ofender meu pai, mas minha escolha está feita – Disse o filho com tom arrependido.

–Não seja tolo – Ela respondeu.

–Magos são mais inteligentes que guerreiros, e a inteligência sempre vencerá a força, sempre. Irei se tornar um grande mago, você terá orgulho de mim.

Sua mãe abaixou a cabeça, se levantou, foi em direção à porta, e deu sua última resposta:

–Assim que sair para se tornar um mago, não quero receber nenhuma noticia sobre você, não vou querer vê-lo, você não significara nada pra mim, não terei mais um filho – Com essas palavras duras ela deixou o quarto.

Os cinco dias passou tão rápido quanto o sonho daquela noite.