Os dias estavam passando rápido de mais, não sei se poderia ficar feliz com isso. Alias, eu nunca gostei da escola, por que ficar triste em abandona-la? Mas era tudo diferente agora. Tanta responsabilidade em tão pouco tempo.

"Soube que vai se casar."

Olhei para o lado e Paul estava encostado no muro como da ultima vez que o vi.

"Quem lhe disse isso?"

"As noticias correm rápido por aqui."

Ele pegou um cigarro no bolso.

"Não anda mais com seu amiguinho?" -Ele disse acedendo.

"Como?"

Ele riu.

"Tudo bem, vamos fingir que ele não existe. Mas eu fico de olho na casa..."

"Esta perdendo seu tempo." -Comentei voltando a andar.

"Tenho um presentinho de casamento para você." -Ele disse.

"Não quero nada que venha do senhor."

"Você vai gostar desse. Digamos que vai ser inesquecível."

Ele me olhou malicioso.

"Eu não tenho medo de você."

"Deveria." -Ele sorriu.

Dei as costas e voltei a andar. Eu não devia ouvir esse louco, ele só me deixava preocupada com coisas tolas. Virei a esquina e estava na minha rua. A casa estava lá, intacta. Apenas destruída pelo fogo. Passei reto, eu sabia que se olhasse, só iria me deixar pior.

Abri a cerca e atravessei o pequeno jardim da vovó até a porta.

"Cheguei." -Disse abrindo.

"Estamos na sala querida." -Disse minha avó.

Coloquei meus livros na mesinha e fui até lá. Percebi a presença de uma quarta pessoa na casa. Quando entrei na sala, senti uma mistura de medo, emoção e solidão num só sentimento.

"Olá Helena." -Disse meu pai se levantando.

Havia anos que eu não via meu pai. Eu cresci com sua ausência e, por mais que ele fizesse parte de mim, eu o via como um estranho. Eu sabia o por que dele ter me abandonado, mas nunca entendi sua falta. Agora não eramos pai e filha e sim conhecidos.

"Olá pai. O senhor esta muito bem."

"Obrigado." -Ele se aproximou- "E você virou uma linda menina."

Sorri.

"O que o trás aqui?"

"Como assim? Vim para o seu casamento. Agora que fui liberado, achei uma grande oportunidade de fazer uma surpresa. Então... Surpresa."

"Obrigada."

"Vocês tem muito o que conversar, vamos deixa-los as sós." -Disse tia Sarah.

"Se não se importa Sarah, pretendo levar Helena para um passeio pelo parque." -Ele me olhou.

Olhei para minha avó que sorriu.

"Claro."

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"Aqui está." -Ele disse me dando o copo.

"Obrigada."

Sentamos no banco do parque, e por um longo momento, não dissemos nada.

"Como vai a escola?" -Ele perguntou.

"Bem." -Assenti.

"Que bom." -Ele disse bebendo.

Olhei para ele. Parecia que eu o conhecia a tanto tempo, mas mesmo assim era um estranho.

"Você chegou hoje?" -Perguntei.

"Semana passada, mas estava acertando uma contas."

"Vai ficar até quando?"

"Acho que... Para sempre." -Ele me olhou.

"Fico feliz que esteja bem."

"Eu me sinto bem."

Segurei meu copo para aquecer as mãos.

"Sabe... Helena..." -Ele perdeu o olhar no horizonte- "Eu sei que estive distante por um longo tempo. Mas eu quero me redimir com você."

"Pelo o que?"

"Por tudo que eu fiz ou deixei de fazer."

"Se serve como consolo, eu fiquei muito bem nesse tempo."

Ele assentiu.

"Mas... Fico muito feliz que esteja aqui." -Olhei para ele- "Por ter vindo e por ficar."

Ele sorriu.

"Posso não ser o melhor pai do mundo, mas você é minha garotinha, e apesar de não demostrar, eu amo você."

Meus olhos embaçaram.

"Quero que comecemos de novo. Como pai e filha."

Olhei para ele.

"Quero te levar pelo seu casamento e quero que você venha e visitar com seus filhos. Quero que sejamos uma família de novo."

"Sempre fomos."

Ele beijou minha testa.

"E sempre seremos."