Sam

Liliam estava com os lábios entreabertos, as mãos, agora fracas, deixaram a arma cair pesadamente no chão coberto pela neve, caindo ao lado de uma mancha vermelha do sangue da velha, a qual se espalhava ao lado de seu corpo. Lilian despencou sobre os próprios joelhos tentando tampar o ferimento da bala que atravessara seu peito e jorrava sangue, manchando todo seu casaco de uma cor clara.

Seus olhos estavam fixos em algum ponto no chão de tão surpresa que ela ficara com o ato. Ela os levantou lentamente na minha direção e agora o brilho que sempre me assustara havia desaparecido, apenas sobrara um brilho assustado e vulnerável. Ela tentou se apoiar na neve com uma das mãos, enquanto a outra estava colocada sobre o ferimento tentando parar o sangramento.

Era uma cena horrível de se ver, a pessoa morria bem a minha frente, deixando seu lugar na terra onde fizera mal para centenas de pessoas. Aquela mulher que morria bem a minha frente fizera da vida dos alunos um verdadeiro inferno por meses, ferira muitos de nós e ainda por cima, matara pessoas inocentes por causa de sua ganância e sede de vingança.

Abaixei-me ficando com um dos joelhos como apoio na neve, fui até seus ouvidos e sussurrei:

- Eu disse que pagaria um dia.

Seus braços não aguentaram mais e ela caiu pesadamente na neve de lado. Seu corpo retraiu espasmos e quando vi, o sangue ainda escorregava em suas roupas e escorria algumas gotas de seus lábios ligeiramente abertos. Eu sentia na pele o medo de morrer que muitos de nós sentiram por todos os meses e agora, sentia apenas o alívio de vê-la esvaindo do mundo lentamente.

Agora, eu via uma mulher sem vida a minha frente, os olhos perdidos no céu e as mãos esticadas na direção da arma que, por pouco, não usara para me matar.

Liliam Mean estava morta.

Melanie

Meus dedos soltaram a arma gelada que estava em minha mão, fazendo-a despencar na neve próxima a onde uma mancha grande de sangue se espalhava pelo cão. Eu não conseguia mais ter aquele objeto em minhas mãos por mais nem mesmo um segundo, era assustador e perturbador segurar uma arma.

O que eu sentia agora naquele momento?

Alívio, provavelmente. Era como se tivessem tirado o mais dos pesos de minhas costas, tanto que me sentia livre para pular, gritar e soltar todas as palavras que segurei por tanto tempo. Não havia mais nada preso em minha garganta e muito menos a dor no peito pelo ódio que eu sentira por todos aqueles dias infernais que passei no internato North England.

Sam se levantou do chão e nossos olhos se encontraram. Eu senti o mesmo que sentia nos olhos dele, estava praticamente estampado. Não aguentei, fui correndo até ele, precisava sentir o abraço de Sam novamente, sentir que finalmente poderíamos ficar juntos de uma vez.

Ele fez o mesmo e quando nossos corpos se encontraram, fez questão de passar os braços em torno de mim e me erguer no ar, de uma forma que rodou comigo abraçada a ele. Eu me sentia nas nuvens, um misto de risos abafados e cabelo voando. Ele me abaixou, assim ficamos frente a frente.

- Acabou, Sam. – murmurei com um grande estampado no rosto.

- Acabou. – ele sorriu de volta, os lábios se aproximando mais dos meus. – Finalmente.