O Futuro é o mais concorrido!

Capítulo 11 - A morte nos aguarda...


Ninguém da multidão tem coragem de aproximar-se, quando dou por mim já estou correndo em direção a ela e caindo de joelhos ao seu lado. O asfalto ainda está quente e o trânsito agora está bem parado. Olho seus olhos fechados e o grande cabelo emaranhado espalhado pelo chão. Seu corpo está coberto de sangue e ela parece ter fraturado algumas partes do corpo. Me sento no chão e a pego no colo, balançando-a gentilmente.

– Kyoko pode ouvir a minha voz? – Pergunto baixinho encarando-a.

– Eu posso ouvir você… – Ela diz em um tom ainda mais baixo piscando os olhos ainda com as lentes azuis. – Tsuruga-san…

– O que foi?

– Estou tão cansada…

– Por favor, não durma. Vai ficar tudo bem.

– Mais estou com muito sono…

– A ajuda já vai chegar, apenas… Aguente firme.

– Você vai ficar aqui?

– Sim… Não vou deixa-la. Então não me deixe.

A ambulância chega um tempo depois do acidente, infelizmente a caminho do hospital ela desmaia. Ela consegue recobrar a consciência hora sim e hora não e quando chegamos ao hospital ela é imediatamente levada para uma sala de cirurgia.

A luz acende indicando que a cirurgia já foi iniciada… Algumas pessoas do elenco aguardam enquanto a cirurgia é feita junto a mim na sala de espera. O diretor anda de um lado para o outro. Maria acabou de ser tratada e não consegue parar de chorar. Ela se senta no sofá, depois se levanta, depois se senta de novo.

– Ren-sama? – Me chama baixinho tirando-me de meus pensamentos.

– Sim, Maria?

– A onee-sama vai morrer como a mamãe?

– Claro que não Maria… A Kyoko vai ficar bem, ela é forte. Você sabe disso não sabe?

– A onee-sama nunca vai me perdoar… Por culpa minha ela pode morrer.

– Não diga isso Maria, você gosta muito da Kyoko não gosta?

– Sim…

– E o que ela diria se a visse dessa forma?

– Ela diria para que eu parasse de chorar como um bebê…

– É… Então não chore. Ela não iria querer ver isso.

– Mais foi por culpa minha…

– Claro que não. Foi um acidente e ela irá se recuperar logo, logo. Por que não vai até a lanchonete e compra algo para comer?

– Hai…

Ela sai andando ainda cabisbaixa para a lanchonete do hospital. Enquanto isso mantenho os olhos fixos na pequena plaqueta que diz “Sala de cirurgia”. O celular dela não conseguiu sobreviver ao acidente, ficou totalmente despedaçado penso que talvez tivesse que dizer a alguém sobre o acidente. Eu espero que saia tudo bem, nunca fui uma pessoa muito religiosa mais se existe alguém que possa me ouvir agora… Por favor, por favor… Salve-a…

– Tsuruga-Kun?

– Sim, diretor?

– Eu sinto muito pelo que aconteceu…

– Eu sinto muito também…

– Eu espero que ela possa se recuperar logo.

– Vamos esperar por isso.

Doze horas após a cirurgia ter começado finalmente a luz vermelha se apaga indicando que a cirurgia foi terminada. Algum tempo depois um medico aparece enquanto todos nós o mutilamos com olhares nervosos e amedrontados.

– Familiares de Mogami Kyoko?

– Aqui. – Digo levantando a mão.

– A cirurgia foi um sucesso. – Ele diz e eu dou um suspiro de alívio. – Embora o quadro dela ainda seja instável… Permaneceremos de olho nela, assim que ela acordar poderá ser transferida.

– Quanto tempo vai demorar?

– Não sei… Sinceramente, pode demorar horas ou até mesmo dias…

Depois de comunicar a todos da notícia da cirurgia as pessoas preocupadas que antes estavam aqui se encaminharam para o hotel, entro em seu quarto e ela parece tão pequena nessa cama desconfortável de hospital. Os olhos fechados e a respiração leve… Puxo uma cadeira e me sento ao seu lado.

Apesar do hospital ser bem perto de onde estávamos, a distância para leva-la daqui até lá era extremamente grande… Correr com ela em sua situação era demasiadamente arriscada. Ainda mais devido as fraturas e os cortes.

Sua testa está toda enfaixada, junto com seu braço. Ela parece estar relaxada mais ainda sim é desesperador vê-la em seu estado atual. Aproximo minha mão da sua e a seguro levemente sem apertar.

– Uma vez, me disseram que quando alguém importante está em uma situação assim o mais certo a fazer é conversar com essa pessoa… Eu realmente não sei o que poderia dizer a você agora. Eu não quero que nada de ruim lhe aconteça… O que me machuca é saber que antes disso acontecer estávamos afastados, talvez se fosse eu no seu lugar você não estivesse da maneira que está agora. Desculpe Kyoko, por não poder protege-la nem mesmo de algo tão comum…

No dia seguinte todos estão se preparando para voltar ao Japão. Apenas eu, Maria, o Presidente e Uzui, a Staff ficaremos por perto. Algumas horas do dia revezamos para ver quem ficará com ela.

Está um clima bem exaustivo, temos coisas para fazer e estamos ansiosos para voltar logo para a casa… Ficar em Londres deveria ser algo bom, mas ninguém esperaria que ficar nessa situação e nesse lugar devesse ser algo realmente bom.

~~’’~~

Parece um sonho comum, a claridade é alta e queima minha vista, quando enfim consigo adequar minha visão ao ambiente noto uma cachoeira, o rio fluindo livremente em seu caminho e as pedras ao lado. Ele está sentado ali, naquela mesma pedra que esteve enquanto eu lhe falava sobre minha refeição favorita… Os cabelos loiros voando enquanto o vento leve os sopra para uma direção. Ele mantém os olhos firmes na água e por alguns instantes imagino que talvez ele deva estar chorando.

– Corn…? – O chamo mais ele não se vira. – Corn, é você?

Ele se vira lentamente e olha como se eu fosse um objeto estranho, algo inesperado. Lentamente o sorriso aparece em seus lábios e ele abre os braços como se esperasse um abraço. Quando me aproximo ele procura no chão por alguma coisa e pega uma pedra.

– Veja… Parece um hambúrguer, não? – Diz, sorrindo como um adorável garotinho.

– Oh! Sim Corn! Parece um hambúrguer!!

– Há outras também.

– E a vossa Alteza, rei Hambúrguer?

– Oh, sinto muito milady, o rei Hambúrguer saiu em uma conferencia, mais seus súditos adorariam que você ficasse para o jantar.

– É mesmo?

– Sim, sim.

– E onde está o restante da família real?

– Eu sou o príncipe hambúrguer.

– Nossa! Como você é diferente! Tenho certeza que Corn não é um príncipe hambúrguer.

– E como tem certeza disso?

– Por que Corn é um príncipe fada!

– É mesmo?

– É sim.

– Então fadas e Hambúrgueres não podem ter familiaridade?

– Claro que podem!

– Então qual o problema de eu ser um Hambúrguer?

– Corn é uma Fada!

– Certo… Acho que você está certa.

Parece uma discussão que teríamos, agora me vejo conversando com ele como se fosse apenas uma telespectadora de minha própria vida… Talvez seja mesmo isso… Fadas e Hambúrgueres não combinam e ambos sabemos quem eu sou. Talvez seja apenas uma amizade entre as fadas e nós.

Não que eu seja exatamente um hambúrguer, mais em termos não deveríamos nos misturar… Fico pensando o que faço em um sonho como esse, como posso estar dormindo agora e me pergunto onde será que estou. Conversar com Corn é algo de fato muito interessante mais não sei por que estou sonhando com isso.

– Hei Corn?

– Sim?

– Será que um dia eu poderei me tornar uma princesa fada?

– Quem sabe não é?

– Corn… Você vai ser rei não vai?

– Não sei ainda…

– Eu tenho certeza que sim, sabe por quê?

– Por quê?

– Corn nasceu para ser rei. – A outra eu diz com os olhos brilhantes.

– Verdade?

– Sim. Corn é diferente dos outros garotos… Ele tem um coração bom embora passe e tenha passado por coisas difíceis Corn nasceu para ser líder de seu povo fada.

– E o que você acharia de ser a princesa então?

– Ah! Eu adoraria muito, muito!

– Então talvez um dia você vá ao mundo das fadas…

– Espero que nesse dia Corn já tenha conseguido sua liberdade e possa voar livremente sem precisar esconder-se de seu pai.

– Sim, quando você for lá, eu de fato já terei minha liberdade.

– Vou esperar ansiosamente por esse dia.

– Eu também… Ei, Kyoko-chan?

– Fale Corn. – Ela pede, sorrindo.

– O que você gostaria de ser quando crescer?

– Não sei bem… E você?

– Talvez eu queira crescer logo e seguir meu caminho.

– Sério?

– Sim, a liberdade como você disse.

– Ei! Olhe aquilo!

– O quê?

– Corn! É um peixinho!!

– Estou vendo.

– Olhe, o que há de errado? – Ela pergunta, já sabendo a resposta.

– Ele parece estar indo contra a correnteza.

– Sim… Pode parecer impossível, mais ele tenta mesmo que seja muito difícil.

– Estou vendo…

– Então por que você não faz como ele?

– Como assim?

– Pense que seu pai e seu destino é a sua correnteza.

– Eh?

– E vá contra ela… Você não precisa aceitar um destino do qual não gosta.

– O que quer dizer com isso?

– Quero dizer que você não precisa se manter preso em uma gaiola para sempre.

– Você acha?

– Sim. Mesmo que Corn não queira ser um Rei, não precisa. Corn deve fazer aquilo que o faz ser feliz.

– Você acha?

– Claro. Você não?

– É algo de fato, muito interessante.

– Então, o que vai fazer?

– Voltar…

– Voltar?

– Sim.

– Para onde?

– Para o meu reino.

– E o que vai fazer quando voltar?

– Vou enfrentar meu destino… Meu pai.

– Oh, Corn! Fico contente por você.

– Obrigada Kyoko-chan.

– Corn?

– Sim?

– Quando poderemos nos ver de novo?

– Eu realmente acho que não vamos nos ver de novo… Mais quem sabe não é?

– Espero que esteja errado.

– Eu também…

– Corn?

– Sim?

– Me promete uma coisa?

– O quê?

– Não desista ok?

– Hã?

– Não desista do que você quer.

– Mas…

– Prometa Corn!

– Ok. Eu prometo.

– Promete o quê?

– Eh? Huh… Prometo não desistir das coisas que eu quero e que me fazem feliz.

– Ok, Adeus Corn...

– Adeus, Kyoko-chan.

~~’’~~

A lua está brilhando acima de nós, consigo ver sua claridade pela janela do quarto. Ouço o som do bip ao lado da cama e o silencio profundo do quarto… Deito-me com a cabeça encostada na cama enquanto seguro firme porém com carinho a mão de Kyoko. Sua mão está gélida como se não estivesse sangue nenhum. Pergunto-me se ela está com frio agora… Então, pensando em como ela irá acordar depois caio em um sono amargo e profundo.

Ouço em meu sono o barulho ofuscante da maquina que representa seus batimentos cardíacos… Ela faz um som contínuo “piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii” como se estivesse com defeitos. Acordo com um susto e vejo médicos correndo de um lado para o outro.

– Poderia se afastar por favor?! – Diz uma enfermeira totalmente aflita.

– O que está acontecendo?!

– Senhor afasta-se!

– Kyoko!!! – Mas antes que possa alcança-la dois enfermeiros me tiram do quarto.

O que aconteceu? Não consigo entender! Em um momento ela estava ali, respirando calmamente apenas em um sono profundo… E agora está uma bagunça o quarto, os médicos se movem de um lado para o outro e eu não consigo entender exatamente o que aconteceu.

Agora parado em frente ao quarto me pergunto se ela está bem, espero que sim. Não consigo me acalmar, meu coração está como se estivesse saido de uma frigideira, está quente como o inferno e não consegue parar de bater a essa velocidade nem por um segundo. Começo a repetir uma frase que agora parece ser meu único mantra… “Por favor, esteja bem…”, “por favor, fique bem…”.

Então, de repente a porta faz um barulho, e alguém sai de lá, o homem tira a máscara e então olha para mim com um olhar triste e angustiante.

– Sinto muito, fizemos tudo que estava ao nosso alcance.

– O que isso quer dizer?

– Mogami Kyoko Faleceu às 3:43 da manhã de uma sexta-feira.

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Faleceu? Isso significa… As lágrimas começam a rolar pelo meu rosto e sinto o gosto amargo da tristeza descendo com força e queimando minha garganta. Vejo-me descontrolado tentando entender como algo desse ritmo pode acontecer.

– Impossível!!

– Lamento senhor…

– Como ela morreu?! Ela não pode morrer! Salve-a por favor!

– Compreenda senhor… É tarde de mais. Fizemos o que podíamos para salvar, mais o coração dela parou.

– Só isso? Simplesmente ele cansou de bater?

– Senhor o caso dela era grave… Sabíamos que havia um risco de 10% de chance dela não acordar.

Caio de joelhos no chão e não consigo conter as lágrimas que atravessam o meu rosto e não cessam. Ela se foi. A única que amei e agora ela se foi. Eu não consigo entender e não consigo mais preencher o vazio dentro de mim. Preferia que fosse eu ali agora, frio naquela cama do que ela… Ela era… Ela é, a pessoa mais importante da minha vida e agora ela se foi… Assim como o vento ela se foi e não retornará mais… Eu a perdi de vez.

As semanas seguintes se passaram como um filme, o mundo inteiro sabia que Mogami Kyoko e Kurosaki Naomi tinha morrido… Seus fãs pelo mundo inteiro ficaram chocados e totalmente abalados com a notícia… Maria ainda se sentia culpada pelo acidente e agora ficava ainda mais difícil encara-la e dizer que não era culpa dela apesar de não ser, mais Kyoko foi aquela que a ajudou a entender que alguém importante em seu coração também não a odiara. Kyoko, de sua maneira deixou seu lugar marcado no coração de milhões de pessoas no mundo inteiro… As semanas se passaram de forma triste e devagar. Em meu peito o buraco fundo da dor ainda estava instalado, quando me vejo pensando agora onde estou olho para baixo e vejo a altura deste prédio, o que seria sacrificar-se por amor? Será que se eu morresse agora, ambos iriamos para o mesmo lugar? Por que agora não aceito mais a responsabilidade de existir em um mundo onde ela não mais exista. Olho mais uma vez para baixo e vejo a imensa altura da qual estou disposto a pular… Mesmo que não nos encontremos agora, penso e dou um passo a frente para o vazio e começo a cair em direção ao chão na esperança de que após entrar em contato com o gélido chão eu possa vê-la do outro lado, saiba que para sempre meu corpo e minha alma serão seus. Eu amo você, Kyoko.

Acordo suado, as lágrimas continuam a escapar pelos meus olhos… Ela está aqui ainda… Respirando e dormindo na minha frente. O sol já está brilhando lá fora e as nuvens ainda estão escondidas… Dormi aqui… Segurando sua mão que agora já não está mais tão fria.

– Kyoko… Gostaria que pudess…

– Bom Dia, Tsuruga-san. – Ela sorri pra mim e me dou conta de que ela esteve me observando todo esse tempo. – Que bom que acordou… O que está fazendo?

– Você está se sentindo bem?!

– Sim… O que aconteceu, na verdade estou meio confusa. – Ela tem um olhar de quem não está entendendo nada.

– Você sofreu um acidente…

– Mesmo?

– Sim… Do que se lembra?

– Lembro que íamos fazer um filme…

– E o que mais?

– Só… As gravações já começaram?

– Mais… Elas…

– Ela não se lembra. – Diz o doutor entrando no quarto.

– Como assim?

– Vamos conversar lá fora… Meredite, por favor, cheque o pulso da senhorita Mogami. – Ele diz e nós dois saímos do quarto.

– O que houve? – Pergunto.

– Ela teve uma perca de memória.

– E quanto tempo ela vai demorar para recuperar?

– Não sei. Pode ser que nunca. Pode ser hoje, mais por agora ela só se lembra do que vem antes de começar isso.

– Mais é possível que ela se lembre?

– Sim… Ela teve muitas fraturas no corpo, vai demorar algum tempo para que possa se recuperar, mais logo logo ela irá melhor.

– Isso é certo?

– Sim, nossa maior preocupação é que ela não acordasse, mais hoje de manhã ela acordou.

– Como eu não…

– O senhor ainda estava dormindo. Ela pediu para que levássemos uma coberta para você. – Então eu me lembro que realmente estava coberto.

– Ah…

– Ela poderá ir embora hoje, mas quando chegar ao japão terá de ir de volta para o hospital e ficar mais alguns dias em observação até que possa sair.

– Entendo…

Entro no quarto e ela está sorrindo docemente para a enfermeira que troca seus curativos. A moça desenfaixa a testa de Kyoko e coloca um novo curativo menor para cobrir o machucado.

– Kyoko? – Chamo-a e ela olha pra mim.

– Sim?

– Vamos voltar hoje, tudo bem?

– Claro… Onde estamos?

– Londres.

– Jura?! Como chegamos aqui?

– É uma loooooonga história…

– Gostaria que pudesse me contar…

– Eu vou. Kyoko mais uma coisa… – Então antes de dizer que a amo… Lembro-me que ela não se recorda de nada do que aconteceu depois das gravações terem começado. – Fico feliz que esteja realmente bem.