O Fim de Marco – Estrada para o Valhalla

Vai doer.

E quando pensar que acabou,

Aí sim, vai doer um pouco mais.

....

Dentro da cela do castelo, o único prisioneiro estava muito à vontade, confortavelmente babando sangue no piso frio de mármore.

Quando o som tilintar da tranca percorreu o espaço até o ouvido de Marco, ele nada pôde fazer a não ser observar a criatura vil que se aproximara dele, com um sorriso no bico distorcido e um punhal grande e afiado.

— Eu esperei muito tempo por isso, Diaz – Disse Ludo.

....

— Quanto tempo até o Toffee notar que você o traiu?

— Não muito, temos que correr.

Completamente desamarrado, os dois se esgueiraram pelos corredores do castelo.

— O que ele pretendia comigo, aliás? – Perguntou Marco

— Te usar como exemplo, como fez com a Star.

Ele quer te comer, em praça pública.

— O plano do Toffee é me molestar?

— Ele quer te devorar! Arrancar seu coração do peito, na frente dos súditos!

O rapaz suspirou aliviado.

— Ah, menos mal. Cara, tem que escolher melhor o seu jogo de palavras....

....

Não demorou muito até que notassem a presença dos guardas ansiosos, correndo de um lado para outro em frenesi.

A essa altura, já tinham notado a fuga de Marco e, provavelmente, a traição de Ludo.

Eles deram uma boa olhada antes de cruzar o corredor. Haviam dezenas de soldados, todos com armaduras de combate.

— Por que o Toffee usa unicórnios como guardas?

— Você está brincando? Eles são os maiores sociopatas do universo! Se maquiam com pó de arroz e sangue humano! Bando de lunáticos!

— Achei que ele usasse fadas.

— Elas são caras demais. E têm um sindicato mais unido.

— É mesmo?

....

Sem qualquer arma, bom senso ou desculpas, eles cruzaram o corredor, na frente dos unicórnios.

— Senhores, sua atenção, por favor – Disse Marco.

— Peguem eles!!!!

Os soldados de quatro patas e chifres correram em disparada para cima de Marco, com Ludo se escondendo inutilmente atrás do rapaz, que não se moveu um milímetro do lugar.

— Um minuto! Apenas um minuto! Querem nos levar presos, nos torturar?

Legal, levem.

— O que você está fazendo?!

— Cala a boca, Ludo. Escutem, eu entendo. Estão só fazendo o seu trabalho, acertei?

Agora, de verdade, o que vocês ganham com isso?

Inesperadamente, os unicórnios recuaram, realmente refletindo sobre a pergunta.

— Salários. E planos de saúde – Disse um deles, mais à frente.

— Com direito a folgas, e hora – extra?

— Com certeza!

— E plano odontológico?

Sabendo exatamente o resultado de seu plano, Marco viu o olhar determinado da fúria do proletariado nos olhos dos soldados.

— Não temos, não!

— Só porque o nosso líder do nosso sindicato é um maldito pônei! – Disse um segundo unicórnio.

— É isso aí mesmo! – Bradou um terceiro – Quem ele acha que é? Os pôneis que se danem!

A gritaria e xingamentos aos pôneis tomou conta do corredor.

Incrível não ter chamado a atenção do resto de Mewni.

— E seu disser a vocês que a resistência oferece plano odontológico incluso?

Sem acréscimos no plano de saúde, é claro.

....

— Não acredito que isso funcionou – Disse Ludo.

— E como você acha que eu recrutei a maioria dos rebeldes?

Plano dentário é uma cosia que se vale a pena morrer.

Agora, já nas portas do castelo, Ludo, Marco e os mais novos rebeldes quadrúpedes se preparavam para partir.

Mas antes, um deles fora atrás de um item que Marco pedira.

Sem demoras, o unicórnio entregou o objeto ao rapaz.

— Obrigado. Agora sim, temos uma chance de vencer.

— Até parece. Sem varinha?

Marco apertou forte a tesoura dimensional em sua mão, quase a ponto de corta – la.

Já fazia um tempo que não pronunciava o nome dela.

— Star está morta. E a rainha Full Moon não está em condições de lutar. Roubar a varinha seria inútil. Só preciso disso aqui. Toffee recolheu todas do reino para impedir que as pessoas pudessem escapar.

— Então esse é o grande plano da resistência? Fugir?

Marco sorriu de orelha a orelha.

— Meu plano é vencer. Sem ter que guerrear.

Escutem todos.

E sem delongas, ele contou o plano.

....

Já era noite quando os fugitivos chegaram até o acampamento dos rebeldes.

E como sempre, havia muito o que ser feito por Marco antes que ele pudesse se retirar para dormir.

Tinha que garantir os direitos odontológicos dos novos recrutas.

Checar se Full Moon apresentava alguma melhora.

E pra variar, mais do mesmo.

Deitada em seu leito improvisado, ela esperava até Marco retornar, para só então perguntar onde Star se encontrava.

Não que os demais não soubessem responder. Mas não suportavam olhar nos olhos da rainha para faze – lo.

Apenas ele conseguia.

Então, como de costume, a reação devastadora da morte da filha a levava a um rompante de lágrimas, até que ela conseguisse cair no sono, de tanto chorar.

No dia seguinte, eles repetiam a mesma coisa.

....

Nem tudo tem graça.

....

O último compromisso da noite era visitar o túmulo.

Trocar as flores que Star tanto amava em vida.

Dessa vez, no entanto, fora seguido.

Ludo estava logo atrás, receoso ao falar.

— Sinto muito – Disse o pássaro.

Marco olhou para a inscrição da lápide mais uma vez.

Star Buterfly

Princesa. Heroína.

O símbolo da nossa esperança.

Uma sacana de marca maior.

Marco insistira solenemente na última linha.

Dizia que ela acharia hilário, de onde quer que estivesse vendo.

— Como ela morreu? – Perguntou Diaz.

— Você não sabe?

— Não. Eu só encontrei o corpo.

Ludo abaixou a cabeça, antes de responder.

— Ela aguentou forte a tortura. Como você. Aguentou até....

— Até o que?

— Até não poder mais. Ninguém poderia.

Marco olhou para o que um dia havia sido um genial vilão e, hoje, só mais um rebelde.

— Foi por isso que traiu o Toffee?

Ludo pensou um instante antes de responder.

— Se ele ganhar a guerra, não vai sobrar nada para governar. Que opção nós temos?

— Bem observado.

— E se o plano não funcionar?

Um sorriso singelo surgiu no rosto do rapaz.

— Vai por mim, não vai falhar.

Ele já estava prestes a sair do cemitério improvisado dos rebeldes quando ouviu um último pronunciamento de Ludo.

— Você é doido, Diaz.

Marco riu.

— Claro que sou – Respondeu – Se eu não fosse, não daria certo.