Já fazia uma semana que Lya estava conosco e ela se mostrou uma ótima conquistadora de amizades sem ter Peter para infernizar, é claro. Zack, Quíron, o pessoal do dormitório de Apolo, os de Afrodite, até Marcus começou a gostar dela.

Foi naquela semana que eu descobri que todo mês no colégio tinha uma tal de Caçada. Basicamente eram dois grupos: o branco e o preto. Os dois se espalhavam pela floresta e tentavam capturar o máximo de pessoas do outro time até o nascer do sol. Quem ganhasse não precisava mais limpar nada até a próxima competição.

Ah, como eu queria ganhar aquilo.

Bem, as pessoas podiam escolher os times, sem importar de que dormitório eram. Eu, Zack, Marcus, Lya, Jane, Iolanda, Carla, Márcia, Diogo, Aaron, Karl, César, Andrea, parte do dormitório de Atena, todo o dormitório de Apolo e alguns mais de Hermes estávamos no time negro. Resumindo estávamos bem.

Quíron nos reuniu para falar umas ultimas coisas na beira da mata, ao pôr-do-sol. Todos nós estávamos vestidos com armaduras completas (não faz idéia de quando aquilo é pesado). Sobre os elmos da minha equipe estavam plumas negras e nos da outra equipe plumas brancas.

– Lembrem-se que a ordem é capturar e não matar – disse Quíron com a voz solene. Como se alguém fosse tentar matar o oponente! – Lembrem-se que são seus irmão ou primos por baixo das armaduras e não inimigos. Não queremos nenhuma tragédia essa noite. É apenas treinamento. Em cada equipe tem antigos alunos, fiquem de olho e tirem da competição quem estiver trapaceando ou pior: machucando os oponentes. Boa-sorte e que os deuses estejam com vocês – Não, obrigado!

Todos começaram a se espalhar. Quem sabia manejar bem o arco subiria nas arvores e armaria armadilhas de captura com cordas e flechas, Lya foi nessa. Os espadachins e lanceiros se espalharam por ai tentando vencer.

Eu encontrei dois filhos de Ares e amarei os dois a uma árvore com uma corda mágica que só Quíron conseguiria soltar, marcando-a com uma bandeira a bandeira preta do meu time. Fiz o mesmo com vários filhos de Hermes e quase fui pego por filhos de Atena, mas consegui prendê-los, foi por muito pouco.

Logo um filho de Hefesto mais experiente que eu em esgrima apareceu e me deixou um pouco ocupado. Desviei vários golpes, tentei acertá-lo em vão, mas logo consegui tirar a espada se sua mão. O problema é que ele não parou depois de perder a espada. Ele puxou da cintura duas facas e conseguiu me repelir por um tempo até que se cansou e eu consegui a certá-lo com a lateral da espada na cabeça.

Depois de também o amarrar corri para uma nova batalha.

De vez em quando, ouvia barulhos de flecha por entre o barulho irritante dos choques de ferro contra ferro, e pensava em Lya lá em cima em algum lugar por entre as folhas surpreendendo os inimigos, e isso me deixava bem orgulhoso.

Ela me ajudou enquanto eu lutava contra um filho de Ares plantando uma flecha no chão aos seus pés e assustando-o me dando brecha para acertá-lo na cabeça com a lateral da espada. Amo a lateral da minha espada, não é letal, mas deve doer pra caramba!

Por duas vezes vi César derrubar inimigos e amarrá-los a árvores. Zack eu nem via direito ele era tão rápido que uma hora estava aqui na outra ali. O pessoal de Demeter prendia os inimigos ao chão com as raízes das arvores a nossa volta. Umas duas vezes, tive que cortar algumas delas para não ficar preso e até consegui prender um filho de Hermes ao chão com raízes de um carvalho, mas tenho a impressão que a ninfa dali teve pena de meus esforços e me deu uma ajudinha.

Vários gritos se espalhavam pela noite, mas logo paravam. Eram semi-deuses gritando ordens, ameaças ou comemorando, mas um foi diferente. Eu estava duelando comum filho de Atena e estava perdendo quando começou. Os gritos eram uma mistura de terror e dor. Pareceram silenciar todos os outros, parar o barulho de armas se chocando e ecoou em meus ouvidos por alguns segundos, segundos preciosos. O filho de Atena parou de atacar e me deixou correr pra os berros.

De algum modo, lá no fundo, eu soube que Marcus precisava de mim.

Ele estava ensangüentado, com uma lança fincada no ombro esquerdo, encostado em uma árvore. Meu irmãozinho parecia tão aterrorizado e tão pequeno.

– Jack...

– Eu tô aqui, irmãozinho – ajoelhei ao seu lado, coloquei o Anel em seu dedo e cortei a haste da lança deixando apenas a ponta para fora. Ele gemeu de dor quando coloquei seu braço por cima do meu ombro – Você vai ficar bom, Mac. Vai sim. Vem cá.

Tentei levantá-lo, mas eu podia machucá-lo mais ainda se fizesse algo errado. Logo um par de mãos apareceu e me ajudou.

– Valeu,Zack.

Antes de dar mais um passo vi, na haste caída do chão, as iniciais: j. m. e senti o ódio se espalhar por meu peito, mas isso teria que ficar para mais tarde, no momento certo.

Nós o levamos para o colégio onde os filhos de Apolo começaram a cuidar dele.

– Ele perdeu muito sangue – disse um deles e eu olhei para minhas mãos ensangüentadas, depois para minhas roupas, era sangue demais mesmo – Foi uma sorte você tê-lo encontrado tão rápido – foi mais do que sorte –, foi uma sorte esse anel estar por perto. Tudo o que temos que fazer é esperar, mas ele deve ficar bem, algumas seqüelas, a cicatriz, talvez não fique tão eficiente com a espada – Ainda bem que ele as mais o braço direito –, mas vai ficar bem.

Assenti vagamente sentindo o ódio por quem tinha feito aquilo com meu irmão aumentar em meu peito.

Quíron parou a caçada e mandou todo mundo para a cama, tive que acalmar Lya, que queria porque queria entrar para dar uma olhada nele. Eu dormi com Marcus, para o caso de algo acontecer com ele durante a noite, na verdade não preguei os olhos, sentei naquela cadeira desconfortável, peguei sua mão pequena e observei o rosto pálido do meu irmão imaginando um modo de fazer as pessoas que o machucaram sofrer.

No dia seguinte, quando estava obvio que Marcus ia ficar bem, eu resgatei a haste da lança, a ponta e fui para o dormitório de Ares. Pela primeira vez senti como se fosse realmente filho do deus da guerra. Senti vontade de fazer alguém sofrer e muito.

Parham, Macgold e o resto dos idiotas que implicavam com Marcus, estavam sentados jogando pôquer muito calmamente. Caminhei sem ser percebido até a mesa e joguei a lança em cima das cartas e peças. Eles saltaram das cadeiras e me encararam.

– Isso é de vocês?

Eles olharam divertidos para a lança e riram de mim.

– Porque eu vou com a raça de quem fez aquilo com meu irmão.

Macgold puxou a espada e tentou me atacar, mas eu apenas desviei o ataque e joguei-o no chão. Os outros não ousaram tentar o mesmo quando viram minha expressão de desprezo. Ajoelhei-me no peito dele e o ergui pela camiseta para que nossos rostos ficassem bem perto um do outro.

– Eu vou ensiná-lo a não se meter com meu irmão de novo de novo. Eu avisei antes e vou mostrar do que sou realmente capaz. Humilhação não é nada, você vai ver.

Transformei Kroboros em faca e comecei a cortar seu rosto. Primeiro um xis profundo em cada bochecha, depois um corte simples na testa, entorno dos olhos, e acompanhando a linha do queixo. Quando terminei, sai de cima e ele se arrastou para longe tocando no rosto ensangüentado. Olhei para Parham sem nenhuma expressão no rosto.

Ele puxou a espada e tentou se defender, sem muito sucesso. Nele comecei um único corte embaixo da boca e a contornei. Depois fiz o mesmo com os olhos, lhe fazendo quase que uma maquiagem de palhaço.

Com os outro, menos importantes apenas cortei sem fazer muito enfeite.

Quando os sete estavam chorando no chão e tentando reter o sangramento e os chamei e disse em uma voz baixa e furiosa:

– Nunca mais quero ver nenhum de vocês nesse colégio. Na minha frente. Se eu ver a cara de vocês de novo, e eu vou reconhecer vocês por causa dessas cicatrizes. Eu vou arrancar a língua de vocês, os olhos e a pele que eu acabei de cortar. Depois vou fazer vocês engolirem. Entenderam-me? – eles assentiram freneticamente – Ótimo. Agora vão pegar suas coisas e desapareçam!

Nunca mais eu os vi na vida e, se os visse, eu os reconheceria, e cumpriria com minha promessa sem a menor hesitação.

Marcus ficou bom com os passar das semanas, sua vida melhorou muito sem ninguém para lhe importunar. Ninguém sabia o que tinha acontecido naquele dia, mas todos sabiam que eu tinha feito com que ele fossem embora e que tinha feito tão bem feito que nunca mais eles apareceriam. Ninguém nunca mais iria fazer mal a Marcus.

Quíron não ficou zangado com aquilo, teria expulso eles de qualquer jeito. Não que ele soube de tudo que e tinha feito com aqueles infelizes.

Logo aquilo foi esquecido, graças aos deuses, e eu praticamente esqueci da existência daqueles idiotas. Lya e Marcus não saiam mais dos meus flancos, o Maquiavélico nunca mais deus as caras, meu treinamento estava ficando mais divertido, fiz novos amigos, meus pais voltaram de viagem... a vida estava muito boa...até uma noite.

Tentei ao máximo manter meus olhos abertos, mas eu era apenas um amador nesse esporte e dormi.

Novamente eu estava nu, naquele lugar escuro, frio e fedorento, mas dessa vez meu braços estavam acorrentados e bem abertos não permitindo muitos movimentos. Tentei puxar minhas mãos, talvez quebrá-las, mas eram realmente resistentes.

Se eu fosse você não faria isso, comentou a voz das noites anteriores com um jeito despreocupado, é perda de tempo e de energia.

– O que quer de mim?

Ora, já achei que tinha entendido na outra noite. Eu quero te fazer sofrer, mas também quero testá-lo. Saber o que Nix viu em você. Tem coragem, sim, é leal, tá, mas só isso? Quero saber como você reage a outros tipos de... estímulos.

– Quê? Olha, eu não sei do que você esta falando, nunca soube. Não tenho nenhuma arma poderosa o bastante para fazer você se interessar por mim. Eu nem sei quem você é. Se você vai me torturar me dê, pelo menos, um bom motivo.

Você nada sabe sobre tortura, criança. Estou a seis mil anos preso, longe de minha esposa, de tudo que mais amo, sem uma vida, sem o que é meu por direito, mas agora que eu estou acordado vou mostrar para eles e para você o que é tortura.

Uma força invisível me colocou de joelhos, as correntes se esticaram mais um pouco e fui obrigado a ficar com a coluna ereta e ergui a cabeça. Primeiro senti o cheiro de queimado, achei que ele fosse me incendiar, mas acho que isso seria simples demais para ele.

Algo bateu em minhas costas, por dois segundos só senti o impacto, mas logo a ardência, a dor e a queimação vieram. Olhei para trás e vi uma língua de fogo cruzar a escuridão e voltar a me açoitar. Os ferimentos não sangravam era cauterizados imediatamente, mas doíam muito era como se minha pele inteira reagisse e doesse.

Depois do que parecem horas acordei no chão do meu dormitório com meu lençol por cima de mim e o travesseiro sobre minha cabeça.

– Ai – gemi sem me mexer – Super ai. Esse cara esta começando a me dar nos nervos.

Você não faz idéia, retrucou Vox entre gemidos.

Cara, o que acontece contigo quando esse cara aparece?

Eu fico tentado fazer você acordar e protegendo sua mente, mas ele me prende. Parece estar sugando minha, nossa energia. É horrível.

– Eu acredito. O que fazemos agora? Eu não quero dormir.

Não sei você, mas vou dormir um pouco mais, estou quebrado.

– Vou escrever para o papai e para a mamãe, ajudou da ultima vez.

Vai fundo.

Sentei-me na mesa e peguei a caneta.

New York City, NY, EUA, Colégio Caminho ao Elísio, mais precisamente nono andar, dormitório de Ártemis, mesa, seis de Fevereiro de 1983.

Oi pessoal, de novo.

Sei que é estranho eu só escrever eu só escrever de madrugada, mas é quando eu mais me sinto só . Por que não tem vocês No cômodo ao lado, porque ninguém me dá um beijo de boa noite e por causa do Maquiavélico.

É ele voltou. Por um tempo eu achei que tinha me livrado dele para sempre, mas algo, no fundo da minha cabeça (não é Vox) diz que só esta começando. Esta ficando cada vez pior e me sinto cada vez mais mal em pensar em conversar com alguém sobre isso. Sei que Quíron entenderia, mas não consigo me ver chegando no centauro e dizendo: “Ontem a noite uma voz esquisita disse que eu sou inútil”. Bem, não, ele não disse isso, não com esses termos, mas vocês entenderam.

Seria definitivamente bizarro.

Acho que, mesmo tão longe vocês continuam sendo meus melhores confidentes. Estou com saudades. Não sei se vou agüentar até o Natal. Será que Zeus me transformaria em pedaços se eu montasse em Loki e fosse até ai? Provavelmente sim.

Vamos mudar de assunto ou logo começarei a chorar. Eu recebi o cartão, a maquina fotográfica e o álbum de fotos. Foi a melhor idéia que eu já vi. Adorei a foto de vocês e a de Amanda. Já coloquei a foto de Marcus, Lya, e o resto do pessoal. Quíron, relutou um pouco, mas acabei convencendo-o. É claro que pretendo tirar uma foto de cada deus (se conseguir) no final desses oito anos vou ter muita coisa para contar.

É impressionante. Escrever para vocês sempre faz com que eu me sinta bem.

Valeu, gente.

Com muito amor

Do eterno

Jack Tenório Leal

Quando terminei de escrever, li e reli, imaginando qual seria a resposta e formulando minha própria resposta. Era divertido.

Espreguicei-me, não podia voltar para a cama, então fui tomar um bom banho. Liguei logo a água fria para me acordar. Depois me arrumei e fui ver se mais alguém estava acordado. Ninguém. Então fui para a quadra treinar, fazer algo útil para variar.

Zack estava lá, treinando com a espada, lutando contra ninguém. Meu Deus, ele era bom. Habilidoso, rápido... Parei, embasbacado (amei essa palavra!), observando e pensando que nunca ia chegar à aquela perfeição, nem com todas as bênçãos do mundo, nem com todo o treinamento com Atena e Ares pudessem me dar.

Então ele parou, ofegante, abaixou a espada e me viu, dando um pulo para trás:

– Jack! Que faz aqui?

– Sem sono – menti – E você?

– Pesadelos.

– Serio? – perguntei mais curioso, eu não era o único! – Sobre o que?

Ele pensando sobre minha pergunta, se sentou na arquibancada, encostou a espada e me chamou para perto.

– Há alguns anos, houve uma missão com uma filha de Hermes e dois irmãos nossos. Eles eram muito apegados, como você, Marcus e Lya só que é como se você fosse apaixonado por Lya. A idéia deles era chegar ao Mundo Inferior e falar com a mãe dela. Mas só um voltou e só conseguiu por que foi covarde demais para morrer com seus companheiros.

– Não fala assim. Imagine o que ele passou assistindo os amigos morrer sem poder fazer nada, sem ter saída. Eu sei como é – Amanda me sorriu no fundo de minha mente e eu suprirei infeliz.

Ele me observou se perdendo em suas próprias lembranças desagradáveis. Logo os dois estavam limpando lágrimas fugitivas.

– O que aconteceu? – perguntei tentando disfarçar minha tristeza. Ele sorriu forçado.

– No meio do caminho eles encontraram mais semideuses. Existe, no meio do deserto do Texas, uma base de nós, semideuses, ao redor de um rural feito do mais resistente metal de Hefesto, nele está o Touro de Creta, o pai do Minotauro. Todos os que passam por lá tentam tirar um vidrinho preso aos chifres do touro. Não sabem o que é, o que torna tudo mais idiota. Na maioria são filhos de Ares, Hefesto, Apolo, os babacas em geral – um trovão soou acima de nós. Sorri, pensando em quem estava ouvindo nossa conversa.

“O outro filho de Ares tentou. Não ficou em cima do touro dois minutos... e não... ele não...”, Zackary apoiou os cotovelos nos joelhos e enterrou o rosto nas mãos como se já estivesse cansado demais “É com isso que eu sonho, toda a noite. Ele voou quinze metros do chão e caiu em um barulho terrível. Nós ficamos lá esperando que ele se levantasse, mas ele não levantou, ele nunca mais levantou. O meu irmãozinho!”

Ele soltou um gemido cheio de tanta dor que me fez sentir como se toda a angústia que eu sentia não chegasse nem aos pés de seu sofrimento. Coloquei minha mão em suas costas e o puxei para um abraço, tentando reconfortá-lo, mas e era péssimo nisso.

– Nós resolvemos voltar... – sua voz estava falha e sofrida – Não valia a pena continuar sem ele. No caminho encontramos aquele maldito dragão. Fugimos dele por dias, mas ele nos pegou de surpresa em Boston. Ela estava sangrando tanto e eu não consegui salvá-la, também não fiquei com ela, simplesmente fugi, eu estava apavorado. Eu devia ter ficado, morrido por ela, mas fui covarde depois para isso – ele saltou de pé – Proteja-os custe o que custar, não vale a pena viver sabendo que podia ter feito algo e não fez – e foi embora.

O meu cansaço tinha ido embora, e minha tristeza estava renovada. Era estranho falar com alguém que tinha perdido uma pessoa que amava. Ele perdera filha de Hermes (eu ainda ia descobrir seu nome) e eu perdi Amanda. Fiquei de pé e segui para o dormitório de Ares esperar por Marcos.

Quando as portas do elevador de abriram, dei em encontrão com Argos.

– Meus Deus, Argos! Por que você é tão silencioso?

Ele me encarou serio, senti um arrepio na espinha quando tentei firmar eu olhar em um par de olhos só, era simplesmente impossível, os outros olhos pareciam puxar minha atenção. Grunhiu, me pegou pela camisa, me puxando para ele.

– Ei, Argos, me larga, cara!

E ele me largou, mas foi no chão do elevador, e não foi exatamente largar foi mais rebolar lá. Bati com a cabeça na parede de metal.

Coisa dura...

– Qual é o seu problema?

Ele me ignorou completamente, apertou o botão do 10° andar, cruzou os braços e fico olhando para um ponto invisível bem na frente de seu rosto, era um militar muito bem treinado... Bem, ele foi criado por Hera, se não fosse eu ficaria com medo.

– O que vamos fazer nesse andar? – nem sequer piscou, nenhum dos cem olhos – Tem alguém lá que quer me ver? – fui vergonhosamente ignorado – Quer falar comigo? – então ele me olhou e sacudiu a cabeça. Não. Lê-se eu com cara de tacho – Ah, tá! E fiz algo de errado? – ele sorriu, cruel, como se dissesse: Você bem que queria. – Ai Meus Deuses Do Olimpo! – coloquei as mãos no rosto – O que é que está acontecendo?

As portas se abriram e eu fiquei mais do que decidido a não sair dali. Aquele era o corredor mais frio, sombrio, sinistro e assustador da Terra! Nem que a vaca tussa, pensei, E não é Hera! Mas isso não estava nos planos de Argos. Ele volto a me pegar pelas vestes e me rebolou para fora do elevador. Eu devo ter voado uns três metros e avançado pelo menos mais um com a cara do chão.

– Ai, por que eu? – me levantei e olhei em volta, sem Argos, sem elevador e em um lugar muito sinistro e preocupante – Olá, tem alguém aqui querendo me matar por eu ter feito sei-lá-o-que?

No final do corredor tinha uma escada que ia para o teto, como se fosse o sótão ou coisa parecida, mas eu não sabia nada sobre sótão, ninguém me falara disso. Comecei a caminhar para lá, curioso, mas, quando passei pelas portas dos dormitórios desocupados:

– Jack, aqui garoto!