Julep e Kumis tinham-lhe dito, mas ele rira-se. Como resposta, os dois riram-se mais. Irritado com a insolência dos demónios, calara as suas gargalhadas e fora certificar-se se o que ouvira era verdade ou apenas um boato maldoso para que ficasse descaradamente perturbado.

Ubo dormitava em pé, encostado a um monte de escombros no pátio principal. Keilo aproximou-se mas não anunciou a sua presença. Esperou que o outro a sentisse.

Não tardou, porém. Ubo fechou a boca de onde pingava um fio de baba, limpou os queixos. O rosto descontraído pelo sono tornou-se duro. Entreabriu uma das pálpebras, viu Keilo. Mas fechou-a a seguir, fingindo que dormia.

- Quero falar contigo, baixote – começou o saiya-jin áspero e desdenhoso.

Ubo fitou-o com intensidade.

- Zephir está prestes a conquistar o Universo – prosseguiu. – Tem a rapariga e tem aquele medalhão especial que o vai transformar num deus. O que quer dizer que os guerreiros da Terra estarão aqui no templo daqui a nada, para impedi-lo de se tornar ainda mais poderoso. Vão acontecer combates, nós contra eles. E tenho um aviso a fazer-te, baixote: tu não tocas nos saiya-jin. Vegeta e Kakaroto são meus.

- Son Goku é meu.

Keilo elevou o tom de voz.

- Ouviste-me, estúpido? Os saiya-jin são meus. Vegeta e Kakaroto!

- Podes ficar com Vegeta, mas Son Goku é meu.

- Quero lá saber!

- Tenho contas pendentes com Son Goku. Foi ele que me eliminou. Quero vingança!

- Não me interessa.

Ubo sorriu, a troçar dele. Keilo irritou-se, agarrou-o pela camisa aos quadrados, sacudiu-o e berrou-lhe:

- Estás a rir de quê, baixote? Pensas que me podes desafiar?

Sem perder o sorriso, Ubo deu-lhe uma palmada no braço e a pancada fê-lo largar a camisa. Aturdido com a dor cortante que sentiu no braço, Keilo ficou a olhar para a mão dormente. Ubo apanhou-lhe a mão no ar, esmagou-lhe os dedos.

Os dois começaram a medir forças. Braço com braço, os músculos acentuaram-se e cresceram, saltaram faíscas. Ubo estava calmo. Keilo, pelo contrário, tremia, a cara crispada, tenso com o esforço que fazia. Por muita força e energia que imprimisse, o braço de Ubo nem sequer se mexia. Mantinha-se no mesmo sítio como se estivesse fixo no ar. Cerrou os dentes, suando. Rosnou quando Ubo começou a obrigar o braço a dobrar-se, a obrigá-lo todo ele a subjugar-se àquela força descomunal de uma criatura invencível, que ousava suplantá-lo e derrotá-lo.

Que poder impressionante!

Com um grito de raiva Keilo soltou a mão dos dedos poderosos de Ubo. Se não o tivesse feito naquele momento, corria o risco de partir os ossos. Com relutância conseguiu forçar-se a falar:

- Tu ficas com Kakaroto.

Afastou-se, odiando-se por ter cedido tão miseravelmente. O seu orgulho de saiya-jin fora espezinhado e ele exigia uma desforra. Haveria de ocorrer mais tarde, pensou, quando se libertasse do jugo de Zephir e pudesse finalmente resolver as suas questões pessoais.

Ubo era agora uma questão pessoal de Keilo.

Julep e Kumis tinham-lhe dito que o novo guerreiro de Zephir era mais forte do que ele, que se intitulava o saiya-jin mais poderoso do Universo. Tinham-lhe dito que o miúdo era invencível. Keilo rira-se. Não acreditara. Comprovava agora o seu poder. E já não lhe apetecia rir.

Kakaroto era de Ubo. Ele ficava com Vegeta.

E a última palavra fora dita. Por Ubo.

Keilo lançou um pontapé que vibrou no ar. Por enquanto, a última palavra era de Ubo.