Zephir admirou sem reservas o seu mais recente tesouro na intimidade do santuário. Estava dentro de um cofre e no interior aveludado da caixa prateada, o brilho daquela preciosidade resplandecia com um fulgor sem igual. Acariciou-a lentamente, sabendo que esta dar-lhe-ia a glória.

Uma bola de dragão.

Ao lado do cofre de prata existia outro, dourado, fechado e bem trancado, onde guardava o primeiro tesouro. Se a bola de dragão lhe daria a glória, aquilo dar-lhe-ia o Universo!

O Templo da Lua fora generoso, dera-lhe dois tesouros inigualáveis. A chama do par de velas que ardia no altar e que ladeavam o magnífico livro de magia, agora acompanhado pelos dois cofres, tremeu com uma gargalhada sinistra do feiticeiro.

Lembrou-se. Fora Kumis que lhe entregara a bola de dragão, uma esfera cor-de-laranja com uma pequena estrela vermelha no seu interior. O demónio encontrara-a junto ao lago do templo, quando se treinava. Enterrava-se no lodo das margens e um disparo de energia fizera-a aparecer. No início, Zephir não sabia o que aquilo era, mas guardara-a ciosamente e fora, um dia, até à Sala Sagrada para descobrir.

Tratava-se de uma lenda. Espalhadas pelos quatro cantos do mundo existiam sete bolas de dragão. Eram mágicas, feitas do cristal mais puro, concebidas pelo Todo-Poderoso. Quando juntas, era possível invocar Shenron, o Dragão Sagrado, que concedia qualquer desejo à pessoa que tinha conseguido a proeza de as juntar.

Quando estava prestes a abandonar a Sala Sagrada, encontrara uma pequena caixa, dissimulada na prateleira de uma estante afastada. Curioso abrira a caixa e deixara-a cair. O conteúdo resvalara para o chão. A emoção tolhera-lhe os movimentos e não se conseguira mexer durante largos minutos. Aos pés tinha a primeira metade do Medalhão de Mu.

Não fazia a mínima ideia de como fora parar ali, mas o certo é que estava guardado na Sala Sagrada, junto a um manuscrito lacrado num rolo que nunca tinha sido aberto e que explicava que aquele era um objeto maldito e perigoso, que não podia cair nas mãos erradas. Para salvaguardar tal eventualidade, escondia-se o objeto dos olhos do mundo num lugar inacessível, aquela sala acedida apenas pelos eleitos do templo.

Rira-se, agarrara na primeira metade do Medalhão de Mu e resgatara-a do seu esquecimento. Queimara o manuscrito e fizera, por meio de um passe de mágica, um cofre do ouro mais puro que fosse digno de algo tão maravilhoso.

Olhou novamente para a bola de dragão. Contava encontrar as outras seis bolas e pedir a Shenron a segunda metade do Medalhão de Mu.

No entanto, nada de precipitações. Só o faria depois dos doze dias que concedera a Son Goku ou depois de ter alguém da Dimensão Real para usar o medalhão inteiro no altar mágico.

Nisto, as sombras tremeram. Sentiu-se tonto com uma sensação visceral, apoiou a mão esquelética na parede rochosa do santuário. Algo entrava pelo mundo adentro, um remoinho que invadia furiosamente um espaço que lhe estava vedado. Os espíritos agitavam-se inquietos.

Depois da náusea, sorriu. O nome do inimigo cruzou-lhe a mente.

Eles regressavam. Vinham da Dimensão Real e com aquilo que ele mais desejava naquele momento. Olhou para a ampulheta que marcava o tempo, ao lado do pote azul de onde nasciam os kucris.

- Nove dias? Muito bem, Son Goku! Tu e os teus amigos conseguiram resistir nove meses na Dimensão Real, sem se portarem mal. Mas a tentação foi demasiado forte, aposto… Então, parece-me que perdeste o jogo, porque um de vocês interagiu com um deles e agora acontece o vosso regresso. E a minha vitória!

Zephir crispou o rosto.

E o que significava interagir?