Me aproximei da TARDIS e ajeitei o cabelo, dando uma espiadinha em volta. Quando vi que não tinha ninguém olhando, bati nas portas azuis, que logo foram abertas pelo Doutor.

—Bom dia! Eu trouxe uma oferenda. -Mostrei o copo de café.

—Oferenda aceita. -Ri, entregando o copo à ele, que me deixou entrar e fechou as portas em seguida. -Então, Naomi, como foi seu dia?

—Tranquilo. Eu postei umas fotos no Instagram, me meti em umas discussões no Facebook e participei de uns cancelamentos no Twitter. -Ele riu. -Que foi?

—Você é mesmo uma garota conectada. -Dei de ombros.

—É, acho que sim.

—É engraçado como vocês humanos conseguem fazer suas vidas em algo invisível e onipresente. Trocam mensagens com pessoas do outro lado do mundo, curtem fotos de celebridades que não vão conhecer e confiam num sistema que não podem ver.

—Falando assim parece uma religião.

—Parece mesmo.

—Então me considere... Hã... Discípula dessa religião aí. Já me disseram que eu faço perguntas demais para ser cristã.

—Mesmo?

—É. Eu não consigo viver sem respostas, preciso questionar as coisas e entender tudo. Não acredito nessa de “Você confia no que não sabe”. É como... Se cegar e sair andando. Sou curiosa.

—Eu sei. Gosto disso em você. -Ajeitei a postura, pega de surpresa.

—Gosta?

—Sim. Quanto mais perguntas tiver, há mais chance de ter respostas e saber cada vez mais coisas novas. Curiosidade é um dom. -Sorri. -E é interessante termos essa conversa agora. Um amigo me mandou uma mensagem me convidando para uma aventura. O que acha de ir comigo?

—Vou aonde você for.

—Ótimo... Por que eu acho que você vai gostar...

***

Eu não sabia o que esperar. Viajar com o Doutor era como... Não sei, esperar que a nova aleatoriedade fosse incrível. Nunca havia como adivinhar onde íamos parar e eu gostava disso.

Quando saímos da TARDIS, pouco depois, estávamos num lugar completamente novo. Havia muitas árvores e um castelo dourado lá longe. No céu, um grupo de mulheres montando cavalos alados passaram bem pertinho da gente, portando lanças e espadas longas.

—Onde é que nós estamos?-Perguntei, me virando para o Doutor.

—Estamos em Asgard.

—O que? Tipo... Mitologia Nórdica?

—Exatamente.

—Não.

—Sim.

—Não.

—Sim.

—Mas não pode... Isso... Espera, então... De todas as crenças e religiões do mundo todo... No fim das contas era os vikings que estavam certos?

—Certos?

—É. Tipo... Os deuses deles são reais. -O Doutor sorriu.

—Vou te contar uma coisa que poucos humanos sabem. Há muitos anos seres de outros planetas vêm visitando a Terra. Antigamente, a humanidade acreditava que eram deuses e os cultuavam como tais. Porém, no fim das contas... Eram apenas alienígenas que gostaram da ideia de serem adorados.

—Eu achei que era só uma história.

—Muitas coisas são histórias... Não significa que não sejam reais.

—Aprendo mais com você do que aprendia na escola... Você devia ser um professor. -Ele riu.

—Eu não sei se...

—Doutor!-Uma voz masculina exclamou. Pareceu um trovão e me deu um susto. O dono da voz era um grande homem ruivo, que instantaneamente me fez lembrar de um viking. -Eu sabia que viria!-Puxou o Doutor para um abraço. Fiquei preocupada com quebra de ossos e esmagamento, mas não aconteceu.

—Eu não podia recusar. Essa é minha amiga, Naomi, natural da Terra. Ou Midgard, como preferir.

—Midgard. -Olhou pra mim. -Eles ainda tem as melhores mulheres. Seja bem vinda à Asgard. Eu sou Thor.

—Thor?-Repeti, chocada. -Tipo... Aquele Thor? O deus do trovão?

—E tem outro?-Riu.

—Você não é bem como eu achava que era. -Eu esperava meio que... Uma coisa mais Chris Hemsworth, sabe.

—Mesmo? O que estão ensinando em Midgard?-Franziu a testa. -Eles ainda nos cultuam lá em baixo, não cultuam?-O que eu devia responder? Que os deuses nórdicos eram mais conhecidos por filmes de heróis e jogos?

—Olha...

—Então, por que me chamou exatamente?-O Doutor perguntou, me salvando de uma possível conversa constrangedora.

—Bom... É... -Coçou a cabeça, parecendo um pouco envergonhado. -Aconteceu uma coisa... Como eu posso dizer? Hã... Eu perdi meu martelo.

—Ah, Thor... De novo?

—A culpa não é minha. Eu me distraí com... Coisas importantes. -Algo me disse que essa parte era mentira, mas eu é que não ia dizer isso. Se vocês vissem o tamanho desse cara, iam entender. -E aí ele sumiu.

—Mas você não é o único que pode erguer o martelo?-Perguntei.

—Não. Por que acha isso?-Por que eu tinha visto num filme da Marvel.

—Sei lá.

—Eu preciso do Mjolnir o mais rápido possível e pensei que meu velho amigo podia ajudar. Isso tem cara de aventura. E... É basicamente isso. A moça pode vir também, é claro. Se é amiga do Doutor, sabe como as coisas são. -Malucas e às vezes perigosas?

—Acredite, vamos recuperar seu martelo de depressa. -O Doutor garantiu. -Tem algum suspeito dessa vez? Alguma pista?

—Bom, não. Achei melhor deixar a parte de pensar com você e ficar com a parte dos músculos. Sabe, para quando pegarmos o ladrão.

—Com isso está supondo que vai encontrar o martelo. -Todos viramos procurando o dono da voz, que estava logo ali.
Havia um homem encostado numa árvore e brincava com uma adaga. Fez a arma desaparecer enquanto ajeitava a postura e se aproximava. Também era ruivo, porém uma cor mais clara, e não era tão grande quanto Thor. Além disso, tinha uma áurea levemente assustadora. Sério. Era como se ele fosse matar todo mundo e sair tranquilamente para ir beber chá.
Quem era esse agora?

—Por que não ia encontrar?-Thor perguntou, irritado. -Sabe alguma coisa sobre o desaparecimento do Mjolnir?

—Eu?-Deu um sorriso que eu particularmente achei muito suspeito. -Por que eu saberia?

—Por que você sempre sabe de tudo, Loki. -Epa, espera aí, então esse é o Loki? Eu não sabia muito sobre o original, mas o da Marvel não inspirava confiança.

—Eu garanto que não sei de nada dessa vez. E como prova de boa vontade, vou me juntar à essa jornada em busca do seu martelo, se me permitir. -Ergui uma sobrancelha.

—Toda ajuda é muito bem vinda. -O Doutor afirmou. Olhei pra ele, sem entender. A gente ia mesmo levar o deus da trapaça? Aquele cara era doido, interpretado pelo Tom Hiddleston ou não. -Thor, eu gostaria de ir até onde viu Mjolnir pela última vez. Começaremos por aí.

—Tudo bem. -O grandalhão disse. -Vamos, isso foi lá no castelo. -Começarmos a andar. -Então... Lady Naomi, -Olhei pra ele. -você já... Saiu com um deus?

—Você não é casado?-Perguntei. Ele sorriu, com cara de quem tinha sido pego no flagra.

—É... -Tossiu. -Alguém tá com fome?

***

Eu não era a pessoa mais organizada do mundo, mas... O quarto do Thor era um horror. Havia tantas roupas e armas espalhadas que parecia restos de uma batalha. Garrafas coloridas estavam pelo chão, algumas quebradas. E o cheiro... Deus, vocês tem sorte de não sentir nada aí do outro lado. Achei que meu nariz ia cair do rosto.

—As criadas estão em greve?-Perguntei.

—Thor não gosta que mexam nas coisas dele. -Loki respondeu. -Não é?

—Eu acho que está muito bom assim. -O ruivo disse. -É aconchegante. -Para ratos e larvas, com certeza.

—Sif não acha isso. Ela dorme em outro quarto. -Eu a entendia, também dormiria em outro quarto.

—Onde minha mulher dorme é problema nosso. -Olhou feio para Loki, que sorriu.

—É claro.

—Tem certeza de que o martelo não está em algum lugar no meio dessa bagunça?-Perguntei. -Talvez em baixo das roupas...

—Não, com certeza não. -Thor interrompeu. -Mjolnir fica bem aqui. -Apontou para uma mesinha, que não tinha nada além de umas manchas. -E como podem ver, ele não está aqui. Alguém roubou... De novo.

—Isso acontece com frequência?-Tive a impressão de ouvir Loki rir, bem atrás de mim.

—Bom... -Acho que a resposta era clara.

—Achei o que precisava. -O Doutor disse. -Resíduos de energia do Mjolnir. Podemos segui-los, vão nos levar até ele.

—Como migalhas de João e Maria. -Brinquei.

—Tipo isso. -Sorriu. -Devemos seguir para a direção norte.

—Alguma ideia de quanto tempo até achar o martelo?

—Não, mas vamos descobrir.

Saímos do castelo com algumas provisões e Thor deu uma exagerada na quantidade de armas. O Doutor estava confiante, mas eu lembrava de resquícios de uma história em que gigantes tinham roubado o martelo de Thor uma vez. Eu esperava que não fosse essa.

Asgard era uma surpresa agradável, tão mágica e medieval quanto se podia imaginar. A cidade fora dos portões do castelo era mista, em alguns lugares muito limpa, agradável de ver. Mas, quanto mais nos afastávamos, mais pobre, suja e estranha se tornava. Por fim, deixamos as casas para trás e seguimos por uma estradinha de chão cercada de longas árvores grossas e imponentes.

—Então, -Comecei. -há quanto tempo não vão à Terra?

—Hum... -Thor coçou a barba ruiva, pensativo. -Eu realmente não sei dizer. Mas imagino que seja há muito tempo. Talvez eu passe lá em breve para ver como andam as coisas. -Ah, isso seria interessante...

—Acho que quando fui à Midgard pela última vez tenha sido... Bom, não lembro. -Loki disse. -Mas havia belas embarcações, muitos guerreiros e fazia frio. Me lembrava Asgard antigamente. -Será que ele falava do tempo dos vikings?-Uma coisa me intriga, porém.

—O que?-Perguntei.

—Eu me lembrava das mulheres da Terra serem mais altas. -Olhou pra mim. -As humanas encolheram ou você é um elfo?

—O que você disse?

—Parece ter a altura do anão ferreiro do castelo.

—Como é que é?-Se afastou, indo andar na frente. -O que... Eu tenho 1,57 e isso não é tão baixo assim, só pra você saber!

—Não ligue para o Loki. -Thor disse, se aproximando. -Ele é assim mesmo. Não são todos que nascem com charme e jeito com as mulheres. Eu, por outro lado...

—Como é o nome da sua esposa mesmo?-Deu um sorriso amarelo e se afastou também. -Ele faz isso sempre?

—Ah, faz. -O Doutor respondeu, achando graça. Olhei pra ele.

—Qual a altura das mulheres vikings?

—Tinham entre 1,60 a 1,70. -Ergui uma sobrancelha. -O que foi?

—Eu não esperava uma resposta. Como sabe disso?

—Os vikings na verdade eram bons anfitriões. Essa coisa de selvageria e sede de sangue é um exagero. -Me lembrei da série Vikings que meu pai assistia e não tive muita certeza.

—Qual sua altura?

—Acho que esse corpo tem entre 1,70 e 1,75. Ainda não medi.

—“Esse corpo”?

—Ah, olha, pássaros gigantes. -Apressou o passo, se afastando.

—Ei. Ignorada e chamada de elfo... -Suspirei. -Homens...

A caminhada se estendeu até eu cansar e minhas pernas reclamarem. Comecei a pensar em como convencer os homens a darem uma pausa, mas eles logo pararam, saindo da estrada.

—Acho que podemos acampar logo ali. -Thor disse, apontando para um lugar entre as árvores.

—Acampar?-Repeti. -Ninguém falou em acampar.

—Está anoitecendo, logo não teremos luz e não é seguro sair por aí durante à noite. Há coisas grandes e com dentes o suficiente para te devorar.

—Você trouxe armas!

—Para serem usadas numa batalha quando acharmos o ladrão do Mjolnir.

—Não importa, são armas. -Virei para o Doutor, esperando apoio.

—Thor está certo. -Disse. -Não é seguro e podemos partir pela manhã.

—Sequer temos uma barraca...

—Dormiremos sob as estrelas. -Thor interrompeu. -Como viajantes desbravadores e corajosos. -Sorriu, tirando um facão do cinto. -Vou matar nosso jantar. Não comecem a beber sem mim!-E sumiu pela floresta.

—Ele não falou sério, falou?

—Melhor fazermos uma fogueira. -O Doutor disse.

—Mas... -Tocou meu ombro.

—É só por uma noite. Pode ser divertido. Me ajuda a pegar alguns gravetos?

Eu era uma garota da cidade. Você acha que eu sabia fazer uma fogueira? A resposta é não. Nunca nem acampei na vida. Se não fosse Loki, o também deus do fogo, ter feito sua “mágica secreta”, acho que teríamos levado um bom tempo tentando acender a fogueira. Assisti Largados e Pelados algumas vezes. Acredite em mim, no meio do mato, você precisa de uma boa fogueira.

—O céu é bonito aqui. -Comentei, enquanto o Doutor sentava ao meu lado num tronco. -Nunca vi esse tom de laranja. Queria bater uma foto para imortalizar.

—Pode imortalizar bem aqui. -Apontou pra minha testa.

—Não é a mesma coisa. Outras pessoas não poderão ver.

—Mas você está vendo, é isso o que importa. O que são fotos? Você prefere ficar aqui tentando bater a imagem perfeita ou apreciando a vista, guardando-a em sua memória?-Sorri.

—Você vê as coisas de um jeito diferente.

—Talvez por que tenho uns oitocentos anos de idade. -Rimos.

—Talvez.

—Voltei!-Thor declarou, surgindo com algum bicho morto em mãos. -Olha só se não é um belo castor gigante?-Estendeu o animal na minha direção. -Você pode preparar o jantar agora, mulher.

—O que foi que você disse?-Perguntei, ficando de pé. O Doutor fez o mesmo. -Está me mandando preparar essa coisa por que sou mulher?

—Eu cacei e matei. Você mata e prepara. Um bom equilíbrio entre força e...

—Não ouse continuar.

—Não estou entendendo... Você não é uma guerreira, como Sif ou as valquírias. Então o que você faz?

—Eu não sei, mas não sou empregada de deus nenhum.

—Acho que devíamos acalmar os ânimos. -O Doutor sugeriu. -Eu posso cuidar do jantar...

—E o que ela faz?-Thor perguntou.

—Se quer tanto comer esse castor, -Comecei. -eu posso enfiá-lo na sua goela!

—Agora isso é uma atitude de guerreira... -Apontou pra mim, usando a mão que segurava o animal morto.

—Sai com esse bicho pra longe de mim!

Você deve estar se perguntando “O que Loki estava fazendo enquanto isso?”. Bem, ele estava rindo, muito bem acomodado contra uma árvore. Se eu não estivesse ocupada gritando com Thor, teria deixado uns gritos pra ele também.

No fim das contas, o Doutor acalmou a situação, tirou o castor de Thor e o fez pedir desculpas, explicando que as mulheres humanas não gostavam de receber tarefas apenas por serem mulheres. Isso confundiu o ruivo, mas ele exagerou nas desculpas, o suficiente para me fazer desculpá-lo rápido o suficiente para calá-lo depressa.

Acordamos no dia seguinte com uma fogueira fraca, ossos de castor e cascas de frutas no chão do acampamento.
Thor foi o último a despertar, roncando alto demais, caído numa posição estranha. Fiquei tentada em chutá-lo para ele acordar, mas o Doutor certamente me repreenderia. Loki foi quem acordou o dorminhoco, jogando o que sobrou de hidromel na cara dele. O susto que ele levou me fez simpatizar um pouco com o deus da trapaça. Mas só um pouquinho.

Depois disso, retomamos a caminhada. Thor e Loki foram na frente, discutindo um com o outro. Eles faziam isso de vez em quando. Pelo que eu me lembrava, nenhum dos deuses gostavam de Loki. Eu entendia, sério.

Segui ao lado do Doutor, lutando para tirar galhos e folhas que tinham se esgueirado para o meu cabelo de alguma forma durante a noite.

—Sinto muito se isso não está saindo como você esperava. -O Doutor disse, puxando uma folha seca do meu cabelo.

—O que? Não, olha, não... Eu certamente não esperava dormir ao relento, com frio e um deus roncando mais alto que uma motosserra, mas eu gosto de estar com você. São surpresas imprevisíveis, as nossas aventuras. E mesmo com os perrengues, eu me divirto. -Sorriu, me fazendo sorrir também. -Minha vida continuaria um tédio se não tivesse esbarrado em você no Halloween.

—Mesmo? Seu Instagram mostra uma vida bem agitada.

—Aí é que está, Doutor. Na internet, podemos ser qualquer um, ter qualquer vida. -Franzi a testa. -Espera. Como você sabe o que tem no meu Instagram?

—Hã... O que você achou do castor gigante? Saboroso, não?

—Você é terrível em mudar de assunto.

—Eu sou. Ainda estou me acostumando. Algum tempo antes de conhecer você, eu tinha outro rosto.

—Não consigo te imaginar fazendo cirurgia plástica. -Riu.

—Não, não é isso. De um jeito resumido: minha espécie regenera quando está morrendo ou perto da morte. Outra aparência, outra personalidade, mas a mesma pessoa.

—Isso é sério?

—Sim. Então no começo, às vezes é difícil saber quem é o novo eu. Me acostumar com esse novo homem, com esses novos gostos... Novas características...

—É por isso que você disse que não tinha se medido.

—Exato. Já me olhei no espelho, mas ainda não sei tudo sobre esse novo eu. -Parei um momento, me perguntando como devia ser isso. Então outra pergunta surgiu na minha mente.

—Como você era, antes?-Riu de novo.

—Ah, você ia achar... Diferente. -Franzi testa.

—Diferente como?

E num segundo, as coisas ficaram feias.

Só ouvi passos rápidos e de repente quatro homens saíram da floresta, atacando com espadas e machados.

Thor e Loki começaram a lutar imediatamente, como se tudo fosse combinado. Eu não curtia filmes de ação, mas já tinha visto alguns e me perguntava se na vida real as pessoas lutavam mesmo daquele jeito. Não sei sobre os humanos, mas asgardianos lutavam como se fosse fácil, assim como respirar.
Me mantive longe da luta, sabendo que não podia fazer nada, ainda mais sem meu spray de pimenta.

O Doutor parecia tentar apaziguar a situação, mas não era ouvido. Ser um amante da paz não era muito útil em alguns momentos.

Mesmo com a desvantagem, Thor e Loki conseguiram vencer e matar todos os seus oponentes... Menos o que me fez de refém.

Foi tão rápido que eu me perguntei se estava mesmo acontecendo.

—Para trás!-O homem atrás de mim gritou, mantendo uma adaga no meu pescoço. Fiquei com medo de respirar e me cortar sem querer. O Doutor começou a falar, mas Loki o interrompeu.

—O que acha que está fazendo?

—Vou levá-la comigo. Quando ter certeza de que não estou sendo seguido, vou deixá-la na floresta.

—Não!-Gritei. -Eu não quero ir com ele...

—Pare de se mexer!-Olhei para o Doutor, desesperada.

—Ou você vai matá-la?-Loki perguntou. Ele não parecia muito interessado.

—Sim. Isso.

—Então vá em frente.

—O que?-O Doutor, o ladrão e eu gritamos ao mesmo tempo.

—Vamos, pode matar. Ninguém liga.

—Eu ligo!-Avisei. O Doutor disse o mesmo.

—Você pegou uma criada, seu imbecil. -Loki disse, apontando. -De onde ela saiu, há várias outras. Não é ninguém importante. Então mate-a se quiser, vamos matá-lo de qualquer jeito. -Comecei a xingá-lo de todas as formas que conhecia, deixando o Doutor chocado. -Não serve para nada e pragueja como um aesir bêbado. Não fará falta.

—Loki!

—Anda. Um corte bem feito e ela sangrará até a morte antes que possamos pensar em ajudar.

—Você é um monstro. -Ele não olhou pra mim.

De repente, o aperto em volta de mim sumiu e ouvi o som de algo caindo. Me virei, apenas para encontrar o último ladrão caído no chão, com sangue se espalhando ao redor dele e Loki bem ali, uma adaga suja de vermelho vivo em mãos.

—Como...?-Comecei, completamente confusa.

—Foi um excelente truque, Loki!-Thor disse.

—Você...

—Estava distraindo o malfeitor. -Loki interrompeu. -Para atacá-lo pelas costas.

—Então... Não era verdade...

—Não. Você não é exatamente útil, mas não precisa morrer por isso. -Passou por mim, se afastando.

—Educação não é a vibe desse cara. -Murmurei.

—Você está bem?-O Doutor perguntou.

—Sim. Me assustei um pouco... Mas estou bem.

—Sinto muito por ter passado por isso...

—Estou bem. Foi só um susto.

—Devíamos continuar. -Thor disse, depois de arrastar os corpos para fora da estrada. -Podem haver mais malfeitores no bando e se notarem que os colegas ainda não voltaram...

—Certo. Vamos continuar.

A caminhada foi retomada de forma silenciosa e mais atenta do que antes. Qualquer conversa era feita em voz baixa.
Caminhamos um pouco e paramos perto de um rio para encher os odres e nos refrescarmos. Tinha ficado muito quente.

Me abaixei perto da água, molhando o rosto e a nuca. Atrás de mim, o Doutor estava falando para Thor sobre as coordenadas que estávamos seguindo.

—Eu não estava esperando um agradecimento. -Loki disse, de pé ao meu lado. -Mas vocês midgardianos costumavam ser mais educados.

—Você está me cobrando um agradecimento?-Olhei pra ele.

—Não.

—Parece que está. Pra sua informação, eu ia agradecer.

—Ia?

—Acabei de ser feita refém, com uma adaga no meu pescoço. -Levantei. -Será que pode me dar um tempo?

—As midgardianas não eram tão dramáticas quando as vi pela última vez...

—É? Boas novas: os humanos mudaram, alguns evoluíram e vocês não são tão queridos lá quanto pensam.

—Eu nunca me importei com isso.

—Não é a impressão que você passa.

—E que impressão eu passo?-Me segurei para não soltar uma torrente de palavrões.

—Quer mesmo saber?

E, naquele instante, algo surgiu da água.

Meu cérebro demorou um pouco para assimilar o que meus olhos estavam vendo. Devia ter uns cinco, seis metros...

E nem era o corpo todo. Verde, com grandes olhos claros que pareciam perfurar a minha alma. Aquilo era uma cobra aquática gigante assustadora ou alguém tinha batizado a minha água?

—O que é isso?-Perguntei, sentindo minhas pernas virarem gelatina.

—Parece ser um dos filhotes de Jormungand. -Thor disse, o ouvi mexer em um dos machados.

—De que?

—A Serpente.

—Eu devia saber o que é?-Ela continuava nos encarando, silenciosamente. Talvez estivesse decidindo quem comeria primeiro. Torci pra ela notar quão magra eu era, seria uma péssima refeição.

—É uma serpente gigante, filha do Loki. Longa história.

—Espera, o que?-Olhei para o deus ao meu lado, confusa com a informação. A Marvel nunca tinha contado essa parte.
Loki virou pra me olhar tipo “O que foi? Quem nunca teve um filho serpente?”, mas pareceu ter ficado alerta.

—Cuidado!-O Doutor gritou.

Uma sombra, a sombra da cobra gigante, veio pra cima de mim. Loki gritou alguma coisa e se jogou contra mim, nos lançando no chão, fora do alcance da grande boca que queria nos engolir.

O resto é história. Sério. Eu apaguei no meio da confusão.

***

Sabe aquele momento que você acorda e acha que morreu por que acordou num lugar todo dourado e usava uma roupa branca? Não? Sério? Então é só comigo?

Me sentei na cama redonda (e dourada), encarando o quarto em volta. Eu tinha morrido?

—Olá?

Fiquei de pé com cuidado, preocupada com o pensamento das minhas pernas não estarem funcionando (nem me pergunte, acho que era pura paranoia) e andei um pouco.

Então, a porta abriu, revelando uma garota alta e de cabelos curtos. Ela assentiu quando me viu e fez um gesto para segui-la. Como essa parecia ser a única opção no momento, eu a segui.

Caminhamos em silêncio por corredores tão dourados quando o quarto em que acordei, até chegarmos no que parecia uma sala do trono (também assustadoramente dourada). Lá, havia uma mulher sentada no trono. Tinha os cabelos loiros avermelhados e era linda. Aquele tipo de linda que chega a causar incômodo, por que você não para de se perguntar se aquilo é real ou natural.

Degraus abaixo estavam o Doutor e a dupla dinâmica – Thor e Loki.

—Não, eu não quero saber sobre seu martelo. -A mulher disse, mostrando a palma da mão como se falasse “Pode parar por aí”.

—Freya...

—Da última vez eu quase me casei com um gigante asqueroso.

—Muito bem dito, -Loki começou. –“quase”.

—E você acha que isso muda alguma coisa?-O deus sorriu com deboche.

—Acho que faz, você não estaria aqui agora se tivesse casado com o gigante. -A mulher o encarou com severidade.

—Você não é minimamente tão engraçado como acha. -Olhou para Thor. -Lamento, não vou me envolver. Oh, a midgardiana acordou. -Me encarou. -Estava perto de sugerir os rituais pós-morte.

—Bem vinda de volta. -O Doutor disse. Me aproximei dele.

—O que aconteceu?-Perguntei.

—Quando a serpente atacou, você acabou caindo quando Loki tentou salvá-la e bateu a cabeça. Além de que veneno das presas dela caiu em você.

—Eu vou morrer?

—As curandeiras de Freya já cuidaram de você, não há nem marcas. -Olhei para a mulher no trono.

—Obrigada. -Ela sorriu pela primeira vez, e foi tipo muito mais perturbador. Ela era tão linda.

—Freya... -Thor tentou, fazendo-a revirar os olhos.

—Eu já disse que não. -Interrompeu. -O que posso fazer para ajudar é doar alguns suprimentos e desejar os mais sinceros votos de sucesso em sua missão.

—Votos de sucesso nunca venceram uma batalha. -Loki murmurou.

—O que disse?

—Agradecemos pelos votos e pelos suprimentos, além da hospitalidade. A midgardiana não teria sobrevivido sem suas curandeiras. Acho que já...

—Minhas roupas. -Pedi, apontando para o vestido branco. -Eu não posso sair assim.

—É verdade. -Freya assentiu. -É um tecido maravilhoso, mas não é uma roupa decente para uma batalha.

—Eu não vou...

—Vamos vesti-la adequadamente... Mas agora é hora do jantar. -Ficou de pé. -Espero que estejam com fome, por que mandei prepararem três javalis selvagens.

***

Basicamente todo o castelo de Freya era dourado. Isso estava começando a ficar cansativo para os olhos. Era como se tivessem derretido barras de ouro e jogado por todo canto... Espera, será que era isso mesmo?

Freya não estava brincando sobre os três javalis. O que foi bom, por que Thor comeu dois sozinho e teria devorado o terceiro se tivéssemos deixado.

Depois disso, eu estava tão cheia e exausta como uma cobra depois de devorar um boi e me deixei ser levada para o quarto de hóspedes gigantesco onde acordei horas antes.

Mil vezes melhor que acampar na beira da estrada.

Na manhã seguinte, depois de um café tão bom quanto o jantar, Freya disse que era hora de eu ganhar roupas apropriadas (e se negou a devolver as minhas).

—Quando Freya decide vestir alguém, -Loki dizia enquanto eu entrava na sala do trono. -sempre demora eras.

—Ela já está pronta, deus da trapaça.

—Finalmente. -Começou a se virar. -Não é um c-casamento. -Ficou em silêncio. Freya riu.

—É a primeira vez em que te ouço gaguejar. Significa que fiz um bom trabalho. -E foi sentar em seu trono, deixando dois deuses e um Senhor do Tempo olhando pra mim.

—Eu também achei meio exagerado. -Murmurei.

Freya era tão querida, afinal, era a deusa do amor, mas tinha praticamente me obrigado a vestir aquelas roupas.

Sabe a armadura dourada que a Gal Gadot usou em Mulher Maravilha 1984? Eu acho que foram os estilistas de Freya que a criaram, por que ela tinha me vestido com algo muito parecido. Quando me mostrou, eu temia que fosse muito pesada e limitaria meus movimentos. Mas, no corpo, ela era leve como uma roupa de tecido. A única coisa que me preocupava agora era que se eu saísse no sol daquele jeito, ia brilhar mais do que os vampiros de Crepúsculo.

—Parece até uma valquíria!-Thor disse. -Você quer uma espada?

—É melhor não. -Eu provavelmente ia me cortar com ela. Joguei a trança por cima do ombro.

—Bom, Freya, -O Doutor começou, se virando para a deusa. -agradecemos por tamanha hospitalidade, e pelas provisões...

—Pela minha roupa. -Apontei.

—Muito obrigado. -Ela assentiu.

—Era o mínimo que eu podia fazer. -Disse. -Desejo que concluam sua missão. Boa sorte heróis... E Loki. -O deus da trapaça deu um sorriso debochado.

***

Os suprimentos de Freya incluíam três cavalos. Thor tinha me convidado para ir com ele, mas o Doutor notou meu desconforto e me chamou e disse que me levaria.

—Ele é insistente. -Sussurrei.

—Eu sei.

Queria ter falado com Loki antes de partirmos. Ele tinha me salvado da cobra feia gigante, não tinha? Infelizmente não houve brechas e eu não queria falar na frente de Thor e do Doutor.

Cavalgamos trocando poucas palavras. Um tempo depois, chegamos até um campo onde havia música, mesas cheias de comida e muitas pessoas.

—Uma festa?-Perguntei.

—Parece que sim. -O Doutor respondeu, descendo do cavalo e me ajudando a fazer o mesmo. -As leituras param aqui. Seu martelo, Thor, está nessa festa.

—Ótimo. -O deus murmurou, se preparando para pegar o machado.

—Não, não. Vamos nos misturar e procurar pelo martelo, depois pensamos no que fazer. Nos separaremos em dupla para não chamar muita atenção.

—Eu...

—Eu vou com o Doutor. -Interrompi. Thor suspirou e bateu nas costas de Loki.

—Parece que somos eu e você. -Começaram a se afastar.

—Você disse pra não chamarmos a atenção... Mas eu pareço uma barra de ouro. -Apontei pra mim mesma.

—É uma armadura muito bonita. -Ele afirmou. -Confie em mim, armaduras e guerreiros são normais por aqui. Talvez achem que você é uma valquíria... Uma valquíria meio baixa, mas ainda uma guerreira valente. -Sorri.

—Então nada a ver comigo. Bem, pelo menos eu posso usar essa roupa no próximo dia das bruxas.

Começamos a caminhar entre as pessoas. A festa parecia muito animada.

—Eu devia ter imaginado. -O Doutor murmurou.

—O que foi?

—São gigantes. A maioria, pelo menos. -Franzi a testa.

—Não... A maioria sequer é muito mais alta do que você.

—Eu sei. Mas gigantes podem alterar seu tamanho quando querem. O que é muito ruim numa briga. Uma hora você se encrenca com alguém e ele fica do tamanho do Empire State.

—Péssimo... Ei. -Parei de andar. -Olha.

O martelo de Thor estava logo ali, bem no centro da festa. Um cara alto e com o cabelo preto ao lado da arma parecia muito feliz com seu copo de bebida.

—Precisamos de um plano para chegar até lá. -O Doutor sussurrou.

—Espera aí. -Sussurrei, dando alguns passos para frente, até o homem perto do martelo me notar.

—Mas o que temos aqui?-Perguntou. -Você parece uma maçã de Iduna. -Eu parecia o que?

—Obrigada. É a sua festa?-Abriu os braços.

—É a minha festa!-Algumas pessoas gritaram em comemoração. Me aproximei um pouco mais.

—E o que é isso? É seu?

—Eu ganhei de aniversário. Quando meus irmão perguntaram o que eu queria, pedi o Mjolnir. Nunca imaginei que eles realmente me dariam. E aqui está!

—Mjolnir...

—O martelo de Thor. Foi fácil roubar, o imbecil o largou do lado de fora quando foi num bar de anões. Estúpido.

—Ah, entendi. -Mais alguns passos. -É meio... Pequeno.

—Eu sei, é patético. Nas histórias eles sempre são a entender que é um martelo e tanto... É meio decepcionante. Eu nem chorei ao segurar.

—Você conseguiu segurar?

—É claro. É levinho. -Assenti, algumas ideias inundando minha mente.

—E ele pelo menos solta raios? Ou é o Thor que faz isso?

—O martelo invoca os raios para que Thor os lance. Qualquer idiota que o segurar pode fazer o mesmo.

—Entendi. Bom... -Agarrei o cabo do martelo, erguendo-o. -Você tem razão, nem é tão pesado!

—Acho melhor você abaixar isso...

—E entregar pra mim!-Thor gritou, a multidão se assustou, parecendo notar o deus pela primeira vez.

—Thor!

—Você achou que eu não ia descobrir, seu gigante idiota? Eu vim pegar o que é meu!

—Veremos. Peguem ele!-Apontou.

A confusão começou. Thor sacou o machado e vários gigantes pegaram suas armas. O caos estava instaurado.

—Me entrega o martelo, querida. -O gigante pediu.

—Nem ferrando. E se você chegar perto, eu... Eu invoco os raios. -Ele riu.

—É claro que invoca. Eu estava exagerando, nem todo mundo...

—Erga o martelo!-Loki gritou. Eu só consegui vê-lo através da multidão por alguns segundos antes dele sumir no caos. Ergui Mjolnir o mais alto que consegui.

—Ah, para... Você acha mesmo que...

Raios brilharam assustadoramente no céu e vieram na minha direção. No pânico, eu não consegui me mexer e fiquei lá com o braço estendido como um para-raios dourado.
Uma vibração passou do martelo para o meu braço e então para o meu corpo. Eu me sentia incrivelmente poderosa.

—Acho, -Comecei. -que essa é a hora onde eu falo algo legal... -Suspirei. -Sei lá... Toma essa!

Apontei Mjolnir na direção dos gigantes que estavam próximos e os raios os atingiram.

O aniversariante me encarou, assustado.

—Uma armadura de valquíria... -Murmurou. -Consegue invocar raios com o martelo do deus do trovão... O que é você?-Sorri.

—Eu sou... -Pausa dramática que na verdade foi feita por que não sabia o que responder. -Eu sou a deusa do Instagram. É bom correr antes que eu... Descurta todos as suas fotos.

—Não! Bater em retirada! Bater em retirada!

E assim, todos os gigantes saíram correndo, alguns levando pratos de comida e outros barris de bebida.

—Legal. -Murmurei. De repente parecia que eu estava segurando um carro. -Opa, ficou pesado, ficou pesado. -Larguei o martelo no chão.

—É assim mesmo. -Thor disse, se aproximando. -Ser poderoso é cansativo. Você conseguiu... Recuperou meu bebê!

—Que? Não!-O deus me tirou do chão num abraço esmagador que provavelmente teria quebrado meus ossos se eu não estivesse com a armadura.

—Bom trabalho, midgardiana!-Me colocou no chão e pegou seu martelo. -E você voltou pro papai, não é? Quem é o martelinho do papai?-Ergui uma sobrancelha. O Doutor limpou a garganta, o que trouxe Thor de volta para a realidade. -Bom... Quem aceita um jantar de comemoração no palácio?

***

Ninguém fora o Doutor, Loki, Thor e eu sabia o motivo da comemoração, mas parece que asgardianos gostavam de comemorar, com motivo ou sem. No salão do palácio de Odin, um banquete foi preparado e músicos tocavam animadamente. Thor estava contando nossa aventura para quem quisesse ouvir, escondendo o fato de ter perdido seu martelo – eu desconfiava que as pessoas sabiam, mas ninguém queria contrariar o bambambã do rolê.

O Doutor estava conversando com um velho de tapa olho que só podia der Odin, então eu acabei ficando sozinha em uma das mesas, até enjoar da festa, dos pratos sendo quebrados de propósito, da música alta e de Thor exagerando muito nos detalhes da história.

Deixei minha taça na mesa e procurei pela porta mais próxima, que me levou até um jardim que se estendia além do que eu podia ver.

Se soubesse onde a TARDIS estava, podia ir pegar meu celular e...

—A vitória comemorada hoje também é sua. -Me virei. Loki estava logo ali. Ele tinha dado uma sumida quando chegamos e eu não tinha o visto mais. Ao que parecia, ele tinha tomado um banho e se limpado (a escolha de não ser higiênico devia ser pessoal de Thor).

—Eu não fiz nada demais.

—Você fez.

—Verdade, fiz mesmo. -Rimos. -Eu fui incrível e coloquei os gigantes pra correr.

—Exato. Thor está levando todos os créditos... Geralmente é assim.

—Bom, todos nós merecemos créditos. O Doutor rastreou Mjolnir, eu aterrorizei os gigantes, você me disse o que fazer e Thor... Ah... Ele... Enfim, todos nós merecemos os créditos dessa vitória de hoje.

—Eu não...

—Se não tivesse me dito pra erguer o martelo nada daquilo teria acontecido e provavelmente teriam tirado ele de mim. Você foi muito útil. Além de... Ter me salvo do bandido e... Da cobra horrorosa gigante.

—Está me agradecendo?-Franziu a testa. Dei de ombros.

—Estou. Eu pareço ser tão mal educada? Você salvou a minha vida. O mínimo que eu... -Parei. -Ah. Você não está acostumado com as pessoas te agradecendo... Está?

—É claro que eu... -Cruzei os braços. -Não. Não estou.

—Não dá exatamente pra culpar as pessoas, sua fama o precede. Mas... Talvez, só talvez... Às vezes você...

—Eu...?

—Não sei. Talvez às vezes você seja algo além de... Trapaceiro, mentiroso, debochado e...

—E...?

—Mal?-Sorriu.

—É o que te contaram?-Mexi no cabelo.

—Talvez. É mentira?

—Talvez. -Sorri. De repente ele não era tão irritante. Parou na minha frente. -Uma pergunta.

—Sim?

—Que infernos é Instagram?-Comecei a rir.

—É o que você quer saber?

—Também. As midgardianas ainda batem em quem tenta beijá-las?

—Algumas.

—Incluindo você?-Dei de ombros.

—Quer tentar descobrir?

E no segundo seguinte ele estava me beijando.

Não me perguntem por que diabos eu deixei Loki me beijar. Sério. Essa pergunta está banida. Só aconteceu. E foi estranho por que... Eu meio que estava afim de outro cara e... Enfim... Hashtag: Quem Nunca?

—Desculpem. -Me afastei de Loki. O Doutor parecia culpado. Meu rosto ficou vermelho e as palavras sumiram. -Eu não te vi no salão e achei que podia ter se perdido.
—Parece que você achou. -Loki disse. -Que tal perder de novo?-O Doutor não entendeu a indireta.

—A festa acabou. -Apontou para trás com o polegar. -Thor quebrou um dos vasos de Frigga e ela está uma fera.

—Nenhuma novidade.

—Estamos indo... -Olhou de mim para Loki e pra mim de novo. -Precisa de um tempinho pra...?

—N-não. -Limpei a garganta. -Não, eu... É... Tchau, Loki. E obrigada, de novo, por... Você sabe, salvar a minha vida. Enfim... É... Tchau.

—Adeus. -Disse, se afastando. -Tenha um bom regresso à Midgard.

—Obrigada. -Passei pelo Doutor.

—É pelo outro lado. -Ele avisou.

—Ah, é claro.

***

—Então... Você e o Loki... -O Doutor começou, mexendo em alguns botões no console da TARDIS.

—Ah. Aquilo? Eu... Eu não faço isso sempre, juro...

—Naomi, você não precisa se explicar. É uma humana jovem, gentil e... Muito bonita pra sua espécie. É claro que vai acabar encontrando... Pretendentes. -Fiz uma careta.

—Pretendentes?

—Vocês não usam mais essa palavra?-Balancei a cabeça negativamente. -Bom... Não tem nada de errado em gostar de outras pessoas...

—Eu não...

—Tudo bem, é natural. -Me apoiei no console.

—E você? Você... Tem pretendentes?-Deu uma risada curta.

—Naomi... Acho que estou velho demais pra isso.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.