O Diário das Irmãs Martins

Podemos começar de novo? Por favor...


"Eles dizem que a vida não te da segundas chances. Mas dá sim. Cirurgiões dão. Você quebra um osso, eles colocam no lugar. Você sangra, eles fazem parar. Seu coração para de bater, e eles te ressuscitam. Mas, tanto quando damos segundas chances as pessoas, eles geralmente não as tem. Porque o tipo de erro que cometem, são as vezes impossíveis de se recuperar.

1 mês depois no hospital Mount Sinai...

Caso Jilian...

Todo fim de alguma estação como o Outono eu adorava sentir o cheiro das Violetas, quando era pequena corria pelo jardim e me sentia liberta de meu próprio corpo. Na adolescência eu caminhava pensativa por elas com meu iPad em mãos ouvindo sempre alguma música que certamente ninguém conhecia - como o William Fitzsimmons - hoje em dia eu só sinto o prazer de poder cheira-las e andar pela cidade pensativa.

Na última terça feira logo após amamentar minha filha, Mark foi para casa tomar um banho e disse que a noite ficaria comigo no hospital, e Paulina ficava comigo a maior parte do tempo quando Carlos Daniel conversou com o mentor dela do curso o famoso Saul Juanes o que estava acontecendo ela foi liberada.

— Ok, eu fico com ela nos dias que precisar, mas eu não quero ter que limpar a meleca dela. - Paulina afirmava a mim colocando um vaso de violetas para enfeitar um pouco do quarto de hospital.

— Vai limpar, porque minha filha não vai andar por aí esfregando o nariz porque a madrinha tem preguiça de limpar. - Afirmo replicando-a.

— Sabe que eu amo a Emily, mas não sei... acho que não estou pronta para... limpar meleca ou o resto... - Ela triplica e se senta ao meu lado e coloca seu livro no colo, estico minhas mãos para ela que olha estranho. - Me diz que não quer um outro abraço. - Ela brinca.

— Não sua trouxa, eu quero o controle da televisão. - Respondo, ela o procura pelo sofá e ergue sua mão para me dar, estava passando a nossa série favorita Criminal Minds, e era para tudo continuar assim na maior paz, se não fosse pela febre que começava a me causar. Eu achava que era o efeito do remédio e então chamei uma enfermeira que passava pelo corredor e para o meu azar era a enfermeira mais chata e safada do hospital.

— O que foi, sentiu alguma dor senhora Campbell? - Ela pergunta e afrouxa o meu travesseiro.

— Ela não me disse nada. - Paulina afirma se levantando da poltrona e se aproximando da cama.

— Não é nada Paulina. - Respondo, a enfermeira coloco sua mão em minha testa e diz que estou ardendo em febre. Pela sua reação sabia que era algo ruim, na faculdade aprendi isso. Na vida também, ainda me lembro da reação dos médicos ao trazer a resposta de que meus pais faleceram, ou quando diagnosticaram minha tia com alzheimer.

— Eu vou chamar a médica ortopédica. - A enfermeira afirmou e saiu do quarto. Pedi a Paulina que me ajudasse a me sentar na cama, estava tudo bem até agora, até há uns 5 minutos... Comecei a sentir uma terrível dor na perna esquerda.

— Paulina, me ajude. - Digo uma hora, ela segura em minha mão e fixa seus olhos aos meus.

— Vai ficar tudo bem Jilian. Você precisa descansar e esperar a médica chegar.

— Se não vai me ajudar, saí daqui. - Respondo, e ergo minhas mãos aos lençóis o retirando e olho para a minha perna que está ficando muito roxa e começo a me assustar. - Meu Deus, minha perna! - Grito a Paulina que também se assusta e a cobre com o lençol em seguida, a médica ortopédica que havia cuidado do meu caso, dra. Ariana Bynes pediu que Paulina se afastasse e levantou o lençol para olhar melhor como estava minha perna.

— Levem-na para a SO agora. - A médica gritou, os enfermeiros retiraram sua perna e Jilian se cortorcia na cama assustada.

— Espera doutora, me diga o que acabou de acontecer na perna dela.

— Agora não dá. Preciso correr para salvar sua amiga.

— Tá, vai. - Paulina respondeu e pegou o celular em mãos e limpou as lágrimas.

— Liga para o Mark. - Gritei já no corredor.

Paulina...

Jilian já estava na cirurgia há 1 hora e 30 minutos quando Mark chegou e me encontrou no saguão aquele lugar silencioso onde ficam os parentes e amigos esperando respostas do médico.

— O que aconteceu? - Mark pergunta aflito.

— Aquilo que tínhamos medo. - Respondi e ele me abraçou e não pode conter suas lágrimas e eu também não. - Dra. Bynes é muito boa, dizem que é a melhor de Toronto, ela vai dar um jeito. - Sussurro em seu ouvido.

— Ela vai querer morrer Paulina. - Mark responde e se senta ao meu lado.

— Tá, mas ela não vai. Ela vai viver e vai cuidar da Emily.

— Jilian vai pedir o divórcio! - Ele replica nervoso e cruza seus dedos olhando para o hospital a porta onde logo teríamos a notícia de como foi a cirurgia.

Mais uma hora havia passado e Carlos Daniel chegou no hospital, ele me abraçou e sussurrou ao meu ouvido que tudo ficaria bem, mas como podia me garantir isso?

— Não vai. - Repliquei.

— Vai sim, uma hora ou outra ela vai ter que aceitar o destino e aceitar que foi a única escolha que ela tinha, era isso ou a vida dela. - Ele respondeu, respirou fundo e deu um sorriso de lado pegou em minha mão nossos dedos se cruzaram e ele me levou até onde Mark estava o cumprimentando. A dra. Bynes saiu da sala logo em seguida.

— E então doutora, conseguiu? - Mark perguntou, apertei a mão de Carlos Daniel.

— Ela está viva, é isso o que eu consegui. - Ela respondeu, abaixei minha cabeça e a envolvi no peito de Carlos Daniel. - A infecção já havia chegado em seu osso, ela está sendo levada para o pós-operatório e logo deve acordar. Devem ficar ao lado dela, vai precisar. - A médica nos disse, suspirou fundo e Mark se sentou novamente nervoso.

— Vou ligar no asilo para ver como a tia dela está, faz tempo que ela não vai lá. - Mark respondeu, se levantou e se retirou da onde estávamos, ele não ligaria para o asilo, talvez ligasse mas ele só queria ficar longe dali.

— Sinto muito pela amiga de vocês. - A médica diz a mim e ao Carlos Daniel, limpo minha lágrima e agradeço a médica a todo o seu esforço com Jilian. - Sei que não é da minha conta, mas o resultado do seguro sobre o senhor que os atropelou saí semana que vem, certo?

— Certo, por quê? - Pergunto.

— Contratem bastante advogados, porque aquele senhor era um banqueiro importante e foi negligente em beber e dirigir... Senhor Bracho e Senhorita Martins na minha profissão eu não posso falar mais do que o protocolo me sugere, mas a amiga de vocês tem apenas 21 anos e acabou de virar mãe... Sei que ela não aceitará o que aconteceu e possivelmente tente processar o hospital ou eu mesma, não a culpo.

— Não processaremos o hospital, e acho que Jilian também não processará, entendemos o motivo, por isso retirei aquelas flores do quarto dela e coloquei as violetas que ela adora.

— Receio que terá de tirar as violetas também... Sabe, é o protocolo.

— Entendemos, obrigada. - Respondi, a médica se retirou e nos deixou a sós.

Ás 21h44 da noite Jilian acordou assustada, coloquei minhas mãos em seu peito e a acalmei, Carlos Daniel me ajudou e logo em seguida se afastou.

— O que aconteceu? - Ela perguntou e colocou sua mão em sua cabeça.

— Está com dor? - Perguntei.

— Dor? Esse não é o problema agora, o que houve? - Ela novamente pergunta, olho para Carlos Daniel que abaixa sua cabeça e diz que vai dar uma volta pelo hospital e logo voltaria. - Me fala o que aconteceu. Por que eu não estou sentindo minha perna Paulina?

— Jilian, é...

— Paulina, por que eu não sinto minha perna? O que aconteceu, estou paralítica?

— Não Jilian, você teve uma...

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO PAULINA? DEIXE-ME VER. - Ela grita e tenta se sentar na cama para puxar os lençóis e constatar o que houve na cirurgia.

— Fica deitada Jilian. - Debruço-me sob seu corpo a deixando deitada, no monitor vejo seus batimentos cardíacos, 120 por minuto. - Se acalma.

— Estou paralítica, não estou? - Ela segurou em minhas mãos e se virou para mim me olhando no fundo dos meus olhos, aquele olhar torcendo para ser algo passageiro, com dor e medo.

— Jilian, eu quero contar mas você não deixa.

— Você demora. Por favor Paulina, você é minha melhor amiga, eu preciso que você me conte, é a Emily? Estou paralítica? Mark, cadê o Mark? Ele vai me contar. Eu conheço esse olhar Paulina, você está escondendo algo, chamem a médica agora eu quero falar com ela.

— Você perdeu sua perna Jilian. - Retogredir em falar. Ela me olhou assustada e soltou minha mão. Gaguejou uma vez deixando cair uma lágrima.

— O que?

— Há um tempo a dra. Bynes disse que poderia haver indícios de que precisaria de uma nova cirurgia, e você teve uma infecção causada por uma das flores que eu trazia quando comprei na floricultura perto de casa. Os médicos tentaram reverter sempre, mas hoje você não aguentou e a infecção chegou ao seu osso.

— Um tempo? Você sabia e não me contou? - Ela perguntou e chorou cada vez mais. Abaixei minha cabeça sem coragem para lhe contar que não queria contar. - Quem mais sabia? Seu namorado? Paola? Jeremy? Peter? M-M... Mark? - Abaixei minha cabeça novamente.

— Era a melhor escolha.

— O que? Melhor escolha? Deixar que amputassem minha perna? E você continuou trazendo flores.

— Se você soubesse isso teria mudado alguma coisa? - Perguntei, ela hesitou em responder, me afastei da cama dela. - Acredite, não queríamos isso.

— Cadê o Mark? Já sabe que agora tem uma esposa inválida?

— Não fale assim Jilian.

— Eu falo do jeito que eu quiser Paulina Martins, eu achei que você fosse minha melhor amiga, pensei que podia contar com todos vocês. TODOS VOCÊS- Ela gritou assim que Carlos Daniel se aproximou e parou na porta. - Agora estou inválida, o que eu vou fazer inválida?

— Há muito para se fazer Jilian, vamos lutar juntos. Todos nós!

— Eu não os quero mais em minha vida. Cadê o Mark? Tragam o Mark e a dra. Bynes agora. SAIAM DAQUI, SAIAM.

— Jilian, espera...

— SAI DAQUI PAULINA MARTINS, OU JURO QUE MESMO INVÁLIDA EU A MATO. EU QUERO FICAR SOZINHA, ME DEIXEM SOZINHA. - Ela gritou novamente e a enfermeira entrou ao quarto nos expulsando, peguei minha bolsa e passei pela porta e Carlos Daniel me seguiu.

Limpei minhas lágrimas e ele parou na minha frente tentando me acalmar, ele não me disse nada apenas ficou ali na minha frente me vendo desabar porque ali podia ter sido o fim da minha amizade com a Jilian.

— Não é minha culpa... - Disse a ele.

— Claro que não. - Ele respondeu e deu um beijo em minha testa. - É difícil agora, mas Jilian vai entender.

— Vai? Será que vai? - Limpo as lágrimas mais uma vez. - Será que quando encarar a verdade de que está sem uma perna, vai me perdoar e ser minha melhor amiga novamente?

— Não pense nisso agora.

Mark...

Uma hora depois que dei uma volta pelo quarteirão, voltei para ver Jilian eu precisava respirar um pouco porque sabia que ela estaria nervosa demais para falar comigo, quando voltei procurei por Paulina e não a vi, apenas cruzei com a dra. Bynes no corredor depois que saiu do quarto de Jilian, ela abaixou a cabeça quando me viu.

— Achei que tivesse fugido. - Jilian ironizou assim que passo pela porta.

— Como você está? - Pergunto e retiro o casaco.

— Inválida e você?

— Jilian, entende que nós só queremos o seu bem, e nada disso foi premeditado. Estamos com você, eu estou.

— Mentindo para mim? Me enganando que eu sairia logo daqui?

— Mas você saíra logo, e junto da nossa filha.

— Não Mark, ela é minha filha. Apenas minha filha, não é sua, não é de mais ninguém, é minha filha. E agora ela tem uma mãe inválida, você pode ir embora já, não preciso e nem quero você na minha vida.

— O que?

— É Mark vai embora, é difícil demais suportar isso, suportar uma filha que não é sua, uma esposa inválida.

— Eu não vou sair Jilian. Emily é minha filha!

— Não não é! Ela é minha filha e é filha do Joe. Não precisamos mais de você, pronto pode ir.

— Por que está falando isso?

— Não é verdade? Você pode suportar isso? - Jilian retirou o lençol para que eu visse sua perna amputada. - Vai suportar dormir e acordar ao lado disso Mark?

— Jilian. - Me aproximei e me sentei na cama. - Eu me casei com você, e isso é para sempre, eu não vou te abandonar por isso, Emily é nossa filha, nossa e ela vai precisar de um pai e de uma mãe, você é minha esposa, e eu não ligo se você tem uma perna, três braços ou nenhum olho, eu amo você e vou ficar com você.

— Eu não quero mais Mark, você só tem 22 anos, vai viajar, beber, curtir com os amigos, conhecer uma pessoa que não seja inválida e que não tenha uma filha bastarda! Vá. Está livre, você me enganou como todos os outros, como a Paulina. Os dois, as pessoas que eu achei que jamais poderiam me magoar.

— Eu não vou embora. - Respondi e me levantei saindo do quarto indo tomar um pouco d'água.

Paola...

Paulina havia me mandando mensagem sobre a cirurgia de Jilian, ela disse que passaria a noite na casa com Carlos Daniel, eu e Jeremy ficamos no apartamento pensando em como tudo andava dando errado ultimamente.

— Sinto falta do Douglas. - Disse a ele numa hora. - Mas, acho que o sentimento logo se esgota, por isso ele me traiu com a Marissa, do cabelo perfeito, corpo perfeito?

— O sentimento não se esgota Paola, deveria saber disso. Ele deveria estar esgotado de algo Paola.

— De mim?

— Pode ser de você, da mesmíce, de qualquer coisa.

— Ele não me ligou mais... - Respondo ao Jeremy que toma um gole da cerveja.

— Paola, você o mandou pro inferno todas as vezes que ele te ligou. Ele não vai te procurar, sinto dizer isto, mas é a verdade. Mas não se culpe, criar expectativas é normal, ter medo e insegurança é razoavél. Douglas vai tentar seguir a vida dele e você deveria fazer o mesmo ou ligar para ele e dizer que sente muito. Porque a história de que a "carne é fraca" é verdadeira.

— Jeremy, eu acredito em fidelidade. E sou fiel, f-i-e-l. Nunca senti vontade de trair, sequer olho pro lado. Acho falta de respeito. Odeio quem se conforma e diz que tem que cuidar bem, senão, sabe como é, bobeou, dançou. Ninguém segura ninguém.

— Então... Se pensa assim por que ainda espera a ligação dele?

— Não sei... - Respirei fundo. - Talvez porque eu o ame ainda,

Pode fazer curso de strip, de sensualidade, disso e daquilo, se tiver que levar, levou. Se tiver que tomar, tomou. É simples. Ninguém fica junto muito tempo só pelo sexo. Mesmo porque existe vida fora da cama - e do corredor, elevador, carro, mesa, cozinha. — Pensei comigo mesma, Jeremy deu um trago no cigarro e encostou no sofá, nessa mesma hora o meu celular toca era Jack Rivers.

— Jack? - Atendo ao celular.

— Quer sair comigo Paola? - Ele perguntou assim na lata, obstinado, sem nervosismo.

— Quero. - Respondo também obstinada. - Que horas vem me buscar?

Paulina...

— E se a Jilian nunca mais falar comigo? - Pergunto novamente, enquanto eu e Carlos Daniel fazemos a cama para deitar e tentar dormir. Carlos Daniel respirou fundo se sentando na cama comigo.

— Eu vou ser sua Jilian então... - Ele tenta amenizar o clima, dou um sorriso de canto e deito minha cabeça em seu ombro. - Ela vai perdoar meu amor, dê apenas um tempo a ela.

— Você me perdoaria se estivesse no lugar dela?

— Você me perdoaria? - Ele replica a pergunta, e eu não sabia o que responder a ele. Pensei e pensei.

— Era para me fazer bem? - Pergunto. Ele concorda. - Perdoaria. Mas, acho que não aceitaria. - Nos deitamos, ele me abraça mais uma vez e apaga o abajur.

— Então, é isso o que ela sente agora.

— Pobre Mark, ele deve estar arrasado agora no hospital e sozinho.

— Não está sozinho, seu irmão mandou uma mensagem dizendo que estaria no hospital agora com ele.

— Não era para Emily nascer assim, ou o acidente, e nem era para comemorarmos a nossa reconciliação assim.

— Temos uma segunda chance nas mãos, estamos juntos... E agora Jilian tem uma segunda chance porque ela está viva. E uma nova chance de ser uma mãe e esposa maravilhosa porque a vida dela continua, e tudo continua. A terra não vai parar de girar nem o sol de brilhar.

— Eu te amo tanto. - Sussurro a ele que me dá um beijo.

— Pare de chorar. - Ele sussurra de volta.

"É difícil dar segundas chances. É ainda mais difícil pedir por elas. Um chance de fazer isso de novo, sabendo o que você sabe agora, o que você aprendeu. Uma chance de fazer isso completamente diferente. Uma chance de consertar nossos erros, de tentar fazer dar certo. Uma chance de começar de novo do zero."