O Diário das Irmãs Martins

Gota de Água Continua Caindo na Minha Cabeça...


"Para ser um bom cozinheiro você tem que pensar com um chef. Emoções só confundem. Deixe elas bem guardadinhas e de lado e adentre em uma cozinha limpa e brilhante onde o procedimento é simples. Cozinhar-servir-agradar o cliente. Mas, ás vezes você encara um prato que não dá certo... Um prato que se quebra e deixa estilhaços...

[...]

Ethan...

Estar com Oliver me deixava feliz, e esta era uma sensação que não sentia a meses... A vida é complicada, todos sabemos disso. Mas a vida, é ainda mais complicada quando se é homossexual. Ele me ensinou a viver e amar intensamente sem ligar para isso. Porque talvez no fim do dia eu esteja vivo se nenhum homofóbico me parar na rua e me deixar sangrando até morrer. O sexo com ele era intenso, selvagem e eu não poderia estar mais contente.

Está noite saímos e então no apartamento dele, transamos. A noite ás vezes gostávamos de ir ao bar que tem ao lado do hospital em que alguns dos nossos novos colegas trabalhavam. E nesse tempo, em que eu conheci Coleen, Alex, Steven e Elizabeth eu me aproximei mais de Coleen.

— Eu me sinto péssima pelo o que fiz. - ela me disse, bêbada. - Não me leve a mal foi bom transar com Peter, mas se para isso eu tiver de perder a amizade que tenho com ele e o vê-lo tão mal por causa de Luna, o que isso valeu?

— Estar apaixonado é uma merda. - respondi a ela.

— O Peter me evita nos corredores do hospital. Isso é frustrante.

— Coleen talvez você devesse parar de correr atrás dele. Tire um tempo pra Coleen Torres mesmo. Trabalhe dure, beba e transe com quem quiser aí fora, ou não... Ele gosta de você e não estaria te evitando se não gostasse de você. O problema é que ele e a Luna ficaram a quase um ano juntos.

Coleen deitou sua cabeça no meu ombro enquanto nossos amigos jogavam dardos no fundo do bar.

No dia seguinte...

Lizzy...

Acordei bem cedo e tomei banho pois logo deveria ir para o hospital, desci as escadas e logo Steven desceu também. Encontrei Paulina fazendo o café para nós todos, me sentei de frente para o balcão que havia na cozinha e enchi minha xícara de café.

— Paulina? - a chamo, ela desatenta se vira para mim mesmo sem olhar para o meu rosto, mas ouvindo o que estava falando. - Por que não contou que transou com Steven?

Ela e Steven se olharam por um instante e depois continuaram com seus afazeres.

— Ah porque... Porque foi há muito tempo Lizzy, foi coisa de uma noite apenas. - respondeu.

— Por que quer saber disso agora? - Steven questionou.

— Porque nós viemos morar aqui e nenhum de vocês falou que haviam transado, soube depois por outra pessoa. - respondi.

— Ah, como eu disse. Foi coisa de momento, nem contou Lizzy. Vocês são casados deve deixar isso para trás. - ela respondeu novamente.

Assim que Paulina pegou sua xícara e subiu para se arrumar, Steven apoiou os cotovelos no balcão, estava sem camisa.

— Lizzy, olha só... É claro que foi coisa de uma noite, bebemos e transamos. Eu sou casado com você! E Paulina sofre pelo Carlos Daniel, se nós estivéssemos apaixonados acha que ela estaria sofrendo por outro homem e eu casado?

Prestei atenção naquilo e acabei por aceitando o que ele me disse.

Fui para o hospital em seguida, e há um tempo havia notado que Paulina, Jilian e Coleen sempre me olhavam de lado, era um olhar muito chato de se presenciar. Conseguia ouvir os cochichos e risadas de longe quando eu saía do local que elas estavam e isso estava me incomodando.

Paola...

No horário do almoço aqui em Paris, exatamente 12h29 eu liguei para Luna Rivers com 6 horas de diferença, ela ainda não havia acordado.

— Luna? - a chamo.

— Paola, são 6h29, o que você quer? - ela pergunta.

— Senti saudades, vamos conversar. - digo. - Estou num bistrô maravilhoso, volto daqui há 2 dias.

— Sério? Volta para ficar mesmo ou ainda volta pra Paris?

— Volto para Paris por mais cinco meses e depois eu volto pra Toronto. - mordo um pedaço da minha comida e tomo um gole do vinho.

— Ai que delícia, o que está comendo?

— Gratin Dauphinois, aligot. - respondo.

— Paola, eu não faço a mínima ideia do que você falou, mas parece ser muito bom.

— É batata gratinada, aligot é um purê com queijo, não sei o nome do queijo a Paulina deve saber mas é muito bom. Peça para ela preparar.

— Paulina vive trabalhando agora, e quando não está fica com Saul Juanes aprendendo técnicas novas para cozinha. É um saco, mas fazer o que. - Luna me conta.

— Mas por que, por acaso ela e Carlos Daniel brigaram? De novo?

— Eles terminaram há umas duas semanas. - ela me contou, eu só conseguia pensar "como assim?"

— Por que? - questiono.

— Carlos Daniel é casado com Leda ainda, e parece que Leda voltou e está trabalhando aqui perto.

— Carlos Daniel é casado! - repetia sem acreditar. - Pobre Lina, não consegue ser feliz. E você Luna? Como anda o relacionamento entre você e Peter?

— Também não estamos mais juntos.

— O QUE? - dou um grito surpresa.

— Sim, houve alguns problemas entre nós e foi melhor... Eu não queria, mas...

— Sim, você não curte compromisso, certo? - digo, ela abaixa a sua cabeça e arruma o cabelo.

— É. - diz e logo tenta mudar o assunto. - Você está namorando certo?

— Estou. François Bretodeau. Ele é maravilhoso, típico francês. Ele vai visitar Toronto comigo daqui há 2 dias.

— 2 dias, é o dia de ação de graças certo? - ela pergunta.

— Sim, voltamos um dia antes. Se Carlos Daniel e Lina romperam quem fará a celebração?

— Jeremy e Megan! Sim, eles estão morando aqui também e Jeremy pediu ajuda dela para preparar, mas todos sabemos que quem irá cozinhar é a Paulina.

— Sorte a nossa. - respondo.

— Não... Megan cozinha muito bem. - Luna replica.

— Ah, menos mal... É... Luna, sabe me dizer se o... Douglas está namorando ou saindo com alguém?

— Não estou sabendo, bom ele é mais amigo do Jeremy e do Peter, creio que eles convidaram Douglas para ação de graças, tudo bem pra você? - ela me pergunta, tomo mais um gole do vinho.

— Sim, sim... Tudo bem! Estou louca para que conheçam François, estou muito apaixonada por ele. Não pensava me apaixonar depois de Douglas. Bom, tenho que ir Luna. Foi ótimo conversar com você! Sinto muito por você e pelo Peter, seja lá o que tiveram eu sei que meu irmão era louco por você. - digo a ela que sorri para disfarçar.

— Obrigada. - ela replica e então desliga a chamada por vídeo.

Carlos Daniel...

Toda manhã eu acordava e caminhava um perímetro grande pelo terreno que havia comprado, era lá que eu pediria a mão de Paulina em casamento, e era nesse terreno que eu queria construir a nossa casa juntos. Mas, desde que Leda voltou moramos num trailer.

Leda sempre odiou espaços pequenos e eu sei reconhecer o esforço que é para ela ficar num trailer com um homem que não a ama mais.

Eu escrevia ou pintava alguns dias e depois ia para o escritório já que depois do filme e do contrato expirarem eu estaria de certo modo "sem emprego" Peter mandou uma mensagem um dia me dizendo que havia um prédio comercial atrás do hospital que estava a venda e talvez eu quisesse fazer algo com aquele espaço.

O prédio que ficava atrás do hospital, também ficava a uma quadra do restaurante de Saul Juanes, onde a Paulina trabalhava.

Depois da noite em que eu a vi chorando, ela segurou em minha mãos, e eu só poderia sentir falta dela.

Hoje eu iria aceitar uma proposta que me fizeram e eu não contei para ninguém, pois foi bem no dia em que houve a bomba no hospital e que quase matou Paulina.

Era uma proposta de emprego na faculdade, como professor de Literatura e eu estava certo de aceitar já que era isso o que me restava, Leda secava o seu cabelo no minúsculo banheiro do trailer e eu fui para a empresa que encerraria o meu contrato.

Entrei no elevador e saí, Miguel - o pai de Paulina - estava numa conversa privada com alguém e sua esposa Paula estava junto. Fiquei 20 minutos conversando e agradeci a todos pela oportunidade, e então fui para o elevador novamente saindo sem me despedir de Miguel que me ajudou tanto nos últimos tempos. Até que...

Paulina entrou ao elevador, eu estava encostado olhando para o chão quando uma pessoa entra, era ela, olhou para mim por longos segundos segurando o elevador e então entrou, se virou e eu a observei por inteira de costas.

— Eu sinto sua falta. - disse com dificuldade, eu não podia acreditar, caminhei para mais perto dela e ela respirou fundo jogando sua cabeça para o lado com os olhos fechados, e então, me lembrei de Leda.

— Eu não posso. - respondo e me afasto novamente e Paulina saí do elevador em seguida.

Leda...

Eu queria a todo o custo reconquistar Carlos Daniel, e por isso eu fazia o que podia para não incomoda-lo era um silêncio um tanto incômodo nós dois num trailer dividindo uma cama.

Por isso eu passava a maior parte do meu tempo no hospital para voltar tarde para aquele trailer pequeno e chato com uma pessoa que me odeia e eu o via sempre escrevendo ou pintando.

A família de Carlos Daniel ainda me adora, e eu só queria que ele me adorasse tanto quanto eles.

O hospital era repleto de pessoas que moravam com Paulina e por isso torciam pelo seu relacionamento com Carlos Daniel, eu sou uma médica respeitada e conhecida, mas aquilo estava me matando.

Depois de atender um paciente fui para o banheiro, me agachei ao chão e abaixei a cabeça, e me coloquei a chorar perdidamente por aquela situação, havia proposto a Carlos Daniel que fizéssemos terapia de casal e ele aceitara, amanhã começava.

Ouço um barulho no banheiro, e limpo as lágrimas, mas ainda não consigo levantar e não consigo segurar meu choro, e me ponho a chorar novamente, até que a porta se abre, era Elizabeth, morava com Paulina também.

Ela me olhou estranhando eu estar no chão chorando, esticou sua mão para mim que olhei atentamente e Elizabeth me ergueu, limpei as lágrimas novamente e ela ficou ali do meu lado sem dizer uma palavra.

— Tudo bem? - ela pergunta depois.

— Sim. - dou um sorriso. - Obrigada.

— Por nada. - replica, logo ela vai usar o banheiro, eu saio de lá e esbarro sem querer num residente. Eu acho que ainda não havia trabalhado com ele.

— Não olha para onde anda não? - ele me diz.

— Desculpe? - falo.

— Ah, dra. Duran Bracho me perdoe. - ele diz, eu olho o seu nome no jaleco.

— Tudo bem dr. Stevens. - respondo, o sorriso dele era encantador, mas me lembrei que Alex Stevens também morava com Paulina.

O mundo está conspirando para que Paulina ganhe Carlos Daniel novamente.

Lina...

— Como se sente hoje Paulina? - a dra. Hoffman perguntou.

— Estou bem. Apesar de tudo.

— O que houve?

— Eu descobri que minha mãe tem câncer. Um tumor malígno Linfoma e consequentemente por irônia ou não, ela foi diagnosticada com alzheimer.

— Alzheimer. A mesma doença que parentes da sua melhor amiga tem?

— Sim, a tia Rosie da Jilian tinha, e a avó dela também. Ou seja estamos predestinadas a ter alzheimer também. - digo a doutora.

— O que mais Paulina?

— Eu encontrei Carlos Daniel, duas vezes. - digo e encosto ao sofá respirando fundo. - A primeira foi há uns dias quando eu fui procurar meu pai verdadeiro, Richard para saber o porquê dele ter abandonada eu e Paulina, até mesmo Peter que o viu ainda mais que eu. E quando soube da doença da minha mãe, eu sentei para chorar e ele apareceu, ficou comigo e me abraçou.

— Se beijaram?

— Não, mas eu queria... Muito! - digo. - Ele me deixou mais tranquila, eu entrei no carro e fui para o apartamento onde mora meus amigos. Tomei um banho e adormeci.

— E a segunda vez que se viram?

— Foi hoje de manhã, eu fui no prédio que Miguel e Paula trabalham e ela estava lá, mal conseguia lembrar do que comeu ou o que estava fazendo, Miguel me disse que Adelina - minha babá e de Paola - foi embora e ela nem se despediu... Eu entrei ao elevador e ele estava lá... - abaixei minha cabeça lembrando do momento. - Eu disse que sentia saudades e ele simplesmente não pode, porque ele e Leda moram juntos agora.

A doutora Hoffman falava sobre eu procurar algo que amasse demais e que me fazia sentir tranquila, apesar da cozinha ser um barulho estrondoso e uma adrenalina total de tantos pratos para serem entregues, lá me acalmava.

Jeremy...

Já era tarde e eu combinei de me encontrar com Megan para fazer as compras para o dia de ação de graças. Eu estava fazendo horas extras no emprego para que pudesse pagar o aluguel e sair do apartamento.

Até que no mercado enquanto Megan pegava pães minha mãe, Catherine ligou.

— Jeremy? - diz.

— Oi mãe. - respondo.

— Como está o meu bebê?

— Ah estou bem mãe, e a senhora?

— Triste, soube que meu filho está morando num local cheio de pessoas enquanto meu filho é rico e pode pagar a casa que quiser, por que não usa seu dinheiro Jeremy?

— Mãe, é eu estou trabalhando e só vou usar o dinheiro do meu emprego.

— Jeremy, você e Lauren nasceram em um berço de ouro você pode usar o dinheiro que quiser e faz drama.

— Não é drama querer ser independente e parar de usar um sobrenome. Avery me assombra para todos os lados.

— Jeremy Avery eu fiz o sobrenome AVERY ser algo reconhecido agora você para com isso e se orgulha de ter esse sobrenome.

— Mãe eu não tenho vergonha, eu só quero trabalhar.

— Trabalhe e pode usar o dinheiro. - ela me diz e eu digo que estou acompanhado e devo ir desligando, e logo terminamos de nos falar, Megan me dá um abraço e diz ter sentido frio eu levo o carrinho e ela vai grudada ao meu corpo.

Jilian...

Desde que voltei com Mark daquele casamento horroroso da sua prima Gale, peguei Emily na casa de Lucy a minha sogra e nós brincamos juntos, Mark fez o jantar enquanto eu lia uma história para Emily, e para a minha surpresa em um momento que estava lendo aquela história (mais chata do mundo) A Pequena Sereia, Emily apontou para a vilã da história e disse "Mamãe" apesar de ter ficado com vontade de largar Emily ali porque me chamou de bruxa, eu estava comemorando o fato da primeira palavra dela.

— MARK, CORRE AQUI! - digo e ele vem correndo para a sala preocupado.

— O que foi Jil? - me pergunta.

— Emily disse "mamãe" fala de novo pro papai, vamos. - peço, Emily fica olhando para o rosto de Mark e não diz mais nada.

— Espera, ela falou mamãe, justo mamãe? Eu que troco as fraldas de Emily e faço a janta. - Mark se pronuncia.

— Ela sabe quem é a pessoa mais foda daqui. - respondo a ele que me olha nervoso pois não queria que eu falasse palavrão perto dela, e novamente um "mamãe" solta de sua boca.

— Deus, por quê? - Mark faz aquele drama de sempre e dá um beijo na bochecha de Emily e volta correndo para a cozinha terminando de fazer a janta.

— Toca aqui! - abro a palma de minha mão e Emily encosta a sua pequena mão na minha. - Agora você tem que aprender a falar que mamãe é melhor que papai, filha. - digo a Emily brincando e ela novamente diz "mamãe" - Não Emily, a frase completa.

— Mamãe.

— Emily, chega de mamãe. Fala a frase ou não ganha dinheiro.

— Dinheiro. - ela diz a segunda palavra.

— Essa é a minha garota. - respondo. Depois de jantar e Emily tomar um banho e ir dormir, tomo um banho também e vou para o apartamento falar com Paulina já que não a vi o final de semana inteiro.

— E como foi o casamento? - Lina pergunta.

— Nem assistimos, fugimos para transar. - respondo.

— Não acredito, finalmente? - ela pergunta.

— Finalmente. - replico. - Ah, Emily falou duas palavras essa noite.

— Qual?

— Mamãe e dinheiro.

— Uau! Mark deve ter ficado louco.

— Sim... - Ele está, mas o que podemos fazer, certo? Está claro quem ela prefere. - brinco. - Como está a terapia?

— Normal, a mesma chatice eu conto e relembro tudo o que houve e a doutora só me dá um conselho.

— Qual foi a da vez? - pergunto.

— Disse que eu preciso me apegar em outra coisa além da cozinha algo que eu amasse e me distraísse.

— É uma merda mesmo. Tem visto Carlos Daniel?

Paulina me contou as duas vezes que o viu, e falou sobre Paula, era tudo tão terrível que estava acontecendo na vida dela, que poderia tornar-se um filme. Um filme um pouco chato e bem dramático.

— Eu e Mark estávamos pensando em nos mudarmos para um apartamento, mas com os remédios de Emily não vamos ter dinheiro agora.

— É, é uma merda mesmo. Quer que eu compre os remédios esse mês?

— Não!

— Jilian, qual é eu sou a madrinha dela, deixe comigo. - Lina propõe.

— Não, use esse dinheiro para pagar uns caras e ir transar Paulina, nós vamos encontrar algum apartamento ainda.

No dia seguinte...

Lina...

Quando cheguei ontem à noite depois ter conversado com Jilian, estavam na sala, Luna, Megan, Jeremy e Steven assistindo "Antes de Partir" eu me sentei e assisti com eles o resto do filme de Morgan Freeman e Jack Nicholson, tomei um banho e fui tentar dormir.

Naquela manhã, eu, Luna e Jilian que foi falar comigo antes de abrir a livraria estávamos no banheiro. Eu estava na pia fazendo minha sobrancelha, Jilian estava sentada na banheira e Luna se trocava para ir trabalhar, de repente enquanto falávamos sobre a volta de Paola com seu novo namorado François, a porta do banheiro se abre e Elizabeth entra, ela caminha até a privada, eu continuo fazendo a sobrancelha, Jilian pega seu celular e fica mexendo nele, Luna põe sua blusa e um casaco.

Elizabeth fez xixi deu descarga e saiu do banheiro.

— AH MEU DEUS! - Luna diz em voz alta.

— Uau, que pessoa mais estranha. - Jilian diz, eu olho para trás segurando a pinça e dou risada da situação.

— Ela nem lavou as mãos. - Luna replica.

— Nossa, Steven tirou a sorte grande. - digo.

Depois de um tempo, conversamos sobre sair e ir beber tequila.

— Você precisa sair Paulina, se socializar conhecer pessoas.

— Eu odeio pessoas. - respondo de imediato.

Mais tarde, decidi ir na casa de Miguel e Paula, hoje não queria ir na terapia e não iria, eu vi Adélia, Lalinha como sempre trabalhando naquela mansão, subi até o quarto deles e Paula estava deitada na cama.

— Bom dia. - digo.

— Bom dia! - Miguel me responde.

— Como você está? - pergunto para Paula.

— Estou bem. O que quer?

— Vim ver se querem passar o dia de ação de graças conosco, Paola vai voltar.

— Não. Não quero ficar com vocês. Eu e Miguel podemos fazer nosso jantar sozinhos.

— É... Paula pare com essa grosseria. - Miguel diz e logo pede licença pois seu celular tocou.

Me sentei ao lado da cama e Paula se sentou, eu arrumei meu cabelo e de repente era como se Paula não estivesse mais naquele corpo, o alzheimer falava comigo.

— Eu estou sozinha. Estou sozinha, ele foi embora e agora eu tenho que criar a minha filha sozinha.

Ela usou filha no singular, eu só não sei se falava de mim ou Paola, mas isso não importava. Paula começou a chorar, eu segurei em suas mãos e a verdadeira Paula voltou.

— O que quer? Vai fazer terapia novamente?

E antes que eu pudesse responder, ela se virou para a janela do seu quarto.

— Vá embora! - me disse, e repetiu duas vezes, eu me levantei e saí dali o mais depressa possível.

Passei o dia no restaurante e só quis encontrar Jilian.

Lizzy...

— Eu estou dizendo que quero ir embora. - digo para Steven.

— Quer ir morar aonde? Paulina nos acolheu e todos são gentis. - ele me responde.

— São gentis com você pois são amigos, eu entrei ao banheiro hoje e todas me encararam.

— Peter falou para mim o que houve.

— E o que houve para as suas amigas me encararem daquele jeito?

— Lizzy amor, disseram que você foi ao banheiro e não lavou as mãos. É verdade?

— VOCÊ ACREDITOU? - grito, e logo Leda se aproxima me tirando dali pela atenção que estava causando no corredor do hospital.

— O que houve? - ela pergunta.

— Nada, estou nervosa. Quero me mudar mas Steven não quer se separar das amizades.

— Quem dera eu pudesse mudar, estou morando num trailer com um homem que me odeia.

— "Touché" - respondo.

— Hoje tivemos uma sessão de terapia de casal, por que não tenta com Steven?

— Não, não é um enorme problema. Mas, vou falar com ele. Você acha que pode salvar seu casamento ainda, Leda?

— Oh, já soube? - ela pergunta sem graça.

— Todos já sabem, e não me leve a mal, não estou te julgando.

— Obrigada. E sim, acho que posso salvar meu casamento. É tudo o que mais quero. - Leda me diz.

— Aí! Quer sair para beber depois daqui? - pergunto.

— Claro, iria adorar.

Tive que entrar em uma cirurgia em seguida com Peter meu residente, e eu não consegui segurar a pergunta.

— O que sua irmã e as amigas falaram de mim?

— Ah, nada. - Peter respondeu.

— Peter, quer que eu acabe com suas noites ainda mais? Eu posso fazer isso, me diga o que falaram. - o obrigo. - Está estudando para a sua prova Peter? - a prova que indicaria se ele pode ser residente ou reprova no internato.

Se reprovasse ou escolheria ser demitido ou poderia refazer o primeiro ano de internato, era a prova mais complicado que tinha no programa de residência.

— Bom Peter, eu tenho fichas que podem te ajudar a passar na prova, sei que você conhece minha tática. E agora? - pergunto.

E ele me contou, as enfermeiras me encararam e eu fiquei tão sem graça, abaixei a cabeça e depois de três horas na cirurgia quando saí fui procurar por Steven.

— Steven, eu lavei as mãos. Eu entrei para fazer xixi, estava cheio Paulina estava na pia fazendo a sobrancelha, eu dei descarga desci as escadas e lavei a mão.

— Tudo bem, nossa fico feliz. - ele diz e eu ainda estava muito brava e fui me encontrar com Leda para beber.

Lina...

Depois que saí do restaurante, eu entrei ao carro e dirigi até o terreno que Carlos Daniel havia comprado, assim que desci do carro ele estava segurando uma garrafa de cerveja me olhou e me encarou.

— O que faz aqui? - ele pergunta.

— Quero que me conte o que houve para você fugir para cá e ficar comigo. - digo, ele sorri e toma mais um gole da cerveja. Eu fico ali de pé parada observando-o com as mãos no casaco pelo frio.

— Eu encontrei Leda transando com um amigo meu. Eu saí daquela casa na mesma noite, pedi os papéis do divórcio os assinei e disse a ela que estava indo. Ela me procurou e pediu perdão falando que foi um erro e precipitado, então eu não conseguia mais olhar para o rosto dela ou de Eric, peguei o primeiro avião para cá e depois de dois dias, eu encontrei você na livraria.

Suspirei fundo e ele largou a cerveja que tinha acabado.

— Eu realmente não sabia Paulina. - respondo.

Olhei para o trailer que ele morava agora com Leda, estiquei minha mão para ele que sorriu e segurou em minhas mãos me levando para dentro do trailer que eu pudesse conhecer.

Nós tomamos algumas cervejas juntos e logo eu saí antes que pudesse fazer algo a mais com ele, entrei no carro e voltei para o apartamento onde encontrei Jilian dançando no quarto. Larguei a bolsa fechei meus olhos e dancei com ela.

Quando Jilian foi embora, eu abri a gaveta da mesa do quarto e vi assim que abri o primeiro livro que vendi e foi para Carlos Daniel, o livro de Charles Bukowski "A Mulher Mais Linda da Cidade" eu me deitei na cama e abracei o livro e o sorriso de Carlos Daniel me veio na mente.

Pronto, doutora Hoffman encontrei algo que amava, o livro que uniu eu e Carlos Daniel.

Dizem que a prática leva a perfeição. A teoria é: quanto mais você pensar como uma chef, melhor você vai se manter neutro, melhor, cozinhar-servir-agradar cliente... o mais difícil vai ser desligar esse botãozinho. Pra parar de pensar como um chef e se lembrar como é pensar com um ser humano."