— Ele não te ama Paulina! - Ouço uma voz, mas não sei quem é. Ou sei, pois reconheço essa voz, já ouvi em algum lugar. - Por que perde tanto tempo tentando amar alguém que irá machucar você? - Novamente a voz. Estou num hospital, reconheço isso. Estou caminhando no corredor e de repente estou no corredor da cirurgia, já estive aqui. Me aproximo ainda mais e vejo Paola, está tomando cappuccino e com seu óculos preto e cabelos presos.— Paola, o que está acontecendo aqui? - Pergunto a ela mas é inútil, ela me vê e abaixa sua cabeça, ao lado observo Nicole e seu namorado Drake.— Apenas siga minha voz amor, estou aqui. Não vou fugir novamente! - A voz diz, eu entro no corredor da cirurgia, e paro de frente a sala 2 olho para o lado e observo, lá está ele. Corro e o abraço.

— Oh Ian! Que saudade eu sinto. - Eu digo tentando me reconfortar em seus braços gelados.— Você sabe que ele não pode amar você. - Ian me diz e eu o solto o encarando.— Pare de falar bobagens. - Outra voz na sala, procuro nela e não vejo mais ninguém. Estou reconhecendo já a sala, foi nessa sala de cirurgia que Ian morreu. O relógio marca 9h24 a mesma hora que faleceu.— QUEM ESTÁ AI?- Grito.— Você só irá machuca-la. - Ian diz a voz, fico parada ao centro da sala de cirurgia, e logo ouço passos atrás de mim.— Eu amo você Paulina Martins, sabe disso não sabe? - Olho para Ian novamente, confusa com tudo o que está acontecendo.— Eu sei. - Respondo.— E eu sou apaixonado por você Paulina. - Olho para trás e vejo, é ele...

Acordei assustada depois desse sonho que tive. O despertador me acordava e meu coração estava acelerado. Me levantei e me arrumei bem depressa desci as escadas correndo colocando o casaco, Jilian estava colocando o café na sua xícara, eu coloquei as botas que estava na sala e corri para a cozinha e peguei sua xícara.

— EI!- Jilian grita. - ISSO É ANTI-ÉTICO, SABIA?- Novamente ela grita eu coloco a xícara no balcão, pego as chaves e saio indo para a livraria, o único lugar que eu poderia descansar e pensar em outra coisa. Quando abri a livraria corri para pegar as coisas da faxina e comecei a limpar o chão, as mesas e as prateleiras cheias de livro. Pouco tempo depois fui para trás do balcão e iria arrumar as prateleiras que ficavam ali atrás. Alguém entra na livraria, é um cliente, ele caminha buscando um livro e se senta na mesa dos fundos. Fico ali atrás arrumando e novamente ouço a porta, é Jilian que caminha até mim. - Vou fazer o pré-natal. Quer que eu traga algo para o jantar? - Ela pergunta e arruma seu piercing no nariz e joga o cabelo para o lado em seguida.

— Não. - Respondo. Coloco o espanador no lugar e me sento esperando alguém aparecer que não fosse Jilian.

— Paulina, você está bem? - Jilian me pergunta. Concordo dizendo que estou bem sim. Ela me olha estranhando a minha postura e caminha para a porta novamente. - OUVI DIZER QUE ELE VOLTA HOJE.- Ela grita e saí. Meu Deus, Carlos Daniel voltaria, antes que eu pudesse ver o rosto no sonho, só poderia ser ele.

Paola...

Me levantei bem cedo e mandei uma mensagem para Douglas, hoje seria o primeiro dia na importante empresa. Desci as escadas faminta e hoje a noite meus avós iriam vir para jantar. E não queria, quero dizer adoro eles no geral, mas odeio quando tentam me forçar a algo.

Encontrei Lalinha limpando a sala e fui para a cozinha tomar café da manhã. - Bom dia! - Disse a todas as empregadas e me sento para tomar café. - Bom dia Adelina. - Digo a ela que fica parada a minha frente. Coloco o meu suco no copo e tomo um gole, ouço Cacilda e Paula discutirem qual seria o jantar. Com certeza ficavam nervosas também com a visita dos meus avós.

— Meus pais já foram trabalhar? - Pergunto a Adelina.

— Sim, já foram. Semana que vem irá entregar a papelada da faculdade, está animada dona Paola? - Adelina me pergunta.

— Primeiro, não estou animada. Você e Paulina sabem que não é isso o que eu quero da minha vida. E segundo, dona Paola? Você quem me criou Adelina. Nada de dona. - Respondo a ela que dá risada, passo geléia na minha torrada e dou uma mordida. Olho para a cadeira de Paulina, vazia... - Sinto saudades da Lina. - Murmurei. Adelina se aproxima e dá um sorriso de canto.

— Também sinto saudades da minha menina. - Ela responde. - Mas, é até interessante ver você assim por ela, vocês vivem brigando, aí se dão bem e então brigam novamente.

— Sabe Adelina, eu conheço muita gente, mas Paulina sempre vai ser a primeira pessoa que eu ligarei quando tiver um ataque. Eu amo a Paulina, se um dia eu matasse uma pessoa, seria ela para quem eu ligaria e ela me ajudaria a esconder o corpo. - Eu digo e dou mais uma olhada para a cadeira dela vazia e volto a comer a torrada.

— Diga isso a ela. - Adelina resmunga.

— Não! E se você contar Adelina, eu amo você também... Mas, te matarei e ligarei para ela me ajudar a esconder seu corpo. - Eu brinco e dou risada.

Paulina...

Passei toda a tarde na livraria e depois de muitas pessoas passarem por ali, meu único pensamento era: O sonho que tive noite passada. Já estava prestes a fechar a livraria, mas o último cliente entrou e veio direto ao balcão, ofegante. Retirou as luvas e ficou ali parado me olhando.

— Posso ajudar? - Pergunto a ele que não responde nada. - Senhor? - O chamo, mas ele parece estar numa viajem e não consegue chegar a minha terra. - Senhor, posso ajudar? - Última tentativa, saio de trás do balcão e encosto lentamente em seu ombro.

— Eu... Eu... Tenho que falar algo mas não sei se posso ou se devo. - Ele me diz, eu retiro minhas mãos assustada com o que ele tem a me dizer. - Eu estive aqui essa manhã. Eu estive aqui há 3 dias lhe observando. - Ele sussurra. Ok, agora estou com muito medo. - Quer sair comigo? - Ele me pergunta, eu solto um ar de "Meu Deus, ainda bem que você não é um assassino"

— Eu nem sei o seu nome. - Digo a ele e dou um sorriso.

— Meu nome é Mark. Mark Reynolds, tenho 22 anos. Sem HPV. Sem nada. Trabalho numa mineradora, moro com a minha mãe ainda. Mas isso é provisório. Gosto de chocolate quente, madeira e gosto de você. Eu acho. - Ele me responde, eu dou um sorriso novamente.

— Ainda assim não te conheço. Fazemos o seguinte, amanhã me traga um expresso com chantilly e tomaremos o café aqui bem cedo, ás 8h. Pode ser? - Eu digo a ele que dá um sorriso, é um sorriso lindo. Juntamente com seus olhos azuis. - Meu nome é... - Eu digo a ele achando ainda que não sabia.

— Paulina. Até amanhã! - Ele responde. E saí da livraria. Dou risada de alívio, pego minhas coisas antes de fechar a livraria, mas esqueci de colocar um livro no lugar e o coloco. Pego meu casaco e vou em direção a porta. Só que ainda assim ouço o barulho da porta se abrir. - Estamos fechando! - Eu digo em voz alta e pego as chaves do balcão.

— Será que eu poderia falar um pouco com a moça que não saiu dos meus pensamentos? - Conheço aquela voz. É Carlos Daniel. Ele caminha até a minha frente.

— Carlos Daniel... - Digo. - Você voltou!

— Está feliz em me ver? - Ele pergunta e mexe em seu cabelo, apoio seu cotovelo no balcão.

— Sim! Não! Quero dizer... Bom, estou. - Respondo e ele ri. - Chegou a muito tempo?

— Cheguei agora. - Carlos Daniel responde. A noite estava caindo e estava muito frio, pensei no beijo todos os dias e tive esse sonho. E agora Carlos Daniel estava ali a minha frente.

— Não o esperava. - Murmurei.

— Algumas vezes o esperado simplesmente perde importância comparado ao inesperado. - Ele me responde e dá um passo a minha frente. - Não sei se você se lembra, mas hoje temos que ir ver algo muito interessante na cidade. - Ele diz logo em seguida.

— Temos? - Pergunto.

— Temos. - Ele responde. - E agora você está nos atrasando. Vamos. - Ele me diz, eu coloco o meu casaco e dou um sorriso, apago as luzes e fecho a livraria. Entro ao táxi que nos espera e então ele diz que devemos ir. Não muito longe dali, entramos num pequeno restaurante, estava todo bagunçado. Carlos Daniel me levou até os fundos e havia uma pequena mesa para dois, com velas e dois pratos, mas estavam vazios. Carlos Daniel puxou a cadeira para que eu me sentasse, e assim o fiz. Carlos Daniel se senta a minha frente. - Me desculpe pelo lugar, mas acho que no final irá gostar. Quer vinho? - Ele me diz e pega a taça que está ao lado da nossa mesa. É um vinho francês Pinot Blanc d’Alsace.

— Quero sim, por favor. - Respondo e Carlos Daniel enche minha taça. E logo enche a sua. Começamos a conversar sobre os dias que passamos longe um do outro. Carlos Daniel me contou como foi as entrevistas que teve e me contou um novo projeto em sua mente sem me dar muitos detalhes e logo foi minha vez de contar do grande nada que fiz. Queria muito perguntar o "Possivelmente" sobre ele estar apaixonado, mas me contive. E então, ainda faminta, abrimos a grande especialidade do chefe. - Quiche lorraine. - Eu digo entusiasmada para comer logo.

— Não estrague a surpresa. Já comeu? - Ele pergunta, e por mais que já tenha comido, para não deixa-lo triste por isso responde que não, mas já vi esse prato num programa de culinária. E Saul Juanes havia feito. Depois de comer e matar a minha fome. Carlos Daniel se levanta e vai até a cozinha, e na volta traz consigo uma surpresa.

— AH MEU DEUS. SAUL JUANES!!! - Eu grito e me levanto para cumprimenta-lo.

— Ouvi muito a seu respeito senhorita Martins. - Saul responde. Carlos Daniel fica ao meu lado. - Meu colega Carlos Daniel Bracho comentou que a senhorita quer muito abrir um restaurante e se inscreveu na minha turma mas não foi aceita. Então, com muito prazer lhe informo que mês que vem pode começar a ir fazer o curso. - Saul responde e eu o abraço dessa vez. - MUITO OBRIGADA!!! - Eu respondo a ele. - Não agradeça a mim, agradeça a ele. - Saul aponta para Carlos Daniel, pede licença e se retira. Eu olho para Carlos Daniel e dou um sorriso enorme. - Eu não sei como posso te agradecer, um simples obrigada seria pouco. - Digo a ele que se aproxima de mim, ele coloca suas mãos em minha cintura e fica me olhando, olho para os seus lábios, sinto muita vontade de beija-los novamente.

E então ele olhou bem nos meus olhos e pegou em minha mão, o seu toque quente fez com que me subisse um arrepio, ele sorriu se aproximando ainda mais de meu corpo. Eu pensei em recuar, mas já esperava por aquele momento a tanto tempo que preferi permanecer. Ele subiu suas mãos até os meu cabelos e se aproximou mais. Nossos olhos foram lentamente se fechando até que nossos lábios se encostaram e sua língua quente veio invadindo a minha boca e eu a deixei entrar. E embora eu não seja tão boa, tendo apenas beijado alguns antes, eu ainda estou disposta a apostar que um beijo assim, um beijo tão completo e transcendente, é uma coisa única na vida. E quando ele se afasta e abre seus olhos e eu abro os meus, dou um sorriso. - Eu amo o seu sorriso Paulina Martins. - Ele sussurra a mim, coloco minhas mãos em volta de seu pescoço e fico na ponta dos pés, logo Carlos Daniel me pega ao colo e me rodopia.

— Sinto que estou me apaixonando por você e tenho medo de me ferir. - Digo a ele ainda agarrada o abraçando. Ele passa sua mão em meus cabelos e me dá um selinho. - Eu- Ele diz e dá outro selinho. - estou - mais um selinho. - Apaixonado. - Outro selinho. - Por você. - Ele responde e me dá outro selinho. Mais tarde ele me leva para o apartamento de Jilian novamente e se despede de mim. Assim que entro e encontro Jilian jantando, vejo que tem companhia, mas não era um homem e dessa vez parecia uma colega, as cumprimento e vou para o meu quarto. Tomo um rápido banho e me deito. Não demorou muito e logo peguei no sono. Só queria sonhar com ele.

Paola...

Era a hora do jantar, meus pais estavam trocados e estavam esperando meus avós, me troquei e desci para os receber também, e ainda mais tarde iria dormir na casa de Douglas, Adelina iria me ajudar a escapar. Meus pais não se davam conta quando eu sumia.

Assim que desci meus avós chegaram, ouvi o carro estacionando. Logo eles abrem a porta e minha avó Piedade se aproxima retirando o seu lindo e fino casaco e coloca nas mãos de Lalinha e depois meu avô Victor também o faz. Nos cumprimentamos, mas a surpresa ainda não havia acabado. Um jovem entrou também e todos estranhamos.

— Paola, minha querida. Esse é Joshua. O rapaz ideal para você. - Meu avô diz e acende um charuto, meus pais me olham assustados. - Aquele outra rapaz, Douglas. É inapropriado para namorar minha neta. Não sei como seu pai abençoou esta relação. Joshua é adequado. - Meu avô complementa.

— Ele não é adorável? - Minha avó comenta, Joshua cumprimenta todos e fica parado a minha frente, como se ainda fosse séc. XIX que escolhiam meus pretendentes. Que palhaçada era aquela? Mas, como sempre não disse nada. Cumprimentei Joshua e tive que jantar com ele e meus avós me empurrando para ele. E sem me dar conta, amanhã eu tinha um encontro marcado com Joshua.

Paulina...

— Eu amo você Paulina. - Novamente Ian me diz. Eu o abraço, mas logo o solto e fico perto dele, Carlos Daniel.— Me desculpe Ian. Eu também te amei. Te amo. Mas, você não está mais aqui. E agora meu coração pertence a ele. - Eu digo e Carlos Daniel olha para mim, seguro a mão de Carlos Daniel e nossos dedos se entrelaçam. Me viro para ele.— Eu te amo Carlos Daniel.

Existem alguns sentimentos que se recusam a ir embora. Eles são pequenas distrações, sussurrando em seu ouvido. Algumas coisas simplesmente ficam sob a pele… Tente o que quiser… você não pode ignorar seus instintos. É como dizem: sempre siga sua intuição.