Capítulo V – Vampirismo (Parte I)

08 de novembro de 2009

Minha cabeça está girando. Demais.

Eu não acredito que pude ser tão idiota a ponto de ser facilmente ludibriada por um par de olhos verdes. E pelos cabelos loiros. E pelo aperto forte. E pelo charme. Bem, pelo conjunto da obra.

Tristan, eu te odeio. Seu vampiro maldito.

É, como assim ele é um vampiro?

A resposta é simples. Ou nem tão simples assim.

Deixe-me explicar, primeiro, como descobri essa história.

Era uma e tanto da manhã e, ao contrário do que gostaria, eu não estava deitada em minha caminha quentinha, mas no cemitério fazendo a patrulha. Pela primeira vez, vi um vampiro sair da cova – sabe aquele clipe do Michael Jackson em que os mortos vivos saem das covas? Então, é mais ou menos daquele jeito – e quase fiquei com pena de matá-lo, porque ele estava perdidinho.

Nathan insistiu que queria me ver patrulhar, mas acha que o levei? É claro que não. Tenho plena noção do quão perigoso é ir até o cemitério à noite e, aliás, eu não poderia ficar tomando conta dele com todos os vampiros que encontrei. Portanto, eu deveria ir até sua casa assim que terminasse meu trabalho.

Logo depois que eu estaqueei o vampiro recém-nascido (nascido?), ouvi os passos conhecido de Tristan atrás de mim. Diga-se de passagem, quase morri, porque não é novidade nenhuma que eu não consegui esquecer o toque frio dos seus lábios.

-Olá.

-Oi – eu me virei para ele, com a maior cara de idiota que você imaginar.

-E então? – ele sorriu torto, convencido – O que eu perdi?

-Nada demais – dei de ombros, como se não tivesse estado me perguntando onde ele estava, até o momento.

-Há mais vampiros por aqui – Tristan mexeu com o nariz (algo como A Feiticeira) e então fez uma careta – E mais humanos.

-Nathan? – okay, eu tinha ou não tinha dito pra ele ficar em casa?

-Arrombadores de túmulos.

-Me diga, o que leva uma pessoa a arrombar um túmulo? – eu revirei os olhos.

-Há coisas valiosas dentro de um túmulo, Anne – ele passou a mão por minha cintura, me fazendo tremer – Por exemplo, nossa querida criatura enviada pelo diabo queria ossos.

-E por que pessoas comuns iriam querer ossos? – fazia sentido?

Se fazia sentido, eu não sei, só sei que se ele continuar com aquela mão me segurando forte, eu vou morrer.

-Se você tivesse visto metade das coisas que eu vi, teria milhões de respostas na ponta da língua.

E esse foi o primeiro indício de que ele viveu muito mais do que aquela carinha linda e jovem aparentava. Mas eu reparei nas coisas que ele fala? Não, uma vez que eu só consigo reparar que A MÃO DELE ESTÁ NA MINHA CINTURA, MERDA!

-Me dê um exemplo – pedi, a voz falha de tanta vontade de... (paremos por aqui, sim?).

-Há pessoas que pegam ossos ou o que mais houver só pelo prazer de fazer uma coisa errada – ele sorriu, cínico – Diga se eu estiver errado.

-Que seja – resmunguei, finalmente criando forças para afastá-lo um pouquinho (só um pouquinho) de mim – Eu nunca assaltaria um túmulo.

-Sério? O que está fazendo no cemitério a essa hora?

Idiota.

-Caçando vampiros, imbecil.

-Sério? – quem se importa se ele estava zombando de mim, aquele miserável? – Quem você acha que acreditaria nisso, hein?

-Não preciso que ninguém acredite. Só estou fazendo o meu trabalho – retruquei, bufando irritada.

-Se alguém te pegar aqui – ele deu um sorriso malicioso que me arrepiou a alma -, o que você diria estar fazendo? Não diga que diria a verdade, me poupe, querida.

-É claro que eu não diria que estou caçando vampiros. A não ser que eu queira ir parar num hospício – fiz um bico indignado – E afinal, desde quando a conversa passou a isso? Você não estava tentando me contradizer, afirmando que eu assaltaria um túmulo?

-Nunca disse isso.

Idiota, mil vezes idiota.

-O que nós vamos fazer com os arrombadores? – perguntei, tentando mudar de assunto e me acalmar pra não socar aquela carinha linda.

-Nada – Tristan deu de ombros, o imbecil – Não é nosso dever.

-Mas...

-Eles não são vampiros, Anne – ele revirou os olhos, como se pedisse paciência – Lembre que há alguns vampiros por aqui.

-Quantos? – indaguei.

-Uns... Quatro ou cinco – sorriu torto ao ver meus olhos se arregalarem – Você é mais forte que todos eles juntos.

-Mas eu não sei lutar direito! – okay, quem acha que eu estava entrando em pânico erga a mão!

-Eu sei. Some a sua força e a minha experiência – experiência de mais de século, mas eu ainda não sabia disso, porque estava concentrada demais na mão firme na minha cintura pra pensar em perguntar quantos anos ele tinha.

-E se eu enfiar a estaca em você, por acidente?

É o que eu deveria ter feito.

-Aí eu vou morrer – ele crispou os lábios e soltou minha cintura.

-É uma hipótese a considerar – brinquei e tremi com o olhar metralhador que recebi – Hei, calma aí garoto.

-Não fique falando assim – resmungou, fazendo bico e passando a mão pelo cabelo.

Mão esta que estava, há poucos segundos, confortavelmente colada a minha cinturinha. Oh, devo dizer que, apesar de estar morrendo de raiva, eu adorei aquele vampiro maldito me segurando.

-Okay, desculpe – murmurei, sem saber aonde tinha errado – Eu juro que não vou te matar.

-Jura? – ele sorriu perfeitamente torto.

-Juro – ergui a mão direita – Juro solenemente que não vou te matar.

Maldito foi a hora em que eu jurei.

-Assim está melhor – mas, como eu temia, ele não colocou a mão na minha cintura de novo.

Ah...

-Trip – ele me encarou, colocando as mãos nos bolsos da capa preta – Eu tenho algumas dúvidas, acho que você pode me responder.

-Diga.

-Como surgiram os vampiros, exatamente?

-É meio complicado. Um dia eu te conto – ergui uma sobrancelha – O que foi? Eu sei apenas o que me foi dito no meu tempo.

Seu tempo? Século XVIII? Mais ou menos.

-O que foi dito no seu tempo? – perguntei meio zombando, sem nem sequer imaginar que o \"meu tempo\" era há realmente muito tempo.

-Que eles são demônios que possuem um corpo morto, por isso eles não tem alma. Os demônios, há tempos, quando eu digo tempos, quero dizer tempos mesmo – Tristan sorriu torto – Esses demônios viveram aqui na Terra, antes da chegada dos homens. Os vampiros são criaturas mestiças, pode-se assim dizer. Eles não pertencem nem inteiramente aos monstros – riu rouco e curto – e, como deve ter percebido, nem aos humanos.

-Mas como eles surgiram? Charles Darwin? – sorri o meu melhor sorriso.

-Talvez – deu de ombros – É uma dúvida, ainda.

-Então, o que acontece quando eles morrem?

-Eles viram fumaça. Vamos lá, esperava perguntas mais inteligentes. Creio que você já viu um vampiro virar fumaça, não é?

-Não, idiota – revirei os olhos – Quero dizer, o que acontece com o demônio dentro deles quando morrem?

-Ah, sim – ele sorriu, procurando algo dentro do bolso – Não tenho idéia. Houveram alguns casos de vampiros que foram até o inferno e voltaram (N/Fani: Angel *-*), mas veja bem a diferença, eles terem ido até o inferno não significa que tenham morrido, no sentido propriamente usado da palavra para... (eu juro que ele iria dizer \"para nós\", mas pigarreou e completou com um \"para eles\").

-Como é o inferno?

Tristan olhou para os próprios pés e ficou em silêncio. Algo me disse que fiz a pergunta errada, mas se tem uma coisa que não volta atrás, são as palavras que saem de nossa boca.

-Deixa pra lá – balbuciei, sem entender o motivo daquela apatia toda.

-É terrível – respondeu, finalmente erguendo os olhos para mim – Pense no terrível e multiplique. Ao menos, é o que eu acho que deve ser.

E, naquele momento, eu entendi que ele não achava. Ele sabia.

-Tristan, esquece.

-Os vampiros – ele ergueu o nariz e fez, de novo, o gesto da Feiticeira – Estão por perto.

-Perto como? – indaguei, num sussurro, me aproveitando da situação para me aproximar.

-Não adianta sussurrar, lembra que eles têm super audição? – revirou os olhos, segurando meu braço firmemente (oh meu Deus, eu vou morrer só de lembrar!) – Perto do tipo que pode nos atacar a qualquer momento, Anne.

-Okay, okay – puxei o braço, emburrada, cruzando-o.

Para minha imensa alegria, ele puxou-me novamente, de súbito, me empurrando (e, graças às minhas preces, indo junto) para dentro de uma tumba. Fiquei ofegante (quem não ficaria, com um loiro daqueles te segurando, o corpo bem definido colado ao seu, os lábios à milímetros do lóbulo da sua orelha, os cabelos majestosamente mexendo com o vento, a mão passeando por sua costas... Okay, chega, chega, chega! Acho melhor parar por aqui com minha narrativa) e encostei a cabeça em seu peito, notando que era, estranhamente – bem definido? Sim, também – silencioso.

É claro, vampiros não tem pulso. Eu sou uma besta por não ter percebido antes, diz aí.

-Fique quieta, sim? – disse, me deixando arrepiada.

-Eu não iria...

-O que foi que eu disse?

Bati de leve (eu descobri que não sei mais bater de leve nas pessoas) em seu peito, fazendo-o me segurar mais forte. Sério, eu juro que se soubesse que sua reação seria essa, teria batido antes. Não agora que sei que ele é um vampiro, quis dizer antes. Ou não? Imagine a minha cara de pensativa.

-Está ouvindo passos? – perguntou ele, olhando atentamente para os lados.

Concordei com a cabeça. Infelizmente, ele me soltou. Droga, já disse o quanto odeio quando Tristan faz isso? Meu bico ficou do tamanho de um dia inteiro e cruzei os braços, indignada. Ele esticou-se e pegou um crucifixo que estava pendurado na parede da tumba, silencioso como um gato... Espera aí, tem algo errado nessa cena.

\"Por que ele está fazendo cara de dor, sua mão está emitindo fumaça e o ambiente começou a cheirar queimado?\", pensei.

Foi então que, milagrosamente, eu o encarei. Ele mordeu o lábio branco, como se estivesse se controlando para não gritar. Aquilo devia doer, apostei comigo mesma. Pessoa idiota, tanta coisa para pensar e eu penso na dor que ele deve estar sentindo. Coitadinho.

-Tristan – murmurei, vendo cada vez mais boquiaberta sua mão ficar vermelha e cheia de bolhas – Tristan... Trip... Por favor, o que... TRIP!

O grito foi porque eu, tão concentrada na mão de Tristan, perdi-me no tempo e não percebi que havia quatro vampiros atrás de nós e que ele jogara a cruz neles – cruz esta que, por sinal, passou a centímetros de minha cabeçinha linda -, fazendo-os se afastarem.

-TRISTAN SEU IMBECIL! – berrei, sem entender o que estava acontecendo ao meu redor.

Só percebi que estava parada no meio da tumba como uma anta quando vi que ele começara a distribuir porrada pra todos à minha volta. Vi um vampiro moreno, o rosto transformado – já comentei o quanto eles ficam feios quando se transformam? -, saltar para cima dele, que já lutava com outro vampiro. Sem pensar duas vezes, puxei o vampiro e o fiz cair de costas em cima de mim, lhe dando uma chave de braço. Ele tentava se desvencilhar, mas fazer o quê se sou mais forte? (Convencida? Não...)

-ANNE! – ouvi-o gritar.

Quase no mesmo instante, outro vampiro veio pra cima de mim. Reuni minhas forças e lhe dei um chute com os dois pés, o que me fez perder o vampiro que estava imobilizado, jogando o outro para o outro lado da tumba, que tremeu consideravelmente.

-NÃO FAÇA MAIS ISSO OU VAI SE MATAR SOTERRADA! – Tristan me deu uma cotovelada com a delicadeza de um elefante, enquanto distribuía uma série de socos no rosto feioso de um vampiro.

-CALE A BOCA E ME DEIXE LUTAR! – retruquei, tentando me concentrar na minha própria batalha e não na dele.

Isso porque eu estava vencendo e ele estava perdendo.

-TRISTAN! TRISTAN! – chamei, ao que o vi cair no chão e não levantar.

É claro que a minha vontade era a de ir até lá e o levantar, mas as coisas não são tão fáceis assim e havia três vampiros entre nós, sendo que um deles lutava bravamente comigo. Saquei minha estaca, tremendo, e acertei em seu coração, fazendo-o virar fumaça – já comentei que a fumaça deles tem um cheiro engraçado?

-TRISTAN! – chamei mais uma vez, mas ele continuava caído embaixo do vampiro, que lhe socava o rosto perfeito (oh meu Deus, e se deixar marcas?) e chutava-lhe a barriga – TRISTAN!

Tão preocupada estava com ele que me perdi na minha luta e os dois vampiros vieram juntos para cima de mim, me derrubando com estrondo. Bati minha cabeça com força e minha vista ficou turva, não me permitindo enxergar de onde estava vindo aquele soco. Tentei segurar o pulso do vampiro, mas só o que consegui foi mais um soco bem desfechado no meu nariz, que começou a sangrar.

Merda. Sangue e vampiros num recinto não pode ser uma coisa boa.

-ANNE! – senti o vampiro ser tirado de mim e o cheiro da fumaça, junto com a voz de Tristan – ANNE! Você está bem?

Podia perceber que ele estava perto de mim pelo seu hálito. Concordei com a cabeça e, como que por mágica, assim que viram que eu estava bem, os dois vampiros restantes vieram pra cima de Trip, deixando-me sem proteção. Aos poucos, minha vista foi voltando e o vi apanhando vergonhosamente dos dois vampiros, que gargalhavam como se bater nele fosse uma grande conquista.

-HEI! – gritei, a cabeça latejando como o inferno – DROGA OLHEM PRA CÁ!

Por que, me diga, por que eu fiz isso?

Ah sim, porque eu sou uma idiota.

Os vampiros vieram pra cima de mim (isso estava virando rotina nessa luta) e deixaram Tristan, que se escorou na parede para não cair, os cabelos tapando o rosto machucado. Fui presa pelos braços e pelas pernas, podendo apenas mover minha cabeça, que doía suficientemente para que eu não quisesse mexer com ela.

-TRIP! – chamei – TRIP! TRIP! TRIP! TRIP!

-Tristan? – o vampiro que estava segurando meus braços me encarou, desconfiado – Tristan?

-Quem é você? – o outro perguntou para mim.

-Ela é a Caçadora – a voz de Tristan saiu meio rouca, de trás do vampiro, que logo virou fumaça.

Aproveitei a chance e dei um giro mortal (giro mortal? De onde tirei isso?), fazendo com que minhas pernas alcançassem o rosto do vampiro que segurava meus braços. Ele recuou e Tristan, mais forte do que imaginei que estivesse depois de ter apanhado tanto, chutou seu peito por sucessivas vezes e depois cravou-lhe a estaca no peito.

-TRISTAN! – ele se abaixou e ficou mexendo nas cinzas do vampiro que acabara de matar, quando me aproximei correndo.

-Não chegue perto – pediu, a voz ainda rouca.

-Por quê?

A mão com o crucifixo, a pele fria, o coração silencioso.

-Tristan – minha voz também saiu estranha quando segurei seu ombro e o virei para mim – Tristan?

Sim, ele estava transformado.

-O que fizeram com você? – perguntei, as lágrimas começando a aflorar.

-Eu deveria ter contado, sei disso – ele voltou a ficar lindinho – Me desculpe.

-ME DESCULPE? – explodi – TRISTAN SEU VAMPIRO BASTARDO! VOCÊ ME PAGA, SEU INFELIZ!

Não que eu quisesse realmente matá-lo (quem em sã consciência, mataria uma coisa linda daquelas?), mas na hora, foi a única coisa que achei que aliviaria a minha raiva.

Bati em seu rosto com força e ele fez uma careta, mostrando que apesar de não estarem aparecendo, os machucados estavam ali. Eu comecei a chorar e a bater, com todas as minhas forças, até que ele segurou meus pulsos e se transformou de novo, ficando com aquela cara de mau que... por Deus, esqueçam que eu diria que era sexy.

-Anne, me ouça – pediu, o hálito fétido da morte vindo na minha direção – Eu sinto muito você ter descoberto desse jeito.

-Eu vou te matar – saquei a estaca de novo, apontando-a para seu peito.

Ele ficou me encarando, como se quisesse ler minha mente para saber se eu seria capaz mesmo de matá-lo.

-Eu não tenho medo de te matar – ameacei, encostando a ponta da estaca na roupa preta (roupa preta e vampiros, coisa mais clichê...) que ele usava.

-Mas não quer fazê-lo – segurou minha mão sobre a madeira, com força.

-Quero – okay, eu estava mentindo descaradamente.

-Então me mate – aquele olhar me acaba – Vamos, me mate, Anne. Já que isso a fará se sentir melhor, me mate – e quando ele se transforma de novo, tudo fica bem.

Se eu sou idiota? Sim, eu sei ser.

Estreitei os olhos (talvez, uma forma de fazer com que ele parasse de me olhar daquele jeito?) e empurrei a estaca, mas em vez de ela entrar no peito de Tristan e fazê-lo virar cinzas, tive que ser segurada para não cair para trás. Foi como se uma força estivesse entre nós, um escudo que o protegia de mim.

-Você jurou que não me mataria – lembrou-me.

-Juras podem ser desfeitas – tentei enfiar a estaca de novo (só eu pensei besteira?), mas o escudo estava lá.

-Não por uma Caçadora.

Calcule a minha cara de pata choca quando o ouvi dizer isso. Calcule a minha vontade de me matar ao escutar aquelas palavras. E calcule a primeira coisa que passou pela minha cabeça. Não, você nunca vai adivinhar. \"Ainda bem que eu tenho um motivo\". Ainda bem que eu tenho um motivo. Um motivo pra não matá-lo, um motivo. Era isso o que eu queria, depois de ter descoberto que ele nem sequer tem uma alma?

-Hei, aonde você vai? – gritou Tristan, correndo atrás de mim ao me ver saindo da tumba apressada.

-Pra longe de você – respondi, curta e grossa.

-Assim você me ofende – ele sorriu, segurando meu braço.

-Me largue – pedi, quase chorando.

-Anne White – nome inteiro? Ele sabe meu nome inteiro? Isso é sério?

-Tristan, me solte – uma lágrima rolou pelo meu rosto e Tristan a limpou com as costas da mão – Me solte, sim?

-Não.

Ele me puxou e me fez deitar a cabeça em seu peito mudo. Empurrei-o com força pra longe de mim, fungando para evitar que o restante das lágrimas fosse derramado consecutivamente.

-Nos vemos amanhã! – berrou, enquanto eu saía correndo do cemitério.

Caminhei pela rua devagar, contando os passos sem me concentrar em nenhum deles em especial. Minha cabeça estava girando. Demais. Eu não acreditava que pude ser tão idiota a ponto de ser facilmente ludibriada por um par de olhos verdes. E pelos cabelos loiros. E pelo aperto forte. E pelo charme. Bem, pelo conjunto da obra. Tristan, eu te odeio. Seu vampiro maldito. Eu te odeio com cada força que tenho por me fazer gostar tanto de você, por ter aparecido na hora errada, por ser a única coisa em que consigo pensar ultimamente. Tristan, eu te odeio. Seu vampiro maldito.

Quando dei por mim, estava em frente à casa de Nathan. Oh meu Deus, Nathan. Como eu pude traí-lo com aquele par de presas ambulante?

Sentei-me na calçada e enterrei o rosto nas mãos, completamente desorientada. Okay, você deve estar achando que é um exagero monumental, mas acorda. Como se não bastasse eu ter descoberto há pouco tempo (muito pouco, pra falar a verdade) que a minha missão no mundo é caçar seres infernais e que um deles, que eu não conseguirei derrotar, caminha por aí, acabo de perceber que o cara por quem estou apaixonada é um vampiro, uma das raças que eu TENHO que matar.

Espera. Apaixonada? Eu não estou apaixonada por ele. Não mesmo.

Ou será que estou?

Oh, o que eu farei?

Pego uma pedrinha e jogo na janela de Nathan. É claro que eu, com meu medo de altura, não vou subir pela parede até a sacada. Da última vez, eu tinha Tristan para me levar até lá. Ele aparece na janela, só com uma calça de moletom, o cabelo emaranhado. Okay, nem preciso dizer que só aquela visão já me fez secar as lágrimas e sorrir.

Quanto melhor eu o conheço, mas o acho perfeito.

Será que ele me viu? Então por que está voltando pra dentro da casa? Ah, sim, idiota, pra abrir a porta pra você. Imbecil.

-Anne? – Nathan boceja, abrindo espaço pra que eu entre.

-Posso entrar?

Tristan me disse isso, na outra noite. E eu o convidei pra entrar na minha casa. Como pude ser tão burra, me diga?

-Claro. O que aconteceu? Encontrou aquele bicho de novo?

Respirei fundo.

-Tristan é um vampiro.

Acho que, por essa, nem ele esperava. Nathan abriu e fechou a boca várias vezes, passou a mão pelos cabelos mais vezes ainda e, por fim, encostou-se na parede com uma cara de idiota. Cara de idiota esta que eu sentia que estava parecida com a minha.

-E então? – perguntei, num sussurro.

-Vamos subir.

Em uma situação normal eu nunca, jamais, never, never forever, subiria para o quarto de Nathan. Mas aquela não era uma situação normal. Primeiro, era tarde da noite e os pais dele estavam em casa. Segundo, Tristan era um vampiro. E terceiro, contraditoriamente, eu sinto que estou mentindo dizendo que não subiria para seu quarto.

\"Hei, vamos fazer sexo selvagem no meu quarto?\"

\"Não, porque Tristan é um vampiro.\"

É mais ou menos assim que eu estava.

Quando ele fechou a porta atrás de si, sentei-me na cama e olhei o relógio na parede, marcando quatro e meia da manhã. Era tarde e daqui a algumas horas amanheceria.

-Como você soube? Sobre o loiro? – perguntou Nathan, sentando ao meu lado e passando o braço por mim.

-Ele se transformou pra me ajudar a lutar – contei – Nathan, ele nem sequer tem uma alma!

-Talvez ele tenha – deu de ombros.

-Já olhou dentro dos olhos dele? São vazios – murmurei. (N/Fani: fala de Angel, lembram?).

-Se ele não tem uma alma, ele não tem a capacidade de gostar de nada nem ninguém – até aí, certo – Então, por que ele está do nosso lado?

-Eu... Eu não sei.

E eu ainda não sei. Ainda. Mas precisava descobrir.

-Nathan, desculpe te acordar – balbuciei, levantando-me.

Eu precisava descobrir.

-Aonde você vai? – perguntou.

-Vou descobrir o que está acontecendo por aqui.

Respirei fundo e saí de lá. Próxima parada?

Casa do Matthew.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...