O Diário Secreto de Anna Mei

Mascotes, Donos Pervertidos e a Lenda da Vitamina Milagrosa


Olho para trás e Dennis está lá, hãn?

– Era você quem estava nos seguindo? – pergunto, pondo a mão no peito com o susto.

– Talvez... – ele fala, com o olhar sério, mas depois sorri.

– Oi gente... – Beatrice chega e – Aimeudeus! Mei! Que vestido incrível! Onde arrumou isso?

– Eu... ganhei – sorrio, não posso dizer de quem ganhei isso.

– Bom, eu pensei que você não vestia coisas assim, mas já que veste... – ela entra, eu entro junto e Dennis vem atrás. – Aqui! – ela traz uma caixa grande com vários tecidos, pega um preto e mostra, é um vestido.

Um vestido complicado, tem rendas e babados, com duas alcinhas finas.

– Eu fiz – Beatrice fala toda sorridente. – Eu faço isso às vezes, tenho uns três vestidos que servem em você, agora vista!

Ela me empurra para dentro do quarto. Visto a coisa, até que é confortável, saio do quarto e me olho no espelho da sala. É bem... chamativo, as costas... bom, não foi usado tecido nenhum pra fazer as costas, quero perguntar se Beatrice estava sem dinheiro pra comprar tecido o suficiente mas não perguntei.

– Estou me sentindo uma prostituta – falo.

– Ah, deixa de ser chata! Ficou bonito! Não ficou, Dennis? – ela olha pra ele, e ele está com a mesma cara de quando nos encontramos algumas horas atrás, me encarando.

– Ficou sim! – ele sorri, mas depois para e olha para o chão... Cara esquisito.

– Viu... Bem que podia ter mais seios, mas quem sabe eles ainda não cresçam? – ela dá uma piscadinha. – Sabe, eu ouvi falar de uma vitamina que se toma para aumentar o crescimento, posso arrumar algumas pra você

– Você continua um doce... – falo ironicamente e Beatrice sorri. – Tão doce quanto essa meleca que está escorrendo do seu nariz.

– Não tem meleca no meu nariz! Que seja, você ficou fofa, e Dennis aprova isso...

– Quê? – Dennis diz atordoado, pareceu que ele estava com a cabeça longe enquanto eu e Beatrice discutíamos.

– Bom, hoje é domingo e eu prometi ao Alex que ia passar na casa dele pra devolver uns jogos, até mais... – o estranho é que ela chegou, ficou em casa cinco minutos e saiu.

– Então... Foi um bom encontro? – Dennis senta no sofá.

– Foi... – começo a dizer, mas a campainha toca. – Ai-chan? – a tia de Dennis está parada na soleira da porta...

– Ah, Mei-chan, desculpe incomodar, é que eu sabia que o Ryuu estava aqui e queria avisar pra ele começar a empacotar as coisas dele bem depressa... – ela faz uma cara de reprovação a Dennis.

– Eu vou... depois... – ele está despreocupado... ao menos é o que parece.

– Você sabe que eu tenho que deixar o apartamento vazio antes de ir! – ela fala.

– Você só vai no mês que vem, pra quê a pressa? – ele fala, parece estar ficando bravo... Vão discutir?

– Tudo bem – ela revira os olhos – Mas, por favor, faça o que eu te pedi.

E sai, bagunçando meu cabelo.

– Ai-chan vai viajar? – falo, mas ele balança a cabeça.

– Eu te fiz uma pergunta primeiro, responda...

– Hãn? Ah, aquilo? – falo, sentando no sofá – Não foi um encontro, encontro... Foi só um passeio... Só estávamos zoando com a cara dos vendedores...

– Sei – ele olha desconfiado.

– Mas por que quer saber?

– Por que em um dia concordei em ajuda-la a ficar com o Gabriel, no outro você não me diz que não está mais a fim e agora aparece com ele, vestidos com roupas chiques no que me pareceu ser, um encontro.

Calma... Ele falou tudo isso com calma, mas está se segurando.

Seria ciúmes? Não, qual é...? Dennis Sakai, com ciúmes de alguém? E esse alguém sendo eu? Nunca, né?

Eu não vou falar sobre o estúdio até ele me contar por livre e espontânea vontade sobre a entrevista... Ou até a sexta chegar, o que vier primeiro.

– Agora à minha pergunta... Ai-chan vai viajar...?

– Vai... Ela vai voltar pra casa dos pais em Kyoto... – ele diz, com a cabeça baixa, o assunto o incomoda?

– Isso deve ser triste... – falo e ele me olha. – Não, é? Ela é a única parenta que tem o sangue da sua mãe, claro fora a sua irmã, mas a Ai-chan é sua tia, irmã da sua mãe... Deve estar triste porque não quer que ela vá, por ter uma lembrança materna sobre ela.

– Não estou triste – ele diz. – Estou com preguiça.

– Hãn?

– Preguiça de ter que empacotar minhas coisas...

Preguiça... Aquela lagrimazinha que você tentou esconder agora pouco não pareceu ser por preguiça.

– Bom... Eu te ajudo – se eu ajudar, quem sabe não fico sabendo mais coisas sobre o misterioso Dennis Sakai...?

Agora estou coletando as roupas de Dennis enquanto ele pega todos os objetos do quarto, ele acaba rapinho e vem me ajudar, são muitas roupas.

– Afinal... Como sua mãe se chamava? – pergunto, não sei por que, mas Dennis foi pego de surpresa.

– Aiko – ele murmura. – Ai e Aiko... Engraçado... não? – ele ri, sem humor algum – Ai diz que quer estar perto da irmã quando fizer quinze anos de morte – ele murmura.

– Ah... Eu não sabia – murmuro.

– Ela morreu poucos meses depois que eu nasci, não é triste... Eu nem a conheci...

– E isso deixa as coisas mais tristes! – falo.

– Não deixa, não! – é incrível como ele consegue ser teimoso, às vezes...

– Bom, esse assunto não te deixa legal, vamos parar de falar isso... – digo, voltando a atenção para as roupas. Não sei por que, mas ver Dennis triste me deixa mal...

– Eu quem devia dizer isso... – ele ri – Não, eu não me importo em falar disso.

– Se importa sim! – falo, dá pra ver nos olhos dele a tristeza de ter perdido a mãe quando bebê!

– Não, não me importo... – ele diz e ficamos calados até completar a última caixa. E então voltamos para o AP da Beatrice.

– Mas espere, – digo quando entramos – Você disse que ela morreu alguns meses depois?

Sempre pensei que fosse “Dennis nasce, mãe morre”, mas parece que o nascimento dele não foi a causa.

– Sim, ela morreu em junho, três meses depois que eu nasci...

– Três...? O seu aniversário é nesse mês? – ele acena com a cabeça – Que incrível... – não, eu não estou pensando em dar um presente pra ele, isso está fora de cogitação.

– Eu não me importo muito... Sabe, de não ter tido mãe... Fui criado por várias babás a minha infância toda...

– Mas e a Elizabeth?

– Elizabeth? Ela é legal, mas eu a conheci com quase sete anos, não dá pra chamar de mãe alguém que não sabe nada sobre você... – ele parece triste... Não, ele está triste!

– Imagino se já te culparam por ela ter morrido...

– Isso nunca aconteceu – ele retruca.

– Sério mesmo...? E você se sente culpado?

– Não... – Esse idiota... Levanto e vou guardar a caixa com os vestidos que Beatrice fez, e quando volto, Dennis está sentado no chão... Está com a cabeça baixa com a expressão mais séria que já vi no mundo.

Me jogo nas costas dele e o abraço, se ele tentar alguma coisa eu dou um jeito, minhas mãos estão bem próximas do seu pescoço.

– Você é um grande idiota... – falo, e ele parece surpreso.

Ele está em silêncio... Ele tem um cheiro bom... Hãn? Devo parar de pensar esse tipo de bobagem!

– Ou talvez eu seja uma grande idiota... – falo.

Ficamos um tempo assim... Ele sentado, olhando o chão e eu de joelhos atrás, com os braços passados pelo seu pescoço, uma posição muito constrangedora já que eu estava de frente ao pescoço dele. Passaram-se cinco minutos, talvez dez, meia hora, podia ser o tempo que for, mas eu não ligo... Afinal é domingo, ninguém tem nada pra fazer no domingo além de assistir ao Silvio Santos.

– Talvez nenhum dos dois seja idiota... – ouço um sussurro rouco. Dennis acordou? Finalmente! Mas... Ah, ele está me puxando para frente.

– Ou talvez os dois sejam completamente idiotas... – digo. Olho nos olhos dele, ele está chorando?

Pelo visto crianças mimadas tem seu lado triste.

– Concordo... Você é a grande idiota! – ele exibe aquele sorriso travesso... Cretino!

– Bom e você é um ET maluco que intitulei agora de Sakai Idiota, maluco, pervertido que admira poças numa sarjeta mesmo sendo rico e que também usa um perfume de lavanda... – falo, ficando vermelha por ter falado do cheiro que senti o tempo todo quando o abraçava.

– Cale a boca, nem que seja por um segundo... – então ele me abraça. O cheiro de lavanda é mesmo bom... Claro, a lavanda, não é só porque está em Dennis... Digo... Ah... Droga! – Acho que não vou aguentar por muito tempo... – ele diz.

– Quê...?!

– É melhor trocar esse vestido, ou não me responsabilizo pelo que pode acontecer... – ele sussurra.

– Hãn? – grito, me afastando. Meu rosto está vermelho.

Corro para o quarto e ponho um pijama de ursinho... É só um short com uma camiseta de manga longa...

– Eu nunca vou me arrepender de te chamar de ET pervertido, Sakai Idiota... – falo, admirando o novo apelido que acabei de colocar nele... Combinou bastante.

– E eu nunca vou me arrepender de te chamar de barulhenta... – ele se joga no sofá... Então é assim? Se sente tão à vontade aqui que pode se jogar no sofá dos outros?

– Eu estava pensando... – sento no outro sofá –... em como seria se eu fosse mais alta.

– Está falando do que a sua irmã disse antes de sair? – ah, ele estava prestando atenção!

– É... – digo.

– Seria a mesma coisa, mas teria que vestir roupas maiores, precisaria de sapatos maiores e... – ele me olha descaradamente.

– E o que? – faço de tudo para não corar.

– Seria estranho eu não ter mais minha baixinha – ele deu ênfase...

– Não fale como se eu fosse seu mascote, Sakai Idiota! – jogo uma almofada nele.

– Bom, está preocupada por não passar de um metro e meio? – ele ri.

Eu fico vermelha, acabo de pensar que... Deixa pra lá... Ah, não...

– Bom... é que... – reviro minha mente procurando algo para falar. – Bom, tanto faz, acho que se eu fosse mais alta teria medo de olhar pra baixo.

– Você tem medo de palhaços, de lugares fechados, de altura... do quê mais? – ele ri.

– Não ria da desgraça dos outros, seu mimado! – falo sem querer. Ele fica branco. – Digo, mimado, no bom sentido, do tipo... – tento enrolar, mas já que saiu não tem como mudar o sentido. – Sabe, você pode ser mimado, mas ainda tem seu lado bom, não é? – depois disso pode me bater com uma raquete, eu mereço.

– É, talvez... Tem algo pra comer?

– Vou fazer miojo... – corro pra cozinha, tudo corre bem até o miojo ficar pronto.

– Anna, você será uma ótima esposa, – ele solta essa frase enquanto come, e eu quase explodo de vermelhidão (daqui a pouco tudo estouraria e seria como o pum mais fedorento do mundo.) – Vai, come aqui... – ele pega um pouco do macarrão com o garfo e me oferece – se não comer não vai crescer...

Eu não sei, acho que ele é um retardado mental... Se for, eu também sou, já que comi o macarrão.

– Boa garota – ele bagunça o meu cabelo, um prêmio à mais nova mascote.

– Ah, vá arrumar o que fazer! – saio de perto dele, não acho que seja seguro ficar perto de um pervertido... Bom, eu tenho certeza disso.

A noite foi basicamente como sempre, Dennis sendo pervertido dizendo que talvez meus peitos fiquem maiores se e resolver tomar a vitamina. Mas isso foi idiotice da parte dele... Afinal ele sentiria falta da baixinha reta dele... Daqui a pouco arrumam uma coleira pra mim...

Segunda-Feira/17 De Março

Acordo atordoada, minhas costas doem e alguém está me balançando.

– Acorda, traste! – sinto uma pancada na cara e percebo tempos depois que é uma almofada.

– Quê? – falo, levantando e vendo Beatrice toda embaçada.

– Vai, acorda ou vai se atrasar! – era Beatrice mesmo, ela está com a raiz do cabelo ainda maior, é meio estranho quando se vê alguém assim, quando costuma ser o contrário, o comprimento loiro e a raiz escura. – Levanta!

– Hãn? Dennis não estava aqui? – pergunto, agora que eu lembrei, acho que apaguei no meio da sala, já que estou no chão.

– Sim, ele estava, quando cheguei vocês estavam jogados, cada um num canto diferente da sala, eu o acordei e ele foi pra casa da tia se trocar, acordar ele é muito mais fácil do que acordar você – ela pega outra almofada e joga no meu rosto com força.

– Ai! Eu já acordei! – Beatrice está sendo muito zoeira!

– Eu sei! Tome banho e se vista, seu projeto de guaxinim... – ela diz, ah, me sinto confortável agora, quando éramos crianças (crianças do tipo, Beatrice com quinze e eu com sete) costumávamos nos insultar... No fundo era só uma forma de carinho.

Mas quando chego ao banheiro entendo porque ela me chamou de projeto de guaxinim...

Minhas olheiras estão enormes... Mas porque não projeto de panda, soa muito mais fofo!

Não tenho tempo para pensar nisso, tomo uma banho rápido (nem molho os cabelos, porque estão lindos, é tudo fruto do trabalho daquelas cabeleireiras inconvenientes da revista Charm que disseram que meu antigo cabelo estava uma porcaria).

Visto o uniforme e saio do apartamento, Dennis não está na porta como eu esperava que estivesse, pego o elevador (é sempre uma agonia, mas eu não vou descer nove lances de escada!) quando chego na portaria Dennis está lá, comendo algo que eu imagino ser...

– Isso é pão? – pergunto, é óbvio, mas prefiro perguntar.

– É pão doce, quer? – ele nem me espera responder e já coloca na frente da minha cara e eu mordo... Ah! É o paraíso em forma de pão... Quando percebo, Dennis aproximou o rosto do meu ouvido... – Isso foi um beijo indireto, não?

– Ah, vamos pra escola – desvio o olhar e sigo até a calçada.

Chegando na escola está tudo igual, se não fosse por uma coisa: só temos aula até o meio dia.

E por quê?

Porque teremos o festival do semestre em maio e os preparativos começam agora, teremos aulas até o meio dia e ficaremos até três horas (ou mais, depende se você quiser) na sala planejando.

E o meio dia chega bem rápido, na minha opinião.

– Bem, gente. Vamos começar hoje, decidindo o tema – Lianna, a presidente de turma fala, ela é bem legal, mas parece ser meio psicótica às vezes. – Peço que fiquem em silêncio e que não façam besteiras e quem desobedecer vai se ver comigo... – eu disse que ela era psicótica...

– Que tal uma barraca de beijos? – Jorge fala, ele é membro do trio mais idiota da classe, Jorge, Felipe e Carlos, eles sempre estão juntos e são incrivelmente patetas... um trio de ouro.

– Barraca de beijos? – Lianna fala, levantando uma sobrancelha, indo até a mesa dos três, batendo na mesa com tanta força que o barulho ecoa pela classe – Não é um festival junino! – ela grita – É melhor levarem isso à sério!

– Então um campeonato de xadrez? – esse é Lucas, admire o xará do meu irmão, ele é loiro, tem olhos castanhos é alto e é o mais inteligente da classe.

– Lucas, querido... – Lianna se aproxima calmamente. – Ninguém aqui se empolga com xadrez! – ela bate na mesa dele com força e ele suspira, aborrecido. – Lembrando, – ela volta pra mesa da frente – Temos que fazer algo que não seja muito caro, e para arrecadar dinheiro precisamos fazer algo que nos ajude, algo com o qual possamos vender algo.

Eu me empolgo, e levanto a mão.

– Que tal uma barraca de: “Torture um Mané”? – eu falo e todos me olham. Ellie revira os olhos – Podemos colocar Dennis e esses três ali – aponto para o trio de bocós – e as pessoas pagam para poder pisar neles, e o preço varia, do tipo... punições leves como pisar, puxar os cabelos e beliscões são mais baratos que as punições maiores como cera quente de vela, cutucar com um ancinho afiado seria mais caro... Vamos ganhar muito dinheiro com isso... Sabe quantos sadistas existem por ai? – falo, imaginando que, como Lianna me parece uma sadista das grandes, ela me leva a sério. – Poderíamos até depilá-los com cera quente!

– Poderíamos sim, Mei... – ela fala, ah, esqueci de dizer que ela não grita com as meninas. – Bom, a sua ideia é ótima... – ela diz e o trio de bocós exclama um grande “Hein?!” mas um olhar de Lianna basta para eles ficarem quietos. – Mas está escrito no formulário que não podemos fazer coisas que machuquem as pessoas!

– Que droga!

– Eu sei! – ela diz, mas sussurra pra mim – Se um dia você fizer uma barraca dessas, me chama...

Talvez eu e Lianna temos algo em comum.

– Enfim, mais alguma ideia? – ela bate na mesa.