O Dia em Que... (Coletânea de Oneshots)

O dia em que Visão descobriu o amor (paterno).


Jessica Jones: Visão, você se importa de segurar o meu bebê um instante?

Visão: Eu-- Não.

Visão: Olá, Danielle. Você parece feliz hoje. Essa é a minha joia solar. Olha, eu consigo fazer com que ela tenha cores bonitas!

Jessica Jones: Você é bom com ela.

Visão: Eu descobri uma frequência que crianças consideram tranquilizante. Resultado de bebês inquietos e um pai que não dorme.

Jessica Jones: Oh! Eu nunca pensei... Uh, você tem filhos?

Visão: Não.

(Vingadores: Avante vol. 2 – Anual 001, 2013)

O primeiro choro soou baixo no quarto ao lado, baixo o suficiente para passar despercebido não fosse a audição sensivelmente avançada de um sintozóide o qual estava em modo de repouso até aquele momento. Por certo tempo, ele ficava em pé durante seus períodos de descanso, porém, recentemente, passara a usar camas e sofás, notando uma diferença sensível de conforto, ainda que não necessitasse daquilo.

“Conforto” era algo bastante relativo aos olhos de Visão, entretanto, se tinha uma certeza que poderia afirmar com todas as suas forças, era que não existia, na opinião dele, conforto maior do que dividir seu espaço físico com a mulher ao seu lado, dormindo pacificamente. Visão tomou de um segundo para observar o calmo subir e descer do peito de Wanda, e os fios tom cobre de seu cabelo, espalhados sobre o travesseiro, cobrirem parcialmente seu rosto.

Ele gentilmente pôs uma mecha atrás de sua orelha ao que abaixou para beijar sua têmpora e sussurrar um “descanse, querida” praticamente combinado com o segundo choro, dessa vez mais alto; e Visão pôde jurar, ainda que por um instante, ter visto o canto dos lábios de Wanda se curvar para cima em um sorriso à medida que ele fechava a porta atrás de si para seguir em direção ao quarto ao lado.

— O que significa ser pai?

Aquela pergunta fora proferida por ele em voz alta quando se aproximou dos berços dispostos um em frente do outro, debruçando o corpo na madeira pintada de branco. Às vezes, quando ele estava sozinho, gostava de falar em voz alta – não tão alta para não incomodar Wanda naquele caso específico –, registrando seus pensamentos ao ar como se pudesse guardá-los eternamente em casa ambiente visitado. Especialmente quando Wanda saia de casa, e ele cuidava do serviço doméstico, contar suas epifanias diárias como grandes epopeias era o hábito que mais o divertia nos últimos tempos.

O pequeno William agitava os bracinhos por baixo do minúsculo pijama que vestia, pronto para chorar novamente. Perto do “mêsversário” de seis meses tornando os dias em Sherwood Drive, 2800, Westview, Nova Jersey mais felizes, o gêmeo parecia um tanto agitado, mais que seu irmão, Thomas, cujo choro baixo parecia mais uma bronca pelo irmão não o deixar dormir do que qualquer outra manifestação. Visão tomou o mais novo, ainda que por questão de minutos, entre as mãos, apoiando-o no braço esquerdo e aninhando-o devagar.

— Seria apenas e tão somente trazer material 50% de material genético para a vida que uma mãe bravamente leva em seu ventre por nove meses? – Quase como se entendesse o que seu pai dizia, Tommy balançou a cabeça em descontentamento, e Visão soltou uma risada suave enquanto, com o braço oposto esticado, acariciava seu minúsculo abdômen. – Às vezes duas vidas.

Billy não aparentava estar com fome ou necessitar de uma troca de fraldas, simplesmente com dificuldades para dormir. Visão sentia o minúsculo coração do bebê bater rapidamente na porção do peito que tocava seu antebraço; o pequeno milagre da vida estava em suas mãos, elevado em muitas potências por ser o produto do amor entre uma bruxa e um sintozóide, aparentemente estéril.

— Ou seria algo a mais, uma missão especial de mostrar o mundo para duas pessoas em formação?

Com a ponta dos dedos, Visão fez cócegas no abdômen de Billy, o qual deu pequenos espasmos de risada em resposta. A mão do bebê procurou o polegar do pai, enlaçando-o e apertando levemente, tão devagar que o tempo pareceu passar em câmera lenta para Visão aproveitar aquele instante. Ele sentiu seu peito se encher de alegria com o gesto, enlaçando Billy em um abraço e puxando-o para perto de si.

Repentinamente, ele teve uma ideia, daquelas que traziam um sorriso para os lábios pela travessura intrínseca ao gesto. Wanda iria matá-lo, mas ele não podia deixar de tentar.

Ele silenciosamente destrancou uma janela, grande o suficiente para passar a parte superior do seu corpo levando dois infantes, ainda o permitindo atravessar as pernas pela parede como um fantasma. Trocou os pijamas vestidos para sua roupa com capa em um piscar de olhos, ajustando Tommy em seu colo enquanto sussurrava:

— Que tal vermos um pouco do mundo, pequeninos?

E voou janela afora, com seus dois filhos enganchados nos braços, lentamente subindo aos céus até ter uma ampla panorâmica do bairro e da cidade. Felizmente o clima de verão trazia uma brisa calma, incapaz de trazer problemas imunológicos aos bebês. A lua trazia alguma iluminação para os tetos das casas daquela região residencial, lâmpadas artificiais delineavam as ruas, e quatro pares de olhos se arregalaram como se quisessem observar tudo ao mesmo tempo.

— Eu quero mostrar o mundo todo para vocês. – Disse Visão, com a voz baixa, para apenas eles ouvirem. – Eu quero voar com vocês durante o dia e contar histórias sobre o universo à noite. Quero ver vocês crescerem e acompanhar vocês para sempre.

Visão baixou o queixo para olhar Billy e Tommy, os quais mantinham seus olhos fixos no pai. Por um instante ele imaginou que as crianças estivessem observando a gigante lua prateada atrás do trio, contudo, inexplicavelmente, os meninos olhavam para ele, escutando sua voz, e respondendo com sorrisos e expressões surpresas. Em especial, ambos observavam o brilho da joia da mente, que Visão diminuiu para deixá-lo mais agradável para suas retinas em formação, lembrando até mesmo o brilho das estrelas sobre eles.

Essa tranquilidade se mostrava nos rostinhos sonolentos deles, aos poucos fechando os olhinhos e se acalmando com alguns pequenos bocejos, o que indicava ser a hora de voltarem ao berço. Tomado por uma sensação intensa, Visão abraçou os dois ao conjuntamente, e atravessou a janela novamente devagar, acomodando Billy e Tommy em seus respectivos berços.

— E qual a sua conclusão?

Wanda sorria com a meia luz do quarto, aproximando-se devagar e abraçando Visão pelas costas.

— Quanto você escutou do meu monólogo? – Questionou ele.

— Quase nada. – Mentiu ela, que havia escutado praticamente tudo.

Visão sorriu, olhando os bebês pacificamente dormindo enquanto apertava e acariciava as mãos de Wanda sobre seu abdômen.

— Ser pai significa descobrir que todo o amor do mundo é insuficiente.