A jovem atravessou a aldeia cantarolando enquanto ajustava melhor o furoshiki em suas costas, era o entardecer de mais um dia, ela cantarolava sem perceber como sua passagem chamava atenção dos jovens que voltavam do campo, esguia e graciosa como os belos ramos do bambu era uma presença adorável na pequena estrada, em sua mão balançava um ramo qualquer ao compasso da musica, vestia um belo Kimono rosado, com flores e ramos de cerejeira estampados em fina arte.

Ia com os longos cabelos soltos sobre as costas e descalça. De vez em quando os olhos vivos se voltavam em direção à floresta mais ao longe, sorria consigo mesma, mas não detinha sua marcha.

Mal se aproximou da ultima casa da vila e uma senhora baixa de cabelos brancos saiu para recebê-la.

A moça olhou a anciã com um misto de respeito e amor, o sorriso se espalhando pelas faces coradas.

_Tadaima Kaede-sama!

A velha Miko a olhou, o carinho transbordando no único olho bom.

_Okaeri Rin, por onde andou menina?

A jovem se curvou graciosamente ainda sorrindo.

_Sango-chan precisou de ajuda com as gêmeas, são meninas muito ativas.

A mulher sorriu inclinando a cabeça para o lado.

_Elas me lembram uma menina que conheci a alguns anos, uma que pelo visto nunca aprendeu a andar calçada.

O sorriso da jovem se ampliou, ela deixou o embrulho de lado e se sentou na varanda.

_Gomen, andei tanto tempo descalça que não sou capaz de usar nada nos pés por muito tempo.

A Miko se sentou com alguma dificuldade ao lado da jovem.

As duas permaneceram em silencio por um longo tempo olhando o sol fazer sua curva sobre o céu, logo seria noite, a mulher murmurou:

_Eu me lembro disso, se passaram realmente tantos anos Rin-chan?

Rin olhou atentamente uma borboleta vir em sua direção, estendeu a palma para cima, a borboleta sentou placidamente na palma delicada.

_Sim... Foram anos maravilhosos.

A velha senhora olhou o embrulho que a menina trazia.

_E o que é isso?

A borboleta voou e Rin ainda a seguiu com os olhos por um tempo, a voz era suave enquanto desembrulhava o pacote feito em bela seda.

_Ganhei presentes de aniversário, Inuyasha me deu uma pequena katana para esconder no obi do kimono, Sango e Miroku me deram esse lindo corte de seda.

Kaede sorriu:

_Típico daquele hanyou dar uma arma a uma moça.

A jovem estendeu a katana, algo muito belo e bem feito, ainda sorria.

_Mas eu gostei, um presente muito útil, embora o que eu mais tenha gostado foi o presente de Kagom-ne chan.

Rin tirou algo do embrulho, um pente de cabelo, algo de rara beleza adornado com uma bela flor branca feita de tecido.

_É um lírio da água não é Kaede-sama?

A mulher olhou por um momento a bela peça, com suas mãos nodosas analisou o presente.

_Sim, uma linda homenagem ao seu nome.

Com gestos a Miko pediu que Rin se virasse, o que a jovem prontamente atendeu.

A anciã deslizou o pente sobre os cabelos longos da jovem pensativa.

_Boa sorte tragam seus dezesseis anos minha filha.

Rin permaneceu em silêncio enquanto era penteada, sua voz pareceu um pouco mais apreensiva que o normal.

_Ele virá?

Kaede continuou enquanto as cigarras da tarde faziam sua melodia.

_Ele vem todos os anos.

Rin suspirou.

_Este ano é diferente, é o fim do prazo.

_Hay.

A velha mulher murmurou, a voz caiu uma nota enquanto ela analisava os fios negros:

_Você é feliz aqui Rin?

A jovem suspirou.

_Sim, a senhora é o mais perto de mãe que eu já tive em muito tempo, gosto da vila e de suas pessoas.

_Mas?

Foi à vez da jovem suspirar.

_Em noites de lua eu me pego olhando a floresta, tentando ver o vislumbre do kimono dele, ou de ouvir sua voz, quem sabe ver em um momento de sorte a ponta da cauda.

A jovem enrubesceu baixando a cabeça.

_Kaede-sama... Porque meu coração salta quando ele coloca seus olhos dourados sobre mim? Meu coração sempre dançou de alegria dentro do peito quando o via, era meu prazer me sentar ao lado dele em silêncio e simplesmente contemplar seu perfil... Mas agora, é como se eu estivesse caindo... caindo dentro daqueles olhos dourados.

A mulher posicionou o pente sobre os cabelos da jovem o prendendo. ao lado do rosto. Tocou seu ombro para que ela se virasse e Rin prontamente obedeceu, a bela flor era o ornamento perfeito para o belo rosto cheio de vida.

O olho bom de Kaede Sama estava repleto de amor, e já um pouco de saudade.

_Você é a filha que nunca tive... Eu a amo muito Rin, e sei do seu amor por mim, mas seu coração reage assim à presença de Sesshoumaru porque pertence a ele.

Com o entendimento mutuo de uma decisão que fora tomada a muitos anos e apenas se fortalecera com o tempo, as duas se abraçaram na varanda enquanto as últimas luzes do dia banhavam a copa das arvores.



Ele pousou suavemente na orla da floresta, o rosto solene olhou a lua mais uma vez e com o mesmo caminhar firme de toda a sua vida, o grande Daí Youkai caminhou em direção a vila.



O cheiro dos homens ainda ofendia suas narinas, mas ele o suportava com resignação. Atrás de si Jaken o seguia em silencio puxando o dragonete de duas cabeças Ah Uh.



_ Me permite perguntar algo Sesshoumaru-sama?

O silencio do homem de cabelos prateados o fez prosseguir.

_A Rin chan pode não querer vir conosco.

No mesmo passo firme ele murmurou.

_A escolha é dela.


O silêncio se arrastou por mais longos minutos enquanto caminhavam, o pequeno Youkai olhou seu mestre pensativo.



Ele não era burro, percebia que ano após ano a menina havia se transformando em mulher, e não uma mulher qualquer, uma jovem de rara beleza. Também havia visto o cuidado de seu mestre para com a humana mudar, ele estava mais gentil, mais suave.


E sabia que seu mestre era tudo, menos gentil, fitou disfarçadamente seu mestre. Sesshoumaru olhava para a ultima casa da vila com interesse.


Ela o viu assim que seus passos cruzaram o campo até próximo a casa, seu coração saltou dentro do peito com uma alegria imensa, sem poder se conter Rin correu em direção a ele com os braços estendidos, como havia feito por tantas vezes durante sua infância.



_Sesshoumaru Sama!



Ele olhou sério para a menina que se aproximava correndo, os cabelos ondulados pela brisa fresca da noite, não mais uma menina, uma jovem bela e alegre que o saudava sem um mínimo de medo ou preocupação. Seu olfato a reconheceria em qualquer lugar do mundo.



Kaede estava na varanda e a viu correr refreando o impulso de ir atrás, memórias ruins relacionadas à Youkais eram difíceis de combater, mas Sesshoumaru não fez qualquer gesto de que se sentia afrontado por aquela moça, pelo contrario, ele parou, esperando que ela chegasse até ele.


Sem o menor constrangimento ela se jogou sobre o youkai, apertando os braços ao redor do pescoço dele, Sesshoumaru apenas a segurou pela cintura, saboreando o cheiro da menina que agora desabrochava em mulher, ambos se encararam, dourado contra castanho, ela deslizou os dedos sobre o rosto dele, em uma caricia ousada, Sesshoumaru nada disse, apenas continuou encarando a jovem em seus braços, no seu habitual silêncio.

Muito devagar a baixou, até que os pequenos pés descalços tocassem novamente o solo, as mãos masculinas a soltaram no momento em que ela se firmou.

Jaken a olhou com admiração:

_Rin! mas você se tornou uma moça muito bonita!

A jovem não se fez de rogada, sem aviso segurou o pequeno youkai nos braços e o ergueu do solo o abraçando com força, chegando a rodá-lo no ar.

_Jaken-sama! quantas saudades eu senti de você!

Enrubecido e engasgando Jaken não sabia se tentava sair dos braços moça ou se devolvia o abraço, parte dele também sentira falta da menina, mas engrossou a voz.

_Me solte menina estupida! cresceu só no tamanho e a cabeça continua sem miolos! Como se atreve a me segurar desse jeito diante de Sesshoumaru-sama!

Rin o colocou no chão e sorriu:

_Gomen! eu estava com saudade...

Uma das cabeças de Ah Uh se ensinuou entre ela e Jaken, Rin sorriu e acariciou a cabeça do dragonete de montaria, a segunda cabeça ronrrorou também procurando as mãos da menina. Logo ela distribuia carinhos entre as duas cabeças, conversando com elas e as acariciando.

Sesshoumaru não havia dito uma unica palavra, apenas olhava para ela, a expressão fria, analisando as mãos pequenas e bonitas acariciando a crina de Ah Uh, o som do riso dela, fora um tolo em achar que a menina permaneceria menina para sempre, o cheiro havia amadurecido durante o ultimo ano se tornado pleno de uma jovem cheia de mocidade e saude.

Ele sabia que Rin ficaria melhor entre os humanos, mas mesmo assim, lançou a pergunta que dançava em sua mente.

_Rin... Qual sua escolha?

O coração de Rin voou quando ela ouviu sua voz, a mesma voz rouca e hipnótica que a acalentava em seus sonhos, ela o encarou novamente.

Era o mesmo sempre e sempre, os olhos frios e dourados, os cabelos como prata onde a brisa noturna brincava, muito devagar ela se separou de Ah Uh e ficou frente a frente com ele.

Jaken engasgou quando Rin segurou a mão direita de Sesshoumaru, olhando por um momento os traços daquela mão, analisou as unhas longas e afiadas, deslizou os dedos pela palma, sim... Haviam os calos causados pelo longo tempo de manejo das espadas. Ela Murmurou:

_Eu conheço até os calos destas mãos...

Sesshoumaru nada disse, deixou que ela lhe examinasse, mas em momento nenhum seus olhos se desviaram da moça.

Ela soltou a mão e lançou um olhar para a velha Miko iluminada pela luz que vinha de dentro da casa, a mulher balançou a cabeça afirmativamente. Ela voltou a encarar o Daí Youkai, e sorriu.

_Eu vou onde Sesshoumaru-sama me levar.

Sem mais uma palavra Sesshoumaru se virou para o caminho por onde havia vindo, a voz de Kaede cortou o ar.

_Cuide bem dela Sesshoumaru.

Rin se virou para a mulher acenando um adeus sorridente.

_Obrigada por tudo... Ka san!

De costas Rin não percebia que o Youkai havia recomeçado a andar, já esta a bons cinco passos da moça quando se dignou a responder, no mesmo tom baixo de sempre, apenas Jaken, sempre ao lado de seu mestre ouviu a voz velada e desprovida de emoçoes:

_Eu sempre cuido do que me pertence.

Continuou se afastando mais alguns passos e parou, voltando a cabeça sobre o ombro, Jaken notou que sim, apesar de mal mover os músculos da face seu mestre estava feliz, sentiu mais que viu o prazer com o qual a boca masculina chamava pelo nome feminino.

_Rin.

E como havia feito por tanto tempo, na verdade como havia feito desde o dia em que fora salva pelo grande Sesshoumaru, Rin se virou na direção de seu youkai,sorriu e respondeu já caminhando.

_Hai! Sesshoumaru-sama!