O Culpado

Capítulo 28


O meu celular tocou, e eu vi o único nome que eu realmente queria ver naquele momento.

- Boa tarde. – Eu disse um pouco nervosa.

- Boa tarde, amor. Como foi a sua noite? – A voz meio rouca do Edward me acalmou um pouco. Na verdade, foi o seu tom tranquilo que me acalmou. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que era fingimento, mas eu preferi me deixar ser enganada.

- Péssima. Eu acordei muito cedo. – Respondi com sinceridade e ele riu.

- É, eu também acordei muito cedo. Só não te acordei porque estava com medo de te acordar, mas foi besteira, você estava acordada mesmo.

- Eu também não te liguei por medo de te acordar. – Eu dei uma risadinha, que também era meio forçada.

- Nos vemos no tribunal? – Ele perguntou.

- É, nos vemos daqui a pouco. Beijos.

- Beijos, já estou com saudades.

Eu fui tomar meu banho e me demorei, com a esperança de que a água fosse me lavar por dentro, tirando de mim as minhas ansiedades e preocupações, mas eu estava errada. Eu saí do banho do mesmo jeito que tinha entrado, talvez até pior, porque o julgamento estava cada vez mais perto.

Vesti-me com uma roupa formal, afinal, eu estaria dentro de um tribunal, e depois fui para o meu carro. Antes de partir eu respirei fundo algumas vezes.

Quando eu cheguei ao local do julgamento, a primeira coisa que eu fiz foi procurar algum rosto conhecido. Achei facilmente a Rosálie e a Alice, mas elas não estavam juntas. Estavam disfarçando toda a amizade, caso tivesse algum paparrazi por perto, e eu tinha que fazer o mesmo. Então só dei um sorriso discreto para cada uma e fui atrás do Jasper, com quem eu podia ficar à vontade.

Antes de achar o Jasper eu avistei o Edward. Minha vontade era de dar um abraço muito apertado nele e dizer que tudo daria certo, mas eu não podia. Eu ainda era a ex-advogada do Aro e eu e o Edward preferíamos manter nosso relacionamento em segredo. Lutei contra mim mesma e somente dei um ligeiro sorriso em sua direção, ao qual ele retribuiu.

Eu continuei andando a procura do Jasper, até que finalmente o encontrei conversando com alguém e fui a sua direção. A conversa não parecia importante, somente outra pessoa que iria assistir ao julgamento, mas mesmo assim não a interrompi, já que não tinha realmente nada para falar. O senhor viu alguém que conhecia e deu tchau para o Jasper, me cumprimentou brevemente também.

Meu amigo se virou para mim e sorriu, como para me passar forças. Eu sorri de volta, em forma de agradecimento, apesar de não ter funcionado muito. Aposto que meu gesto pareceu mais como uma careta.

De poucos em poucos segundos eu olhava para o Edward, e ele também estava olhando para mim. E assim se passou o tempo até que finalmente chegou a hora do julgamento.

A defesa ficou de um lado, a acusação de outro. O juiz estava no meio, e o júri na parte direita. Eu e as outras pessoas assistindo estávamos de frente para o juiz.

Ele abriu o julgamento, falando várias coisas, e depois deu a palavra para a acusação.

Maria se levantou e começou a falar.

- Esse rapaz, Edward Cullen – disse, apontando para ele – tem todas as provas e evidencias que foram apresentadas até agora contra ele. Mais do que isso, ele tem o bom-senso contra ele. Ele estava a alguns anos recebendo ordens do seu maior inimigo, um Volturi. É de se esperar que ele iria querer mudar essa situação. O que aconteceu já foi muito bem explicado na primeira parte do julgamento, então não vou entrar nesses detalhes. Vamos aos fatos e às testemunhas:

“Primeiro, a agenda da Jane. Na verdade, ela não está minha posse no momento – ela lançou um pequeno olhar na minha direção – mas isso não importa agora, temos uma foto com os dois compromissos que realmente importam.”

Nesse exato momento duas fotografias apareceram no telão. As duras eram praticamente iguais, a foto de uma folha de agenda, com uma letra pequena e delicada, além disso, estava escrito exatamente a mesma coisa, “encontro com o Edward”, a diferença estava na data e nos horários. Aquele primeiro encontro, em que eles tinham conversado e o segundo, no dia que ela morreu e eles nem chegaram a conversar.

- Como vocês podem ver, ela foi falar com o Edward no mesmo dia da sua morte. – Ela olhou para o júri. – E vocês acham que é só isso? Estão enganados.

A imagem mudou, a folha continuava sendo a folha da agenda, a letra da Jane. Mas o que estava escrito agora era o nome do Edward, com vários coraçõezinhos a sua volta... Eu tinha visto isso no dia anterior! O problema é que o Aro já tinha visto, antes de me entregar a agenda, e tinha tirado foto. Nem tinha me contato nada, aquele filho da put*! Pelo menos o documento ele não tinha achado.

- Bem, acho que isso deixa bem claro o que aconteceu. O réu iludiu a nossa vítima a tal ponto que a fez se apaixonar por ele.

O ódio que eu tinha era enorme, afinal, sabia muito bem que não tinha sido isso que tinha acontecido, mas me controlei e não fiz nada, porque com certeza só pioraria as coisas. Olhei para o Edward, para buscar apoio, mas não foi uma boa ideia. Naquele momento sua expressão também estava meio desesperada, e, principalmente, confusa, já que ele não sabia daquela folha especifica da agenda.

- Tirando isso, encontramos uma arma na casa do Edward. E adivinhem? O mesmo tipo de bala que encontramos no corpo da Jane.

A foto da arma na casa do Edward apareceu. E depois um comprovante de que a bala e a arma eram do mesmo tipo.

Eles não falaram nada do sangue, e eu sei muito bem o porquê. Nem eles esperavam isso, e ficaram confusos. Os irmãos não gostavam de imprevisto, e preferiam trabalhar com aquilo que conheciam. No primeira fase, como fui eu quem fiz a acusação, o sangue chegou a ser comentado. Mas agora eles preferiram deixar somente na lista de provas, mas sem citar isso aqui.

Ela deu um sorrisinho sarcástico e disse: - Meu cliente deseja falar. – Saiu andando para se sentar, ao mesmo tempo em que Aro foi para o seu devido local.

- Promete falar somente a verdade? – O promotor perguntou.

- Prometo. – Ele disse convincentemente. A sua falsidade também me irritou muito, só que mais uma vez eu contei até três e respirei fundo. Não valia a pena perder a cabeça na reta final. – Bem, minha filha era uma menina muito dedicada e que sempre me ouvia. Nós tínhamos um relacionamento maravilhoso e ela seria até a minha escolhida para me substituir nos negócios da família.

“Isso começou a mudar, e eu estranhei, mas pensei que fosse coisa da idade, mesmo assim fiquei mais atento. Percebi que ela estava querendo ir mais para a empresa, e até achei isso bom, mas ela começou a fazer perguntas estranhas, sobre a ética da nossa família, que, claro, sempre foi incontestável. Ela não parecia mais acreditar nisso, e eu, mais uma vez, estranhei, só que novamente achei que não fosse nada, como eu disse, pensei que fosse coisa da fase”

Nesse momento o cínico estava quase chorando, como se realmente tivesse sido traído. E o pior é que ele estava tão convincente que eu sei que se fosse do júri estaria acreditando. Canalha!

“No dia do primeiro encontro com o Cullen ela disse que estava indo para a casa de uma amiga e eu não me importei, porque ela normalmente saia com as colegas, sempre foi uma pessoa muito extrovertida, que gostava de sair.”

“Mas ela voltou mais estranha do que antes, parecia desconfiada de tudo. Isso começou a me preocupar, só que quando eu a perguntava, ela sempre me dizia que não era nada.

“No dia da sua morte – sua voz falhou – ela disse que ia ao shopping e eu, mais uma vez, não vi nenhum problema. Depois disso eu sei tanto quanto as autoridades.”

A essa altura Aro já estava se debulhando em lagrimas, e minha dúvida era quantas vezes ele tinha ensaiado isso.

“Eu tenho certeza que foi ele, ele foi o culpado. Ele, além de matar minha filha, a fez se afastar de mim. Você s têm noção do que é isso? Minha filha passou os últimos meses da sua vida falando somente o necessário comigo e desconfiando da minha ética.”

“Eu dei todo o meu amor, o amor de pai... Dediquei-me para que nada lhe faltasse, mesmo não tendo uma mãe, eu tentei fazer esse papel, e ele fez minha filha passar os últimos dias achando que eu não merecia o seu amor.”

Ele estava chorando mais ainda... E eu via que alguns dos júris estavam querendo chorar também, pior, havia uma mulher que já estava chorando.

É, acho que a situação está uma verdadeira merda para nós nesse momento.