O Coração Contrariado do Do Contra

A família da Roxinha - Parte 1


Do Contra voltou pra casa achando graça no fato de o Dudu ter dado seu número pra Samara. "Ter um irmão mais novo até que não é tão ruim assim...". Mas quando pensou isso, DC ficou meio pra baixo, porque sabia que ia sentir falta de Dudu. Seus pensamentos foram interrompidos quando ele viu o PRÓPRIO caminhando pela rua. DC resolveu gritá-lo, pois o menino já estava longe.

– Dudu?? Ei, Dudu! – Dudu escutou, porque parou por um segundo, mas fingiu que não era com ele e continuou sem olhar pra trás.

– DUDU! Eu sei que você me escutou, para aí! – DC disse, correndo pra alcançar o menino, e conseguiu.

– O-oi Do Contra, tudo bem? – Dudu disse, gaguejando.

– Eu tô, mas VOCÊ não está. Ou pelo menos não deveria, né? Você não disse que estava passando muito mal e que não iria pra escola hoje? Como é que agora você está aí, todo bonzão caminhando tranquilamente? – DC perguntou.

– Sua m-mãe me deu um comprimido milagroso, acredita? – Dudu disse, vermelho.

– Dudu... – DC disse, olhando sério para o menino.

– Argh, tá bom tá bom, eu menti, tá? Eu não estou passando mal! – Dudu disse.

– Ah, jura? Nem deu pra perceber! Cara, porque você mentiu, você acha isso bonito, é? Matando aula... Esperava isso de qualquer um, menos de você! Eu esperava isso até do Nimbus, mas nunca de você. – DC disse.

– Ha-ha, muito engraçado! Foi mal cara, eu nunca faço isso, mas é que não tinha como eu ir pra escola hoje, eu juro! – Dudu disse.

– Não tinha porque? Meu filho, eu sei que matemática não é a melhor coisa do mundo, mas a gente tem que se virar como pode e... – DC falou, mas foi interrompido.

– Não, não é isso! É que... lembra que eu comentei que tinha uma mina muito gata na minha sala? O nome dela é Melissa.

– E? – DC perguntou, confuso.

– Bom, acontece que eu... cheguei junto. – Dudu disse, meio sem graça.

– Hmmm, garanhão! E aí? Ela gostou do seu papo? – DC disse, rindo.

– Gostar, ela gostou... Mas acho que o namorado dela não gostou tanto assim! – Dudu disse.

– Namorado? Ah, fala sério, como você não sabia disso, Dudu...? Mas porque você não quer mais ir pra escola? – DC perguntou.

– Ele disse que se eu pisasse na escola hoje ele ia me encher de porrada. – Dudu disse, olhando para o chão.

– Como é que é??? Você tá sendo ameaçado? Ah, mas eu vou dar um jeito nisso... – DC disse.

– Não DC, eu me viro... ei, você não é amigo do Toni? Geral tem medo do Toni, aposto que se você falasse com ele, ele ia me... – Dudu disse, mas DC interrompeu.

– Eu ERA amigo dele! Ser amigo daquele cara é praticamente impossível! Tudo bem que eu gosto de coisas difíceis, mas aquele ali não é difícil: é impossível! – DC disse.

– Bela hora pra terminar a amizade em? Ei, geral tem medo da Mônica também, quem sabe... – Dudu continuou.

– Sem essa de Toni e Mônica! Sou EU quem vai falar com esse garoto! – DC disse, estufando o peito.

– Você? Tá bom, é capaz de você apanhar também! – Dudu disse rindo.

– Ah, é? Seria uma pena se eu contasse essa história pra minha mãe, ela iria adorar ajudar você... – DC dando meia volta e fingindo que ia embora.

– Nãããõ, eu tava brincando! Sem essa de contar pra sua mãe, pelo amor de Deus! – Dudu disse, desesperado.

– Ah, a psicologia reversa... Então fechou, amanhã mesmo eu vou falar com esse moleque! – DC disse.

– Valeu mano, você é dez! – Dudu disse, animado.

– Dez, não! Sou nota mil! Vamos pra casa. – DC disse.

– Vou passar na padaria do seu Quinzão pra pagar uns doces que eu tô devendo... Aquele portuga é sinistro, a Magali já ficou devendo tanta comida ali que hoje é quase proibida de entrar! Vou lá, tchau!

Do Contra ficou olhando Dudu virar a esquina e foi andando pra casa, pensando no que o menino tinha dito a ele. "Puts, que confusão o Dudu foi arranjar, em? Também, foi mexer com a mulher do próximo...." DC estava perdido em pensamentos quando duas mãos tamparam sua visão e ele ouviu uma voz:

– Advinha quem é??? – DC ouviu uma voz: Samara!

– Humm... Eu acho que é a Xuxa... não, não! Parece mais a voz da Anitta! – DC disse, zoando.

– Afe Do Contra, você é sempre tão chato assim? – Samara disse rindo.

– Só de vez em sempre! – DC disse, rindo também.

– Só você mesmo... Aí, vou te contar uma coisa que vai fazer você cair pra trás! – Samara disse, animadíssima.

– O tio Berto vai voltar a morar aqui???? – Do Contra disse, surtando.

– Claro que não! Meu pai me mandou do Rio dois daqueles pôsteres ultra-mega-blaster raros do "O Palhaço e a Panqueca"!!!! – Samara disse, pulando.

– Quê??? Aqueles de três metros e meio? Impossível, eu já tentei comprar pela internet mas nunca achei, como você consegui três de uma vez só? – DC disse, quase infartando.

– É que o meu pai conhece o tio da prima da vizinha do cunhado da cabeleireira da madrinha de uns dos caras que foi faxineiro do estúdio em que gravaram o filme, lá na Europa! O maluco conseguiu! – Samara disse, quase chorando e emoção. – Ei, por que você não dá uma passadinha lá em casa agora pra ver?

– Brincou! Eu estava voltando pra casa... bom, se não for atrapalhar.... – DC disse.

– É claro que não, bobo! Vem! – A menina disse, puxando DC.

A casa de Samara não era muito longe dali. Na verdade, era na mesma rua do Cebola, como Do Contra pode perceber. Era uma casa grande e amarela na esquina, que por sinal ele nunca tinha reparado a existência. Quando chegaram no portão, Samara procurou as chaves no bolso e não encontrou.

– Ai, não creio! Esqueci as chaves em casa, que droga! Peraí. – Depois de dizer isso, Samara chegou bem perto do portão e começou a gritar: – Estela!!! Abre aqui pra mim, por favor!

Eles esperam por alguns minutos e nada. De repente, Do Contra ouviu alguns passos e barulho de chave abrindo o portão. Uma menina havia aberto o portão. Uma menina mais ou menos da idade do Dudu, de longos cabelos lisos e milimetricamente penteados que agora olhava pra DC com certa curiosidade.

– Até que enfim! Tava fazendo o quê, criatura? – Samara perguntou, entrando e fazendo um gesto para DC entrar também.

– Boa tarde pra você também! Eu estava procurando a ração da Hermione, já que ninguém alimenta esse bicho nessa casa! – A menina mais nova respondeu, entrando com eles na casa.

– Tudo bem, tudo bem... Senta aí DC, o que você quer? Refri, água, suco? – Samara perguntou.

– Nem precisa se preocupar, roxinha. – DC disse.

– Quem é esse aí? – A menina que Do Contra não conhecia perguntou, olhando pra Samara.

– É mesmo, esqueci de apresentar vocês! Mas antes, vai buscar um refri bem gelado pra mim? – Samara disse, se jogando no sofá como se fosse um imperatriz.

– Humpf! Só porque eu estou em dívida com você! – A menina se dirigiu a cozinha, bufando.

– Ué, você não disse que não tinha irmãos? – DC perguntou, confuso.

– É que ela não é minha irmã... que dizer, é sim! Olha, depois eu explico isso que é meio complicado... – Samara respondeu.

Do Contra não entendeu, mas preferiu ficar quieto. Ele estava observando a casa quando de repente tomou um baita susto: A menina que havia acabado de ir pra cozinha, que ficava no lado esquerdo da casa, estava descendo as escadas que ficavam no lado direito da casa. E ainda por cima com roupas totalmente diferentes.

– Ué, mas você não estava ali... – DC falou, confuso.

– Quem? Eu? – A menina perguntou. Samara olhou pras escadas e abriu um grande sorriso.

– Mata a charada! – Samara disse, rindo. DC percebeu.

– São gêmeas... – Ele disse, sorrindo.

Enquanto isso, a gêmea número um voltava da cozinha com um copo de refrigerante.

– Obrigada, querida! Bom, deixa eu fazer as apresentações... Do Contra, essas são minhas primas, Estela e Ester. Estela é a gêmea da cozinha e Ester é a gêmea das escadas! – Samara disse, rindo.

– Ei, sem essa de "gêmea da cozinha"! – Estela disse, fazendo todos rirem.

– Meninas, esse é o meu amigo Do Contra, da minha classe. – Samara continuou.

– Do Contra, em...? Combina com você. – Estela disse.

– Mas você nem sabe por que chamam ele assim! Prazer aí, mano! – Ester disse.

– Chamam ele assim por causa da mania de "contrariar" todo mundo! Ester, sobe lá em cima e pega meus pôsteres novos, sim? – Samara disse.

– Vou contar pra minha tia que você tá fazendo a gente de empregada! Essa parada não tá legal, em? – Ester disse, subindo as escadas.

– Verdade, também vou contar a minha tia! Definitivamente não nasci pra ser empregada! – Estela disse, ajeitando o cabelo e subindo as escadas também.

As duas meninas eram exatamente idênticas: cabelos castanhos e muito longos, olhos também castanhos e uma pele branquinha, porém com um diferencial: o estilo. Estela era elegante, não perdia a pose e Do Contra até a associou com a Carmem: mesmo olhar, mesmo jeito de se vestir. Já Ester fazia o estilo "esportiva", sendo o oposto da irmã: cabelos presos, boné e um skate na mão definiam a menina.

– Bom, respondendo àquela sua pergunta... Elas não são minhas irmãs de sangue, na verdade são minhas primas, filhas da minha tia, irmã da minha mãe. Acontece que a minha tia morreu um mês depois delas nascerem e o pai delas simplesmente enlouqueceu, falando que nunca conseguiria cuidar de duas filhas sem o apoio da esposa. Então ele basicamente desistiu delas e elas moram com a gente desde que tinha três anos de idade. Elas são completamente minhas irmãs, pra ser honesta. – Samara disse.

– Nossa, que barra! E elas nunca mais viram ele? – DC perguntou.

– Ele vem aqui visitar elas de vez em quando: aniversário, natal... datas assim. A Estela até que gosta, mas a Ester nunca gostou muito dele, não. Foram criadas pela minha mãe, mas preferem chamá-la de "tia" pra não apagar a memória da minha tia. Enfim, vamos esquecer isso e admirar ESSES PÔSTERES MASSAS AQUI! – Samara gritou.

A tarde estava sendo, sem sombra de dúvidas, tão boa quanto aquela em que Samara pulou a janela da casa de DC. Os dois passaram meia hora discutindo sobre o tão amado filme: teorias, curiosidades... e claro, muitas risadas!

– Ai não, não creio que a Samara encontrou um fã desse filme tosco! – Estela disse, descendo as escadas com a irmã do lado e mexendo nos cabelos, como sempre.

– Aí, vocês já podem parar de falar no "Palhaço e a Lasanha", né? – Ester disse.

– "O Palhaço e a Panqueca"! – DC corrigiu, rindo. – E depois, esse filme é cultura pura! Vocês deviam tentar assistir!

– Cinco ou seis horas de filme? Prefiro praticar meu parkour! – Ester respondeu.

– Ela ia se dar muito bem com o Cascão! – DC disse, se virando para Samara.

– Tá, que seja! Tenho uma ideia melhor! Porque nós quatro não assistimos a um filme NORMAL? – Estela disse, sorrindo.

– Sem cultura, você quer dizer! E aí DC, o que acha? – Samara perguntou.

– Que filmes vocês tem aí? – DC perguntou.

– Eu quero "Anabelle" e a Estela quer "A culpa é das estrelas". Afe, mega deprê – Ester disse, revirando os olhos.

– Deprê nada! É lindo, isso sim! O jeito como a Hazel se apaixona pelo Gus... ai ai... – Estela disse, sonhadora.

– Ai, mas tem toda aquela atmosfera de doença... não, não, vamos ver "Anabelle"! Quem tá comigo? – Ester perguntou.

– Eu! – Samara e DC disseram juntos.

– Afe, como vocês são chatos! Ain, odeio terror! – Estela disse, fingindo um arrepio.

– Que nada, esse filme é só sustinho bobo! Coloca aí! – DC disse rindo.

– Também não sou muito fã não... mas bota aí! – Samara disse.

Estela, contrariada, colocou o DVD e sentou no chão ao lado da irmã, que parecia super animada. DC já havia assistido a aquele filme com Nimbus no cinema e não tinha achado nem um pouco assustador, sempre com os mesmo clichês de filmes de terror. Mas até que os efeitos especiais eram legais!

O filme estava completamente silencioso. De repente, um grito alto demais foi dado por alguém no filme e Estela e Samara se assustaram. Estela gritou exageradamente e Samara deu um salto, fazendo Ester e DC rirem de chorar.

– Meninas, é só uma boneca do mal! – DC disse, rindo.

Depois de muitos "sustos", o filme finalmente acabou.

– Ah.... quase dormi, mas até que foi legal! quer dizer, já tinha visto. – DC disse.

– Mas será possível? Você não sente medo de nada? – Estela perguntou, se levantando para pegar o DVD.

– Adoro filmes de terror, mas não esse aí! Vou trazer "Poltergeist" ou "Arraste-me para o inferno" dá próxima vez que eu vier aqui! – DC percebeu a expressão de terror no rosto de Estela. – Ou quem sabe "A morte do demônio"...

– Arrrgh, que horror!!! – Estela disse, fazendo cara de nojo.

– É sério DC, você vai vir aqui de novo?? – Samara perguntou, animada.

– Claro, se você me cham... – Do Contra sentiu uma coisa peluda encostar na sua pele. – AAAH!

– HAHAHAHA, calma DC, é só a Hermione! – Samara disse, pegando uma gata siamesa e pondo no colo dele.

– Q-q-que linda, né? – DC disse, ainda assutado.

– Ela tem três aninhos! Já dá pra saber o porque do nome, né? – Ester disse.

– Hum, então vocês são fãs de Harry Potter, né? Meu irmão é maluco HP! Já fomos até para o parque em Orlando. – DC disse, sorrindo e fazendo carinho em Hermione

– Ano passado também fomos pro parque e compramos tudo! Essas duas aí me fizeram passar cada vergonha com os gringos... – Samara disse, olhando para as gêmeas, que fizeram cara de travessas. – Chama o Nimbus pra ver nossas coisas um dia desses!

Nesse momento, Samara colocou a mão em cima de Hermione, que estava no colo de DC, para fazer carinho. Porém, ela não viu que a mão do garoto também estava na gata e suas mão se encostaram totalmente. Os dois ficaram vermelhos e Samara tirou a mão.

– E-então vou buscar alguma coisa pra comer! – Samara levantou e foi até a cozinha.

– Eu, heim! – Ester disse, sem entender.

Do Contra meio que ficou "anestesiado" depois daquilo. Ele nem conseguia se mexer direito, e não sabia porque! Um calafrio correu por todo o seu corpo. "Meus Deus, o que é isso? Tô tremendo e acho que não é por causa dessa gata!" DC pensou consigo.