O Colar do Parvo

O chefe da Suprema Corte


Passamos uma tarde tranquila, porém muito resguardada. Ficamos dentro de casa, sem sair, apenas confabulando sobre tudo o que tinha acontecido. Apesar de Sara sempre se esquivar das diretas de Adrian, eu sentia que ela já estava gostando dele. No meu caso era diferente, Eduardo não desgrudava de mim, Nathan me olhando de longe e Mario olhando para o Nathan. Como aquilo era perturbante, tanto que chegava a incomodar.

Eu estava lendo um livro sobre bruxos antigos, quando minha tia chegou com pipoca. Já era meio da tarde. Kauvirno, Marcelo, meu e os pais de Sara e Mario conversavam no escritório sobre algo que estava sendo mantido como segredo. Quanto ás mães deles, minha mãe, Tereza e minha tia, conversavam na cozinha, também sobre algum assunto bem particular, já que a porta da cozinha estava alem de fechada, estava trancada.

No livro eu peguei um nome já muito familiar a mim.

Família Taurino

Eu nem perdi meu tempo em ler sobre eles, já que eu já sabia o suficiente para não acreditar nas besteiras que estavam nos livros. Deixei o livro de lado e peguei o controle da TV, estava passando Caverna do Dragão, desenho que eu sempre curti muito, apesar de não ter um final, isso é frustrante.

A tranqüilidade da casa era impar, e até mesmo sombrio. Cheguei até Nathan e perguntei a ele, se ele tinha falado com Matheus.

– Eu nunca fui amigo dele, Kayo. Porque eu falaria com ele?

– Não sei, talvez porque mesmo sem ser muito amigos, vocês moravam na mesma casa, a quase dois anos.

– Já passei mais tempo com outras pessoas e nem as olhava na cara, e veja que com ele de vez em quando saia até mesmo um bom dia!

– Não sei porque odiar tanto ele.

– Será que é porque ele tem você? Uma ótima questão para se odiar alguém.

– Nathan ele surgiu na minha vida antes de você.

– É, infelizmente sim. E quanto a esse Eduardo? O que vocês tem?

– Nada, somos amigos, apenas isso! – a minha forma decidida de falar convencia a qualquer um.

– Amigo?

– O Mario não tira os olhos de você... devia ir lá falar com ele. – eu disse mudando completamente de assunto.

– Eu percebi.

– Ele é bonito não é?

– Sim.

– Então porque não o convida para ir até o jardim de inverno... quem sabe...

– Está tentando me jogar pra outro?

– Não! Eu quero apenas que você seja feliz... apenas isso.

Ele me deixou ali sozinho e foi até Mario, que estava sentado ao lado de Sara e Adrian, logo ele levantou e ambos saíram, indo par ao jardim de inverno. Então Eduardo se aproximou.

– Deve se sentir o máximo, não é mesmo?

– Porque? – eu disse rindo, levemente.

– O que são, três? Eu, Matheus e Nathan. Três caras apaixonado por você, sendo que dois deles estão no mesmo lugar.

– É, eu acho que vou me casar com os três, assim tem Kayo pra todo mundo.

Rimos.

– Você quando quer, é engraçado. Certamente que eu não aceitaria dividir você com ninguém... mas eu sei me por em meu lugar. Adrian falava sobre você e Matheus, eu sei que você realmente o ama, e é com ele que deve ficar.

– Eduardo você é uma pessoa maravilhosa...

– Sim, eu sei... e eu vou encontrar alguém, eu já conheço esse discurso. Mas eu quero muito ser seu amigo... ser seu amigo para sempre, até que a morte nos separe.

– Até que a morte nos separe?

– Sim! Você aceita?

– Eu aceito.

Rimos novamente, coisa estranha de se dizer.

– Será que Nathan e Mario...

– Eu acho que sim, Mario quando tem uma oportunidade não desperdiça. Eu o conheço bem.

– Hm, e será que Sara e Adrian?

– Logo se casam... é, eu acho que fiquei sozinho! – disse ele rindo – Mas faz parte!

Saímos e fomos para sala e para a nossa surpresa, Adrian e Sara estavam se beijando. Percebendo que nós estávamos ali, Sara desconcertada, se afastou de Adrian.

– Não diga nada aos meus pais... eu não sei o que foi que aconteceu...

– Calma Sara, será nosso segredinho. – eu disse rindo.

Ficamos ali durante algum tempo, até que minha prima chegou e disse que o jantar estava servido. Ao chegar á mesa, Mario estava sentado ao lado de Nathan, que parecia bem alegre. Jantamos arroz, feijão, batata frita, salada e um suculento bife. Como aquele bife estava gostoso. Após o jantar os adultos voltaram para suas reuniões, enquanto nós ficamos do lado de fora da casa, aproveitando a bela noite estrelada.

Conversávamos sobre nossas vidas, incertezas, frustrações, anseios, lutas, enfim. Éramos ainda adolescentes, mesmo já não sendo mais considerados.

Adrian apareceu com um rádio, e ouvindo musicas na estação, ouvimos uma chamada estranha do locutor.

E atenção, estamos aqui, nesse momento, com o chefe da suprema corte, o Excelentíssimo Senhor Everaldo Messias, para falar de um assunto de extrema importância para toda a comunidade mágica. Por favo, senhor Everaldo, o que teria a nos dizer?

– Muito obrigado pela oportunidade, Edgar em estar falando aqui nessa prestigiada emissora; mas defino esse momento como de estrema cautela. Como todos nós sabemos as coisas estão ficando cada vez mais estranhas em toda a comunidade, e nós da Suprema Corte, estamos tentando evitar maiores conflitos, no que se refere ao ataque dos exilados.

“recentemente um grupo, muito vasto de moradores, da aclamada cidade de Assis, surgiram em nossas instalações para relatar algo, que há muito tempo temíamos. Os Soberanus estão atacando, e estão por toda a parte.

A cidade, além de ser atacada por uma mulher, há muito conhecida por nós, como Melissa Nequile, a assassina, foi infestada por lobos. Isso mesmo, lobos. Tanto tempo que esses seres mágicos estavam desaparecidos, surgiram e estão atacando bruxos. E como todos nós sabemos é extremamente difícil detê-los com magia. Então peço a todos que tenham cuidado, pois eles estão aliados aos vampiros, principalmente aos usurpadores, que são de estrema periculosidade.

Estamos buscando informações sobre onde estão agindo e o que procuram, apenas sabemos que eles estão organizados e jurando vingança.”

– Mas, senhor, desculpe a ignorância, mas a Corte não previa isso?

– Eu confesso que sabíamos sim, mas estavam sendo monitorados e aqueles que estavam sobre vigia não representavam perigo algum. Apenas recentemente viemos a descobrir sobre o reaparecimento dos Soberanus...

– Senhor, quanto aos Soberanus, eles são bem conhecidos, por toda a comunidade bruxa, não apenas aqui no Brasil, mas como em muitos outros lugares do mundo. O que o governo de lá tem a dizer sobre isso?

– Sim, Edgar, os Soberanus antigamente, liderados por Átimos, foi muito conhecido no passado, mais seu legado desapareceu. Como eu disse é algo recente, e o governo de outros países estão vindo, nesse exato momento para cá, para discutir sobre isso. Como sabem temos uma vasta liga de espiões por todo o mundo, fazendo varreduras para se certificar que a Lei seja comprida, no entanto nada se referia sobre esse grupo armado, os Soberanus.

– Quais são os governos que estão vindo ao Brasil? E qual a importância deles aqui?

– Como bem sabemos, foram os próprios português que trouxeram os primeiros bruxos até esse lindo país, se preocupam por demais com nosso povo, e assim que os comunicamos sobre tal ataque, deram a ordem para que nós mantivéssemos cautela. O povo inglês também concedeu ajuda, para que possamos destruir esse grupo. Como bem se sabe, as comunidades mágicas aqui no Brasil são poucas, então com pouca demanda. Uma ajuda estrangeira seria de grande importância. Estamos apenas querendo garantir que nada mais seja violado, assim como o direito de ir e vir, cujo esse grupo, os Soberanus, impede dos bruxos.

– Senhor, então o que a Suprema Corte pede?

– Pedimos gentilmente que mantenha suas crianças em casa, e que tenham cautela. Como sabem a Lei proclamada pelo então, o Ancestral, prevê que qualquer bruxo, a cada geração perca seus poderes, para que possa-se ter grande igualdade entre os não-mágicos. No entanto os poderes ditos, apenas para defesa, ainda são permitidos. Pedimos então que cada pai, ou mãe lance em sua residência uma defesa de Anti-Mágica, o Encantamento dos Espelhos, para a não revelação de sua identidade, e principalmente que façam uso dos Casacos de Anti-Notação. Feitiços básicos e que são de extrema importância.

“pedimos também, que bruxos que moram em territórios não-mágicos, façam uso de seus poderes para proteção de amigos, e outros parentes. Os Soberanus parecem avaliar quem é bruxo ou não e atacar seus amigos, ou familiares não-mágicos”

– Então, senhor, a coisa parece ter saído do controle, ou não?

– Não digo, Edgar que tenha saído do controle, pois estávamos controlando e muito bem. Não sabemos exatamente o que esta motivando essa revolta, no entanto o incidente de Assis nos prediz que devamos tomar o máximo de cautela possível.

– E como andam a questão dos portais?

– Os portais nunca sofreram qualquer tipo de vigilância, porque impede o direito de ir e de vir dos bruxos. No entanto já estamos tomando a devida providencia para que nenhum bruxo, em todo o território que tenha um bruxo habitando, seja utilizado. No mais, portos, aeroportos, rodoviárias, rodovias e estradas estão sendo vigiados e será mais vigiado com a chegada das brigadas Portuguesas e Inglesas.

– Então, como o senhor mesmo diz, o direito de ir e vir dos bruxos foi violado, realmente...

– Sim, Edgar, e pedimos, gentilmente que cada bruxo obedeça essas regras impostas. Qualquer um que tiver qualquer tipo de atitude considerada suspeita será considerado um exilado e sofrerá as penalidades permitidas por lei.

– E quanto aos não-mágicos?

– Como bem soubemos, comunidades no sul do país foram atacadas. Comunidades de não-mágicos. No entanto, estamos, através do encantamento de memória, subverter os incidentes causados por eles.

– Como por exemplo, o acidente que, supostamente causou a morte de uma vila no Rio grande do Sul, ao qual a imprensa brasileira diz ter sido causado por uma explosão de um caminhão de gás?

– Sim, infelizmente são coisas aos quais temos que submetê-los para que não saibam de nossa existência. Imagine se soubessem, seria um desastre. No entanto acidentes naturais são os bem mais aceitos, tais como tempestades, e supostos furacoes. É triste isso, de induzi-los a acreditar em algo que dificilmente aconteceria, mas temos que fazer. A Corte esta tomando as devidas precauções para que novos incidentes como esse, não aconteçam mais.

– O senhor tem algo a mais a declarar?

– Não Edgar, apenas pedir cautela a todos e que ajudem aos não-mágicos, pois pelo que sentimentos, os Soberanus estão querendo, realmente atacá-los.

– Está bem então, senhor, creio que todos nós ouvimos e faremos o prescrito pelas autoridades. Agradecemos a visita do chefe supremo, o senhor Everaldo Messias. Vamos para um rápido intervalo e voltamos dentre alguns minutos.

Nós nos olhamos, sem saber o que dizer.

– Se a coisa caiu na Suprema Corte, a coisa esta feia mesmo. Brigada Portuguesa e Inglesa? Estamos realmente ferrados. – disse Adrian, abraçado a Sara.

– Eles não sabem sobre o colar, ou fingem que não sabem?

– Eu acho, Eduardo, que talvez eles devam saber sim. Muitos são os que saibam da existência do Os Vigilantes, no entanto acreditam que apenas uma lenda, assim como o colar. E talvez dizer que os Soberanus estão em busca do colar é fazer com que todos busquem pelo colar, e isso poderia prejudicar o andamento da investigação. – disse Nathan.

– É seria realmente prejudicial até mesmo a nós, se a Corte tivesse em nosso encalço também. Ainda bem que nos mantemos longe de qualquer suspeita. – eu disse.

– Mas o que podemos fazer? Temos que ajudá-los e não podemos permitir que continuem agindo dessa maneira. Imagine quando esses lobos começarem a ir nas cidades, nós não teremos o que fazer para ajudar. – disse Sara.

– Talvez devamos tomar conta nós mesmos.

– Não venha com essa Adrian, não vamos sair por aí na caça dos Soberanus, quase morremos da ultima vez que você teve uma ideia parecida.

– Eu sei, maninho... não me refiro a isso. Mas eu acredito, alias eu penso que podemos fazer algo. Veja, antes muitos do clã, sumiram, e veja quantos temos agora. Ou acha realmente que Kauvirno está apenas tagarelando com os outros? Tenho certeza de que está tentando trazê-los para o grupo.

– Eu também não duvido que ele esteja fazendo isso. Mas enfim, vamos entrar e falar com eles sobre o que ouvimos no radio. – disse Nathan.

Entramos e eu fui até o escritório chamá-los.

– Vão para a sala que já falamos com vocês. – disse Camila.

Seguimos até a sala, onde ficamos esperando, para saber o que iríamos fazer.

E até aquele momento, nada do colar me dar qualquer sinal de vida. Nem mesmo pesado ele estava.