Como ele era belo. Seu perfume era um misto de natureza, com chuva, não sei explicar ao certo. Parecia ser um cheiro único, que talvez fosse à única vez que eu poderia sentir em toda a minha vida. Nossa! Em certo momento me senti como alguém que não tivesse alguém... eu não era solteiro. E eu já havia visto outros homens lindos... mas aquele elfo... aquele elfo era diferente.

– Você disse que seu nome é Halmer. É isso?

– Sim, Kayo. Você esta bem?

Eu não via a minha expressão, mas com certeza devia ser a mais abestalhada de todo o mundo. Eu devia estar parecendo um idiota.

– Eu acho que sim! – eu disse suavemente. Eu estava calmo – Eu não sei o que acontece comigo...

– Eu acho que sei bem o que acontece com você. Nelai, vá até a aldeia e diga ao meu pai que estou com um nobre, e logo estarei chegando.

Ao terminar de falar, seu cavalo saiu trotando na grama fofa e logo sumiu no horizonte.

– Eu estou com o uma sensação estranha no estomago...

– Vamos caminhando, logo passara essa sensação estranha.

Era impressionante como eu não tinha controle dos meus olhos, ou até mesmo da minha cabeça. Eu estava até me sentindo mal por não conseguir tirar os olhos daquele elfo. Um elfo... realmente parecia loucura.

– Você não deveria ter uma orelha pontiaguda? – que perguntou foi aquela?

Halmer sorriu levemente. Como seus dentes eram perfeitos.

– Nem todos os elfos tem orelhas pontiagudas. A minha orelha é discreta.

– Desculpe por essa pergunta tão idiota... é que eu nunca vi um elfo.

– Eu compreendo, isso não causa estranheza quando me encontro com estranhos. Não que você seja, mas...

– Eu entendi o que você quis dizer, não precisar explicar.

– Me diga então, Kayo, o que faz perdido por aqui? Essas são terras mágicas, bruxos normalmente não vêm até aqui, a menos que tenha acontecido algo de muito grave.

– Eu não sei dizer se foi algo tão grave... aliás... pelo que eu sei de elfos, vocês são criaturas sábias e sabem, em sua maioria, de tudo.

– Quase tudo!

– Que seja! – rimos suavemente.

– Eu sei de uma guerra que dura anos, ou melhor séculos... uma guerra ao qual ainda não se chegou a um final.

– É, e parece que esse final depende de mim.

– Você é o guardião do Colar do Parvo, não é?

– Sou! – delicadamente eu retirei o colar do pescoço e entreguei para Halmer avaliá-lo.

Halmer analisou o colar de todos os ângulos possíveis e depois entregou a mim.

– Eu já ouvi historias sobre esse colar, e hoje percebo o quão importante ele é. Realmente existe um ser vivo nele.

– Sim... é estranho não? Saber que um simples colar é desejo de tantos por poder. Quanta desgraça já aconteceu desde que Adamastor entregou seu coração a serpente. Quanto sofrimento...

– Coisas horríveis aconteceram, não apenas em sua vida, Kayo, mas na vida de todos. Tem que se conformar com isso, e aceitar de uma vez o que, infelizmente, foi imposto.

– Eu conheci você a dez minutos e você diz as mesmas coisas que tantos outros já me disseram.

– Será que seja porque é o que tem que ser feito?

Eu fiquei sem palavras, como sempre fazia. Fiquei apenas com os meus pensamentos e tentei divagar daquele assunto.

– Então me diga, o que é ser um elfo? O que fazem, onde moram...

– Moramos naquela floresta!

– Floresta?

– Sim logo a frente. Eu sei que não é algo que você possa acreditar... mas somos criaturas mágicas...

– Eu sei.

Caminhando mais um pouco, eu comecei a perceber que já não olhava tanto para ele, certamente por que eu forçava minha cabeça para o outro lado. Ele parecia curtir aquilo.

– Não tem graça Halmer. Eu sou casado, e por mais problemas que eu tenha com ele, eu o amo... e estranhamente eu não consigo tirar os olhos de você.

– Logo isso passara.

– Mas porque isso acontece?

– Bem, primeiramente não lute contra isso, ou poderá ter fortes dores no pescoço depois, - ele riu – e bem, nós somos criaturas e temos variadas formas. Podemos ser desde insetos a homens comuns e vivermos em uma sociedade complexa como a sua. Muitos preferem seu apenas elfos, assim como a minha gente. Mas nos primórdios, quando surgimos, muitos foram os que se espantaram, e então nós resolvemos usar dessa beleza extremamente encantadora para amenizar a impressão que tinham da gente.

“Não que éramos feios, ou somos, eu não me refiro a isso. Mas é algo completamente constrangedor, seres legitimamente mágicos, surgirem em meio a alguns que apenas se julgam. Compreende?”

– Não sei se entendi. Na realidade, não entendi essa ultima parte, surgirem em meio a alguns que apenas se julgam.

– Nós elfos, ensinamos aos primeiros humanos, o poder da magia. Ensinamos como adaptar os elementos de forma a usá-los de uma maneira que vos beneficia-se. No entanto, quando muitos acreditavam que eram capazes o suficiente para conseguir poder, fizeram com que toda uma população se voltasse contra nós. Por isso nos escondemos, mas somos felizes e prometemos jamais interferir no que os bruxos fariam desde então.

– A cria consome o criador. – eu disse.

– No entanto o criador, ainda é o criador. Meu pai poderá explicar melhor depois, eu não tenho idade para falar sobre coisas tão complexas.

– A cada dia que passa eu vejo que as coisas são bem mais complicadas do que acreditávamos.

– Não é tão difícil... em seu mundo, hoje tudo não passa de lenda. Mas não devemos esquecer que para ser lenda algo existiu para que fosse contada uma historia. Nada existe por acaso, nada!

A nossa frente arvores iam surgindo, altas e volumosas. A sensação era de que entraríamos em uma floresta densa. Se a intenção deles era se esconder, eu concordo, ali seria um local perfeito. Belas árvores verdes, com suas imensas folhas caindo sobre a relva, o céu sem nenhuma nuvem, e um sol esplendoroso.

– O lugar é lindo.

– Como se chama?

– Não tem um nome especifico, gostamos desse lugar pelo o que é, e para cada pessoa ele pode ter um nome diferente. Essa é a graça de ser um elfo.

– Não se apegam a nada.

– Pelo menos não ao que não é importante. Vamos entre!

Passamos agora por algumas árvores, e confesso que o ar estava até melhor. Do lado de fora fazia calor, e aqui estava fresco. Tinha folhas para todos os lados, e as árvores daqui, pareciam maiores e muito mais volumosas.

– Vamos andar muito? – eu perguntei sem jeito.

– Já chegamos!

– Sendo bem sincero, eu não vejo nada além de árvores...

– Veja com os olhos da alma, não com os olhos da carne. – disse ele quase que sussurrando em meus ouvidos.

Eu fechei meus olhos e pedi para que ao abri-los eu pudesse ver as terras onde Halmer vivia. Não sabia se daria certo, no entanto não custava tentar

Mas ao abrir os olhos, eu consegui ver. E era simplesmente fantástico. No cume das árvores entrava luzes violetas, e de algum lugar luzes azuis em várias tonalidades se fazia presente. Os troncos das árvores pareciam de mármore, assim como as folhas e galhos. Logo a minha frente, havia um imenso lago de cor prateado, onde eu pude ver dezenas de pessoas em sua beirada: crianças e adultos pareciam curtir um domingo no bosque. Havia cavalos de várias tonalidades andando aqui e ali, fora como esquilos, cachorros e gatos por todos os lados. Do meu lado surgiu um velhote corcunda e barba comprida, segurando um cajado.

– Bom dia meu rapaz! – disse ele, com sua voz rouca e fraca.

– Bom dia, senhor!

Ele continuou andando, com certa dificuldade.

– Halmer, esse lugar é lindo!

– Eu não disse que iria gostar.

Andamos até o lago, onde eu pude me ver em sua água cristalina.

– Lá de cima parecia que a água era prateada.

– Não sabemos o porquê disso, talvez esse seja o encantamento do lugar. Vamos andando, logo chegaremos em minha casa.