XXII.

Em pouco mais de uma hora - finalmente - o sol começaria a clarear o céu. Sem dúvidas a noite fora muito longa para o FBI e todos os familiares envolvidos emocionalmente ao seqüestro de Isabella Marie Swan.

Os agentes se concentraram no plano de resgate bolado com a ajuda de um geólogo que conhecia a região. O terreno era acidentado o que dificultaria a fuga dos bandidos e facilitaria na rendição. Logicamente que o GTCCS poderia usar esse trunfo do FBI a seu favor, mas McCarty não daria brecha a isso sabendo que as vidas de seu melhor amigo e de sua futura cunhada estavam em risco.

Fortemente armado um grupo de 60 agentes cercou a região. Dividiram-se entre a volta da casa, ruas de fuga e blitz propositalmente armadas.

Charlie, apesar de sua apreensão, começou a acreditar que tudo daria certo. O grande plano dos terroristas havia sido desestabilizado, a maior prova disto era o fato de Garrett estar cada vez mais nervoso em sua cela. O carcereiro o ouviu resmungar que ele já deveria estar solto, que estavam atrasados, que se não soltassem ele iria explodir a cabeça de cada um daquela porra de grupo de nome ridículo.

O infiltrado estava assim, pois as coisas não estavam seguindo como deveriam. O atraso não era o que mais lhe deixava nervoso e sim o FBI não tê-lo interrogado mais vezes. Era para eles estarem o pressionado agora, tentando saber para qual local levaram a garota. Mas eles não estavam fazendo isso! O que quer dizer que algo está muito errado. Será que o pai não se importa? Não... Ele estava com uma expressão bem abalada. Será que já a mataram? Se assim o fosse eu já estaria solto. E se eles simplesmente me deixaram para trás? Filhos das putas!

Mas Garrett Moore nem fazia idéia do quão as coisas saíram do controle.

*/*/*

- Calma Alice, vai dar tudo certo.

- Estou com medo Jasper... - sua voz estava trêmula - Sei que eles vão conseguir entrar no lugar, mas não sei se sairão sem se ferir.

A garota dos cabelos espetados não chorava mais. Seu medo era enorme, mas tinha que começar a agir como uma garota forte. Se havia alguém pior do que ela era a sua mãe. A coitadinha mais chorava do que fazia outra coisa. Dês do dia que sua filha fora seqüestrada não dorme direito, não come direito, não vive direito. Está em um estado lastimável. E o desespero de Alice não a ajudava em nada. Já era ruim suficiente ter de lidar com o seu sofrimento e mal conseguia manter suas esperanças, quanto mais manter as esperanças de outra pessoa.

O chefe Swan também não ajudava a esposa. Mantinha-se no escritório trabalhando arduamente para trazer a filha de volta. René não ousava reclamar, preferia mesmo ficar sozinha com seus próprios sentimentos. Era melhor assim, conseguia segurar o seu coração de mãe em seu próprio peito sem que o mesmo se despedaçasse em sofrimento.

Rosálie já não pensava do mesmo jeito. Como psicóloga sabia muito bem que a solidão não fazia bem a ninguém, principalmente em um momento como esses. Depois que Alice contou o estado em que a mãe se encontrava, decidiu que ajudaria de alguma forma.

Despediu-se do irmão e da cunhadinha e seguiu para o estacionamento do hospital.

Definitivamente não conseguia acreditar que René pudesse estar lidando com os acontecimentos de uma boa maneira. Mas quando tudo acabasse iria superar. Porém quem sofreria para superar seria Isabella. A doutora conheceu a morena quando Jasper ainda estava em coma. Como Swan levava a irmã para visitar seu salvador acabou conhecendo Rosálie.

As duas se deram bem. Conversaram estritamente sobre os irmãos, mas apenas com isso a doutora já conseguiu traçar um perfil psicológico para Isabella.

Uma garota de físico não muito forte, porém psicologicamente é extremamente poderosa. Ao mesmo tempo em que trata as pessoas com doçura sabe também colocar sua opinião de maneira decidida. É capaz de segurar para si mesma muitos problemas, não só dela, mas também dos que estão ao seu redor. Guardou a história da mãe biológica de Alice muito bem e conseguiu ajudar a irmã adotiva de maneira quase profissional.

Porém pessoas que guardam tudo para si sofrem em dobro. E agora depois desse imenso trauma a Dra. Halle tinha medo das conseqüências que traria a mente de Isabella. Parece que a morena puxara a mãe.

Cumprimentou os dois agentes de guarda no portão e seguiu para a entrada da casa. Se xingou mentalmente, era madrugada, ela deveria estar dormindo. Aguardou um pouco pensando nas desculpas que diria a esposa de seu chefe.

Dez minutos se passaram, e a doutora tomou sua decisão. Sentindo-se na obrigação de verificar se tudo estava bem abriu a porta e entrou.

Sentiu um nó se formar em sua garganta com pena da mulher de cabelos castanhos claros que não estavam em nada parecidos com a linda cascata cor de mel que caía-lhe sobre os ombros no dia do jantar. René estava sentada no sofá, com os joelhos encolhidos contra o peito e o queixo sobre os joelhos. Ela olhava fixamente para a televisão onde um vídeo de quando as meninas eram crianças e brincavam de boneca juntas. Apesar de mais velha Isabella não se importava de parecer infantil brincando com a irmã.

Grossas lágrimas escorriam pela face da mulher de meia idade.

- Sra. Swan? - chamou baixinho Rosálie enquanto encostava a porta atrás de si.

René pulou de susto e limpou rapidamente o rosto com a manga de seu casaco.

- Ah! Olá querida, como vai?

- A senhora tem estado sozinha? - perguntou ignorando a pergunta da dona da casa.

A preocupação era evidente na voz e na expressão da loira que andou rapidamente até o sofá e sentou-se ao lado da mulher.

- Não. - respondeu calmamente. - Esme e Carlisle estão passando os dias e noites comigo. Foram dormir a pouco tempo.

- Os pais de Edward?

René apenas assentiu suspirando.

- Desculpe invadir sua casa. Alice está preocupada com a senhora. Então resolvi vir até aqui para ver se poderia ajudar de alguma maneira, mas esqueci de ver as horas. - sorriu desculpando-se.

- Tudo bem. Tenho certeza que foi com a melhor das intenções.

Sim. Isabella também puxara a doçura de sua mãe.

Swan retornou seus olhos para a tela da TV. Rosálie fez o mesmo, porém vigiava a mulher com o canto dos olhos.

- Bella sempre faz tudo pela felicidade dos outros. Veja só. 16 anos e nem liga por estar brincando de boneca com uma menininha de 4. Nesse dia ela tinha uma festa para ir com o namorado, mas desmarcou imediatamente quando soube que nossa babá de confiança ficara doente. Eu e Charlie tínhamos um evento importante para ir.

- As duas se amam muito.

- Comparecemos ao evento e saímos mais cedo para dar a oportunidade a Bella de se divertir também. Mas veja só, ela já estava se divertindo. Essas duas se tivessem a mesma idade e o mesmo sangue com certeza teriam nascido grudadas.

A doutora percebeu que tudo o que René queria era ser escutada por alguém que não compartilhasse do mesmo sofrimento pelo qual ela passava.

- Bella sempre foi assim. Desde criança. Abria mão das coisas que ela queria para que os outros fossem felizes. Imagine só esconder de mim que Alice queria achar sua mãe biológica!

- Tenho certeza que elas não queriam magoar a senhora.

- Eu entenderia.

- Mas se magoaria.

- Tem razão, mas superaria.

Rosálie não duvidava. As duas ficaram em silêncio por um tempo apenas assistindo a brincadeira das duas irmãs que agora corriam uma atrás da outra querendo que fosse uma boneca humana. Não conseguiu segurar o sorriso em seu rosto. Mas então olhou assustada para René quando a mesma soltou um riso divertido.

Foi meio perturbado, mas a doutora relaxou quando René contou o motivo.

- Acho que Edward foi o único que não se beneficiou com essa coisa de Bella fazer tudo pelos outros. Justo com ele, ela foi se revoltar.

- Quando eles voltarem tudo ficara diferente entre os dois.

- É disso que tenho medo.

Halle franziu as sobrancelhas sem entender. René finalmente olhou-a no rosto.

- O que tudo isso fará com a minha filha? Edward é treinado para agüentar essas coisas, mas Bella...

- Ela terá todo o meu apoio profissional e pessoal. E tenho certeza que a senhora, seu marido, Alice e Edward a ajudarão também.

Renée sentiu seu coração se apertar no peito e seus olhos mais uma vez encheram-se d'água. Então as palavras pularam de sua boca.

- Estou com medo da invasão que acontecerá daqui a pouco. E se eles a pegarem como escudo? Oh Meu Deus! Não quero perder minha filha!

- A senhora não vai perder! Tem muita gente trabalhando nisso. O FBI fará seu trabalho pelo lado de fora. E Edward a protegerá de qualquer um que possa querer feri-la. Confie senhora Swan. Confie em seu marido e no FBI. Eles trarão sua filha novamente para os seus braços.

*/*/*

Seus olhos arregalaram de medo, seu coração galopava em seu peito, sua respiração acelerou em segundos. Encolheu-se instintivamente contra o corpo quente do agente sentado ao seu lado e olhou apavorada para seu rosto. Edward não a fitou, sabia que o seu semblante preocupado - direcionado a porta - não a acalmaria. Então sem deixar de fitar a madeira passou um braço sobre os ombros da morena e apertou contra si, tentando com este gesto mostrar-lhe que iria protegê-la. Rezou para que o motivo da raiva de seus seqüestradores fosse seus companheiros do FBI que chegaram para resgatá-los.

O ruivo acabou por não dormir noite passada por dois motivos. O primeiro e mais importante era para proteger Isabella de qualquer mal que aqueles insanos poderiam fazer durante a madrugada. Fora treinado para agüentar o cansaço, já agüentara muitas noites em claro. Na guerra não existia noite bem dormida, um soldado cuidava do outro enquanto o mesmo tentava descansar por alguns minutos, mas a verdade é que é preciso estar atento a todo o momento e com bombas explodindo perto de suas orelhas não fazia o trabalho mais difícil.

Bem... Pelo menos aqui não se escuta explosões ou tiros. O pensamento lhe ocorreu cedo de mais. Um estampido de tiro soou entre as paredes e então toda a gritaria - que havia deixado o agente atento e acordado a morena - se esvaiu e o silêncio imperou no cativeiro.

Isabella abraçou o agente se sentindo completamente apavorada. Finalmente Edward retornou o olhar a morena. Sentiu a raiva subir quando notou a expressão em seu rosto. Aquela não era a expressão que se tornara seu segundo motivo para não dormir no resto de sua noite. Não era a expressão serena que havia no rosto de Isabella enquanto ela dormia. Não era a expressão que o agente tanto gostou de observar. Não era a expressão que o fizera perder completamente seu sono. Não era expressão que ele queria ver no rosto de sua amada.

Raiva e determinação cresceram de mãos dadas dentro de seu peito e de repente se viu levantando e puxando Isabella junto.

- Não dá mais para esperar, precisamos sair daqui.

A jovem tremeu da cabeça aos pés, mas a mão do agente segurando firmemente a sua lhe deu a confiança necessária para seguir em frente.

*/*/*

O homem de grandes proporções olhou o relógio impaciente. Fitou nervosamente os ponteiros que insistiam em andar lentamente. Suspirou e voltou sua atenção para os monitores do computador de dentro da van. O melhor momento de invadir a casa passou há exatos 15 minutos, o exato momento em que estavam se organizando em seus postos. Porém uma movimentação surgiu na casa e eles tiveram que ter paciência.

Parece que os comandantes do grupo estavam discutindo. E o resultado desta discussão poderia ser beneficente para o FBI. Por isso estavam esperando pacientes.

McCarty não queria esperar, mas sabia que o único motivo era porque seu amigo estava lá dentro e queria tirá-lo de lá o quanto antes.

O dia começou a clarear. O céu já demonstrava que seria um lindo dia de céu limpo. Os passarinhos já cantavam parecendo zombar da situação em que os humanos estavam. Mas então eles voaram assustado com os sons de disparos vindos de dentro da casa.

- Não dá para esperar mais! Vão! - ordenou o agente e o outro homem ao seu lado começou a comandar a invasão através de seu rádio.