O Arcano Nove Narrado Por Jesse

Continuação do capítulo 2


Suzannah afastou o travesseiro e voltou a falar:

Então o que meu pai disse? Quero dizer, depois de você garantir que suas intenções eram as melhores possíveis?

Ah! Depois de um tempo ele se acalmou. Eu gosto dele, Suzannah. Disse me sentando em sua cama de novo,

–Todo mundo gosta. Ou gostava, quando ele era vivo.

–Ele se preocupa com você, você sabe.

–Ele tem coisas muito maiores com que se preocupar -Ela murmurou.

Pisquei confuso, com o que mais ele se preocuparia se ele está morto?

–Como o quê?

–Ah, não sei. Que tal o motivo para ele estar aqui em vez de no lugar aonde as pessoas devem ir depois de mortas? Essa pode ser uma sugestão, não acha?

Falei em voz baixa:

– Como você tem certeza de que não é aqui que ele deve estar, Suzannah? Ou eu, por sinal?

Ela começou a me encarar com aqueles gentis e brilhantes olhos verdes.

–Porque a coisa não funciona assim, Jesse. Talvez eu não saiba muito sobre esse negócio de mediação, mas disso eu sei. Esta é a terra dos vivos. Você, meu pai e aquela dona que esteve aqui há um minuto não pertencem a este lugar. O motivo para estarem presos aqui é porque há alguma coisa errada.

–Ah. Sei.

Menti. Eu não sabia disso. Talvez seja essa a razão para que minha mãe, meu pai e minhas irmãs não tenham ficado neste mundo. Depois que morri, não tardou muito para que meu pai morresse. Eu os visitava, mas tinham voltar depois. Algo me ligava a essa casa. Agora entendo o por quê.

–Você não pode dizer que está feliz aqui. Você não pode dizer que gosta de estar preso neste quarto por cento e cinqüenta anos.

Não foi muito ruim -Eu disse sorrindo para mi hermosa – As coisas melhoraram recentemente.

Depois que Suzannah chegou aqui, tudo mudou. Acho que foi o fato de finalmente alguém me ver, me ouvir e me tocar.

–Bem, sinto muito o meu pai ter ido atrás de você. Juro que eu não contei a ele.

–Tudo bem, Suzannah. Eu gosto do seu pai. E ele só faz isso porque se preocupa com você.

–Você acha? Eu tenho minhas dúvidas. Acho que ele faz isso porque sabe que me chateia.

Enquanto ela estava puxando sua colcha eu reparei uma deformidade em seus dedos. O que causaria uma coisa tão feia nos dedos de mi hermosa? Segurei-os e percebi que Suzannah ficou surpresa com meu gesto, mas logo relaxou. Seus dedos estavam vermelhos, pareciam que estavam com uma alergia séria. Segurei seus dedos ao luar e perguntei-lhe:

– O que há de errado com os seus dedos?

Sumagre venenoso. Você tem sorte de estar morto e não poder encostar nisto. Queima. Ninguém me falou disso, você sabe. Sobre o sumagre venenoso. Sobre palmeiras, claro, todo mundo disse que havia palmeiras, mas...

–Você deveria tentar pôr um ungüento de folhas de grindélia - interrompi

–Ah, certo.

–É uma planta com flores amarelas pequenas. Cresce no campo, Tem propriedades curativas, você sabe. Há algumas naquele morro atrás da casa.

–Ah. Quer dizer aquele morro onde ficam todos os pés de sumagre venenoso?

–Dizem que pólvora também funciona.

–Ah. Sabe, Jesse, talvez você fique surpreso em saber que a medicina avançou além dos ungüentos de plantas e pólvora no último século e meio.

–Ótimo. Foi só uma sugestão.-L.arguei suas mãos

–Bem. Obrigada.

Mas vou colocar a fé na hidrocortisona.

Olhei para ela. Ás vezes não entedia o que ela falava como se ela não falasse o mesmo idioma.

Suzannah!

–O quê?

–Vá com cuidado com essa mulher. A mulher que esteve aqui.

–Certo.

–Estou falando sério. Ela não é... ela não é quem você acha.

–Eu sei quem ela é.

–Você sabe? Ela contou?

–Bem, não exatamente. Mas você não precisa se preocupar. Eu estou com as coisas sob controle.

Não. Não está, Suzannah.-Me levantei da cama

–Você deve ter cuidado. Desta vez deve ouvir o seu pai.

´-Ah, certo -Ela falou muito sarcástica. - Obrigada. Você acha que poderia ser mais assustador com isso? Tipo será que você podia babar sangue ou alguma coisa assim?

Fiquei furioso com o tom de sarcasmo dela e sumi. Acho que fui meio infantil.

Então o que meu pai disse? - perguntei quando tinha afastado o travesseiro. -

Quero dizer, depois de você garantir que suas intenções eram as melhores possíveis?

Ah - disse Jesse, sentando-se de novo na cama. – Depois de um tempo ele se

acalmou. Eu gosto dele, Suzannah.

Funguei.

Todo mundo gosta. Ou gostava, quando ele era vivo.

Ele se preocupa com você, você sabe.

Ele tem coisas muito maiores com que se preocupar - murmurei.

Jesse piscou, curioso.

Como o quê?

Ah, não sei. Que tal o motivo para ele estar aqui em vez de no lugar aonde as

pessoas devem ir depois de mortas? Essa pode ser uma sugestão, não acha?

Jesse falou em voz baixa:

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.