Louise estava muito feliz naquele lugar. Ela perguntara a Erik sobre todos os instrumentos que havia ali, e havia muitos. Ele fez questão de explicar como se tocava cada um deles. E ela logo estava tocando também.

– eu demorei um bom tempo para aprendê-los. E olha só para você, já sabe todos eles! - falou ele diante da esperteza de Louise. Ela também tinha um ouvido muito sensível, e sabia todas as notas só de ouvi-las. Ele tocou uma musica no violino, e logo Louise o acompanhou com outros instrumentos. Ela era um verdadeiro gênio!

Louise e Erik conversavam como se fossem melhores amigos. Ela contou a ele sobre sua infância. Os Clavel eram uma família humilde, mas o pai dela guardou dinheiro por anos, e consegui comprar um piano. E ensinou a Louise como tocar. Mas o piano teve que ser vendido para eles não passarem fome quando o pai dela ficou desempregado. Aos onze anos, o pai e mãe de Louise morreram em um grave acidente, e ela fora morar com a tia, e agora estava na ópera.

– tenho muitas lembranças boas deles - falou ela com saudade - eu não tinha amigos, portanto eles eram meus pais e amigos.

– como pode uma pessoa tão talentosa não ter amigos? - perguntou Erik, sem querer admitir que havia se identificado com ela.

– não sei ao certo. As pessoas não se aproximam de mim e não conversam comigo. Talvez por que eu sou quieta e pobre - contou ela - não ate você aparecer como o anjo da musica.

– então a senhorita me considera um amigo? - Erik estava surpreso, desde pequeno, a única pessoa que havia mostrado alguma bondade com ele fora madame Giry.

– acho que sim - falou ela corando um pouco.

Continuaram a conversar por um bom tempo, e grande parte da conversa era sobre musica. Ele até deixou ela mexer nas partituras de composições dele. Coisa que ninguém havia feito antes.

– que musica e essa Erik? - falou ela ao pegar uma partitura. O titulo da musica era Dom Juan Triunfante.

– e uma musica minha - contou ele - por favor, não a toque! - falou ele vendo que ela se sentara na frente do órgão com a partitura na mão.

– mas por quê? Você viu a minha musica, por que eu não poderia ver a sua?

– toque-a então - falou Erik percebendo a verdade nas palavras de Louise.

Logo a musica de Erik preencheu a casa do lago. Era uma musica de belíssima, mas que criava uma atmosfera misteriosa.

– e linda! - falou Louise quando terminou - você compõe muito bem Erik!

– obrigado - aquela musica o lembrou de Christine. Lembrar do medo nos olhos dela quando vira o rosto dele. Isso estava o deixando muito triste.

– Erik? O que foi? - Louise sentiu-se mal ao ver a tristeza nos olhos dele. Ficou com receio de ter feito algo errado.

– nada que você precise se preocupar - respondeu ele um pouco ríspido.

Louise sabia que tinha acontecido algo. Ela preocupou-se com ele, contrariando o que ele falou. Ao ver a tristeza naqueles lindos olhos verdes, ela teve que resistir ao impulso de abraçá-lo e confortá-lo. Estaria ela se apaixonando por Erik? Eu só o conheço a alguns dias, pensou Louise repreendendo a si mesma. Então ela pensou em algo que poderia ser a causa da tristeza de Erik.

– e por causa de Christine?

– como você sabe? - perguntou ele surpreso. Não se lembrava de ter contado a ela sobre isso.

– eu não sou tola Erik. Eu vi os desenhos que retratam Christine junto com aquela sua miniatura da ópera. Você gosta dela não e? - falou ela. Nesse momento, sentiu vontade de rasgar aqueles desenhos. Estou mesmo apaixonada por Erik. E com ciúmes, pensou ela, ficando ruborizada.

– eu a amo. Mas ela reencontrou aquele escravo da moda chamado Rauol. E ela tem medo de mim, e não admiração. E eu nem sequer sou digno do amor dela - respondeu ele. Era bom ter alguém para desabafar.

– sinto muito por isso Erik. Mas por que alguém teria medo de você? - falou Louise com cuidado, pois devia ser um assunto delicado para ele.

– por causa disso - falou ele apontando para a máscara - isso foi e ainda é o motivo do meu sofrimento.

– as pessoas são tolas Erik. Eu aprendi a confiar na musica, pois diferente das pessoas, a musica não nos decepciona - respondeu Louise. Ela queria perguntar por que ele usava mascara, mas não queria deixá-lo ainda mais triste, ou pior, deixá-lo irritado com ela.

Erik não falou nada, apenas olhou para Louise. Como podia aquela garota ser saber de tantas coisas? Talvez ela também já tenha passado por rejeições, pensou ele. Isso só a tornava ainda mais parecida com ele.

– Erik, prometa que não vai mais ficar com essa tristeza nos olhos.

– e como não ficar? - perguntou ele. Por que aquela garote insistia em se preocupar com ele?

– do jeito que eu já lhe falei. Com musica.

Decidida a fazer ele se sentir melhor, Louise o convenceu a voltar a sala dos instrumentos. Ela tocou algumas das musicas que sabia, e fez questão de pedir para ele acompanhá-la. Logo os olhos dele estavam brilhando novamente. Aqueles olhos pareciam duas esmeraldas brilhantes. Ela ficou a observar aqueles olhos verdes por um tempo. Erik olhou para ela, e Louise corou violentamente ao ver que ele tinha percebido ela o observando.

– qual o motivo do rubor em suas faces Louise? - perguntou ele. Erik já tinha percebido que ela o encarava, mas não tinha falado nada.

– não é nada - respondeu ela, sem olhar para Erik.

– então seu rosto fica corado sem motivo? - falou ele se divertindo com a situação.

– eu estava observando seus olhos - confessou ela, corando mais, como se isso fosse possível.

Erik riu. Aquela menina tinha algo que o fazia esquecer-se do mundo ao seu redor, ate de Christine ele esquecia. Mas estava na hora dela voltar lá para cima.

– lamento dizer isso, mas você deve voltar agora, ou sentirão a sua falta - falou Erik.

– quanto tempo já se passou? - perguntou ela. Era difícil saber as horas naquele lugar.

– já se passou um dia desde a sua apresentação. Venha, eu lhe mostrarei o caminho.

Louise seguiu Erik pelas passagens e corredores, e ficou surpresa ao ver que chegara a seu quarto por um grande espelho que havia ali.

– não sabia que tinha uma passagem aqui! Agora entendo como aquela sua rosa apareceu misteriosamente!

– meu segredo foi descoberto - falou Erik - mas eu virei lhe visitar algumas vezes Louise. Para cumprir a minha promessa de fazer-te uma musicista famosa!

– obrigada por tudo Erik! - falou ela, indo até ele. Louise o abraçou. Por um momento ele não correspondeu devido ao susto por alguém tocar-lhe, mas logo a abraçou também.

– foi bom conhecer você, Erik. Ate mais!- disse Louise entrando no quarto.

– ate - despediu-se Erik, fechando a passagem. Dava para ver que Louise tinha atitude. Ninguém havia abraçado Erik antes, nem mesmo sua mãe. Ele ainda sentia o perfume de flores de Louise, quando chegou novamente a casa do lago.