Pov Ally

Nos separamos com um sorriso nos lábios e eu dei uma risadinha tímida seguida de um leve empurrãozinho em Austin.

—Ei, venham pra cá!

Olho para a mesa onde estávamos e vejo Trish e Dez acenando.

—Vamos?

—Vamos!

Ele estende uma mão para que eu pudesse levantar e aproveito para tirar todos os matinhos que ficaram na minha perna e no meu short.

—Faltou um lugar...

Austin aponta para mim com um sorriso travesso nos lábios e eu reviro os olhos. Sacana!

—Tira pra mim, sem ousadia!

Ele levanta as mãos sorrindo e solta uma piscada. Dou risada enquanto ele tenta tirar o capim porque estava preso no ferro do bolso bem na nádega esquerda.

—Ei, você me beliscou!

Falo dando um tapa em seu pescoço. Ele revida o tapa em minhas pernas e puxa o mato do short.

—E a senhora não sabe ficar quieta! A culpa não foi minha!

—Austin, você bateu em uma mulher?! - pergunto fingindo estar brava

—Você é travesti, assume!

Ele sai correndo em direção a mesa e eu vou logo atrás revirando os olhos e rindo.

Chego mais que exausta ( morta) na mesa e todos olham para mim

—Que? Eu não posso ser sedentária? Respeita!

—Ally, minha mãe ligou e pediu que eu voltasse para casa, tem algum problema para você? - pergunta Trish

—Não meu bem... - falo olhando no relógio em meu pulso - até que está tarde, vamos?

Olho para Austin e ele sacode a chave do carro nas mãos. Dez se despede me dando um abraço e um soquinho no Austin.

—Me conta tudo depois?

Puxei Trish para o canto e a mesma sorri de orelha a orelha

—Claro!

Os meninos entram nos carros e cada uma segue o seu caminho.

Entro no carro e a primeira coisa que faço é ligar o bluetooth do carro e vinculá-lo ao meu celular. Hozier.

—Nossa, esse homem é perfeito!

Coloquei no modo aleatório e a primeira música que caiu foi '' Take me to church''

—Gosto das músicas dele também! - Austin responde

Olho para ele e coloco uma das minhas mãos em sua coxa. Ele se assusta com o toque e arregala os olhos.

—Calma! Não vou fazer nada...

Falo rindo e sinto que ele relaxa um pouco mais. Voltávamos pelo mesmo caminho, mas o ambiente e a estrada não eram a mesma coisa. Eu conseguia sentir uma presença estranha, não era aquela coisa calma que você sente quando tem uma grande lua no céu e o clima está friozinho.

Olho fixamente para a estrada e vejo um pequeno ponto de luz um pouco mais a frente.

—Austin, diminui...

— O que?

Peço que diminua a velocidade a tal ponto que o carro vai parando aos poucos. Tiro o cinto de segurança e vou até esse ponto.

—Fica aqui...

Não consigo tirar os meus olhos da pequena luz. Austin tenta sair do carro mas eu estendo a minha mão sobre ele e o mesmo não consegue mexer um músculo sequer. Não dou muita importância para o que aconteceu e apenas bato a porta do carro ignorando os chamados de Austin.

Caminho com passos curtos, atenta a todo e qualquer movimento que possa ser perigoso para mim. Ao chegar um pouco mais perto a luz vai tomando forma e logo logo a imagem de um homem vai se formando. Ele estava vestido com um terno branco com alguns botões amarelos que pareciam ser ouro. Tinha uma postura elegante e um olhar de fogo. Sim, tinham chamas em seus olhos.

—Boa noite

Paro em sua frente e no mesmo instante o homem resolve se pronunciar

—Boa noite. - respondo

Olho atentamente cada parte do seu corpo. Observo sua postura, seus gestos, seus olhos...

—Ally...

—Como sabe o meu nome? Quem é você?

Ele arruma sua postura e anda ao meu redor.

—Sou um anjo, não se preocupe...

—Como sei que não é apenas uma enganação?

Pergunto calmamente olhando em seus olhos. Não consigo desviar minha atenção deste homem. Ainda consigo ouvir os chamados de Austin, porém, aquela presença é muito forte.

—Está com medo? - pergunta

—Deveria estar?

—Você sente que está com medo ou você tem medo?

Paro para refletir sobre o que ele acabou de falar e percebo que não há nenhuma sensação que me faça sentir ameaçada.

—Tudo bem, confio em tua palavra. - falo por fim

—Ótimo.

—Então, por que está aqui e por que eu estou conversando com você?

—Já sabe sua missão...

—Sim.

—Começou seu treino?

—Qual treino? - pergunto

—Como acha que vai ser essa batalha? Que vai jogar suas lágrimas em lúcifer?

Cruzo as pernas e os braços olhando para o lado em sinal de vergonha. Sim, esse era o meu plano.

—Você é patética se pensa assim.

—Por acaso é comum pessoas serem anjos?

Ele me encara e chega mais perto.

—Acho melhor você falar para o seu amiguinho começar a te treinar. Caso você morra, eu e mais uma legião de anjos teremos que assumir o seu trabalho. Então não ache que seu papel é muito importante. Pessoas são substituíveis, inclusive anjos.

Ele cospe essas palavras em meu rosto e desaparece sem ao menos dizer tchau ou mexer alguma parte do seu corpo. Eu fico ali, parada, apenas pensando no que acabou de acontecer. Ouço o barulho do carro sendo ligado e em segundos Austin para o veículo ao meu lado.

—Entra.

Faço o que ele pede em silêncio. Entro no carro ainda anestesiada e ele me puxa pelos ombros fazendo com que eu olhe em seus olhos.

—Ally, acorda!

Ele estala os dedos em meu rosto e eu respondo sem pensar duas vezes

—Meu treinamento começa depois de amanhã.