O Anjo Que Chora
Capítulo 10
Pov Ally
Nos separamos com um sorriso nos lábios e eu dei uma risadinha tímida seguida de um leve empurrãozinho em Austin.
—Ei, venham pra cá!
Olho para a mesa onde estávamos e vejo Trish e Dez acenando.
—Vamos?
—Vamos!
Ele estende uma mão para que eu pudesse levantar e aproveito para tirar todos os matinhos que ficaram na minha perna e no meu short.
—Faltou um lugar...
Austin aponta para mim com um sorriso travesso nos lábios e eu reviro os olhos. Sacana!
—Tira pra mim, sem ousadia!
Ele levanta as mãos sorrindo e solta uma piscada. Dou risada enquanto ele tenta tirar o capim porque estava preso no ferro do bolso bem na nádega esquerda.
—Ei, você me beliscou!
Falo dando um tapa em seu pescoço. Ele revida o tapa em minhas pernas e puxa o mato do short.
—E a senhora não sabe ficar quieta! A culpa não foi minha!
—Austin, você bateu em uma mulher?! - pergunto fingindo estar brava
—Você é travesti, assume!
Ele sai correndo em direção a mesa e eu vou logo atrás revirando os olhos e rindo.
Chego mais que exausta ( morta) na mesa e todos olham para mim
—Que? Eu não posso ser sedentária? Respeita!
—Ally, minha mãe ligou e pediu que eu voltasse para casa, tem algum problema para você? - pergunta Trish
—Não meu bem... - falo olhando no relógio em meu pulso - até que está tarde, vamos?
Olho para Austin e ele sacode a chave do carro nas mãos. Dez se despede me dando um abraço e um soquinho no Austin.
—Me conta tudo depois?
Puxei Trish para o canto e a mesma sorri de orelha a orelha
—Claro!
Os meninos entram nos carros e cada uma segue o seu caminho.
Entro no carro e a primeira coisa que faço é ligar o bluetooth do carro e vinculá-lo ao meu celular. Hozier.
—Nossa, esse homem é perfeito!
Coloquei no modo aleatório e a primeira música que caiu foi '' Take me to church''
—Gosto das músicas dele também! - Austin responde
Olho para ele e coloco uma das minhas mãos em sua coxa. Ele se assusta com o toque e arregala os olhos.
—Calma! Não vou fazer nada...
Falo rindo e sinto que ele relaxa um pouco mais. Voltávamos pelo mesmo caminho, mas o ambiente e a estrada não eram a mesma coisa. Eu conseguia sentir uma presença estranha, não era aquela coisa calma que você sente quando tem uma grande lua no céu e o clima está friozinho.
Olho fixamente para a estrada e vejo um pequeno ponto de luz um pouco mais a frente.
—Austin, diminui...
— O que?
Peço que diminua a velocidade a tal ponto que o carro vai parando aos poucos. Tiro o cinto de segurança e vou até esse ponto.
—Fica aqui...
Não consigo tirar os meus olhos da pequena luz. Austin tenta sair do carro mas eu estendo a minha mão sobre ele e o mesmo não consegue mexer um músculo sequer. Não dou muita importância para o que aconteceu e apenas bato a porta do carro ignorando os chamados de Austin.
Caminho com passos curtos, atenta a todo e qualquer movimento que possa ser perigoso para mim. Ao chegar um pouco mais perto a luz vai tomando forma e logo logo a imagem de um homem vai se formando. Ele estava vestido com um terno branco com alguns botões amarelos que pareciam ser ouro. Tinha uma postura elegante e um olhar de fogo. Sim, tinham chamas em seus olhos.
—Boa noite
Paro em sua frente e no mesmo instante o homem resolve se pronunciar
—Boa noite. - respondo
Olho atentamente cada parte do seu corpo. Observo sua postura, seus gestos, seus olhos...
—Ally...
—Como sabe o meu nome? Quem é você?
Ele arruma sua postura e anda ao meu redor.
—Sou um anjo, não se preocupe...
—Como sei que não é apenas uma enganação?
Pergunto calmamente olhando em seus olhos. Não consigo desviar minha atenção deste homem. Ainda consigo ouvir os chamados de Austin, porém, aquela presença é muito forte.
—Está com medo? - pergunta
—Deveria estar?
—Você sente que está com medo ou você tem medo?
Paro para refletir sobre o que ele acabou de falar e percebo que não há nenhuma sensação que me faça sentir ameaçada.
—Tudo bem, confio em tua palavra. - falo por fim
—Ótimo.
—Então, por que está aqui e por que eu estou conversando com você?
—Já sabe sua missão...
—Sim.
—Começou seu treino?
—Qual treino? - pergunto
—Como acha que vai ser essa batalha? Que vai jogar suas lágrimas em lúcifer?
Cruzo as pernas e os braços olhando para o lado em sinal de vergonha. Sim, esse era o meu plano.
—Você é patética se pensa assim.
—Por acaso é comum pessoas serem anjos?
Ele me encara e chega mais perto.
—Acho melhor você falar para o seu amiguinho começar a te treinar. Caso você morra, eu e mais uma legião de anjos teremos que assumir o seu trabalho. Então não ache que seu papel é muito importante. Pessoas são substituíveis, inclusive anjos.
Ele cospe essas palavras em meu rosto e desaparece sem ao menos dizer tchau ou mexer alguma parte do seu corpo. Eu fico ali, parada, apenas pensando no que acabou de acontecer. Ouço o barulho do carro sendo ligado e em segundos Austin para o veículo ao meu lado.
—Entra.
Faço o que ele pede em silêncio. Entro no carro ainda anestesiada e ele me puxa pelos ombros fazendo com que eu olhe em seus olhos.
—Ally, acorda!
Ele estala os dedos em meu rosto e eu respondo sem pensar duas vezes
—Meu treinamento começa depois de amanhã.
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