O Anjo Perdido

Capítulo 2. O Vale dos Caídos I


Capítulo 2 – O Vale dos Caídos I

Para almas que estivessem acostumadas a locais quentes, lamacentos e agitados quando fossem buscadas por demônios, ou até mesmo quando viessem a ter um comportamento agressivo – inadequado ou hostil ao viverem suas experiências na Terra , talvez chegassem a pensar que tivessem ido parar no local errado. Entretanto não era. Para a infelicidade dos que passavam por um dos obscuros portais, guardado por Leviatã – Ferreiro conhecido por municiar os comandantes do lugar com espadas, com escudos e com lanças bastante afiadas –, ou pelas outras entradas, monitoradas, respectivamente, por Asmodeus, Marduk e por Azaradel, aquele era o famigerado Vale dos Caídos – que recebera tal nome porque vários líderes tinham sido, em tempos longínquos, importantes seres celestiais. Mas a vida era outra agora. Administrar uma área tão extensa de terreno, ocupada por inúmeros seres, não era uma tarefa fácil, ao contrário. Sempre havia os descontentes, os desertores; o problema era identificá-los quando estes se mantinham em silêncio.

E agora que o Príncipe das Trevas, Samael, não se encontrava no Vale, o respeitado General Belzebu era o encarregado de pôr ordem no lugar. E ele o fazia com mão de ferro. Sempre severo, ostentava uma armadura negra com listras verticalmente prateadas; com o tridente em punho por incontáveis horas, como lhe fora ordenado, Belzebu tornava a existência espiritual de almas condenadas e de demônios de divisões menores em um calvário bem mais sofrível do que de costume.

E havia um bom motivo para isso; descobrir quem era o chefe das entidades que iam a Terra a fim de procurar desvendar o mistério sobre a vida do menino Samuel, e por que elas o queriam por perto. Por isso o Vale se mantinha quieto, parado, frio; frustrado, porém, que estava frente à falta de respostas por parte de seus algozes, Belzebu foi ter com quem se propôs a auxiliar o jovem.

– Nada funciona... Que droga! Por que não inventamos outro modo mais eficaz de fazer com que falem? – sugeriu o General, ao entrar na sala onde a imponente figura estava.

– Tem algo em mente? – perguntou, pondo-se de pé.

– Bem, primeiramente, seria bom que livrássemos os humanos das amarras; creio que nenhum tenha parte nessa história.

– E depois, o que pensa fazer?

– Levarei os demônios para o Subsolo. Concorda?

– Excelente. Faça-os falar.

– Mas e se não obtivermos a informação que você quer? Qual é a próxima ordem, que quer que eu faça?

– Os mate – o tom era duro, mais firme do que o habitual.

Acha mesmo necessário sacrificarmos valiosos soldados somente por causa de um... Humano?

– Se fosse apenas isso, meu caro Belzebu, daria toda razão ao que diz – justificou-se, após suspirar impaciente.

– O que há então? – questionou, baixando as asas em sinal de respeito a ela.

– Não posso contar a você sem que consiga um tempo para conversar com o menino antes.

– Então por que não vai até ele?

– Porque não posso aparecer por lá quando seus pais estão por perto. Pode ser perigoso. O Sr. Felipe é muito violento com o garoto; não quero atrair nenhum demônio até lá. Isso seria trágico e o pai dele seria possuído em um passe de mágica.

– Hum... Ok. Mas me diga uma coisa, já sabe o que há com esse tal Samuel?

– Sim, sei. Só não entendo por que os demônios o querem. Ele não é do Vale, nem nunca será. Arranjaríamos uma grande confusão se esse garoto viesse parar aqui.

– Confusão... Com... Os Anjos de Luz?– O General se negava a proferir qualquer nome celestial, devido à amargura que o dominava.

– É isso mesmo. Agora compreende bem por que pretendo auxiliar o menino Samuel, não é?

– Entendo sim, Chefe. Então farei o impossível para que as entidades me digam o que querem com o jovem. Assim que obtiver tal resposta, irei onde estiver e avisarei você.

– Certo. Vamos.

Belzebu saiu da sala da mulher. Ela o acompanhava; pretendia vir a Terra para descobrir se Wolkmmer estava sozinho ou não. A investigação fora mais rápida do que o esperado; ela já sabia o que diria a ele, embora se mostrasse apreensiva com a reação que o menino pudesse ter.

Quanto ao General, teria uma longa noite pela frente, ao interrogar os demônios da divisão número mil quatrocentos e oitenta e seis e das demais repartições.