O Anjo Perdido

Capítulo 17. De Volta a Terra


Capítulo 17 – De volta a Terra

Após uma estada de cerca de cinco horas no templo erigido a Uriel, que fizera questão de abrigar a Deusa da noite, Castiel e a amiga retornaram à residência onde estavam antes. Ele, agora no físico de Samuel Wolkmmer, se recordava, com indescritível alegria, das agradáveis horas passadas em companhia do irmão que tanto admira. O pouco que conversaram foi uma rápida, mas relevante retomada na amizade que ambos tinham até que os trágicos fatos ocorressem.

Somente agora o anjo se lembrava de quão importante fora Uriel para sua ascensão junto ao Criador.

– Talvez seja por isso que minha querida companheira o chame de Fogo de Deus – pensou, em um largo sorriso.

Ele estava feliz por reencontrar Azrael, Gabriel e Uriel – os poderosos Arcanjos que convivera de maneira mais próxima quando morava no Céu –, ainda assim, Castiel amava todos os anjos e Arcanjos, mesmo que estivesse longe da casa do Pai por longos catorze anos. O distanciamento, contudo, não diminuiu o amor por tudo e todos aqueles que provêm do Senhor.

Sentado ao lado da cama onde a demônia dormia, ele zelava por ela com todo cuidado de que necessitava. O anjo permaneceu horas ali. Como percebeu que a amiga não acordaria tão cedo, se levantou e foi à cozinha, onde começou a preparar um bom jantar.

Assim que tudo estava pronto, Castiel decidiu por bem chamá-la. Conforme recomendações de Raphael, não era bom deixá-la dormir por muito tempo.

– Acorde, amiga – falou carinhosamente, inclinando-se sobre ela e tocando em seus cabelos. – Preparei algo para comermos.

A garota abriu os olhos, se espreguiçou demoradamente, o observou por alguns instantes e se surpreendeu ao vê-lo tão próximo dela.

– Está bem, vamos. Preciso, porém, de apenas um minuto – Castiel se sentou ao lado da cama. A moça, por sua vez, ainda com ar sonolento, comentou, brincando:

– Se os pais de Samuel estivessem aqui, e vissem você me tratar com tamanho carinho, acreditariam na hora que estamos de fato juntos. Obrigada por tudo querido.

– É – respondeu ele, rindo da constatação feita. – Tem razão. De nada. Estou aqui para isso: ajudar no que for preciso. – o rapaz fez uma pausa. – Você está bem?

– Sim, estou. Até parece que dormi por uma semana inteira. E você, tudo certo?

– Sim, tudo. Fiquei bastante preocupado com uma certa criatura...

– Hum, quem será? – perguntou sorrindo.

– Você, claro. É o único ser que se importou em desvendar tudo que ocorria em minha existência. Mas, sabe, nem culpo os especialistas que me trataram nas clínicas... Eles não sabiam o que era. Sempre presos aos problemas da psique através de um sentido físico, não atentam para o restante.

– É. Só que os pais do garoto poderiam ter escolhido outro caminho – contra-argumentou.

– Concordo. Mas está tudo bem agora. Você está comigo – comentou. – Sinto-me seguro assim.

– Realmente... Eu tinha razão... – ela fez uma pausa. – Você é uma graça!

Castiel tornou a rir. Após o breve diálogo que ambos tiveram, ele a deixou sozinha por alguns instantes. Logo, porém, a amiga se dirigiu à sala, onde o anjo já tinha preparado tudo para que se alimentassem.

– É, você tem todas as características de um anjo – falou, enquanto ele a alcançava o prato depois de servir-lhe a comida.

– Por quê? – quis saber, curioso.

– Porque por acaso tem alguma idéia de quantos homens que vivem aqui na Terra fazem o mínimo necessário para cooperar com as mulheres, sejam elas irmãs, mães, esposas ou amigas?

– Não – Castiel a olhou com interesse. – De fato não tenho a mínima idéia - retrucou, ainda mais curioso.

– São poucos os que sequer cozinham um arroz para ajudá-las nas tarefas caseiras. Sempre há as exceções, mas, de um modo geral, eles não têm vontade, habilidade ou paciência para essas coisas.

– E por isso diz que sou um anjo?

– Sim, exato.

Castiel sorriu. A conversa prosseguia enquanto se alimentavam. Ambos falaram de toda tensão da rebelião, da morte dos Querubins, e de como fariam para aprisionar Abdiel. Até que a mulher perguntou a ele:

– Pronto para pegar a estrada comigo?

– Sim, com certeza! Iremos amanhã?

– É. Amanhã à noite. Irei ao colégio buscar você. Avise os pais do garoto que nós dois passaremos a tarde toda em meu lar. Certo?

– Sim, certo.

– Largarei você na residência de Felipe e de Heloísa agora mesmo. Afinal de contas, já é tarde.

– Não gosta de dirigir à noite? – perguntou, com um olhar curioso.

– Não tenho problemas quanto a isso. É mais perigoso, claro. Mas tanto faz; dirigir durante o dia ou durante a noite é quase igual para mim.

Os amigos continuaram a conversar. Entraram no V-8 preto sempre a falar sobre qualquer assunto – dos mais simples aos mais complexos –, tudo que lhes vinha à mente era comentado.

A convivência e as situações de perigo pelas quais passaram juntos fizeram com que eles criassem um forte laço de amizade, mesmo que soubessem de que não poderiam se ver com tamanha freqüência quando o ser alado retornasse ao Quarto Céu. Ele, entretanto, mantinha esperanças quanto a levá-la consigo, ainda que tivesse plena consciência de que era algo estranho conduzir uma criatura tida como demônia ao Paraíso. Mas tinha total convicção, também, de que a amiga já não era mais uma entidade maligna como as outras. Ela, por outro lado, procurava não nutrir a menor expectativa de seguir com o anjo após terminar a missão a qual se propôs, mesmo que quisesse acompanhá-lo. A crença de que não merecia voltar à casa de Deus era tão forte, que às vezes a sufocava de maneira implacável.

A garota deixou o rapaz na residência dos pais de Samuel. Depois, parou o carro em frente a um bar, fumou um cigarro e lá entrou para beber um pouco de vinho.

Assim que o líquido foi servido pelo garçom, ela foi abordada por um homem de estatura elevada e forte. Os olhos dele estavam totalmente escuros, o que indicava uma provável possessão demoníaca. Mas logo seria descoberto que se tratava de outro ser.

– Deusa da noite, eu venho à sua presença a fim de falar algo muito sério – iniciou, o tom formal.

– O que é? – retrucou, sem paciência alguma.

– Príncipe Samael foi capturado – informou, um leve sorriso se formou em seus lábios.

– Não acredito! Você está mentindo para mim... – respondeu, apavorada com tal possibilidade.

– Não. Fui eu mesmo que o prendi – o ser lhe entregou um papel onde escrevera seu nome: Abdiel.

– Mas o que diabos quer aqui? – tornou a questioná-lo, um tanto surpresa.

– Conversar. Agora que Samael está preso, talvez não haja uma saída plausível para você. Tento dialogar e, assim, encontrar um modo eficaz para afastar você do meu caminho de uma vez por todas, mas reconheço que é bastante difícil fazê-lo. Porém não desisti de um acordo amigável. Libertarei o Príncipe das Trevas da cruel prisão assim que tiver a garantia de que não me atrapalhará em minha principal missão: levar Castiel comigo.

– Nossa conversa acaba por aqui – respondeu, pondo-se de pé enquanto o fuzilava com um olhar agressivo. Bem sabe que não há acordo a ser feito, ainda mais se os termos continuarem a ser esses... Não abandonarei Castiel agora.

– Permitirá que Lúcifer apodreça em uma prisão suja e macabra, na qual ele sofrerá todo tipo de tortura, para simplesmente não deixar o anjinho vir comigo? – o tom era provocador. – É, realmente vejo que não é mais a mesma... Cansou do Primogênito – enquanto Abdiel falava, as pessoas se levantavam e saíam do bar. – Sei, porém, que não conseguiu seduzir Castiel a ter um envolvimento com você. Talvez seja ele que o tenha feito – cogitou. – Diga-me, o que está por trás de uma relação tão próxima como a que possuem?

– Não farei acordo algum com você – foi ríspida e seca. – A resposta é essa.

– Ótimo! Samael saberá que o abandona em troca de um anjo que sequer ficará aqui – desafiou.

– Mas se Castiel me seduziu, como falou antes, talvez possamos viver juntos, ele e eu, Abdiel? – a demônia bebeu todo líquido existente no copo e, em seguida, jogou, com espantosa agilidade, a mesa em cima do anjo caído.

– Fez uma péssima escolha, Deusa da noite – ameaçou.

– É? Eu não acho; sei me virar muito bem, obrigada.

Ambos partiram para uma luta de proporções violentas, que devastou o bar em poucos minutos. Com tamanho barulho, os moradores das cercanias chamaram a polícia. Ao menos o local já estava totalmente vazio. Ela, ao concentrar sua energia, afugentou os que ali se encontravam.

A batalha, contudo, durou pouco. Foi só o Arcanjo Uriel aparecer para auxiliá-la, e Abdiel fugiu como um raio, oculto nas sombras de uma noite bastante silenciosa. Quanto à polícia, não vislumbraram nada. Apenas um local totalmente destruído. Quando eles chegaram ao bar, ninguém se encontrava ali.

Castiel conversava animadamente com Felipe e com Heloísa e sequer suspeitava de que a amiga necessitava de ajuda. Eles falavam sobre os dias nos quais o rapaz passou fora de casa. Os pais dele se mostravam contentes e satisfeitos com a repentina evolução do filho, e atribuíam-na, em grande parte, à mulher que conhecera em tão pouco tempo. Mesmo que não soubessem da história verdadeira, Felipe e Heloísa tinham toda razão.

Os três, então, foram dormir. A noite parecia calma. Nenhum som perturbava Castiel. As ruas estavam quietas até demais para uma madrugada de domingo. Por mais que a segunda-feira significasse o primeiro dia de trabalho da semana, nas cidades do planeta azul, o anjo aprendera que sempre havia os que gostavam de ir aos bares e às festas em qualquer data.

Ele, porém, fora acordado com algo quente a cobrir-lhe acama. E era fumaça e muito fogo. Um incêndio tomava por completo a residência dos pais de Samuel Wolkmmer. Desesperado para entender o que acontecia, o anjo correu ao quarto de Felipe e de Heloísa. Os dois tentavam escapar das chamas. E gritavam, inutilmente, pelo auxílio dos vizinhos.

– Permaneçam em silêncio, vermes malditos – ordenou um homem que surgira em meio ao fogo.

– Foi você que provocou o incêndio! ... É um ladrão... – falou Felipe.

– – Mandei que se calasse, seu inútil – comentou, enquanto derrubava o pai de Samuel ao chão. Eles iniciaram uma curta briga, a qual o demônio deu um fim horrível: assassinou Felipe esmagando seu crânio com uma enorme barra de ferro.

– Pai! Não! – exclamou o rapaz. – Mãe... Fique calma... E quieta... – ele apontou para o homem. – Deixe-a viver...

– Escute, quem dita as regras aqui sou eu. Sua mãe... Ou, melhor ainda, a mãe de Samuel ficará bem se permanecer calada e se não mover um dedo.

– Tire-a do fogo!

– Já falei, Castiel. Quem dá as cartas nesse jogo sou eu.

Furioso e desesperado para salvar Heloísa, o anjo saltou em cima do demônio, que ao erguer o braço direito com agilidade e firmeza a fez tombar de imediato. Após, a entidade tirou uma faca do bolso da calça e com um golpe preciso cortou a garganta dela.

– Quem mandou vir para cima de mim como se fosse o salvador da pátria? Fez sua escolha e a mulher acabou por morrer... São só humanos... Ovos que se quebram com espantosa facilidade, Castiel. Vocês anjos também pensam assim.

– Não – falou, contendo as lágrimas. – Você não sabe de nada...

– Ah, deixe de ser ridículo! – o fogo se aproximava ainda mais do rapaz. – Até porque, pratico um esporte, e é o meu favorito: fritar anjos em fogo brando.

Como não havia mais a possibilidade de salvar os pais de Samuel, o ser alado partiu para uma perigosa luta contra o demônio. A entidade, porém, dominava o elemento fogo com maestria, o que deixava o anjo em desvantagem. Mas alguém entrara pelos fundos da casa, parte na qual as chamas não tinham chegado.

– Aiperos, que surpresa! – exclamou a amiga de Castiel, enquanto acertava o demônio no braço.

– Você... Não sabia se viria...

– Falei que não o deixaria sozinho. Não foi? Venha – comentou. – Não podemos perder tempo aqui.

Ambos correram em direção ao V-8. O ser celeste, porém, estava preocupado com a moça, que apresentava alguns ferimentos, o que não era diferente dele.

– Você não está bem...

– Nós não estamos, anjão. Então entre, sente ao meu lado – ela apontou para o banco do passageiro. – E aperte os cintos!

A demônia deu a partida no veículo. Precisavam correr até a casa dela. A viagem foi bem mais curta do que de costume, tal era a velocidade com que o carro era guiado. Assim que chegaram, tomaram todas as medidas necessárias acerca dos ferimentos existentes neles e foram ao pátio. Ela trouxe água para que bebessem.

– Que bom que se sente bem – comentou, passando a mão na cabeça dele. – Fico aliviada!

– Foi um sufoco. Eu dormia... Estava tudo em ordem. Nem pesadelos tive. Quando acordei, vi fumaça... – fez uma breve pausa para organizar o raciocínio. – Quem era aquele demônio?

– Aiperos? – ele assentiu. – É um desertor poderoso. Foi leal a mim em tempos antigos.

– E agora, amiga, que fazer? Os pais de Samuel estão mortos... Como esse garoto ficará quando tomar consciência disso tudo?

– Ele tem total consciência dos fatos.

– Então quer dizer que o jovem sabe de que os pais morreram?

– Sim. À medida que mexo em sua memória, Samuel se mostra cada vez mais consciente. Mas ele confia em você. Por isso não se manifesta.

– Mesmo depois de hoje? Deixei Felipe e Heloísa serem mortos por aquela coisa... Às vezes considero-me inexperiente para tomar uma atitude drástica, ou para me impor frente a um inimigo poderoso.

– Que queria fazer, amigo? Os pais dele jamais acreditariam no que lhes diria – contra-argumentou.

– Eu sei – o tom desolador dele a preocupou.

– Sente-se culpado, não é? – a garota se aproximou do ser alado.

– Sim, bastante.

– Procure não ficar assim. Samuel confia em você... Eu confio em você. Sei da capacidade que possui para enfrentar a guerra que há aí fora – ela o abraçou e se limitou a permanecer junto a ele, e em silêncio, por um bom tempo.

De algum modo, a Deusa da noite percebeu que não seria bom demonstrar o carinho que tinha para com o anjo somente com conselhos; mas sim com gestos de compreensão. Depois de um tempo quietos, ele a questionou:

– Por que estava ferida quando chegou ao que restava da residência dos pais de Wolkmmer?

– Porque fui a um bar para beber vinho e recebi uma visita desagradável: Abdiel – contou.

– O que ele queria?

– Queria me avisar de que prendeu o Príncipe das Trevas, Samael.

– O quê! Não entendo como isso pôde ter ocorrido! – a reação dele foi de pura indignação.

– Também não compreendo. Belzebu e Leviatã virão aqui para me contar o que sabem a respeito do assunto.

– Eu lamento por tudo – dizia. – Sei quão importante Samael é para você – completou.

– Sabe, queria ter-lhe dito tudo que gostaria...

– E dirá – interrompeu-a. – O Primogênito não está morto. Abdiel precisa dele vivo como moeda de troca ou como alguém que possui vastos conhecimentos; o anjo caído não será inconseqüente de matá-lo de maneira grosseira.

– É, tem razão. Sinto, porém, algo estranho nisso tudo.

– Como assim, querida?

– Parece-me que há alguém a auxiliar os rebeldes. Nem imagino quem seja, mas é uma entidade poderosa demais.

– E como descobriremos de quem se trata?

– O primeiro passo é falar com os mais próximos a Lúcifer: Belzebu e Leviatã. Veremos o que faremos depois.

– Por favor – falou Castiel. – Me prometa que me levará junto com você ao Vale quando for investigar ou for solucionar algum problema? – a demônia respirou fundo e respondeu:

– Está bem, prometo. Por que quer ir comigo até lá?

– Para proteger você.

– Está certo – comentou. – Nós nos protegeremos juntos então! Que acha da idéia?

– Ótima!

Belzebu e Leviatã pousaram no pátio da casa enquanto os amigos dialogavam. Ao notarem que estavam tão próximos, o Primeiro General disse, brincando, algo que não costumava fazer:

– Querem que... Voltemos em outra hora?

– Não, engraçadinho – falou a mulher de negro, depois de rir bastante. – Isso ainda não é necessário.

– Eu ouvi bem? Ela disse ainda, amigão – falou o ferreiro a Castiel. – Tem noção do problema em que se meteu?

– Alguma – respondeu, sorrindo, o anjo. Para ele tinha sido inicialmente estranho conviver com entidades tidas como demoníacas. Agora, porém, estava acostumado às brincadeiras de parte deles.

– Então, nos fale sobre os fatos que antecederam a prisão de Samael, General – pediu ela.

– Bem, foi algo surpreendente. Nós estávamos a conversar, Leviatã, Nergal, Alastor, Azazel, Samael e eu, quando uma intensa força obscura, totalmente negra, preencheu toda a casa onde nos encontrávamos. Ao cessar a lúgubre energia, Mestre Lúcifer não se fazia mais presente no recinto.

– Força obscura... Tem certeza disso?

– Sim, Chefe.

Leviatã também confirmou a versão dos fatos que fora apresentada por Belzebu. Os dois servos leais a Samael já tinham elaborado um plano para atacar Abdiel, mas a demônia os impediu de concluí-lo.

– Nós faremos diferente dessa vez: vamos descobrir quem é e onde está o traidor. Por falar nisso... – a mulher fez uma pausa. – ... Onde está Kasbeel?

– Tem trabalhado conosco. Entretanto se isola na maior parte das vezes – informou o ferreiro. – Ele geralmente regressa para o esconderijo que tinha antes de ser acordado.

– Hum. E onde o anjo se encontra agora? – perguntou, o tom desconfiado.

– Não sabemos, Chefe – comentou Belzebu. – Por quê?

– Talvez seja ele o desertor.

– É mesmo! Como não tínhamos pensado nisso! Vamos procurá-lo com toda urgência possível e resgatar o nosso Mestre! – exclamou Leviatã.

– Nem pensar – ponderou ela. – Os dois espertinhos fecharão os portões de entrada do Vale. Após, vocês terão de organizar os demônios leais em um exército fortemente armado para guardar o sombrio abismo e, com isso, defenderão nosso território. Mesmo que Samael tenha me expulsado, retomo o comando agora, até que o Primogênito esteja bem e até que possa exercer o cargo de novo. Belzebu, não permita que ninguém entre no Vale... Nem humanos. Indique-lhes, se insistirem em adentrar o lúgubre local, que esperem no umbral... Tornaremos a abrir o abismo depois que tudo isso cessar.

– Sim, Chefe.

– Leviatã, coopere com o general na missão que lhe ordenei. Eu quero todos, sem exceção, trabalhando em prol do território que temos. Até porque, há filhos de Deus por lá. Não desejo que nada lhes aconteça.

– Sim, pode deixar!

– Mas, permita-me que pergunte – Belzebu se aproximou dela. – Quem a acompanhará quando for atrás de Kasbeel?

– Castiel – informou, a expressão preocupada.

– Acha mesmo que nosso amigo está pronto para tamanho desgaste ao ... – o General notou que o anjo não se lembrara de que Kasbeel e ele, Castiel, tinham uma estreita ligação sangüínea – ... Entrar no Vale com o hostil clima que está no ar?

– Sim, com certeza – concluiu, sem deixar margem para objeções.

Os dois anjos caídos partiram com o claro objetivo de executar a missão de que foram incumbidos, quando a mulher tornou a chamá-los para dizer:

– Não se preocupem... Eu tenho a chave do abismo. Poderei entrar lá sem que abram o portal negro para mim.

Eles assentiram e foram embora da residência. Havia muito trabalho a ser feito nas próximas horas. Castiel, por sua vez, que se mantivera quieto durante todo o diálogo dos três, agora estava intrigado. Por que não poderia ir ao Vale, se já estivera lá antes? O que Belzebu queria dizer, que acabou não dizendo?