Passaram tempos... sec'los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!...
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

“Eu não vou voltar para Hogwarts no ano que vem.” A voz de Draco quebrou o silêncio que já durava horas. O momento da invasão dos Comensais se aproximava. Snape falara que amanhã seria o grande dia, quando Dumbledore deixaria o colégio e este ficaria desfalcado de seu principal protetor. Os braços do garoto estavam em roda de Hermione possessivamente, enquanto ambos deitavam muito quietos em um quarto simples e confortável, feito especialmente para eles pela Sala Precisa. Ele sentiu como os ombros dela se mexeram enquanto a garota suspirava.

“Eu já havia imaginado isso há algum tempo, Draco.” Hermione respondeu, a voz dela não mais do que um sussurro. “Devo admitir que, se as coisas continuarem como estão, acho que eu também não voltarei.” A voz dela quebrou no fim, o que fez o jovem apertá-la com mais força contra si, desejando poder protegê-la do sofrimento que estava por vir. Ele engoliu em seco.

“Enquanto Dumbledore estiver por perto, você não corre nenhum perigo.” Falou contra os cabelos dela, seus lábios acariciando-a levemente. Pensou em como faria para mantê-la afastada da luta que aconteceria no dia seguinte. Não podia usar a Sala Precisa como uma prisão, porque precisava usá-la. E sabia que, se ela não estivesse presa, insistiria em tomar parte na batalha. E se ela não estivesse segura, a mente dele não poderia se concentrar em sua tarefa. Estavam em um impasse, e a pessoa a quem ele recorria quando em dúvida era a mesma de quem ele precisava guardar aquele segredo. Hermione.

“Dumbledore não é eterno, Draco.” A menina falou suavemente, sua voz desprovida de emoção, enquanto os dedos dela se agarravam com mais força em sua blusa. Você não faz idéia, minha querida, ele pensou melancólico.

“Hey, por que amanhã você não vai até Hogsmeade? Você precisa se distrair. Anda muito preocupada...” Draco comentou, em uma tentativa desesperada de protegê-la para o dia que viria. Ela bufou contra seu peito e riu, divertida.

“Não seja bobo. Amanhã não é um final de semana de Hogsmeade. Não é nem final de semana! Sabe que eu jamais mataria aula.” Draco sentiu seu maxilar tencionar, mas permaneceu em silêncio. Por que ela tinha que ser sempre tão certinha? Por uma vez, não podia quebrar as regras? Nem mesmo pela segurança dela mesma?

“Se Potter ou Weasley lhe pedissem para ir a Hogsmeade fazer algo por eles, você não hesitaria, nem mesmo se tivéssemos testes finais no dia.” Deixou escapar a frase por entre dentes semicerrados. Não pretendia dizer aquilo, mas a verdade de suas próprias palavras o corroeram por dentro. Sentiu a cabeça dela, que até então estivera escondida em seu pescoço, se mexer. Ao olhar para baixo, encontrou olhos castanhos cheio de reprovação lhe encarando.

“Por que você gosta tanto de falar sobre Harry e Ron? Entendo que não goste deles, mas são meus melhores amigos! Você jamais me veria falando sobre sua relação com Crabbe, ou Goyle, ou mesmo Blaise.” A garota comentou, franzindo o cenho diante da expressão neutra de Draco.

“Minha amizade com eles é diferente, você sabe disso.” Ele respondeu, desviando o olhar daqueles olhos amendoados que ele sentiria tanta falta. “Você trata Potter como se fosse um santo, e Weasley como se fosse-” Não terminou a frase, balançando a cabeça levemente ao invés.

“Somos só amigos, Draco! Quantas vezes tenho que te dizer isso?” Hermione disse, se afastando do namorado o suficiente para poder se apoiar em seus cotovelos e encará-lo novamente, seu rosto alguns centímetros acima do de Draco. O jovem teve que fechar os olhos para evitar olhar para ela. Por que sua vida não podia ter sido mais simples? Por que ele tivera que tornar a vida dela difícil também, ao se envolverem? Abriu os olhos outra vez. Ela não se mexera.

“Hermione. Eu quero terminar.” As palavras saíram duras, ríspidas até. Era a última opção que ele tinha. A última coisa que queria fazer. Mas protegê-la era essencial. E enquanto ficassem juntos ela jamais estaria, de fato, segura. Hermione piscou confusa, sua boca se abrindo ligeiramente.

“O quê?” Ela perguntou de forma estúpida, se sentando na cama bruscamente. Draco imitou seus movimentos de forma mais lenta, cruzando os braços em sua frente.

“Eu sou um Comensal da Morte. Logo, logo, irei embora para nunca mais voltar. Seguirei as ordens do Lorde das Trevas em pessoa. Não fica bem eu...” O garoto não conseguiu se fazer terminar. Sentia um nó na garganta, e temeu que fosse começar a chorar. Ele não podia chorar, droga! Tinha que ser forte. Pelos dois. Desviou o olhar da garota de olhos arregalados e marejados em sua frente.

“Não fica bem você namorar uma sangue-ruim?” Hermione terminou a frase dele, sua voz machucada. Draco fechou os olhos com força diante da expressão que ela escolhera usar. E pensar que antes tal termologia não lhe causaria nenhum efeito. Agora, porém, a mera menção do nome sangue-ruim fazia com que ele sentisse vontade de azarar alguém. Ele engoliu em seco, se forçando a sorrir e voltar a olhá-la, dando de ombros.

“Bem, é. Sabe que eu gosto de você mas... Acabou. Pense em nossa relação como algo bobo. Uma paixão de colegial.” Discursou ele, falando rápido, com medo que perdesse a coragem de falar aquelas palavras que lhe cortavam por dentro.

“Uma paixão de colegial?” A voz dela estava descrente. Hermione se levantou de um salto, andando em frente à cama incessantemente. “O que eu sentia por Lockhart era colegial. O que eu sentia por Krum era colegial.” Ela parou finalmente, lágrimas descendo lentamente por seu rosto perfeito. “O que eu sinto por você não é!” Terminou ela em um sussurro. Draco teve vontade de levantar da cama, abraça-la, beija-la e falar como ela era boba por acreditar que ele não a queria mais. Ao invés, deu um sorriso triste.

“Por favor, não faça isso mais difícil do que é.” Falou, olhando para uma pintura de um casal feliz á sua esquerda, que acompanhava o fim do romance dos dois jovens como se fosse algum livro muito divertido. Passou a mão por entre os cabelos. “Não existe um ditado, que diz que corações jovens se curam facilmente de um coração partido?! Então. Você vai ficar bem, com tempo.” Ele se impediu de olhar para Hermione. Se fizesse, sabia que seria o fim de sua atuação. Porém, não podia se impedir de ouvir os soluços suaves dela. Draco se odiava a cada segundo mais.

“Eu não que-quero um coração par-partido!” Hermione disse num murmúrio, se aproximando da borda da cama onde Draco estava. Pelo canto do olho, ele viu o movimento dela fazendo menção de pegar a mão que descansava em seu colo. Ele afastou-a rudemente. Não podia sentir o toque quente de Hermione. Não podia. Não agüentaria. Lançou os mais breves dos olhares para a garota, que levou a mão a boca para sufocar um soluço.

“Draco...”

“Eu acho que você devia ir.” Ele falou com uma voz desprovida de emoção, voltando seu olhar para suas unhas. Hermione ficou em silêncio por alguns segundos, e ele podia sentir o peso dos olhos dela em si. Após alguns momentos, ela se afastou, pegando sua mochila que repousava em uma cadeira ali perto. Draco finalmente se permitiu encara-la. Precisava gravar a imagem de Hermione ali, bem, segura, ao seu lado, pela última vez. Já bem próxima da porta, ela virou o rosto levemente, falando por cima do ombro.

“Para onde você vai? Ano que vem, quando não voltar para Hogwarts?” Draco piscou, surpreso diante da pergunta inesperada. Ele deu de ombros, indiferente.

“Para casa.” Ele ouviu-a rir, divertida.

“Claro que sim. Me esqueci por um segundo que você é sangue-puro. Sua vida é tão fácil.” Ela balançou a cabeça. Deu as costas para ele e abriu a porta. Já estava do lado de fora, quase com a porta fechada, quando ele a ouviu dizer “Adeus, Draco.” A voz dela tremera ao se despedir. A porta foi fechada com força, fazendo o eco continuar no quarto por alguns segundos. “Adeus.” Draco murmurou, finalmente se deixando chorar contra os travesseiros.