As muralhas da No.6 haviam caído e meu sonho de que tudo se tornasse um só se concretizou. Uma fina chuva começou a cair e Nezumi, estranhamente, desapareceu entre as sombras, como o rato que ele é.Deveria estar feliz, não é? Estava em casa, onde eu queria estar, então por que meu peito doía tanto? Chuva me lembravam o dia que o conheci, o dia que selei meu destino ao dele. O dia que pude ver aqueles olhos e ter uma reviravolta estranha em minha vida.

A No.6 não parece mais a mesma. As pessoas parecem felizes, poderia dizer. Sentia imensa a falta de Safu, mas nada poderia substituir a falta que Nezumi fazia todos os dias, principalmente em dias chuvosos. A cada dia, o desejo de o ver ficava mais forte e cada leve som contra minha janela fazia com que a esperança voltasse a tona, esperando que ele estivesse do outro lado do vidro, mas ele nunca estava.

Hamelet era o único que aparecia. A guarda-cães também havia sumido. Como todo o resto. Minha mãe estava bem, parecia mais jovem do que realmente recordava-me.

Era estranho pensar que Nezumi tinha noticias de mim, mas eu não poderia ter noticias dele. Era doloroso. Sufocante. Agoniante. Era injusto.

Sem pensar em meus atos de ficar doente ou qualquer besteira do tipo, abria a janela e ia para a chuva, indo para a rua, em direção a qualquer lugar solitário o bastante, que combinasse comigo naquele momento. A chuva, subitamente, apertou um tanto, o frio tomava conta de meu corpo rapidamente.

Apenas queria saber se ele estava bem. Se estava se alimentando direito. Ou onde ele estava e se estava dormindo direito. Se não estava machucado... Se ainda estava vivo... Não! Ele realmente estava vivo, não é?

Agitava a cabeça rapidamente, tentando dissipar os pensamentos tumultuados. Quando parava de movimentar o mesmo, meus olhos se prenderam naquela figura escura a minha frente, os cabelos levemente molhados, indicando que havia saído para a chuva à pouco.

- Nezumi... - Sussurrava o nome dele, sabendo que não poderia ouvir.

Seus passos guiavam-me para perto dele, mas logo parava ao notar que o mesmo imitava-me. E chegando perto, tirava algo de suas costas e a passava por sobre meus ombros. Era uma capa de chuva. Meu rosto ficou parcialmente escondido pela sombra que o capuz da capa fazia, mas não fora capaz de impedir o beijo suave que Nezumi depositou sobre meus lábios e sem dizer nada, ele continuou se encaminhando para um local onde eu não poderia segui-lo. E subitamente, como um rato, desapareceu de minha vista, mesmo que tenha deixo o capuz cair sobre os ombros e virado parcialmente o corpo para lhe ver. As palavras "Não vá embora" queimavam em minha garganta... Ou talvez fosse o choro contigo que queimava, não sabia definir.

Quando ele colocou a capa sobre meus ombros e deu-me aquele beijo, senti como se fosse o beijo anterior que havia lhe dado. Um beijo de despedida.

Mas, a verdade era que eu não poderia aceitar que aquilo fosse uma despedida, mesmo sabendo que seria incapaz de mudar as coisas.

Senti algo escorrer do canto dos meus olhos e entendi que as lágrimas contidas tinham desejo de se juntar as gotas da chuva e isso elas o fizeram.

Depois daquele dia, nunca mais o vi.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.