"Se nós dois pudéssemos ser mais honestos, poderíamos ver um pouco mais... a flor do amor balançando."


Hori Masayuki tinha que admitir...
Kashima era boa em tudo. Bom, quase tudo.

Isso era no mínimo, mesmo sendo visto todos os dias, impressionante. Ela não tinha dificuldade nenhuma em falar com as pessoas e conquista-las com sua lábia de príncipe. Atuava com tanta maestria que a platéia e o presidente chegavam a esquecer que aquela apresentação era de um simples clube de colegiais. Boa em esportes e em qualquer diabo à quatro que você pedisse pra ela fazer. E mesmo com tudo isso, Kashima tinha uma das melhores notas de todas as turmas do 2° ano.

A sua kouhai era a estrela do clube de teatro. E Hori teria ainda mais orgulho de exibi-la se a mesma fosse responsável. Infelizmente, "responsabilidade" não estava na lista de qualidades de Kashima. Ele tinha que todos os dias buscá-la, ou melhor, arrasta-la para que cumprisse os horários. Nem as boas atuações dela chegavam a diminuir a raiva que Hori derramava na mesma em forma de violência.

Mesmo assim, Kashima tanto em defeitos e qualidades fazia efeito em Hori.

O principal deles, era o sorriso.

Ah, o sorriso dela. Era mais cativante que qualquer personagem que ela viesse a fazer. O brilho dos olhos - verdes como esmeralda— ao contemplar a plateia aplaudindo-a em pé, o fisgava de uma forma que era difícil desviar. Mesmo que irritante as vezes, Hori custava a disfarçar seu sorriso idiota ao ouvir a voz estridente dela ressoando por toda a escola chamando-o de "senpai".

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Kashima Yuu difícilmente ficava nervosa e ansiosa com algo. Mas mesmo quando ficava, não deixava transparecer para suas adoráveis e fiéis fãs. Não podia de jeito nenhum decepciona-las apesar da noite horrível que teve. Até porque, não conseguia achar uma resposta para tamanha êxtase. Tamanho rebuliço em seu interior.

"O quê ou quem fez isso comigo?"

Mas não conseguiu disfarçar de seu melhor amigo - ex rival de quem ganhava sempre.

Mikoshiba tinha perguntado, logo cedo pela manhã, o que tinha acontecido. Mas Kashima respondeu que era o sono, pois tinha ficado até tarde ensaiando o texto para a peça especial do festival.
Em parte era até verdade, mas o que não tinha a deixado dormir era mesmo a pior das inimigas do ser humano: ansiedade.

Mikoshiba balançou a cabeça levando-a achar que ele a tinha compreendido. Mas ele ainda tinha um ponto de interrogação na cabeça. A sua amiga explicou a situação corando em vários tons de vermelho, subindo até as orelhas. Kashima nunca, nunca corava. Isso era muito estranho.

"Kashima... você está bem mesmo? Não quer ir à enfermaria?" Mikoshiba encarou a amiga vermelha curioso.
"Claro que não Mikoshiba, estou bem. Não se preocupe." A menina virou o rosto para o lado oposto ao do garoto. "Só preciso dormir bem e vou voltar ao normal."
"Então... tudo bem. Seria terrível se você ficasse doente agora. Hori-senpai ficaria completamente desesperado.

"Hori-senpai"

Ouvir o nome do rapaz do 3° ano fez um rebuliço inimaginável em seu corpo. Tudo bem que estava pensando nele já fazia tempo, mas... ouvir o nome em voz alta fez o coração de Kashima palpitar em resposta e Mikoshiba notou um mínimo sorriso no rosto emoldurado da garota.

"Desesperado?" Kashima não pode deixar de perguntar.
"Não é óbvio? O festival é daqui uns dias certo? Por acaso haveria alguém pra te substituir assim tão em cima da hora?"

"Ah." Kashima pensou. "Mas será que ele ficaria preocupado somente por isso?"

Mikoshiba vendo que falava sozinho, saiu da sala atrás de Nozaki e Sakura, afinal, já tinha percebido que os pensamentos da amiga não estavam ali.
"Provavelmente no andar do 3° ano."

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Hori passou a manhã voando.
Não se lembrava de absolutamente nenhuma aula da manhã. Tinha feito as atividades completamente no automático e só quando um de seus colegas de classe estralou os dedos na sua cara dizendo que já era a hora do almoço, Hori retornou à terra.
Não lembrava direito nem das matérias que teve naquela manhã. Teria que revisar cada pedacinho em casa pois a única coisa que tinha fincado e grudado em sua mente era o novo papel de Kashima na peça do festival. A "coisa" era a própria garota. Pela primeira vez pegou um papel da heroína. Mas isso não tinha deixado o rapaz receoso, até porque todo mundo sabia, ainda mais ele, que a sua kouhai ficava perfeita em qualquer papel. Ela era perfeita.

Hori balançou a cabeça decidido a deixar as preocupações e responsabilidades de presidente para os horários do clube.

Porém, quase sem perceber, o rapaz pensa que o figurino para Kashima vai combinar perfeitamente com seus olhos verdes. Aqueles malditos olhos verdes. Tão brilhantes e puros, os quais vinham seguindo-o e perfurando-o quando achavam que ele não estavam vendo. Ah, mas ele viu. Ele os pegou no ato. E quando eles desviaram, Hori não pode deixar de ficar surpreso com seu coração batendo numa velocidade absurda.

"Ah... já estou pensando nela de novo."

Hori, surpreendentemente, percebeu só naquele momento que o dia inteiro só esteve pensando em sua kouhai.
Até seus colegas já tinham percebido que sua perseguição à garota atrasada era muito mais que um trabalho de presidente, tinha algo mais. Era algo que ele não deixava ninguém mais fazer. Eles viam claramente que para Hori, a presença de Kashima ia além de suas obrigações para com o clube.
Hori riu de si mesmo. Eles eram mais perspicazes sobre seus sentimentos do que ele próprio.

"Meu Deus. Pela Kashima..." balbuciou meio surpreso com a descoberta tão óbvia.

O rapaz deitou a cabeça na mesa sentindo o rosto quente e deixou-se brotar um sorriso bobo no rosto.

Estava apaixonado.

"Apaixonado pela Kashima. Quem diria..."

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Quando o horário de ensaiar chegou, o coração de Kashima palpitava em expectativa sem saber exatamente a razão disso. As mãos começaram a suar assim que entrou no clube. E seu estômago parecia um frizzer de tão gelado que tinha ficado.

"Kashima! Pelo amor de Deus, onde diabos você estava?"

Quando a voz de Hori chegou em seus ouvidos e sua pessoa vinha em sua direção - diga-se de passagem, nada feliz - ela soube quem era o culpado de tanto rebuliço.

Era o mesmo senpai de ontem, da semana passada, do mês passado, o mesmo do ano passado - aquele que tinha dito à ela em sua cerimônia de admissão que ela tinha porte pra atuar. Ainda era o Hori que Kashima admirava e gostava tanto. O presidente do clube que quando atuava, não havia uma pessoa que não ficasse de queixo caído. O rapaz responsável e sério com compromissos. Aquele que todos os dias - exceto aquele - ia buscá-la para os ensaios.

Mas ao mesmo tempo, ele, ao olhos de Kashima e seus ainda não entendidos sentimentos, estava diferente.

Brilhante.

A voz dele dando as instruções tomou os sentidos da garota. Ele falava com autoridade mas ela não prestava mais atenção ao que era dito. Kashima se pegou reparando em como seu peito mexia enquanto ele respirava para tomar o fôlego.

"Ele sempre foi assim...?"— a menina sentiu o rosto queimar em consequência ao pensar que mesmo sendo um pouco baixo em comparação à ela, Hori era bem... digamos, forte.

"Kashima-kun?" A garota virou em direção à voz que a chamava e se acalmou ao ver que era só sua senpai, a vice presidente do clube - Mizutani Umi.

"Ah, Mizutani-senpai... que susto! O que foi? Precisa de alguma coisa?"

"Eu não. Mas e você?" Mizutani inclinou a cabeça de lado com um sorrisinho sabido. "Perdeu algo no kaichō?"

Kashima tentou explicar a situação com o rosto quente tentando de todo o jeito disfarçar.

Mas disfarçar de quê?

E quando diabos tinha virado um garota boba e insegura?

Kashima pegou suas coisas e saiu indo pra casa mais cedo. No caminho, sentia um incômodo e uma leve angústia em seu coração.
Saiu, pois sua cabeça não ia funcionar direito com seu senpai lá.

"Hori-chan-senpai"

O rapaz não tinha notado sua saída, tão pouco a tinha a arrastado para ensaiar hoje e mal a tinha olhado.

"O que está acontecendo comigo? Não preciso ficar tão chateada com uma besteira dessa."

Não era besteira. Afinal, ele estava diferente com ela.

"Indiferente."

Kashima não sabia, mas o rapaz queria parecer estar normal, pois ele já não sabia direito como agir perto dela sem parecer um idiota.

Mas a garota não queria o normal de Hori.

Ela queria saber se aquilo em seu coração, que parecia mais um furacão de desejos e sentimentos, também fluiam no do garoto. Se ele pensava nela tanto quanto nele. Se antes de dormir pensava nela ali, do seu lado, em um abraço. Se ele também a desejava.

"Ai meu Deus..." Kashima pois a mão no peito sentindo-o pulsar mais forte em consequência aos sentimentos tão visíveis em si.

Ah, ela entendeu. A 'príncipe' galanteadora finalmente entendeu.

Ela queria saber se ele também estava apaixonado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.