Não chore meu amor

Não chore meu amor


Abatido. Eu estou triste, melancólico, aborrecido [...] Tudo isso porque ficar nessa empresa está me fazendo mal. E pensar em sair dela, me tornaria a pessoa mais imbecil deste planeta. Estou de saco cheio já. Não sei para onde ir. Se eu pelo menos conseguisse fazer com que o grupo todo fosse para um outro lugar melhor do que este, se dependesse de mim tudo isso rolaria, mas o fato é que não...não depende de mim, né?


Mas enfim, conversei com Junsu e Yoochun sobre isso e eles aderiram a ideia. Disseram-me que vinham pensando nisso há meses. Junsu reclamara a respeito da carga horária de trabalho. O que eu claramente concordo. Nós dormimos apenas 4h por dia, sem contar dos dias em que passávamos madrugadas em claro decorando uma música e a sua respectiva coreografia. Penso também sobre os álbuns solos que nunca pude fazer pois isso iria “sujar” a imagem do grupo. Sim, sério, um aliado do nosso manager chegou a me dizer em particular que sou somente um rostinho bonito e que se eu fizesse tal ato, os outros seriam prejudicados por isso. Tá, eu sei que sou lindo mas os outros membros são muito lindos e tão talentosos quanto eu. Yunho me encorajava nessas horas, o que era muito bom. “Um dia você vai conseguir, Jae. Não ligue pra ele!”


Enfim, agora estão todos reunidos na mesa da cozinha, para um jantar que foi feito por mim, Ainda está sendo feito para ser mais preciso. Acabo de fritar umas omeletes, colocando-as em um prato. Tempero a salada dentro de uma vasilha, e os deixo sobre a mesa.


— Huuuum, omeletes, valeu Jaejoongie – disse Changmin colocando duas omeletes e um bolo enorme de salada de repolho e alface em seu prato.


Eu o respondo com um sorriso de canto de boca e preparo o meu prato. Uma omelete e um pouco de salada, com isso já me sentirei satisfeito.


— Nossa, vocês estão calados, o que está acontecendo? – diz o líder pasmo – Vocês estão assim pelo lance da SM, né? Jae, está tudo bem? Já disse que tudo vai se resolver...

Eu me fecho ao ouvir tais palavras, não estava preparado para lhe dizer o porquê de eu e talvez os outros estarem mal. E então digo:


— Ah é, sim. Não, mas estou bem, Yun. Está tudo certo.


Ele me olha com uma cara de desconfiança, a qual me fez ficar com um nó muito grande na garganta, a ponto de continuar a dizer:


— Bem, na verdade, não, Yun. – Junsu e Yoochun me olham. Seus olhares são de espanto. Sei que ser sincero nessas horas é a melhor opção.


— O que acontece? – questiona ele.


— O problema, Yun, é que... – gaguejo muito ao falar – Eu, o Junsu e o Yoochun, nós estávamos pensando em realmente tomar medidas drásticas e finalmente sair da SM e posteriormente por conta disso, nós vamos deixar o TVXQ.


Lágrimas, elas começam a escorrer de meus olhos...


— Jae, eu entendo. Vocês querem a liberdade. A liberdade que TODOS nós aqui queremos. Poxa, mas vocês estão falando sério? Boojae, isso é muito loucura, fazendo isso você vai acabar com tudo. E como ficaremos nós dois? A SM é muito perversa, eles não me deixarão te ver nunca mais. Já chegou a pensar nisso? E o nosso futuro juntos, lutando por direitos iguais, os nossos direitos? Você pensou nisso também? – Ele estava quase chorando, suas lágrimas caiam lentamente.


— Yunho, você está fazendo muito drama. Não é bem assim. Tudo vai se resolv...


Ele me interrompe bruscamente e diz: - Então prova, quero provas de que tudo vai ficar bem. Não é como se você pudesse ver o futuro por acaso...


— Não seja assim, Hyung....HYUNG! – Ao Changmin dizer isso, Yun já estava prestes a sair em alta velocidade, esbarrando o seu ombro em mim. Não deu para ver o seu rosto depois mas antes, ele parecia segurar o choro. Changmin larga a comida e corre logo em seguida atrás do rapaz.


Logo após Yunho e Changmin saírem de cena, Yoochun e Junsu me abraçaram. Eu estava completamente sem chão, porque não havia mais o que fazer com relação a isso. Não havia.


— Tudo vai melhorar, Jae – disse Junsu


— Eu sei que vocês se amam, ele vai entender tudo o que você disse – completou Yoochun


— Obrigado, pessoal. Agora vou para casa descansar um pouco. – suspirei ao terminar a fala


— Jae, tem certeza? Faz meses que você renuncia ficar em casa para ficar com a gente. – disse Yoochun


— Certeza absoluta, pretendo voltar e tocar uma de nossas melodias no piano, e então fazer um cardápio em especial essa noite para o jantar. Se quiserem, mais a noite, a janta vai estar pronta, podem me visitar. – digo o mais confiante possível


— Tudo bem, Jae. Obrigado pelo convite. Vamos ficar aqui por enquanto. – disse Yoochun


— Sim, juízo vocês dois – digo em um sorriso contagiante ao perceber que eles formam um belo casal, apesar de nem se assumirem ainda. – Adeus


Desço devagar as escadas do apartamento. Já no pátio, destravo o alarme do carro e vou em direção à casa. Não era muito longe de Junsu. Então por fim, chego em alguns minutos. Mais rápido do que imagino. Entretanto, segundos parecem horas. Dentro de casa tudo parece ficar pior. Tudo parece ter a chance de me atormentar. Sigo até o quarto, deixo meu celular na cômoda, meus pensamentos voam longe ao me deparar com aquela foto.


Aquelas palavras, todas elas...fui eu quem as disse? Olho fixamente para o porta retrato em minha cômoda. Culpa, arrependimento, tristeza. Nem mesmo sei o que estou sentindo agora. Lágrimas descem lentamente dos meus olhos ao ver aquela foto. Não eram amigos. Era uma família. A minha família. E estávamos juntos.

Eu não acredito em divindades ou me algum poder divino para comemorar essas festas, mas estar com eles preenchia a minha espiritualidade (a foto retratava uma festa que ocorrera na igreja onde Junsu participava) A conexão que nós cinco tínhamos juntos era algo no qual eu levava muito a sério. Junsu e sua gargalhada “Oo Kyan Kyan” estridente, Yoochun nos fazendo rir com a sua Chunface, Changmin no meu pé me pedindo comida. Ah e você Yunho. O meu Yunho. Memórias doces sempre me vem quando lembro do líder. Desde quando nos conhecemos e éramos como irmãos na infância, até hoje, quando a nossa irmandade se estendeu e passou a formar laços mais fortes.

“Yunho, cadê você, Yun?”


Esbravejo socando o espelho do quarto com meus punhos. O mesmo se trinca aos pedaços. Ao olhar aqueles cacos de vidro quebrados me vêm somente uma coisa a mente. Pego um deles e fico imóvel, totalmente estático o observando. “Não, não vou fazer isso” digo a mim mesmo me enchendo de lágrimas. “Se é pra se sentir vivo, tenho algo melhor”, meus passos vão até a cozinha, abro a geladeira, seguro duas garrafas. Uma de soju e a outra de cerveja. Com as mãos trêmulas, pelo resultado de meu desespero, faço uma mistura de suas soluções em um copo e rapidamente bebo tudo num só gole.


Apesar de eu não estar satisfeito com um copo, um copo foi o suficiente para que a minha visão se embaralhasse toda, já que a minha cabeça doía de tanto chorar. Conforme engolia, colocava mais a junção das duas bebidas no copo.

“Yunho...Yunh...Yun...Yu” seu nome fugia de minha boca.


Senti que bebi demais ao ver que me tremia todo, suando frio. Prossegui meus passos até a sala, onde fui deitando lentamente no carpete cinza plumado, sentindo cada membro do meu corpo ir se relaxando um por vez. E sem mesmo me der conta, apaguei.

“Ding-dong...ding-dong”


Por que raios escuto o barulho da campainha? Céus, o que estou fazendo aqui? Imediatamente olho para o celular, que estava em minhas mãos, onde aponta os contatos do Yunho. Espera...Yun? Ah, verdade, tudo aquilo aconteceu. Pensei que tinha me ocorrido somente um terrível pesadelo. Saio em imediata dos meus devaneios ao escutar:


— Jae! Jaejoong!! Jae, abra a porta!


Era ele, Yunho.


Mas por que ele viria? Que eu saiba estava tudo acabado entre nós, segundo ele havia dito. Tento levantar, caminho em direção a porta e giro a maçaneta. Quase desmaiei novamente, o que evitou tal ato foi Yunho ter me segurado aos prantos.


— Boojae... Meu deus, Jae... Você está bem? – diz ele me segurando nos braços.


Ainda permaneço meio desordenado. – Eu bebi um pouco – digo


— Por quê? Eu te amo. – dizia o moreno unindo lentamente seus lábios aos meus


Depois disso eu realmente não sabia mais o que se passava comigo. E na situação em que estava, acabei cedendo completamente a ele. O que era suave estava ficando intenso. Yunho mordia os meus lábios, ao mesmo tempo em que me olhava com vontade. Mas logo percebi que a vontade dele era diferente. O líder, assim como sabia comandar a situação, sabia também como controlá-la. Ele parou com seu possível ato que traria prazer e resolveu ser carinhoso.


Eu sabia que ele faria isso, pois ele sempre parava seu jeito tentador para escutar meus desabafos, o que eu realmente tinha para dizer. Ele me considerava como parte da família, assim como eu o considero isso e mais um pouco. Brandamente o moreno me coloca deitado no sofá vermelho. Ele levanta com um suspiro profundo e torce um olhar suave à mesa. Ele olha e vê claramente que eu bebi. Mas ao lado havia algo que nem mesmo eu sabia o que era.


— O que é isto, uma carta? – diz o moreno surpreso


Aos poucos, a minha memória falha, se tornava evidente. Uns dias atrás eu havia escrito essa carta, é de uma música que compus seguida de uma mensagem. E era exatamente para Yunho.


Ele sorri ao ver que no envelope tinha um adesivo de elefante. Ele sabia o meu gosto pra tudo, por isso me achava tão familiar assim. Ele abriu a carta, e resolveu lê-la em alta voz:

”Não chore meu amor

Finalmente estou bem?

É o que todos me perguntam

Me vejo tão triste

Minhas lágrimas passam por minhas mãos

Quando as lágrimas caem cegando os meus olhos

Posso te ver claramente

Não chore meu amor

Não sei se deveria te levar comigo

Ainda guardo tantas memórias

Fecho os meus olhos por um momento

Ainda te adoro tanto

Deveria deixar isso pra lá, mas não posso te deixar ir

Você me ensinou tantas coisas

Como deixar você agora?

Novamente, eu bebi

Te chamo mas você não me atende

Novamente eu choro

Sobre o que nós falamos?

Somente palavras desagradáveis

Agora eu nem sequer consigo dizer o que sinto

Agora não posso mais alcançar aquele sonho distante

O amor que estive esperando

Não posso tê-lo

A promessa que fizemos, de derramar nossas lágrimas juntos

Eu posso vê-la agora

Eu te amo tanto, meu Yunnie.”


Eu o fito insistentemente nos olhos, e ele vem até mim com seu abraço de urso. Aquilo era a melhor coisa. O abraço dele é muito aconchegante. Eu o olho e ele, saindo de meu abraço, chora.


— A promessa que fizemos, Jae. Ela é e sempre será eterna. Eu entendo completamente e o que vocês vão fazer é para se sentirem melhor. Não é porque vocês me odeiam ou odeiam o Chang. Eu só precisava te ver novamente depois daquele nosso desentendimento. Eu fiquei preocupado com você, onde estava e o que ia fazer. Ainda bem que eu consegui chegar até aqui – diz ele em um choro sutil


— Yun, e para ser sincero, desta vez você me ligou, se preocupou. E eu sei que você se preocupou das outras vezes também, se você não me ligou em nenhuma delas, eu entendo perfeitamente, amor. – digo ao surgir borboletas no estômago


— Não, Jae. Me perdoe por isso, eu falhei com você e só quando a gente está prestes a perder uma pessoa que percebemos o nosso erro. Não posso dar desculpas como “não tive tempo”, afinal, quem quer sempre dá um jeito. E nós, mesmo com os erros, vamos continuar mantendo essa promessa viva, meu amor. Eu dou graças a deus por ter percebido o meu defeito.


Eu te amo, Jae.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.