Não basta abrir a porta

Desabafos tradicionais


Loja de Rodrigo –

(R): Oi tio, que prazer te receber aqui. – Rodrigo cumprimenta Lourenço com um abraço e o convida para sentar.

(L): Puxa Rodrigo, a última vez que estive aqui, esse lugar estava engatinhando, o seu showroom está incrível! As peças são lindas, acho que vim ao lugar certo fazer minha nova mesa de trabalho.

(R): Que bom que você gostou, graças a Deus está indo tudo certo, eu já tive que contratar duas pessoas pra me ajudar a receber os pedidos do site.

(L): Pelo que você me disse ainda tem muitas peças em Gramado, você não pretende ter um galpão aqui em Porto Alegre?

(R): Então, eu estou pensando em conseguir um espaço maior, para o showroom e o galpão ficarem juntos, nós fechamos um contrato com uma transportadora nacional, então estou contando que os pedidos para os outros estados aumente.

(L): Que maravilha! Mas você não está naquele mesmo ritmo de antes não né? Estilo Jonas Macedo..

(R): Imagina tio... não perco nenhum momento pra estar com as mulheres da minha vida. Até mesmo porque sempre tive uma sintonia boa com a Manu, a gente nunca deixa o outro exagerar...

(L): Eu tenho que te falar, desde que você se acertou com a Manuela, é visível a sua estabilidade, a felicidade estampada no teu rosto.

(R): Nem me fala tio... quando penso em todas as nossas conversas, a minha confusão de sentimentos, eu me sinto envergonhado...

(L): Imagina Rodrigo, você estava confuso, e com razão, o que você passou, o que vocês passaram, foi uma situação única.

(R): Eu sei, mas eu cometi um erro terrível quando insisti na Ana, mesmo depois que tinha acabado.

Quando lembro que mesmo depois que as duas estavam envolvidas com outros homens, eu focava no meu ciúme pela Ana, quando elas brigaram e a Nanda me contou eu fui atrás da Ana, quando eu flagrei a Eva de novo agredindo a Manu, eu procurei a Ana – Rodrigo olha pra baixo.

Sério tio, eu nem sei como eu pude ser tão cego.

(L): Não se tortura Rodrigo, no final você encontrou seu caminho de volta para a Manu.

(R): É verdade tio, eu sou tão sortudo que apesar de tudo a Manu não deixou de me amar, porque se ela não quisesse nada comigo, eu ia sofrer, mas jamais poderia dizer que ela estaria sendo injusta.

(L): Mas sabe que quando eu estava escrevendo meu livro e pensando na sua história, eu realmente acredito naquilo que eu te falei sobre a sua obsessão pela Ana.

(R): Sobre eu não achar que tinha mais volta com a Manu?

(L): Exatamente... Eu te disse isso antes e reforço que quando a Manuela, mesmo depois de conversar com você, te pegou beijando a Ana... aquele olhar que você descreveu foi o que te fez desistir dela, você percebeu o quanto ela não merecia passar por isso, daí com todas as tuas fichas na mão você investiu num relacionamento quase utópico com a Ana... e insistiu nele até onde deu.

(R): E até onde não deu né tio? Eu fico pensando se não fosse a vida, se não fosse a doença da Julia pra me fazer entender que o meu amor pela minha filha e pela Manu era o maior do mundo... Já pensou se ela realmente amasse aquele cara? ... Pelo que entendi ele chegou perto... eu ia perder a mulher, o amor da minha vida por conta de uma relação que só existia na minha cabeça e na minha lembrança, que eu investi e insisti porque achei que era o que me restava...

(L): Rodrigo o que é isso? Não queria te deixar nessa agonia! A vida aconteceu do jeito que tinha que acontecer e agora deu tudo certo não é mesmo? Você tem que se perdoar pelo que passou, afinal a Manuela já perdoou, senão não estaria contigo.

(R): Tem razão tio... eu surtei um pouquinho, mas a verdade é que mesmo que eu me perdoe, eu acho que nunca poderei esquecer esse erro, eu sempre tenho que lembrar o que aconteceu pra passar o resto da minha vida valorizando a oportunidade que a Manu me deu de voltar a dividir minha vida com ela.

(L): Eu sinto o mesmo com relação a minha história com a Celina e o Thiago... Vou passar o resto da minha vida compensando os meus erros.

Mas vamos deixar essa melancolia pra lá, me conta, como está tua vida? Já faz mais de um mês que você voltou pra sua casa, vocês conseguiram resgatar a mesma rotina?

(R): Na verdade tio, é uma vida toda nova... temos elementos de quando nos casamos e dos anos que passamos juntos antes da separação, mas é engraçado como estamos diferentes, mais soltos, mais livres... mesmo sem perceber antes, hoje sinto que tínhamos uma relação contida, e que agora é tudo que sempre devia ser.

(L): Tá vendo...! E você estava todo preocupado que não voltasse a ter intimidade com a Manu... é até engraçado lembrar do jeito que você estava desesperado porque ela não te deixava voltar pra casa... – Lourenço ri de forma contida.

(R): A única coisa que vou dizer tio, é que valeu a pena esperar... – Os dois riem e passam a conversar sobre a mesa que Lourenço queria encomendar do arquiteto.

Escritório do buffet – Nanda e Manu conversam enquanto tomam um café.

(N): Cunhadinha... vou te falar...nunca mais vamos falar de negócios no brechó ou na loja do Rodrigo... A comida daqui é infinitamente melhor. Vou falar pro meu irmão que ele pode deixar que todo mês eu vou vir direto com você e com o Jorge bater os números.

(M): Considerando a tua fome constante, eu não sei se isso é um grande elogio.... Afinal, de acordo com o Francisco você ainda tenta sobreviver na sua especialidade... requeijão com torradinhas...

(N): Para sua informação, eu evolui, agora é patê com torradinhas, afinal, com o sucesso da loja estou esbanjando... – Nanda fala séria o que faz Manu não segurar o riso.

Mas falando sério... Ainda bem que o Francisco sabe cozinhar... senão ele morria de fome e eu ia acabar sendo presa por maus tratos.

(M): Você não me engana Nanda, eu já vi você na cozinha, você com certeza tem mais talento que o seu irmão.

(N): Bom... que tenho mais talentos que meu irmãozinho, eu sei.

(M): Também não é pra tanto né Nanda. Estou limitando meu comentário apenas à cozinha...

(N): Hummmmm ... olha a cunhadinha toda pra frente... Relaxa que ainda não estou competindo com o maninho no quarto, até mesmo porque você ia ser uma jurada muito suspeita!

(M): Ai Nanda, você não muda... continua falando cada coisa!

(N): Nem vem que você me deu a deixa de presente...

Você está com sorte que tá casada com meu irmão, só por isso não te obrigo a me contar todos os detalhes como eu fazia quando você estava com o Gabriel, mas vai ter que me falar... Essa tua cara aí de quem tá melhor do que todo mundo é fachada ou a coisa ficou menos chata na cama?

(M): Sério você não se escuta né?! – Manu fala completamente vermelha, mas sem deixar de rir da espontaneidade da cunhada.

E eu já te disse que não era chato entre eu e o Rodrigo, só era mais calmo, mais cuidadoso.

(N): Humrum... peraí que eu cochilei um pouco com essa tua descrição de sexo animado...

Fala sério Manu, eu lembro que há uns meses você tava confessando aqui as maravilhas por baixo dos lençóis do Gabriel, então por comparação não da pra negar que o irmãozinho tava perdendo feio nesse quesito...

(M): Só você mesmo pra me fazer falar disso, ainda mais considerando que é seu irmão...

(N): Eu vou ignorar esse fato pelo resto da conversa, porque afinal de contas, ou você fala comigo ou com a sua irmã.... e no nível desconforto, ainda acho que eu sou a melhor opção...

(M): Manu faz uma careta e continua o assunto: Enfim... Eu não acho que a intimidade que eu tinha antes com o Rodrigo era chata – Nanda faz cara de quem não acredita – Mas de fato eu reconheço que eu me sentia mais desejada com o Gabriel... E agora, bom, agora eu tenho o melhor dos dois mundos.

Eu me sinto absolutamente amada pelo Rodrigo, e ele me tem com o mesmo carinho de sempre, mas aquele cuidado, aquela coisa contida não existe mais, eu me sinto completa com o Rodrigo como eu nunca tinha me sentido antes com ninguém, nem com ele mesmo. Entende?

(N): Claro que eu entendo, Manu, vocês estão apaixonados!

(M): Mas a gente sempre se amou Ana, eu nunca estive com o Rodrigo sem amá-lo.

(N): Eu não estou falando só de amor Manu, eu estou falando de paixão, tesão, coração na boca...

Eu não acompanhei o início do teu casamento com o Rodrigo, mas o que eu vi quando eu voltei de Londres foi uma relação bonita, com muito respeito, mas sei lá... Faltava um calor sabe?

Agora? Meu Deus, fora o que você já comentou comigo, eu fico constrangida de ficar no mesmo ambiente que vocês, os olhares que andam trocando são intensos, vocês estão sempre se tocando, se beijando, a pobre da Julinha vai ficar traumatizada... espero que pelo menos estejam trancando a porta do quarto...

(M): Tirando esses seus exageros, eu tenho que admitir que realmente o sentimento está diferente, mas está tão bom Nanda... Eu estou morrendo de medo que alguma coisa aconteça, que alguma coisa...

(N) Pode parar dona Manuela, você vai enlouquecer se pensar assim... Eu sei mais do que ninguém que quando a vida quer te dar uma rasteira ela vai fazer isso, não adianta ficar neurotizando... Se eu soubesse que ia perder o Lui, se eu me preocupasse com isso, com certeza ia perder momentos maravilhosos do lado dele pensando no que poderia acontecer... Não faz isso minha amiga! – Nanda aperta a mão de Manu.

(M): Você tem razão Nanda, eu nem posso imaginar o que você passou e eu sei que não adianta tentar viver de véspera...

(N): Então pronto! Aproveita tudo! Aproveita essa nova fase da tua vida, viaja com o Rodrigo, batiza todas as superfícies da tua casa e de qualquer lugar que dê vontade e não resulte em cadeia... porque paixão é pra isso... é um descontrole gostoso demais..

(M): É mesmo... combinado com amor então?

(N): Agora você tá tripudiando da encalhada aqui!

(M): Até parece... E aquele rolo com o pai do amigo do Francisco, qual o nome dele, Alexandre?

(N): Ahhh... A gente sai, da uns beijos, mais do que uns beijos, mas sinceramente... Não tem nada demais, e eu já estou pensando em como sair dessa sem respingar no Francisco e na relação dele com o Pedro, o filho do Alexandre.

(M): Mas de repente não falta só você dar uma chance?

(N): Não Manu... você sabe que eu dei uma chance pro meu vizinho... mas não deu certo, é a mesma coisa agora... Não se preocupa comigo não... sozinha eu te garanto que não estou me sentindo...

(M): Bom... você sabe que pode sempre contar com meu ombro e meus ouvidos...

(N): Acho bom... não é fácil ser amiga íntima da cunhada e ficar ouvindo as sacanagens que você anda fazendo com meu irmão por aí...

Manu se envergonha de novo e exclama.: Nanda!!!

As duas param de rir com o barulho da porta e ambas se surpreendem com a entrada de Rodrigo.

(M): Meu amor? Não te esperava! Achava que eu que ia te buscar na loja.

(R): Oi Nanda – beija Manuela – Oi amor!

(N): Bom... Já que o irmãozinho chato chegou, não dá mais pra gente conversar cunhadinha... – Ela abraça e beija o rosto de Manu em despedida – Maninho, já passei todos os documentos que você pediu pro Jorge, qualquer coisa me liga – Fala abraçando o irmão.

(R): Não estou te expulsando não Nanda... – Fala rindo.

(N): Como se eu fosse sair se você estivesse me expulsando.... A verdade é que a fofoca já rendeu bastante hoje e eu tenho planos pra mais tarde.

Deem um beijo na Jujuba por mim .

Rodrigo acompanha Nanda até a porta e aproveita para trancá-la.

(M): Posso saber o que o Sr. está fazendo?

Rodrigo caminha lentamente até Manu, laçando sua cintura e beijando-a lentamente.

(R): O que parece que estou fazendo – Beija-a de novo – Estou matando um pouco a saudade da minha mulher.

(M) Meu amor, eu já te disse que aqui não é lugar – Manu fala sem convencer, já se deixando levar por outro beijo.

(R): Acabei de ver a Patricia indo embora com a Fernanda e o Carlos trancando tudo... Não tem evento hoje a noite e estamos oficialmente sozinhos! Não fala pra eu parar – Rodrigo beija o ombro de Manu e vai lentamente empurrando a alça de seu vestido, vencendo a resistência da mulher.

(M): Eu não estou preocupada só de alguém ver a gente, a gente não pode fazer nada aqui, no meu trabalho meu amor... Vamos pra casa... Ainda temos que pegar a Julia na Ana.

(R): A Julia não vai nem perceber nosso atraso, ninguém vai saber o que a gente tá fazendo aqui... e eu estou morrendo de saudades amor... Rodrigo beija Manu enquanto senta no sofá da sala, puxando-a para seu colo.

Manu não resiste e acaba cedendo, ignorando a cabeça e confiando no corpo que precisa se entregar ao marido.

Quando terminam Manu se vê sobre o marido, olha seu rosto satisfeito e em vez de sentir vergonha pelo que acabou de rolar em seu escritório, ela sente a excitação do que fizeram e abre um sorriso.

(R): Posso saber do que você está rindo?

(M): Eu não acredito que eu acabei de fazer isso aqui!

(R): Pra quem não está acreditando, até que você foi bem real.

(M): Muito engraçadinho... mas agora vamos nos arrumar e buscar nossa filha, que eu quero jantar com a minha família, colocar minha filha pra dormir, tomar um banho com meu marido e dormir bem agarradinha com ele.

(R): Nossa... você acabou de descrever o paraíso, só essa cena me dá força pra não te ter aqui de novo.

Os dois se beijam e se arrumam para fazer ao pé da letra tudo que Manuela acabou de dizer.