Por Manu:

Salvador é linda!!

Uma pena que desde que cheguei tenho trabalhado tanto que mesmo estando aqui há mais de duas semanas não consegui ver quase nada.

Aposto que quem está adorando isso é o Rodrigo, que não esconde a satisfação quando digo que estou muito cansada para passear...

Na última conversa no Skype só a Julia estava um pouco preocupada com a possibilidade de eu não comprar o presente dela, posso com isso?

Estou adorando as minhas atividades aqui, é muito bacana perceber que tenho condições de identificar os problemas de uma cozinha e resolvê-los, e não posso negar que no meu tempo livre sou muito mimada, me sinto uma hóspede absolutamente vip.

E a Mariana, dona do hotel, estava sendo super atenciosa comigo, na verdade isso não mudou desde Florianópolis, uma pena que ela teve que voltar pro sul, de certa forma era minha única companhia para conversar de verdade além do meu celular. Pelo menos já está acabando e logo voltarei pra casa...

Mas mal eu sabia que logo em seguida eu ia acabar na companhia de aguem que eu estava com muito receio de encontrar...

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Noite – Manu no telefone, perto da piscina com um livro no colo.

M: Ok meu amor, guarda todos esses desenhos que eu quero ver assim que chegar em casa.

...

E você está gostando de passar essa semana na casa da sua mãe?

...

Que bom... não esquece de ligar pro papai também, porque senão ele vai morrer de saudades que nem eu...

...

Te amo Jujuba, beijos! Manu desliga o telefone e fica com o olhar perdido pensando na filha...

Um rapaz se aproxima por trás da espreguiçadeira que Manuela estava usando, ela se vira assustada quando ele fala...

Eduardo: Te ouvindo assim, parece que voltei no tempo.

Manuela: Que susto! Manu coloca a mão sobre o peito! Oi Eduardo...

Eduardo: Oi Manu! Desculpa... não quis te assustar, mas também não quis atrapalhar sua conversa com a Julia. Posso sentar? Ele aponta para a cadeira ao lado de Manuela.

Manuela: Claro... fica a vontade...

O coração de Manu bate muito forte! Esse era o encontro que ela queria evitar... não sabia como agir, o que dizer e já sentia o rosto traíra entregar seu nervosismo com sua coloração vermelha

Eduardo: E então, como você está? Já faz um tempo não é?

M: Estou bem, e você?

E: Tudo certo...

Você não vai perguntar o que faço aqui?

M: Esse é o hotel da sua irmã, não acho tão estranho que você esteja por aqui.

E: Então você pensou que poderia me encontrar? Ele pergunta com um sorriso de canto de boca que mexe com ela.

M: Não foi isso... não.. quer dizer... eu vim para trabalhar no restaurante, imagino que a Mariana te disse.

E: Exatamente! Quando ela acertou sua vinda pra cá eu estava viajando, mas quando ela chegou em Floripa e comentou que você estava trabalhando aqui eu decidi que era hora de checar o andamento das obras do anexo do hotel.

M: Pensei que você tinha dito que não ia mais ser o engenheiro de nenhuma obra da família.

E: Verdade... por isso que estou só acompanhando o progresso das coisas.... mas de repente Salvador ficou muito atraente. Eduardo a encara intensamente...

Manu percebe o flerte e sente uma mistura de constrangimento e um pouquinho de vaidade...

M: Eduardo, para com isso... A minha situação não é mais a mesma.

E: Então dessa vez você não está mais sofrendo pelo seu ex?

M: Na verdade não tem mais ex... Eu e o Rodrigo voltamos.

E: Ahhh... entendo...por essa eu realmente não esperava... então agora você é uma mulher casada de novo? Ele passa a mão em seus cabelos louros que insistem em cair nos olhos verdes.

M: Sim...

Durante o silencio constrangedor que segue, Eduardo tenta se conter, mas não consegue segurar a linga...

Imagino que você tenha se acertado com a sua irmã...

M: Sim, nós tivemos que enfrentar alguns problemas, todos nós, mas no final deu tudo certo...

E: Eu não diria que deu certo pra todo mundo... Mas depois que você sumiu, bom... não acho que você ficou muito preocupada se deu certo pra mim...

M: Edu, não faz assim... eu nunca te escondi as minhas circunstancias, você sabe que eu sempre joguei limpo...que nosso envolvimento era só de amizade.

E: Bom, eu até concordaria no início... Mas a gente foi se aproximando e parecia que cada vez que você voltava de Porto Alegre eu podia te sentir mais perto...

Daí teve aquela noite... Pra logo depois você ir embora... Mesmo você me dizendo adeus, eu pensei que quando você me ligou de Porto Alegre, me contando do seu susto, do nosso susto...

Manu: Eu sei... Já repassei mil vezes na minha cabeça o quanto eu devia ter agido diferente... Mas eu me despedi de você e acho que no fundo eu queria ficar com aquela lembrança da gente em Floripa...

Você sabe que eu não estava bem e eu não queria te deixar mal junto comigo e quanto aquela ligação, hoje penso que talvez não devesse ter falado com você sem ter certeza... mas é que enquanto eu esperava pelo resultado, eu não aguentei, precisei ouvir tua voz, você era o único com quem eu podia dividir minha aflição...

Manu se viu de volta à Floripa, há mais de um ano atrás e não podia discordar do engenheiro... de fato aos poucos o rapaz barbudo de cabelo louro e olhos verdes foi ganhando espaço na vida que ela levava em Santa Catarina.

Flashback 01:

Mariana: Manu, deixa eu te apresentar meu irmão Eduardo Vieira, ele que foi o engenheiro responsável pela construção do hotel. Edu, essa é a chef de Gramado que eu te falei... ela vai dar um rumo pra esse restaurante...

Manu e Eduardo se cumprimentam e quando se tocam os dois sentem alguma coisa, Eduardo olha bem pra Manu e pensa conhece-la de algum lugar.

Edu: Desculpa, mas eu tenho a impressão que já nos conhecemos.

Manu: Realmente você parece familiar, mas não consigo pensar como... Você já morou no RS?

Edu: Não...e você já passou um tempo por aqui? Ou pelo Rio de Janeiro... foi onde fiz faculdade.

Manu: Não... Minha vida foi basicamente Gramado e Porto Alegre...

Mariana que apresentou os dois com a absoluta intenção de servir como um cupido, acha graça do encontro e comenta:

Mariana: Quem sabe vocês não se conhecem de outra vida...

Edu: Sabe que eu gostei da explicação...

Manu ri meio embaraçada, mas não consegue esquecer o sentimento tão familiar que Eduardo lhe passou...

Flashback 02:

Desde que se conheceram Manu vê Eduardo com cada vez mais frequência... A explicação é uma obra que ainda está em andamento, mas Manuela estranha que o engenheiro parece passar mais tempo de olho na cozinha do restaurante do que nos retoques finais da área em construção....

O que acha ainda mais esquisito é que o sentimento de conforto com ele só parece aumentar, e considerando a sua solidão no decorrer da semana, a amizade entre os dois pareceu brotar e se desenvolver mais rápido.

Tinha alguma coisa em Eduardo que a fazia se sentir segura...

O rapaz por sua vez estava secretamente encantado pela chef de cozinha. Logo de cara, ela, da forma mais sutil possível, disse que tinha acabado de se separar e que estava trabalhando em Floripa pra curar o coração... Mas não me deu nenhuma brechinha...

Mas a vontade de passar tempo com essa recém conhecida tão familiar era tanta que ele quase esqueceu seu interesse romântico em prol da amizade que surgia.

Por Eduardo:

Eu dava um jeito de sair da construtora que trabalhava o mais cedo possível e com a desculpa de ver a obra do hotel que já andava sem mim há muito tempo, roubava um tempinho da Manu para tomar um café, conversar e às vezes até leva-la pra jantar em algum lugar.

O encantamento por ela só aumentava, principalmente quando a ouvia falar da filha... ficava me imaginando casado com ela, quem sabe com uma filhinha da idade da Julia e outro a caminho... Se eu achasse que tinha chance...

Mas até minha irmã, que primeiro tinha sugerido uma investida, falou pra mim que era melhor esquecer essas possibilidades com a Manu.

Mariana me disse que pelo que conversou com a Manu, ela ainda amava muito o marido, pois ninguém era tão magoado com uma pessoa que lhe é indiferente...

Desde então eu tentei frear meu coração, mas continuava atraído... E depois de um certo final de semana que ela passou em POA, ela me contou a história dela... Falou sobre a irmã, o marido, o flagra, o término e agora que o tal Rodrigo e a irmã dela resolveram namorar.

Sério... Foi horrível ter ela chorando nos meus braços... Ao mesmo tempo que percebi que ela estava surpresa com o próprio desabafo, mas ainda assim não rolou qualquer desconforto enquanto eu a consolava...

Depois disso, nos tornamos amigos de verdade... Eu até mostrei pra ela algumas poesias que tinha escrito... engraçado que ela se emocionou lendo a única que tinha feito com ela na minha cabeça.

Eu estava ficando confuso, mas não podia me afastar mais...

Flashback 03:

Por Manu

Eu estava para enlouquecer.... Passei meses tentando passar uma borracha em tudo que aconteceu na minha vida... tentando esquecer o Rodrigo, a Ana, o meu casamento...

Só queria deixar as minhas lembranças da Julia intactas, o resto eu coloquei em um baú, armazenado no fundo da minha mente.

Quando o Eduardo foi se aproximando, de cara eu sabia que não tinha nada a ver qualquer envolvimento com ele...

Não nego que achei ele lindo, charmoso, educado.. mas meu coração simplesmente não estava disponível e não tinha nada que eu pudesse ou quisesse fazer pra mudar isso.

O único problema era que mesmo racionalmente tendo decidido não me deixar levar, mesmo com o meu coração fechado, eu não conseguia ignorar a sensação de deja vu que sempre sentia com ele. Cada vez que sem querer nos tocávamos, parecia que tinham libertado várias borboletas dentro de mim...

Sem contar que mesmo o conhecendo tão pouco, sinto que fazia uma vida inteira que tinha ele ao meu lado. Já espero as reações dele, sei quando a mão vai escorregar pelo cabelo, quando ele faz arte pelo sorriso, ou ainda quando se irrita, apenas pela mudança de ritmo da respiração.

Isso não podia ser normal, nunca tive essa sensação com ninguém... Estava acreditando cada vez mais nessa conversa que ele sempre brincava de que nos conhecíamos de outra vida...

Mas foi quando eu realmente desabei, depois que o Rodrigo me falou que tinha voltado com a Ana, que eu me percebi muito próxima do Eduardo.

Jamais pensei que dividiria minha história assim, com alguém que mal conhecia, que me deixaria chorar no colo dele... Senti tanta segurança em sues braços...

Tinha certeza que se ainda não estivesse tão machucada, podia acontecer algo bonito entre a gente.

Flashback 04:

Por Eduardo

A Manu me acabou de me ligar contando da oferta em Salvador e acho que ela realmente vai pensar sério no assunto... e Agora? Será que ela vai aceitar? Se ela decidir ir é porque ela está se libertando de uma vez desse casamento... Pelo menos, não percebi nenhuma alteração no humor dela quando ela me contou que seu ex não estava mais namorando sua irmã.

Será que devo ter esperanças? Acho que seria capaz de ir contra o que disse pra Mariana e aceitar ser o responsável técnico da obra de Salvador só pra ficar perto dela...

Enfim...Passado um tempo, estava nervoso com o fim do trabalho dela no hotel e um dia, enquanto a acompanhava até seu quarto...

M: Eu não sei se vou aceitar Edu, tenho que conversar com minha filha, com minha avó... Também tenho que pensar no buffet, na Maria que conta comigo... Já estou longe há tanto tempo, nem sei se consigo começar tudo de novo, num lugar novo, em que não conheço ninguém...

E: Concordo que você tem que pesar tudo isso, mas pelo menos na adaptação eu posso até te ajudar...

M: Como assim?

E: Bom, digamos que a obra do hotel de lá pode se tornar um desafio pra mim...

M: Edu, calma, não toma decisões pensando em mim.

E: Eu não tomei nenhuma decisão, mas você não pode me impedir de querer ficar perto de você, afinal, de um jeito ou de outro você vai embora não é?

M: Pensa assim... Se a vida realmente quiser que as nossas histórias se cruzem de novo, elas vão cruzar.

Ela falou isso de um jeito tão solene, tão encantador que pela primeira vez não fiquei cego pelo medo de arriscar nossa amizade e a beijei...

Com certeza peguei ela de surpresa, mas não senti qualquer resistência, parecia que aquele momento tinha sido o limite pra nós dois..

O beijo.. Meu Deus, que beijo... eu nunca tinha tido um primeiro beijo assim.... tão cheio de história.

Parecia que sabíamos exatamente como funcionava o melhor ritmo para aquela dança de lábios e línguas... de respiração, de movimentos, de tudo... foi o primeiro beijo com mais cara de último beijo que eu já tive...

Nos afastamos e antes que eu dissesse alguma coisa ela beijou o canto da minha boca e após ver o meu sorriso bobo entrou no seu quarto.

Eu teria me sentido nas nuvens, se não fosse por um sentimento amargo que acompanhava o gosto doce de Manuela me dizendo que eu ainda não ficaria do lado dela...

Flashback 05

Por Manu

Quando eu estava pensando na possibilidade de me entregar de novo à vida, de me libertar do que aconteceu e de repente me tornar uma menina normal de 20 e poucos anos, tudo acontece de novo.

Desde que me ofertaram a posição em Salvador eu só conseguia ver na Julia qualquer amarra que me prendesse aqui no Sul.... E estava maquinando uma forma de fazer tudo dar certo, até dei uma abertura ao Eduardo que parece ter sentido minha guarda baixa e me beijou!

Jamais pensei que um beijo pudesse ser tão forte... Senti com ele um conforto que algumas vezes vislumbrei no Rodrigo após anos juntos.

Tudo com o Edu parecia ser assim, uma continuidade de uma historia que teríamos dividido... O conforto que sentíamos um com o outro não podia ser normal...

Mas eu sei que não posso enganá-lo! Não tem a menor chance de eu me envolver com ele agora... Eu nem saberia como abrir meu coração... E sem contar que no fim das contas, eu vou voltar para Porto Alegre, a Julia precisa de mim e ela sempre vai ser minha prioridade.

Jamais vou me arrepender do caminho que escolhi, a Julia é a minha razão de existir e por isso, não penso duas vezes em deixar as oportunidades que conquistei aqui e o Edu pra trás....

Flashback 06:

Por Eduardo:

Já é noite quando bato na porta da Manuela, já alertado da recusa dela do emprego em Salvador e da notícia que ela iria embora amanhã mesmo por conta de um problema da Julia.

Ela abre a porta e me deixa entrar... fico ainda mais arrasado quando vejo as malas sendo arrumadas...

Ela me olha e parece que temos uma conversa inteira apenas assim, nos encarando.

É como se ela me pedisse desculpas por não ter podido tentar e eu a olho como que respondendo que entendo, que sei que não era nosso momento... e assim, sem falar nada, eu tomo Manuela nos meus braços, sinto de novo o gosto maravilhoso do beijo dela e, quando a olho, ela concorda com a cabeça e me permite com esse simples gesto, amá-la nem que seja apenas por essa noite...

Confesso que depois que terminamos fiquei impressionado com nosso conforto, como nos encaixávamos perfeitamente... fizemos amor como se tivéssemos treinando a vida toda para que desse certo daquele jeito...

Não sei como ela poderia saber de tudo que eu gosto, assim como não sei de que forma descobri numa primeira tentativa, a melhor forma de tocá-la... Enfim.. só podia lamentar pela despedida, mas quando apenas abordei a possibilidade de um relacionamento, ela imediatamente me cortou, explicando que ela não ia conseguir me corresponder e que eu ia acabar ressentindo-a por isso... Infelizmente, acho que ela tinha razão.

E depois de ajuda-la com as malas, acompanha-la nas despedidas com todo mundo e leva-la ao aeroporto, eu beijei Manuela com a sensação de que seria a última vez. Mas que de alguma forma, na história do universo, eu sabia que nós ainda teríamos a chance de ser um do outro, como quem sabe já fomos em alguma vida que passou...

FIM DOS FLASHBACKS

Voltando ao presente, Eduardo retoma o assunto que tanto lhe perseguiu desde a última vez que falou com Manuela.

E: Você sabe que eu teria ficado do seu lado, não sabe? Se aquele resultado fosse positivo, eu ia amar nosso filho..

M: Edu, eu sei que sim, mas não precisamos nem pensar nisso... no fim foi alarme falso...

E: Se tivesse sido verdade, quem sabe como nossa vida estaria hoje não é?

M: Eu não sei se estaríamos juntos, mas com certeza eu poderia contar com você.

E: Estaríamos sim, pois não te deixaria em paz! E quanto à contar comigo, você sabe que pode fazer isso agora do mesmo jeito que podia quando estava morando em Floripa.

M: Eu sei que sim... Os dois se abraçam!

Acho que precisávamos conversar ao vivo sobre o que houve não é?

Eduardo se afasta, ajeita uma mexa de cabelo atrás da orelha de Manu e fala ainda pertinho por conta do abraço...

E: Precisávamos... Eu não parei de pensar em você por muito tempo e depois consegui... Mas quando a Mariana me contou da sua vinda, eu só pensava numa realidade alternativa, em que estávamos juntos e felizes... Mas como eu já te disse... O nosso problema era o lugar errado na hora errada... Espero que na próxima encarnação o destino seja mais generoso comigo.

Manu ri pra ele e os dois se abraçam mais uma vez, como velhos amigos que encerraram definitivamente uma história suspensa no ar.

Nisso alguém se aproxima e não vê no abraço a inocência que lhe cabia, pigarreia e fala um pouco mais alto do que precisaria...

Rodrigo: Estou atrapalhando alguma coisa?

Manuela e Eduardo se afastam e olham surpresos para Rodrigo que acaba de chegar!