POV Austin

Isto parecia surreal. Estava tão confuso, nem sabia ao certo o que fazer. Nós tínhamos acabado de nos beijar. Claro que foi bom e já tinha saudades de ter os seus lábios nos meus, mas porque aconteceu? Honestamente, depois do que "incidente" com o Jake pensei que ela não iria querer falar mais para mim ou até me ver.

—Não que esteja a reclamar, porque acredita que não estou, mas porque me beijou?

—Oh... Eu pensei que tinha percebido. - Ela riu e eu fiquei ainda mais confuso. A única razão pela qual ela me poderia ter beijado era se... se lembrasse de tudo.

—Você lembrou? Você lembrou! - Abracei a sua cintura e a puxei para mim, a rodando, e por fim beijando. Não a queria largar mais. Nos separámos e eu sorri. Não conseguia parar de sorrir. Ter a minha Ally novamente me deixou muito feliz. - Quando lembrou? Como?

—Eu não sei bem. Foi depois de irmos um contra o outro e então lembrei de todas a vezes que isso já aconteceu e de tudo o resto. E devo já dizer que isso aconteceu muitas vezes!

—É o que dá você estar distraída!

—Você também estava distraído, não coloca a culpa em mim! - Ela deu um tapa no meu braço e eu ri.

—Mas a culpa é toda sua. Foi você quem se esqueceu de tudo não eu!

—Honestamente, preferia ter ficado sem recordar muitas delas, mas já passou e não há nada que possa fazer.

—Sinto muito! - A abracei. - Eu sei como é. Mas não vamos pensar nisso. Não agora! - Ela assentiu, mas nos mantivemos abraçados. - Por mim até podemos ficar aqui, mas as pessoas estão a olhar para nós de forma estranha por estarmos abraçados no meio da rua.

—Não quero saber. Só quero ficar assim com você para sempre. - Me afastei e segurei a sua mão. Começámos a ir pela rua em direção ao parque.

—Como tem sido viver com a sua mãe?

—Estranho. Diferente. Não sei bem, algo não fazia sentido.

—E agora que você lembrou de tudo como vai ser?

—Não sei. Ela mentiu e por mais que tenha as suas razões não a vou perdoar.

—Ally...

—Não Austin. Eu precisei muito dela e ela não estava lá para mim. Não estava do meu lado me apoiando.

—Não vamos mais falar dela. Vamos aproveitar este momento só para nós, porque sei que quando contarmos que você lembrou de tudo será uma eternidade até a ter de volta!

—Que exagerado.

—Exagerado nada. Vão todos fazer perguntas e falar, depois a Mia e a Trish vão te levar e levar horas a conversar. E então vem o Sam e só depois dele é que a vou ter. Isso se ele deixar! - Revirei os olhos me lembrando do que ele já me disse e ainda vai dizer.

—Tenho a certeza que se você tivesse uma irmã seria do mesmo jeito que ele ou até pior.

—Não seria nada. Eu deixaria ela fazer o que quisesse. - A Ally parou de andar e olhou para mim. - Pronto, talvez não tudo o que ela quisesse. - Ela riu. - Não sei onde está a graça.

—Em você! Não quero nem pensar se um dia tiver uma filha. Pobre criança.

—Será o meu direito como pai de a proteger! Não é toda a gente que tem a sorte que você teve por encontrar uma pessoa como eu.

—Que convencido!

—Convencido não. Realista sim. Pode se sentir a pessoa mais sortuda do mundo.

—Mas eu não sinto. Fiquei com o loiro mais convencido do mundo. Acha que isso é sorte?

—Você não disse isso!

—Disse sim. - Ela riu soltando a minha mão e começando a se afastar de mim.

—Nem pense que vai fugir. - Comecei a me aproximar, mas ela correu. Apenas ri e corri atrás dela. Parecíamos duas crianças a correr atrás uma da outra, mas pouco me importo com isso.

Passávamos por cima dos bancos do parque, em volta das árvores, nos meio das pessoas que passavam, que nos olhavam de forma estranha, e eu não podia estar mais feliz. Tinha a Ally, a minha morena de volta e já nada nos iria separar.

Ao correr em volta da árvore consegui segurar a sua mão e a parei. Ela ainda ria e eu ri junto nos aproximando mais.

—Agora você vai retirar o que disse!

—Ou então o quê?

—Não me provoque! - Ela soltou a minha mão e colocou as suas sobre o meu peito me empurrando até que as minhas costas estavam contra a árvore.

—Não estou provocando ninguém. - As suas mãos continuavam no meu peito e agora ela aproximava o seu rosto do meu lentamente. Os seus lábios estavam bem próximos dos meus, os nossos narizes roçavam. Parecia tortura.

O meu corpo pareceu finalmente reagir e segurei o seu rosto entre a minhas mãos tomando os seus lábios num beijo urgente e necessitado. Os nossos lábios se moviam em sincronia. A minha mão acariciava a sua bochecha.

O ar começou a faltar e para minha infelicidade tivemos de nos separar. A senti morder o meu lábio inferior e um arrepio passou por todo o meu corpo. Abri, por fim, os olhos e me foquei nos seus.

—A-acho melhor irmos. - Digo depois de recuperar o fôlego.

—Tudo bem. - Ela se afasta mas seguro a sua cintura a puxando para mim e lhe dando um selinho.

—Agora sim podemos ir. - Ela riu. - Acho melhor irmos a sua casa primeiro.

—É melhor não.

—Ainda vai demorar para chegarem todos em minha casa e assim você podia falar já com a sua mãe.

—Pois, mas eu não sei se quero fazer isso neste momento.

—Você terá de falar com ele, eventualmente.

—Sim, mas quanto mais tempo passar sem o fazer melhor.

—Não, quanto mais tempo passar, em mais coisas vais pensar e isso não é bom. É melhor falar já com ela e resolver logo tudo.

—Está bem. - Ela assentiu e fomos até a casa da mãe. - Ela nos levou porque eu não sabia onde era. Não demoramos muito a chegar e não ficava longe da minha casa.

Ainda bem que ela concordou em virmos primeira aqui. Não sei se conseguiria ir para casa agora. O meu tio não tem culpa, mas a nossa conversa foi muito tensa e não o queria enfrentar.

Pelo caminho mandei mensagem a todos para irem ter a minha casa e esperarem porque eu tinha coisas importantes para dizer. Disse para esperarem porque ainda ia demorar um pouco.

A Ally abriu a porta e entrámos. Fomos até a sala e Olivia saiu da cozinha e se aproximou quando nos viu.

—Oi.

—Oi Austin. Está tudo bem? - Assenti. - Vocês estão juntos? - Pergunta ao olhar para as nossas mãos.

—Sim estamos.

—Então quer dizer que você lembrou de tudo. - Se virou para a Ally.

—Infelizmente sim. Preferia só ter lembrado algumas coisas e esquecer as outras, mas não é possível.

—É melhor deixar você sozinhas.

—Não! Fica.

—Mas Ally...

—Por favor Austin. Eu vim até aqui agora porque você insistiu e disse ue era melhor. Não sei se vou conseguir sozinha.

—Não sei, é melhor...

—Eu preciso que fique. Por favor!

—Tudo bem, eu fico. - Me sentei no sofá com a Ally do meu lado, ainda segurando a sua mão, e a Olivia se sentou na nossa frente.

—Porque nunca me contou sobre o Sam? Porque nunca me disse que eu tinha um irmão? Porque o deixou? O pai sabia dele?

—Sim, o seu pai sabia sobre ele. Ele até me convenceu em ir falar com o Sam, mas ele já não estava no mesmo lugar. Ainda tentei procurar, mas não o encontrei e por isso não achei que precisasse saber. Ele estava com pessoas que lhe podiam dar uma vida melhor.

—Eles eram criminosos como lhe podiam dar uma vida melhor.

—Eu não sabia sobre isso quando deixei o Sam com eles. Eram meus amigos e sempre me ajudaram quando precisei. Nunca poderia imaginar que eram criminosos.

—Porque não falou com ele? Se estava supostamente a ajudar os pais do Austin ou os conhecia, sabia onde o Sam estava.

—Sim eu sabia, mas como iria chegar perto dele, depois de dezoito anos, e lhe dizer que era sua mãe? Não tinha coragem para o fazer. Não era correto.

—Até posso compreender, mas porque me deixou a mim e ao pai? Porque fingiu que tinha morrido?

—Tinha de ser. Não podia deixar que vos fizessem mal só para chegarem a mim. Eles não iriam parar até me apanharem, então tive de fazer alguma coisa. Aproveitei aquele momento para fingir a minha morte. Queria que pensassem que tinha morrido e assim não se preocupariam mais em terem de esconder as provas que os poderiam prender. Assim não a magoavam nem ao seu pai.

—Mas magoaram. O que não queria que acontecesse aconteceu.

—Eu sei Ally. E o seu pai sabia que eu não tinha morrido.

—O quê?

—Ele descobriu um mês antes de voltarem para Miami. Ele queria lhe contar, não a queria ver sofrer mais, mas não o fez para sua proteção.

—Para minha proteção?

—Sim Ally, para sua proteção, mas mesmo assim não serviu de muito.

—Pois não porque agora o pai morreu. E tudo por sua causa.

—Ally!

—Não Austin. É a verdade. Por ele esconder que ela estava viva é que morreu e eu não a vou perdoar por isso. - Ela se levantou e me levantei junto segurando as suas mãos, fazendo com que olhasse para mim.

—Calma. - A abracei. - Tem clama. Eu estou aqui.

—Ally...

—Não! Não agora! - Ela se afastou de mim e saiu da sala.

—Eu vou falar com ela.

—É melhor não. Ela está de cabeça quente e ainda vai dizer coisas que mais tarde se poderá arrepender. Lhe dê tempo para ela pensar em tudo o que contou com calma.

—Tudo bem. - Ela assentiu se sentando e a Ally desceu as escadas com uma mala.

—Eu posso ficar em sua casa? - Pergunta olhando para mim. Agora entendi a mala.

—Claro que pode. - Peguei a mala e ela olhou para a mãe.

—Desculpe, mas neste momento não vou conseguir ficar aqui.

—Eu só tenho de aceitar. Por mais que diga para ficar sei que não vai e sei que precisa de tempo.

—Obrigada. - Ela nem esperou Olivia dizer outra palavra e saiu de casa.

—Cuide dela Austin.

—Não se preocupe. - E então saí encontrando a Ally na porta me esperando. - Vamos?

—Vamos.

Rapidamente chegámos em minha casa. O caminho foi silencioso e tranquilo. As nossas mãos entrelaçadas balançavam para trás e para a frente enquanto caminhávamos.

Agora, felizmente, poderíamos fazer isto várias vezes sem nos preocuparmos. Poderíamos passear à vontade, sem problemas nem preocupações. Sem medo que nos possam encontrar. Agora teremos todo o tempo para estarmos juntos e fazer tudo o que quisermos, quando o quisermos.

—Pronta?

—Acho que não. - Ri e abri a porta. Soltei a mão da Ally e pousei a sua mala, a deixando ir até a sala na minha frente. Estavam aqui todos. O Dez, a Trish, a Mia, o Sam, o Jake, o Ash e o meu tio.

—Está tudo bem Austin? - Pergunta o Ash ao me ver.

—Sim, está tudo ótimo.

—E então?

—Então o quê Dez?

—O que tem para nos contar ou não tem e eu entendi mal a mensagem?

—Não, você entendeu bem. Eu tenho sim uma coisa para contar.

—E a Ally? O que ela faz aqui? Também pediu para ela vir?

—Sim e não.

—Estou confuso! - Não digo nada, olho apenas para a Ally que vem para o meu lado segurando a minha mão.

—Isso quer dizer que você estão juntos? - Assenti. - Você lembrou de tudo? - Pergunta a Mia se aproximando.

—Sim. - Ela gritou abraçando a Ally.

—Não posso acreditar! Mas como? Quando? Porque não me contou?

—Eu avisei! - Digo e ela revira os olhos.

—Contem tudo. Nós queremos saber!

E então contámos tudo. Até sobre a Ally voltar aqui para casa. Não sei se será por muito tempo, mas já vai ser bom. Claro que como esperava foi uma eternidade para ter a Ally de volta porque a Trish e a Mia decidiram conversar com ela e a conversa foi longa.

Todos ficaram para jantar. O meu tio disse que não havia problema e que era para comemorar. Pelo menos algo bom aconteceu hoje. Ainda não sei se ele contou ao Ash sobre os nossos pais, mas agora também não quero pensar ou falar desse assunto.

—Está tudo bem?

—Sim. Estava só a pensar.

—Posso saber no quê?

—O que ganho em troca por partilhar os meus pensamentos.

—Depende.

—Do quê?

—Do tipo de pensamentos que estava tendo.

Neste momento estávamos no meu quarto. Deitados na minha cama, a Ally sobre mim, enquanto eu acariciava os seus cabelos. Já haviam ido todos embora e claro o Sam não foi sem antes fazer as suas exigências sobre a Ally. Como se eu as fosse obedecer.

—Se eu estivesse pensando em você o que me daria?

—Bom... Não sei. Talvez um beijo.

—Só um beijo?

—É só um beijo seu aproveitador.

—Então não estava pensando em você! - Ela levantou a cabeça, me olhando nos olhos.

—Então não há beijo para ninguém. - Tentou se levantar, mas apenas segurei a sua cintura, a impedindo.

—Você não vai a lado nenhum.

—Quem me vai impedir?

—Eu!

—Você?

—Sim eu!

—Não... - A interrompi colando os nosso lábios.

O beijo era calmo, mas intenso. As suas mãos se moveram para o meu peito enquanto as minhas estavam uma nas suas costas e a outra na sua cintura. Passei a minha língua sobre o seu lábio inferior e a sua boca abriu ligeiramente para que a conseguisse explorar. As nossas línguas se entrelaçavam uma na outra e quando o ar começou a faltar nos afastámos.

Ninguém proferiu uma única palavra, apenas olhámos intensamente nos olhos um do outro. Beijei de leve o seu nariz e de seguida os seus lábios. Beijando depois o seu pescoço. As suas mãos se moviam pelo meu peito e continuei os meus beijos por todo o seu pescoço até, por fim, voltar ao seus lábios.

Senti os seus dentes sobre o meu lábio, o mordendo de leve, e troquei as nossas posições, ficando agora por cima. As suas mãos passaram para o meu pescoço e nuca, passando, por vezes, pelos meus cabelos. Afastei o meu rosto do seu, olhando nos seus olhos e sorri.

—Já tinha saudades de esta assim com você. Apenas nós dois.

—Acho que posso dizer o mesmo. Eu sentia que me faltava algo e agora descobri o que era.

—Sentia falta de senti os seus lábios. De olhar nos seus olhos grandes e brilhantes. Tocar no seu rosto e segurar as suas mãos. Sentia falta de a ter nos meus braços.

—Agora não precisas te preocupar mais.

—Ainda bem.

—É e se bem me lembro você me deve um encontro.

—Não lembro de nada! - Ri e ela deu um tapa no meu braço. -Ai! Porque me bateu?

—Porque mereceu! - Apenas me deitei do seu lado e a abracei, puxando o seu corpo até o meu.

—Vou fingir que não ouvi isso! - Ela riu e colocou a cabeça no me peito, passando os braços em volta de mim. - Bons sonhos morena.

—Bons sonhos loiro.

—Te amo.

—Te amo mais.

—Impossível.

—Possível. - Beijei de leve os seus lábios e assim adormecemos. Abraçados um ao outro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.