Não Sou Nenhum Herói.

Desculpas & O olhar diferente.




POV Austin

Senti me tocarem no braço e o abanarem. Tentei ignorar, mas quem o estava fazendo era persistente. Abri os olhos para descobrir quem me estava a perturbar e vi o Ash do meu lado bem sério.

Suspirei olhando para a Ally, ignorando a presença do Ash. Já sabia o que ele ia dizer e neste momento não queria ouvir. Todo o meu corpo dói por ter dormido nesta cadeira, mas sabendo que isto é o mais perto que posso estar da Ally voltaria a dormir quantas vezes fossem precisas.

—Escusas de me virar as costas. Eu vou falar na mesma!

—E eu não quero ouvir!

—Já percebi! Mas como disse, vou falar na mesma! Eu sei que queria ver a Ally, mas o médico disse que tinha de descansar!

—E eu descansei. Até descansava mais se não me tivesse acordado!

—Você estava todo torto nessa cadeira, o suposto é estar confortável para melhor e não piorar!

—E se fosse a Mia?

—O que tem?

—Se fosse ela aqui deitada e você estava na mesma situação que eu?

—... Faria exatamente o mesmo que está a fazer. Mas você levou um tiro Austin. Andar de um lado para o outro não lhe faz nada bem!

Ignorei a sua presença e foquei a minha atenção na Ally. Nada tinha mudado desde ontem. O seu rosto sereno e pálido, os seus olhos continuavam fechados e parecia dormir pacificamente, para minha infelicidade.

Depois de tudo o que passámos, depois de tudo o que fiz para a proteger, estamos aqui nesta situação. Ultrapassámos muitas coisas que inevitavelmente nos uniram e... nunca fiquei tão feliz por isso.

A Ally foi como a luz que precisava para recuperar, para voltar a viver como antes. Ela conseguiu me fazer perceber muitas coisas. Conseguiu me fazer feliz como não nunca estive. Fez com que o acidente não passasse de uma fase muito complicada da minha vida e eu conseguisse seguir em frente. Dificilmente, mas consegui.

E agora o que mais me importa é ela. Nada mais, nada menos. O pior é que antes a minha preocupação era porque a podiam magoar e eu devia fazer de tudo para a proteger das pessoas que lhe queriam mal, mas agora é porque ela não está bem e não sei se vai ficar.

Ver a Ally assim nesta condição é como se me arrancassem o coração sem dó nem piedade e eu sem forças para o recuperar. Preferia levar outro tiro que a ver desta maneira.

—O que está aqui a fazer? Não lhe disse que tinha de descansar? - Ouvi e me virei rapidamente para trás, o que me causou muitas dores.

—Eu descansei. E só vim agora! - Digo voltando à minha postura voltado para a Ally, fazendo as dores diminuírem um pouco.

—É mentira. Ele passou aqui a noite! - Olhei feio para o Ash que apenas encolheu os ombros como se não tivesse feito nada. - Nesta cadeira.

—Você foi operado há três dias, não lhe faz bem andar por aí e fazer esforços, muito menos passar a noite numa cadeira!

—Eu não fiz esforços nenhum, só vim do quarto onde estou até aqui, e voltava a dormir nesta cadeira para ficar perto da Ally.

—Isso já é muito esforço, quando eu disse que tinha de ficar no quarto a descansar. Venha.

—Mas eu quero ficar aqui!

—Para de ser teimoso Austin!

—Quando estiver bem o suficiente para se levantar pode vir ver a paciente, até lá vai ficar na cama. - Segurou o meu braço me ajudando a levantar.

Me levaram de volta para o quarto e não havia nada que pudesse fazer para os impedir. Só não entendo porque nunca me deixam fazer o que eu quero.

—Austin? Onde estava? Porque saiu daqui? - Pergunta o meu tio assim que entro no quarto.

—Eu fui ver a Ally.

—Você é mesmo teimoso!

—Eu sei. - Me deitei e esperei irem embora para ficar sozinho, mas parece que nem isso consigo ter.

—Como se sente?

—Péssimo! ...Posso ficar sozinho?

—Para voltar a sair daqui? Não, nem pensar! - Revirei os olhos e ignorei tudo o que diziam. Até o médico.

Eles não entendem o que estou a sentir nem aquilo por que estou a passar. Se entendessem não me obrigavam a ficar aqui, deitado nesta cama sem fazer nada, sem poder ver a Ally.

Suspirei e olhei para a porta depois de a ouvir fechar. Claro que isso despertou a minha atenção, mas infelizmente, e apesar de terem ido embora, o Sam entrou. De todas as pessoas ele seria a última com quem eu queria falar neste momento.

Tentei ignorar a sua presença, o que estava a ser bastante complicado devo admitir. Só não sei porque está aqui.

—Precisamos falar...

—Desculpa! - O interrompi.

—O quê?

—Desculpa! ...Eu devia ter feito mais. Não devia ter deixado o Jason levar a Ally. Não devia ter deixado que a magoasse. Devia me ter afastado e impedido que ela se aproximasse tanto de mim. A culpa é toda minha!

—Não. Para! A culpa não é tua!

—É sim e não há nada que possas dizer para me fazer pensar o contrário!

—Então a culpa também é minha! - Me voltei para ele.

—Não é!

—É Austin, é. Eu não podia deixar que a levassem naquele dia no cemitério. Eu tinha de os impedir, mas não consegui e por isso... agora estamos aqui. A Ally está fraca e em coma, você levou um tiro e sabendo que tudo isto poderia ter sido impedido...

—Mas não teria Sam. De um jeito ou de outro o Jason iria levar a Ally. Ele conseguiu o que queria. Conseguiu chegar a mim e a culpa é de todos menos tua!

—Não há nada que possas dizer para me fazer pensar o contrário! - Repetiu as minhas palavras e eu suspirei. - Eu falhei como irmão mais velho. Eu mais que ninguém é que a devia ter protegido!

—Não estou muito melhor que você! Honestamente, já nem sei o que sentir! É muito ao mesmo tempo. É tão frustrante de a ver deitada naquela cama sem poder fazer nada, apenas olhar e já nem isso posso fazer.

—Pois, mas nisso eu concordo. Você não pode andar por aí de um lado para o outro.

—Você também não. Já ouvi isso hoje talvez umas três vezes! E você devia estar do meu lado e me entender.

—Eu entendo Austin, mas também acho que fazer esse esforço todo não ajuda. Quanto mais tempo levar para ficar bem, mais tempo vai ficar aqui no hospital!

—Pelo menos fico com a Ally.

—O problema é se não fica com a Ally e sim sempre neste quarto!

—Estou há menos de um dia acordado neste quarto e já estou farto!

—Eu percebo, mas não há nada que possa fazer!

—Eu sei.

—Vou deixar você descansar enquanto vou ver a Ally. - Assenti e ele saiu.

(...)

Já tinha acordado faz uns longos minutos e estava sem energia para fazer qualquer coisa. O meu corpo doía, principalmente as minhas costas. Agora já sei que dormir numa cadeira é péssimo. Só espero é que a Ally acorde logo.

E como esperado ontem não me deixaram sair do quarto. Passei todo o dia aqui fechado sempre com alguém comigo para não acontecer o mesmo de eu sair sem saberem. Pelo menos o Dez falou comigo normalmente e não super preocupado como os outros, nem implicou pelo que fiz.

Conversámos por longas horas, como fazíamos antes e era como se passássemos apenas uma tarde inteira a ver filmes ou jogar vídeo-games. Foi muito bom, nada mudou. O pior foi que falámos em como a Ally conquistou a minha atenção desde o primeiro dia, enquanto todos eles tentaram durante semanas e até meses.

—Bom dia! - Ouvi e olhei para a porta vendo o meu tio entrar.

—Bom dia.

—Já comeu?

—Não e não vou comer!

—E porque não?

—Porque se não me deixam ver a Ally também não vou comer!

—Só uma pessoa idiota e teimosa como você diria e faria uma coisa dessas!

—Obrigado pelos elogios!

—Eu vou chamar a enfermeira e dizer para trazer o café da manhã.

—Eu não vou comer!

—Vai sim!

—Então deixe-me ir ver a Ally!

—Você sabe muito bem que não posso fazer isso!

—Por favor tio, peça ao médico ou deixe-me ir ver a Ally!

—Eu sei que queres estar com ela. Sei que a queres ver, mas porque queres tanto ir?

—Porque estou preocupado e não consigo estar aqui sabendo que ela está mal.

—Deve pensar que sou um péssimo tio por não o deixar sair daqui, mas eu só estou preocupado com você!

—Eu sei tio.

—Vamos fazer um acordo... Eu vou pedir ao médico para deixar você ir ver a Ally se tomar o café da manhã.

—Promete que me leva a ver a Ally?

—Eu disse que ia pedir ao médico. Depende do que ele disser!

—Então nada feito!

—Muito bem. Só não prometo que seja logo depois de comer.

—Ok. - Sorri e ele revirou os olhos. - Obrigado!

—Sim, sim. Obrigado não chega! - Ele sai e eu sorri ainda mais.

Pelo menos já vou poder ver a Ally hoje. Foi horrível passar o dia de ontem aqui fechado sem saber nada dela, sem olhar o seu rosto, sem poder segurar a sua mão para ter a certeza que ainda estava aqui, sem poder dizer o quanto a amo e já sinto a sua falta.

Sou tirado dos meus pensamentos ouvindo a porta ser aberta. Levantei a cabeça e vi uma enfermeira entrar com um tabuleiro nas mãos. Ela se aproximou e colocou o tabuleiro sobre as minhas pernas. Continha uma sanduíche mista e um suco de laranja. É claro que preferia panquecas, mas é melhor que nada.

—Aqui tem. - Agradeci e peguei na sanduíche começando a comer. - O seu tio está a conversar com o médico. Sei que quer ver uma paciente que se encontra em alguns quartos ao lado do seu. - Assenti. - Também sei que é sua namorada. Não se preocupe, ela vai ficar bem.

—Como tem tanta certeza?

—Ela é forte e já passou por muito. Em breve irá acordar.

—Espero que esse breve esteja muito próximo de acontecer.

—Vai ver que sim. - Sorri terminando de comer. A enfermeira se levantou pegando o tabuleiro e foi embora.

Mais uma vez fiquei sozinho. Ainda bem que o Jason foi preso. Pelo menos na prisão não pode fazer nada. Não sei do que seria capaz se o visse agora na minha frente. Ele, provavelmente, não veria mais a luz do dia, não veria mais nada.

Ele é o grande causador de tudo isto. Aquele idiota faz porcaria e depois culpa os outros destruindo-lhes a vida. Eu devia de o ter matado naquele dia. Assim estaria mais satisfeito e feliz.

Ele até me pode ter colocado no hospital, mas sei que o seu ombro não está muito melhor que eu. Pelo menos isso. Estou feliz que a Molly foi embora e não lhe deu nenhuma oportunidade. Sabe-se lá do que o Jason seria capaz de fazer com ela.

Me levantei, deixando os pensamentos de lado e fui ao banheiro. Ainda bem que não tenho de pedir a ninguém para o fazer. Fiz o que tinha a fazer, lavando as mãos de seguida. Me virei para sair, escorregando e acabando por cair, nem tive tempo de me segurar a alguma coisa.

—Austin! - Ouvi ao abrirem a porta. O Ash entra e me ajuda a levantar. - O que aconteceu?

—Escorreguei e caí. - Levei a mão até o lado esquerdo do meu torso pelas dores. O Ash me ajudou a ir até a cama e sentar.

—Você está bem? - Neguei com a cabeça. - Eu vou chamar o médico. - Ele saiu do quarto e eu suspirei tentando ficar, minimamente, confortável. Comecei a sentir a minha camisa do pijama ficar molhada por baixo da minha mão e olhei para baixo.

A primeira coisa que vi foi uma grande mancha vermelha. Sangue. A camisa já estava encharcada e a maior parte da minha mão estava coberta. Porquê agora? A porta do quarto abriu e o médico veio rapidamente até mim, suspirando ao ver o meu estado.

—O ferimento deve ter aberto quando caiu. É melhor se deitar. - Fiz como disse e tirou a minha camisa, tirando as bandagens logo de seguida. Entretanto duas enfermeiras apareceram e o ajudaram. - O seu tio esteve a falar comigo e pediu para o deixar ir ver a Ally. - Assenti não conseguindo falar com as dores no momento. - Eu pensei em deixar você a ir ver.

—A sério? - Perguntei enquanto pressionavam o meu ferimento fazendo as dores aumentarem.

—Neste momento já não sei.

—Eu prometo ter cuidado. - Digo olhando para ele, não querendo ver o que faziam.

—Depois veremos isso. Agora quero que fique quieto porque vai doer um pouco. - Assenti e me encostei tentando não pensar nas dores. Foi um pouco difícil porque o que quer que estavam a fazer, estava a doer muito. - Você consegue se sentar? - Pergunta depois de um tempo e eu assenti o fazendo. Terminaram de colocar bandagens novas em volta do meu torso e voltei a me encostar.

—Isto irá diminuir as dores. - A enfermeira me entregou um copo com água e alguns remédios. Tomei bebendo toda a água do copo e suspirei. Ambas saíram, sobrando apenas eu e o médico.

—Posso ir ver a Ally? - Pergunto e ele suspira. Eu estava cansado e com dores, mas isso não me iria impedir de ir ver a Ally.

—Como consegue pensar em ir ver a paciente neste momento?

—Pensar nela faz com que me esqueça de tudo o resto. Eu quero muito ir ver a Ally, por favor!

—Vou falar com o seu tio. Já volto! - Assenti e ele saiu.

Só espero que me deixe ir ver a Ally. Tinha mesmo de cair logo agora que estava prestes de a poder ir ver. Agora sim posso dizer que não tenho sorte nenhuma, nem quando mais preciso. Não tive de esperar muito até entrarem no quarto novamente.

—E então? - Perguntei antes que dissessem alguma coisa.

—Então eu vou deixar você ir ver a paciente. - Sorri. - Mas não se esqueça que prometeu ter cuidado!

—Eu vou ter.

—E não vai ficar lá muito tempo. Ir lá será uma exceção. Estou sendo generoso porque sei tudo o que fez pela paciente. Irei buscar uma cadeira de rodas porque não o quero a andar de um lado para o outro. - Assenti e ele saiu.

—Obrigada tio!

—Não tens de agradecer. Só ficar bem.

—Com tudo isto que está a acontecer com a Ally esqueci uma pequena coisa.

—O quê?

—O que os pais escondiam?

—Não vamos ter esta conversa nem aqui nem agora Austin.

—Porquê?

—Porque estou a dizer que não.

—Nunca é o lugar ou momento certo. - Resmungo alto o suficiente para ele também ouvir. Não tivemos tempo de dizer mais nada pois o médico entrou.

-Vamos lá. - Ele veio até mim, me ajudando a levantar e sentar na cadeira. E então fomos para o quarto da Ally.O Sam, a Mia e Olivia estavam aqui., do outro lado da cama.

—Como se sente?

—Melhor. - Respondo à pergunta da Mia.

Olhei para a Ally e suspirei ao ver os seus olhos fechados. O seu rosto continuava sereno, o bom é que tinha mais cor que da última vez que o vi. Fiquei do seu lado e peguei a sua mão.

—Hey morena! Minha pequena. - Beijei o topo da sua mão. - Já tenho saudades dos seus olhos. Preciso de os ver urgentemente, assim como o seu sorriso pelo qual me admirei desde o primeiro dia. - Suspirei e segurei a sua pequena mão entre as minhas. - Sinto a sua falta. Você só precisa acordar, já está tudo bem e nada nos vai incomodar mais. Seremos só nós dois. Amo tanto você! - Senti movimento entre as minhas mãos e sorri. - Ally? - A sua mão apertou a minha e o seu corpo começou a se mover. - Consegue me ouvir?

E então, os seus olhos abriram. Nunca fiquei tão feliz por isso. Ela olhou em volta, parando o olhar sobre a mãe e sorriu para a mesma. De seguida o seu olhar se voltou para o meu lado até que parou sobre o meu. Sorri e a mesma olhou as nossas mãos.

Nem sabia o que falar neste momento. Estava tão feliz que ela tinha acordado. Senti a sua mão se soltar da minha e olhei nos seus olhos novamente estranhando o ato. O seu olhar não era o mesmo. Ela olhava para mim de um jeito diferente, como se... tentasse perceber quem sou.